49
São Gonçalo tem capela.
São Roque tem um canal.
Bons vizinhos, em Aveiro!
Ninguém ousa dizer mal!
50
São Gonçalo bem avisa:
"Contra a corrente é que é!"
Freima e teima a populaça...
"Vai ao sabor da maré!"
51
São Tiago se aprontou
A ajudar Santo António
E dos recantos de Aveiro
Foi sacudido o demónio!
52
Santo António e São Francisco,
ao parque, vão contemplar...
São Gonçalo, à beira Ria,
Até sem nassa, vai pescar!
53
Santo António e São Francisco
Rogam à Senhora da Ajuda!
São Tomás e São Domingos...
O Carmo que os acuda!
54
Veio a Senhora do Carmo...
Foi seu manto estendido.
Veio o Povo para o largo...
Foi festejo desmedido!
55
Chega a Senhora de Março
Folga Aveiro e vai à Feira.
Em rodopio, no Largo,
Gira uma Cidade inteira!
56
"Saleiro" vem da salina,
"Anda à vara" e "anda à vela"
Voga, nas calmas, pela Ria,
Vem da festa "Botadela!" |
57
"Saleiro" que foi do Fojo,
Foi ao sal, à Troncalhada,
Foi ao Alboi e ao Rossio...
Chegou a São Roque sem nada?
58
Não há sal na Troncalhada?
Vai-se rer à Mó do Meio!
Não fica a malta parada
Por ruir mais um esteiro!
59
Mercantel ou Moliceiro?
Mercadorias, Moliço!
Se é para ganhar dinheiro...
Quem é que quer saber disso?
60
Mercantel na Fonte Nova
Carrega tijolo e cal
Quando volta da Murtosa,
Ele é junco, é pão, é sal!
61
Há barcos no cais do Fojo,
Quando da Glória olhamos.
Quantos clamam que é do Cojo,
Quando à Vera-Cruz nos vamos?
62
Mercantéis, ao par, no Fojo?
Fazem feira das cebolas!
Enquanto descarga e carga,
Namoriscam-se as moçoilas!
63
Se vogassem moliceiros
Por outros canais da Ria,
Raiavam, das águas de Aveiro,
Luz e sal e mais poesia!
64
"A Ria esconde beleza
Que, se Aveiro a agarrasse,
Compensaria em riqueza
Quem, com labor, lha mostrasse!"
|