Senhoras em evidencia

Litteratura

 A sr.ª D. Margarida de Sequeira e Luiza são uma e a mesma entidade. Estremamente modesta, d'uma modestia que toca as raias do culto, a sr.ª D. Margarida de Sequeira não quiz impôr aos vôos da publicidade o seu verdadeiro nome e d'esse delicadissimo sentimento suggeriram os seus dois pseudonymos tão carinhosamente conhecidos pelo publico que lê.

Com o nome de Margarida de Sequeira firmou numerosas novellas vibrantes de phantasia e de vivacidade, profundas na essencia e subtilmente polvilhadas de graça e do colorido na fôrma, e que, sem duvida, representam documentos eloquentes d'uma intellectualidade que deve orgulhar o sexo a que pertence e a amoravel creatura que as escreve.

Mais tarde, uns requintes finissimos de intelligencia e de bondade, creou essa personalidade fina e graciosa de Luiza que tão querida foi das leitoras d'esta revista. No seu Consultorio, como ella despretenciosamente denominava a sua secção nos Serões, acorreram todas as mulheres que vibram com as alegrias da vida e tambem todas as que provavam nas suas torturas mais amargas. Nenhuma d'ellas ficou sem um conselho, sem um lenitivo, sem um sorriso ou uma lagrima que fosse aljofrar o estado de uma alma que se patenteasse a Luiza.

E ao escrevermos rapidamente estas linhas para acompanhar o seu retrato, homenagem fervorosa e justa d'uma publicação a que ella tanto emprestou do seu prestigio intellectual, não sabemos a que mais vimos se a pôr em relevo uma individualidade a quem muitos já devem as letras patrias, se a exaltar um coração diamantino para quem a humanidade tem contrahida uma divida enorme de amor e de complacencia.

A força naval da Inglaterra

A recente visita da esquadra ingleza, que, com uma carta autographa de Eduardo VII a el-rei D. Manuel, representa mais uma manifestação da velha e tradicional alliança luso-britannica, trouxe por alguns dias uma nota interessante e movimentada á nossa capital. Os typos caracteristicos dos seus marinheiros e officiaes, typos viris e louros, percorriam as praças publicas por entre a attenção de todos, que admiravam a sua compostura, contrastando com os proverbiaes desmandos, que tão peculiares lhes eram em terras peninsulares.

Dos pontos altos da cidade, que são como que minaretes olhando o Tejo, grande numero de pessoas foram presenciar a entrada dos colossos da marinha de guerra ingleza, que eram, ainda assim, uma parte minima da grandiosa força naval do Reino-Unido, por certo a mais poderosa, a mais forte, a mais rica do mundo inteiro.

/ 254 / A Inglaterra teve sempre a preoccupação de não só manter integra a sua supremacia naval, como ainda augmental-a dia a dia, e cada vez mais. E' conhecida a velha rivalidade, que sob esse ponto de vista, existe entre a Allemanha e a Inglaterra.

O jmperio germanico procura attingir o grau de prosperidade maritima da Inglaterra, e justiça é dizer que, sob o ponto de vista commercial, o tem conseguido. As suas victorias de navegação mercantil sobre a Inglaterra trazem esta seriamente preoccupada, não só porque representa um desequilibrio commerciaI a favor do imperio allemão, como ainda porque, segundo a lei que estabelece e rege a navegação commercial allemã, cada um dos grande transatlanticos que navegam sob a bandeira tricolôr é, em caso de guerra, um navio militar. Apesar d'isso, porém, a Allemanha ainda não conseguiu uma tão grandiosa força naval como a que hoje possue a Inglaterra, com os seus quatro Dreadnoughts, que ainda ha dias entraram triumphantemente em Londres, pela primeira vez. Foi um dia de orgulho para o patriotismo inglez. Cortando céleres as aguas negras do Tamisa, o povo londrino viu approximar-se, assombrado, essa parte da força naval do Reino-Unido, que só por si era uma força consideravel. Foram 24 navios de combate, entre os quaes entraram quatro Dreadnoughts, de 18,500 toneladas e 10 canhões; 3 crusadores-dreadnoughts, de 17:500 toneladas; cruzadores dos typos Lord Nelson e Eduardo VII, que ven decrescendo de 16:500 toneladas; 16 crusadores couraçados, 14 crusadores protegidos, 55 destroyers e torpedeiros, 35 submarinos e 6 navios auxiliares – ao todo 150 navios.

E toda esta força monstruosa não representa mais que uma parte do seu poder naval. Ao passo que no Tamisa entravam estas duas poderosissimas esquadras, visitava Lisboa a esquadra do vice-almirante Jackson, que circula no Mediterraneo, e que foi mandado fazer essa visita official, após as manobras nos mares de Malta.

D'esta visita, por tantos titulos agradavel, deve ter ficado no espírito dos valentes marinheiros inglezes uma impressão agradabilissima, dada a cordealidade com que foram recebidos e tratados pelos nossos distinctissimos officiaes de marinha, que são em qualquer parte do mundo figuras de destaque, pela sua intelligencia, pela sua cultura e pela sua educação.

Chronica da moda

Viajar de automovel – Os chapéos para automobilistas – Cores e tecidos – O que vae usar-se?

Estamos na época das thermas, das praias, das villegiaturas.

As revistas do grande tom, feitas para as damas ricas, para as privilegiadas da fortuna, só se occupam das toilettes luxuosas dos casinos, dos costumes apropriados para os varios sports, do vestuario usado nos automoveis.

Presentemente todos viajam em automovel, ainda / 255 / que não seja senão em ligeiro passeio pelos arredores de Lisboa quem se ha de apresentar sem toilette apropriada dentro d'essas bocetas almofadadas, d'um ar distincto, que mais parecem lindos gabinetes de repouso, do que monstros de tentaculos gigantescos, destinados a devorar centenas de kilometros por hora?

Levam em si o conforto e a elegancia, offerecendo por todos os lados os seus pequenos bolsos recheados dos accessorios indispensaveis á toilette feminina: – o espelho, a borla de pó de arroz, cremes, escovas, livros; na frente, em bella cornucopia de crystal, geralmente um ramo de flores derrama em tomo o seu aroma fresco. Não é um vehiculo, é um boudoir que nos leva por essas estradas fóra, n'um arrebatamento de sonho.

Raras vezes se deita um olhar á paisagem, que mal se distingue na rapida visão que nos dá.

Dentro conversa-se, risse, joga-se o bridge aproveitando-se as pequenas tablettes que o auto tambem offerece; antegosa-se a chegada ao ponto do destino; dá -se uma nova vista de olhos ao espelho; entretanto tem-se chegado, e sae-se do lindo cofre que, diga-se de passagem, é muito mais lindo por dentro do que por fóra.

Como geralmente se não póde sair limpinha e fresca como se entrou, porque os solavancos e o pó das estradas tudo amarrotam e enxovalham, procuram as modistas attenuar este reverso da medalha, inventando protectores para as toilettes em amplos casacos abotoados até ao pescoço n'um rigor de resguardo exagerado, sem comtudo affectar a elegancia.

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Os chapéos, na sua fragilidade quando não são propriamente largas boinas de fazenda sem guarnições, são as victimas mais lesadas nos precalços da viagem.

Como remedio a moda inventou o seguinte subterfugio: a viajante automobilista leva dois vãos, um fino e leve que lhe envolve directamente o chapeu e se conserva sempre limpo e fresco, outro mais grosso de mousseline, mais impenetravel e envolvente, onde se fixam as lunetas que lhe resguardam os olhos e que se tiram rapidamente com o véo ao saltar abaixo do auto, dando a impressão de que nem o pó nem as inclemencias da travessia ousaram tocar-lhe.

E' uma illusão que só serve para enganar os outros... mas... raras vezes é preciso mais para uma elegante ficar satisfeita.

Como nem todas podemos ter as delicias do automobilismo, não tendo comtudo menos direito ás confidencias da moda, vamos informar as leitoras sobre outros pontos que podem interessal-a, baseando-nos nas auctoridades que mais despoticamente decretam sobre tão monumental assumpto.

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A fraqueza do corpo, dibilidade dos membros e nervosismo das senhoras, dissipam-se por completo com a SOMATOSE.