ECCOS E REFLEXOS

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O branco é n'este momento a cór mais usada, mas ha tambem quem lhe prefira o preto: são as senhoras nutridas, porque, como é sabido, o preto adelgaça a figura, faz parecer menos gordas e mais altas as pessoas gordas e baixas.

Para as viuvas e senhoras de idade a moda desencantou um foulard especial e lindo, todo preto com pintas brancas, que tem tido grande voga.

Em contraposição para as senhoras novas, ha tambem um foulard branco com pintas pretas, cheio de originalidade e muito procurado pelas pessoas amantes de novidades.

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Começa já a falar-se nos tecidos e côres que irão usar-se no proximo outomno.

Os linguareiros dizem que o tecido mais adoptado será a cachemire e a côr mais escolhida será a gamma do rôxo ao côr de rosa.

Tudo pode ser, mas por emquanto é prematura qualquer affirmação categorica; limitamo-nos pois a dar a noticia como mero boato, porque se na vida o homem põe e Deus dispõe, na moda muitas vezes a modista propõe e a elegante resolve.

O que ella resolverá ao certo, é por emquanto mysterio impenetravel...

O automobilismo na guerra

Os balões estão destinados a fazer uma revolta completa na guerra. A estampa agora inserta representa um automovel armado de um canhão, ao qual se pode dar a inclinação precisa para atirar sobre os aerostatos. Uma peça de artilharia dispara projecteis armados de navalhas que rasgam o envolucro do balão e que o põe em circumstancias de não se poder aguentar no ar.

 

 

«Beijos Perdidos»

Manuel Duarte de Almeida, o glorioso poeta lyrico d'A Mosca Morta – essa encantadora aguarella pantheista, rescendendo perfumes delicados e irradiando scintillações de arte esmeradissima da sua cinzeladura cheia de animo e de graça, acaba de publicar um delicado poemeto intitulado Beijos Perdidos, que são mais uma affirmação radiosa dos seus altos meritos de artista, mais uma demonstração de quanto a sua musa é delicada, altruista, cheia de mimo e de ideaes anhelos pela suprema perfeição.

Despedem beijos ao ar,

Beijos que perdidos são,

As senhoras, que, ao beijar,

Só fingem que beijos dão.

No espaço, a peregrinar,

Taes beijos – aonde irão?

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Assim perdidos no ar...

E' crime sem remissão.

 

Senhoras! Peço perdão

De... não poder perdoar!

M. Duarte d'Almeida tem um dever a cumprir para com todos quantos amam as boas letras e os bons poetas d'este paiz, qual é a collecção em volume dos seus lindos versos lyricos – essas joias da mais pura filigrana de oiro precioso, que andam por ahi dispersas, tão longe dos seus cuidados...

Recordando-lh'o, affirmamos-Ihe o nosso affecto e a nossa carinhosa admiração pela nobreza da sua alma e pela superioridade do seu talento.
 

Ortografia da época

09-12-2020