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Alentejano por adopção e apaixonado pela cultura e pelo povo desta
região, o inesquecível actor Mário Pereira nasceu no Barreiro (filho
de ferroviário) em meados de 1933 e morreu em Lisboa em 1996.
Mário Pereira
iniciou-se no teatro amador ainda bastante novo, vindo a diplomar-se
no conservatório em 1954. Passou, ao longo da sua recheada carreira,
por quase todas as importantes companhias de teatro, contracenando
com a maior parte dos grandes actores e actrizes portugueses do seu
tempo. Era actor residente do Teatro Nacional de D. Maria II quando
faleceu.
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Teve, também,
uma passagem bastante significativa pelo cinema, rádio e televisão.
Para aferir da
sua importância no panorama cultural do período em que viveu, basta
debruçarmo-nos, com alguma atenção e seriedade, sobre o que ficou
para a história em texto, fotografia e na memória daqueles que com
ele tiveram o privilégio de conviver.
Foi até ao fim
da vida um homem de grandes convicções sócio-culturais, defendendo
intransigentemente a necessidade de uma sociedade mais justa e
equilibrada, onde o conhecimento e a cultura fossem coisas
sérias/limpas a que todos tivessem acesso, sem favor, onde os pobres
o fossem cada vez menos e os ricos pagassem, realmente, a crise.
Para além de
tudo isto, Mário Pereira, como já dissemos, tinha a paixão do sul,
especialmente pelo Alentejo. Esta paixão manifestava-se em pequenos
gestos do dia-a-dia, na Casa do Alentejo, mas também em grandes
atitudes na área em que profissionalmente circulava, incentivando
iniciativas e ajudando a levá-las à prática.
Em 1984, ajuda o
Núcleo de Amigos do Concelho de Mourão, na altura muito activo, a
organizar, com o apoio da Câmara Municipal de Mourão e da Casa do
Alentejo, na Ocarina (Bairro Alto – Lisboa), uma semana deste
concelho, que incluiu, além da gastronomia realmente regional, um
programa de actividades genuinamente representativo, do qual se
destacaram os concertos de rua no Largo de Camões e na rua do Carmo,
levados à prática pela Banda de Mourão, bem como a actuação, em
movimento, do Grupo Coral de Mourão, ao longo da Rua da Rosa,
partindo do Largo do Chiado.
Já em 1983, diligenciando junto do então director do Teatro Nacional
de D. Maria II, Dr. Brás Teixeira, conseguiu autorização para que a
companhia se deslocasse a vários pontos do Alentejo. Então com a
grande dedicação dos actores e técnicos, o forte apoio da Casa do
Alentejo e das autarquias, que aderiram ao projecto (Alandroal,
Amareleja, Barrancos, Borba, Elvas, Estremoz, Évora, Moura, Mourão e
Vila Viçosa), pagando uma verba simbólica, conseguiu que a companhia
se deslocasse ao interior do Alentejo, com a peça
LONGA VIAGEM PARA A
NOITE,
de Eugene O’neil, representada por boa parte da “nata” dos actores
portugueses: Carlos Daniel, Lygia Teles, Luz Franco, Mário Pereira e
Rogério Paulo.
Este
espectáculo, de altíssima qualidade, foi representado nas povoações
mencionadas, algumas vezes em espaços com escassas condições e
poucas em salas de espectáculos dignas desse nome. Valendo, como
acima dissemos, a grande dedicação de todos os intervenientes,
pessoas e instituições.
Julgo que é a
partir de conversas havidas durante esta digressão da Companhia do
Teatro Nacional que nasce a ideia de dar o nome da actriz Eunice
Muñoz a uma rua da Amareleja, por a mesma ser natural daqui. Penso
que a intervenção de Mário Pereira nesse assunto teve bastante peso.
Muitos outros
actos haveria para exemplificar a sua paixão pela região dos espaços
abertos, mas julgo que estes ilustram, na essência, tudo o que se
pretende dizer.
É importante
frisar o quão estranho é o silêncio a que hoje o seu nome vem sendo
votado, mesmo pelos seus iguais.
Luís Jordão
- 2003 |