Adormeceu
o avô, a tia, a neta,
– dormir que ainda dura –,
por terem lido os versos do poeta,
numa única leitura.
Ministros, senadores, deputados,
uma caterva infinda!
principiam a ler os tais malvados,
estão dormindo ainda.
Um médico, chamado a dar aviso,
com doutoral entono
começa a entrar nos versos, d'improviso
rebola ao chão com sono!
Dorme toda a ilha, vítima inocente
das rimas indiscretas!
Toda cautela é pouca, seriamente,
com álbuns e poetas.
Passou-se o caso estranho há muitos anos,
há mesmo alguns milhares,
quando Ulisses, torrados os troianos,
sulcava, errante, os mares.
Noto esta circunstância simplesmente
por medo duns mesquinhos:
não vão supor-me o autor impertinente
ou o réu dos tais versinhos...
José de Sousa Monteiro. |