não sei se
cabemos na ilha se a ilha cabe
em nós. a geografia não é solução
que dela se toma o que se quer.
sei que a ilha encalhou neste local precisamente
onde a imaginava. e ao redor da ilha os peixes são
pescados. sempre. é que
o hemisfério da racionalidade
troca voltas à vida – estavam frias
as janelas e não tinha olhos
para o sentimento por onde florissem lágrimas
ou alguma ausência aquecesse
o lusco-fusco e os gatos. a
cínica madrugada veste lantejoulas
para esconder os seios. a serenidade
do lugar da noite
tem o amor escondido atrás das portas
no lugar das esfregonas que é uma ilha
feita de pedra-pomes e de sentinelas. e
aos domingos saem pedras ao caminho
com cabelos de sol mas as palavras
que trazem de que palavras falam?
ai vento que de palavras falam
palavras desnudas que pelo caminho ficam
defendidas dos assaltos. e
são frescura no enxaguar dos beiços
ou lençóis que do orvalho falam? ou dos dias
com a explosão dos silêncios que massacram os dias?
ou verdejam os sulcos alinhados nas almas.
cuidado! que pedras vêem. ao caminho vêm
com cabelos de sol. e
te anunciaste e já partias onde a ilha
tem o outro lado e é um espelho. tem a lâmina
e é o corte. tem o segredo e é o grogue.
anuncias-te no portal das viagens
que nos trocam as vidas e descobrimos
(então) que descascamos as madrugadas.