Eu via sempre a aleijadinha,
Gemendo, a olhar-me... – Coitadinha!
Um dia disse-lhe: «Pequena,
Que fado ruim, ou mágoa, ou pena,
Te faz andar, no meu delírio,
Atrás de mim, nesse martírio?»
E disse-me ela: «Pai, quem há-de
Encher a tua soledade?
Como hás de tu viver na Dor
Sem te amparar um só amor?
Escuta, pai: – serena, acalma –
Eu sou o amor da tua alma;
Procura alguém que substitua
A minha imagem na alma tua,
Procura um corpo em que eu reviva –
Converte a sombra em carne viva.
Enquanto não o conseguires,
Ver-me-ás em tudo quanto vires.»
Tempos depois, a aleijadinha,
Partiu, deixou-me... – Coitadinha!...
Foi de repente e nunca mais
Tornei a vê-la ou a ouvir-lhe os ais... »
– Cobriste a sombra a pedra ou lousa?
– «Tive outra filha. – Aí tem a coisa.»
Baía dos Tigres
Alberto Correia |