Adormeceu o avô, a tia, a neta,
         – dormir que ainda dura –,

por terem lido os versos do poeta,

         numa única leitura.

 

Ministros, senadores, deputados,

         uma caterva infinda!

principiam a ler os tais malvados,

         estão dormindo ainda.

 

Um médico, chamado a dar aviso,

         com doutoral entono

começa a entrar nos versos, d'improviso

         rebola ao chão com sono!

 

Dorme toda a ilha, vítima inocente

         das rimas indiscretas!

Toda cautela é pouca, seriamente,

         com álbuns e poetas.

 
 

Passou-se o caso estranho há muitos anos,

         há mesmo alguns milhares,

quando Ulisses, torrados os troianos,

         sulcava, errante, os mares.

 
 

Noto esta circunstância simplesmente

         por medo duns mesquinhos:

não vão supor-me o autor impertinente

         ou o réu dos tais versinhos...

 

José de Sousa Monteiro.

 

25-10-2020