A uma actriz


Amo-te, sim: extremamente bela
Te encontro, oh minha flor, oh minha estrela
                     De fulgurante luz!
Amo os teus olhos de volúpia feitos,
Teus lábios rubros, os teus brancos peitos
                     Tudo o que em ti seduz.

Sou mais um dos que vão ternos depor-te
Aos pés uma homenagem: à tua corte
                     Não pertenço, porém –
Sei que a mais pura e luminosa taça
De bom cristal, que nenhum sopro embaça
                     Veneno acaso tem...

Eis-me, pois, a libar-te da Beleza
O ponche ardente, a irradiação acesa
                     De ti manando a flux;
Mas não chego, a beber-te o fundo – a alma
Que o fundo é amargo, e já a sede acalma
                     Tudo o que em ti seduz.

Carlos Afonso dos Santos

 

 

05-12-2020