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Memória sobre a villa de Aveiro de Pinho Queimado

Na latitude de 40 graus e 30 minutos, e na longitude de 11 graus e 13 minutos, onde o Vouga mistura suas aguas com as do Oceano, a nove leguas do Mondego, e dez do Douro tem seu assento a antiga e muito nobre, e notavel villa de Aveiro, uma das melhores de Portugal, e maior povoação, excepto Coimbra, do que nenhuma outra da provincia da Beira, nem de Traz-os-Montes. Dilata-se quase toda de norte a sul em forma prolongada sobre uma fértil, e aprazível campina, que não tem competidora em muitas léguas em roda; e descobrindo vistosa face ao poente, faz alegre, e magestosa face, e perspectiva ao norte.

Acerca da etymologia do nome d'esta villa de Aveiro não ha perfeita certeza: mas fr. Francisco de Santa Joana, padre de muito saber, e de muitas, e curiosas notícias, e versado em antiguidades, e que foi por muitos annos guarda do cartório dos frades dominicos d'esta villa, mostrou-me em um livro muito antigo manuscripto em pergaminho uma memória que eu trasladei em que dizia que o nome de Aveiro era composto das palavras Ave, e iro, ou eiro – que significa o mesmo que enguia, porque se criam em grandissima copia, e as mais gradas e formosas, como não ha em parte nenhuma d'este reino, e por serem tidas por mais saborosas; e que por isso as armas da vilIa era um escudo com um pato ou ave aquatica estendida, e um sol de uma banda, e um crescente da outra; e no mesmo livro tinha as ditas armas divisadas, e illuminadas pela maneira seguinte, a saber: – O campo do escudo era azul, – a ave de prata – o sol de ouro –, e a lua, ou, crescente de prata, e cinco estrellas tambem de prata na orla simeira do escudo – alludindo á pureza do clima, e á abundância das aves aquaticas que povoam a ria, muitas naturaes, e outras que vem das partes do norte, e outras regiões, que se matam e pescam de dia, e de noute, e que servem de sustento, e de regalo a muitos milhares de pessoas, e de muita ganancia aos que se entregam á vida da caça e da pesca, e de diversão aos nobres.

As aguas do Vouga augmentadas com as de alguns ribeiros, que cercam a villa de graciosa verdura cavaram em outro tempo na espaçosa planicie um não profundo, mas ameno valle, que se alarga entre quintas contra o oriente, e deixando espaços de terreno mais elevados dos quaes se fizeram ilhotes e salinas, conduziu a industria um canal, ou esteiro que sobe, e desce com o fluxo, e refluxo das marés, cortado com duas pontes, uma de boa fabrica, e guarnecido com dilatado caes que em tres pontes se termina. Na margem d'este esteiro de uma, e outra parte correm as casas de varios mercadores, na da Ribeira os naturaes; na do Alboy os inglezes, que lhe pozeram aquelle nome de Albyon sua terra natal que significa Inglaterra, ás quaes fazendo costas outras ruas por todo aquelle sitio, enchem dois bairros bem povoados de mercadores, mareantes, pescadores e marnotos.

Para a parte boreal se vão estendendo, e levantando as ruas até ao bairro chamado de Villa nova, por se unir com as quintas de alguns principaes da terra, e chega por grande distancia sem interrupção alguma á ermida de N. Senhora da Alegria, que supposto fique em Sá, domínío da illustre casa dos Almadas, conservam n'ella posse os moradores da villa, e camara visitando-a com festas, e procissões, e os pescadores servindo-a com privilegios, e administração; razão por que pertence a Aveiro o mosteiro da Madre de Deus, tendo de mais de ficar na freguezia da Vera Cruz, e sobre tudo por fundar-se a capella mõr com o sacrario (onde consiste a posse dos conventos) no lugar que já dentro dos limites da Villa lhe deu em sua quinta Sebastião Pacheco Varélla.

Da ponte para a parte austral se continua com pequena subida o quarto bairro, que é o melhor e o mais antigo da Villa em que reside quasi toda a nobreza d'ella; e este sómente é cingido de altos muros, obra então magnifica do Infante D. Pedro filho do sr. rei D. João o primeiro, e os melhores, que se conservam desde aquelle tempo. Tem estes, como os de Jerusalem, nove diversas entradas (bem que nelles se encontrem doze portas), e é a primeira a que chamam a da Villa, da qual sáe para o caminho real uma larga rua, que dividindo-se com a egreja do Espirito Santo em outras duas, já cercadas de frescas hortas, e lavranças, acompanha para o nascente as fabricas dos oleiros com que se compõem o quinto bairro.

As outras oito portas contando-as pelo circoito são a do Sol – a do Campo – a do Côjo – a da Ribeira – a do Alboy – a de Rabães – a de Vagos entre a qual, e a de Santo Antonio se acha a frondosa e ordenada alameda, que os estrangeiros celebram e admiram; pois na vista da ria, e amenidade do Campo se lhe não dá semelhante em todo o reino: á vista d'ella corre uma fonte das cinco, que ha na Villa, fora as de que se aproveita em pequena distancia, das quaes é a principal a da Ribeira, cuja água salutifera, e suave trazida de longe pelo valle oriental sobre arcos de cantaria, vem despender-se por quatro canos na praça em chafariz de esquadria muito alta e sumptuosa, tão immediato ao esteiro que divide a Villa, que desde os bateis fazem os mareantes as aguadas, para abastecer as embarcações.

Abunda a terra de pão, vinho e legumes, e muita abundancia de saborosas fructas, e excellentes hortaliças em grande quantidade nas hortas, e quintas, de que a Villa por toda a parte se adorna com viveiros de peixes, capellas, varandas, e invenções de fontes naturaes, e artificiaes; especialmente a fructa de espinho é tanta, que dá carga a muitos navios para Inglaterra: é o gado maior d'este território tão numeroso, e as aves domesticas tão multiplicadas, que depois de abastecerem Coimbra, se conduzem incessantemente a Lisboa, e só os ovos d'esta Villa, e circunvisinhanças, que sáem para Lisboa e Porto importam em cada anno para cima de oito mil cruzados.

Criam seus pastos ferteis grande multidão de formosos cavallos especialmente os que são mestiçados de egoas de cá, e cavallos que vem de Andaluzia de Castella. A caça do monte com ser sempre buscada, é inextinguivel: a caça da ria é incomprehensivel pela abundancia, e multiplicadas especies de aves aquaticas, como são os excellentes Lavancos – os Caturros – as negras – os maçaricos reaes – as marrecas – as rábis coêlhas – e muitas mais que são mui gostosas para se comerem, além de outras de que não se faz caso, por saberem muito ao marisco. Tem havido annos que vem muitas aves de fóra como são as ajãjas, que são uns passaros como garças e tem o bico comprido e chato, e a ponta á feição de colher; e tem apparecido tambem em alguns invernos uns passaros muito maiores, e mais grossos do que as garças a quem chamam Onocrátalos, que tem na raiz do bico pela parte de baixo, e pegado á garganta um fole ou saco, onde guardam provisões de peixes pequenos, que lhes servem para as longas viagens, e dão gritos tão agudos, que de noite fazem pavor. Dizem os entendidos, que estas aves vem da Suecia e da Noruega, e dos sitios mais septentrionaes quando são apertados pelos grandes gelos d'aquellas frias regiões: a sua carne é negra, e de mau gosto, não obstante terem debaixo da pelle muita gordura.

Uma grande parte d'estas aves aquaticas apparecem na ria por meado do Outono, e retiram-se quando adivinham a primavera, outras muitas fazem suas creações pelas marinhas, e juncaes: só aos nobres é permitido caçar com esmerilhão, e aos caçadores d'estes sob fiança: os peões, e pescadores podem caçar com redes; ou armadilhas, e artimanhas de que uzam de dia e de noite com grande proveito d'elles, indo vender a caça a Coimbra, ao Porto, e a Lisboa, onde é muito estimada.

A creação, e a pesca da ria é incomparavel: os regalos do sertão lhe attrae o provimento do pescado, que sustenta e saborea muita gente do reino, e em particular a da provincia da Beira, e além da que dá o mar em toda a costa d'esta comarca, e das lamprêas, que a seu tempo sobem pelo rio, traz a maior copia de tainhas – mugens – solhas – azevias – lingoados, e as mais formosas e mais saborosas enguias por seu sabôr e grandeza como as não ha em parte alguma nem no reino, nem fora d'elle dizem os mesmos estrangeiros: e ás enguias grandes chamam os foraes antigos da Terra de Santa Maria irôs, e tambem eirôs –: e por estas e outras rasões creio ser verdadeira a origem do nome d'esta nobre villa.

Além d'estes e outros peixes que entram na ria pela barra, ha muitas especies mais somenos, que dão tambem sustento a muita gente, e de que se fazem caldos, e sôpas mui saborosas de que os nobres tambem uzam em suas mezas: e ha tambem muitos mariscos, que conservados em escabeches de várias formas, passam aos estrangeiros, e ás conquistas, depois de abundar a corte. O sal é a principal, e a mais abundante producção, que abastece muitos mercados do reino, e de fóra; e d'aqui se vê que unindo-se os quatro elementos, procuram fazer Aveiro porto rico pelo commércio.

A mudança de muitas famílias, que foram morar para outras terras do reino por cazamentos, ou conveniencias, as guerras da Africa onde militaram, e morreram muitos nobres d'esta villa, a declinação dos tempos, e as epidemias tem diminuido o povo, que hoje excede a pouco mais de dois mil e setecentos visinhos repartidos em quatro parochias todas da ordem d'Aviz, de que é matriz a igreja de S. Miguel com prior, coadjutor, thesoureiro, e quatro beneficiados. Tem capellas muito antigas, e rendosas entre as quaes a de S. Braz, que possue D. Thomaz de Noronha - a de S. Vicente que pertence aos Pinhos, e de outros morgados: tem muitos tumulos, entre os quaes sobresáe os dos morgados de Balacó que estão na sua antiga capella de architectura gothica do lado do Evangelho. Tem esta egreja muitas inscripções gothicas, e duas inscripções de letras arábicas, uma das quaes está á entrada da porta lateral por onde se entra pelo lado do sul, todas esculpidas em pedra, e varias sepulturas muito antigas com armas, e inscripções de famílias nobilissimas. Tem annexa e visinha da egreja uma albergaria muito boa, em que todo o peregrino por tres dias se hospeda.

Tem este templo hoje o mais antigo d'esta villa por inestimavel thesouro uma reliquia de S. Sebastião.

Não são menos estimaveis as outras tres vigairarias do Espirito Santo – da Vera Cruz, – e N. Senhora da Apresentação, que primeiro se chamou de S. Gonçalo. As ermidas, que não estão contiguas ás egrejas são quatorze nos districtos das quatro freguesias a saber: a da Madre de Deus no Seixal – a de S. Roque – a de N. Senhora da Graça – a de S. Bartholomeu – a de N. Senhora do Hospital – a de S. Gonçalo – a do Corpo Santo – a dos Santos Martyres – a de S. Gregorio – a de S. Thiago – a de S. Martinho – a do S. Sebastião – a de Santo Amaro – a de S. Bernardo, não esquecendo além destas, e muito venerada a de S. João ao pé do esteiro: servem estas egrejas, e capellas setenta e dois clérigos d'esta villa.

Em todo o reino não ha egreja da Mizericordia, que iguale a d'esta villa pela sua magestade, e belleza, foi riscada por um architecto florentino: tem uma grande imagem de Christo cruxificado de marfim, que mandou da India o capitão Diogo de Oliveira Barreto, natural d'esta villa, fallecido em Malaca, e outro de estatura humana do Senhor Ecce Homo, que é a suspensão de nacionaes, e estrangeiros, que entendem de escultura, a qual foi trazida de Inglaterra, e escondida aos desacatos da heresia quando lá governava Henrique VlII, que abraçou a diabolica doutrina de um frade da ordem dos Agostinhos descalços, digo, dos Agostinhos calçados, que se chamam Gracianos, o qual frade se chamava Luthéro, que depois se casou segundo dizem com uma freira professa: aquella santa imagem tem servido de modelo a outras, mas ainda não foi possivel imital-a: muitos milagres se lhe atribuem, e certamente não tem o reino outra similhante. Os irmãos enchem o numero de cento e setenta e cinco nobres com officiaes, e muitos capelães.

Tem esta villa d'Aveiro seis conventos: tres de religiosos, o 1.º o de N. Senhora da Misericordia dos frades de S. Domingos fundado pelo infante D. Pedro, no ano de 1423: sustenta ao presente quarenta religiosos, e tem de rendimento seis mil cruzados entrando os senhorios dos casaes de Fermelainha, da freguezia de Fermelã, e a quinta de Canellas, que lhe deixou João de Albuquerque fidalgo illustre, que jás sepultado na capella do Senhor Jezus em tumulo de pedra com a effigie d'elle estendida; e a capella mór é dos marquezes de Arronches. Tem uma grande reliquia de Santo Lenho, que em um incendio se conservou intacta.

Defronte d'este convento fica o real mosteiro de Jezus das religiosas tambem dominicas onde jás o corpo da bemaventurada princeza Santa Joanna, irmã do sr. rei D. João II do nome: estes dois conventos ficam dentro da porta do sol, e fóra da de Vagos; para o sul, em pouca distancia está o convento de Santo António, dos frades menores da provincia da Soledade: fundou-se este convento no anno de 1524 por João Martins do Cafanhão, cavalleiro da ordem de Christo, e sua mulher Izabel da Costa, d'esta villa, ficando a ser seus padroeiros, e hoje é este padroado da casa de villa verde.

No extremo opposto da villa para a parte do norte, está o convento dos carmelitas descalços fundado em 1613 pela ex.ma D. Brites de Lara, mulher do ex.mo D. Pedro de Lara, digo, D. Pedro de Medicis irmão do gran-duque da Toscana, que como padroeira está sepultada em um alto e magnifico sepulchro de jaspe de várias côres na capella mór da parte do evangelho; este convento é casa de professos, e moram nelle trinta e cinco religiosos.

Mais adiante fica o convento da Madre ele Deus, que pelo sitio se appellida – de Sá – é de religiosas da terceira ordem de S. Francisco.

O último no tempo, e mais florescente na virtude é o religiosissimo mosteiro de carmelitas descalças, dedicado a S. João Evangelista, que dentro dos muros da villa fundou o duque d'ella D. Raymundo nos seus paços, que com essa obrigação lhe deixou a ex.ma D. Brites de Lara.

Além dos seis conventos há dentro dos muros um recolhimento de terceiros de S. Francisco; e ha mais uma boa egreja dos terceiros seculares do mesmo Santo.

Correspondem a estes edificios com que a villa se ennobrece as casas sumptuosas dos particulares, quasi todas, dizem os antigos, feitas de pedra que lhes veio por mar, pois não se acham pedreiras tão perto pela terra: as dos vulgares por branqueadas e vistosas, as dos nobres com frontespicios de sacadas, e nos bairros dentro dos muros, e villa nova apenas se achará algum sem jardim com agua: por esta causa, e pela largueza de todas as ruas, e claros das praças, e gelozias de diversas cores, é a villa por toda a parte desabafada e alegre.

Avantajam-se as casas do marquez de Arronches, de que é hoje senhor o muito illustre sr. Henrique de Sousa Tavares, primeiro marquez de Arronches e 3.º conde de Miranda por mercê de el-rei nosso senhor D. Pedro II do nome, e é do seu conselho de estado, governador do Porto, e embaixador de Hollanda, de Castella e de Inglaterra, e ha de succeder-lhe na sua illustre casa e titulos o seu ill.mo filho o sr. Diogo Lopes de Sousa, que está para se casar com uma filha do sr. D. João Mascarenhas, conde de Sabugal, e chama-se sr.ª D. Margarida de Menezes.

Mas ainda melhores casas pelo sitio sobre a porta da Ribeira são as dos nobres Tavares, senhores da villa de Mira, e n'esta moradores, pois egualando com abobadas, muros, e ladeiras sobre a rua, á qual deram o seu appellido de Tavares, se entra em côche até á primeira sala: sobre outra abobada junto da porta da Ribeira, e por cima d'esta a olhar para o esteiro, e praça tem um jardim com flores, e plantas, onde está tambem uma grandiosa estatua de pedra de figura humana com uma serpente enroscada em uma das pernas, a qual é antiquissima e ha quem diga que é do tempo dos romanos, mas isto é tradicção que me parece sem fundamento. Era senhor d'esta casa ainda não ha muitos annos o muito nobre senhor Bernardim de Tavora de Souza Tavares, que serviu em tempo do sr. D. Affonso VI nas guerras com Castella, e commissario de cavallaria no Alemtejo, e foi mandado por el-rei nosso senhor para governador de Mazagão, e ha de succeder-lhe o muito nobre sr. Manuel de Souza Tavares, senhor de Mira, que é capitão de infanteria, de soccorro a Ceuta.

A nobreza originaria de Aveiro pode deduzir-se de tres principios: o primeiro dos Turdulos, que depois do Diluvio, e da dispersão dos povos, e como descendentes de Japhet, que povoaram a Azia menor e a Europa, povoaram tambem toda a costa occidental desde o Douro até ao Tejo na qual, diz Brito, se perpetuou aquella nobreza antiga com menos mistura das nações estrangeiras, que em nenhum outro districto de Luzitania; e ha quem diga que depois se misturara com esta raça, raça dos Anglo-saxonios, e da Grecia que produziu homens bem feitos, valentes, e esforçados para a guerra, prudentes na paz, e cortezes no tracto entre si. O 2.º dos Leonezes que ennobreceram a Terra de Santa Maria, que comprehendia desde Gaya â beira do Douro em frente do Porto, e a comarca da Feira, a de Esgueira e esta Villa, tendo esta Terra sua primitiva origem na Villa da Feira, e Arrifana de Santa Maria. O 3.º dos portuguezes antigos que illustraram a provincia da Beira a que el-rei D. Affonso III chamou – Lago de sangue nobre – e a chronica do mosteiro de Grijó dos conegos regrantes de S. Agostinho diz assim a folhas 77 – Não pode duvidar-se de tudo isto por ser a terra da Feira, que se estende desde Gaya até Aveiro, desde o anno de 900 – e já de antes habitada de gente illustrissima em tanto que os privilegios que os senhores reis d'estes reinos foram dados aos Infanções, costumavam dizer – que as haviam iguaes nas honras, e mais graças, e isempções aos antigos Infançôes da Terra de Santa Maria, como declarou D. João I nos privilegios que deu á cidade do Porto, Braga e Guimarães.

Desde então para cá tirou muitos a côrte, e as fronteiras, e as armadas, e as conquistas nas terras dos mouros na Africa, e as da India, sepultando-se a maior parte das familias nobres em eterno esquecimento, umas por acabarem de todo as suas gerações especialmente nas varonias, e outras por não terem patrimonios para poderem sustentar sua nobreza, e outras, ou por casamentos, ou outras rasões de conveniencia foram habitar na côrte, e nas províncias com que não tratando das nobres casas, que procedem de Aveiro, se omittem tambem as que gozam em outras partes dos morgados e capelIas, que aqui possuem.

Dos nobres que n'esta Villa a espaços residem tem em primeiro lugar os mui nobres fidalgos Souzas Menezes, capitães-móres d'esta Villa, e governadores da comarca de Esgueira; e tambem os Sás - Pereiras – Coutinhos – que descendem dos Roseimos. As mais familias de nobreza conhecida, e legitima, nomeando-as sem ordem de precedencia são as seguintes

 

 

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