Misticismo cristão
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III
A comunhão da Terra
Antigamente a Terra era mais só
Do que um órfão sem mãe e sem carinhos
Um deserto sem fim. Calhaus e pó
Lançavam maldições pelos caminhos.
Nem lírios, nem jasmins, nem rosmaninhos,
Nem sorrisos de flor, a flor do pó...
Nem a orquestra musical dos ninhos...
A Terra era mais pobre do que Job...
Ora um dia, porém, cheio de luz,
Cristo desceu do céu, subiu à cruz
Para abrir os portais da Nova Vida...
Seu sangue gotejou, correu no chão
Em vermelho caudal e foi então
Que a Terra começou a ser florida.
IV
O Cristo dos pequeninos
No Levante, ao sol-pôr, quando esmorece,
Pelo crepuscular, nas vagas quérulas
Um dilúvio fantástico de pérolas
frisa todo o mar que um beijo aquece...
A Noite lenta vem! Como uma prece
Do moribundo à hora da agonia
Com trémulos convulsos desfalece
Num poente de angustia a luz do dia.
Era por essas tardes sob os lindos
Olhares hebraicos de gentis morenas
Que o bom do Cristo ao pé dos tamarindos
Tinha a histeria dos ímpetos divinos
E afogando as cóleras serenas,
Falava ao coração dos pequeninos...
Eduardo Metzner |