Misticismo cristão

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III


A comunhão da Terra

Antigamente a Terra era mais só
Do que um órfão sem mãe e sem carinhos

Um deserto sem fim. Calhaus e pó

Lançavam maldições pelos caminhos.


Nem lírios, nem jasmins, nem rosmaninhos,

Nem sorrisos de flor, a flor do pó...

Nem a orquestra musical dos ninhos...
A Terra era mais pobre do que Job...


Ora um dia, porém, cheio de luz,
Cristo desceu do céu, subiu à cruz
Para abrir os portais da Nova Vida...


Seu sangue gotejou, correu no chão
Em vermelho caudal e foi então
Que a Terra começou a ser florida.


IV

O Cristo dos pequeninos

No Levante, ao sol-pôr, quando esmorece,
Pelo crepuscular, nas vagas quérulas
Um dilúvio fantástico de pérolas
frisa todo o mar que um beijo aquece...


A Noite lenta vem! Como uma prece
Do moribundo à hora da agonia
Com trémulos convulsos desfalece
Num poente de angustia a luz do dia.


Era por essas tardes sob os lindos
Olhares hebraicos de gentis morenas
Que o bom do Cristo ao pé dos tamarindos


Tinha a histeria dos ímpetos divinos
E afogando as cóleras serenas,
Falava ao coração dos pequeninos...


Eduardo Metzner

 

01-01-2021