Luís Jordão, Palavras Ajuntadas, Lisboa, Sociedade Agrícola Gabriel Francisco Dias e Irmãs, Ldª (Couteiro Mor) e Arte e Edições, 2005, 52 pp.
Fim da página (Dezembro, 1970)
manhã alta
manhã sombria
mulher passando
cabelos manchados de branco
cheirando a tempo e a dor
uma lágrima já seca
na vista cansada
de olhar o mar
ninguém mais vê
ninguém mais sente
no cais deserto
fantasma esguio
o filho desfila para ela
o bater cadenciado
o peito dilatado gritando o orgulho
da vida jovem que partiu
olhos sem expressão
olhos que vêem sem ver
um barco partindo
sulcando o mar
a caminho do nunca mais