Tal como previmos no
número passado, o ano de 2009 caracterizou-se pelo aprofundamento da
crise do sistema financeiro mundial. Oficialmente iniciada em finais de
2008, foi-se alargando progressivamente a outros sectores – económico,
social e político. Mas para alguns, a crise já existia há muito e
compreendia todo o sistema global, incluindo o ambiental. As suas
origens eram várias e não se reflectiam apenas no chamado aquecimento
global. |
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Ao contrário do que uns
quantos propagandeavam, as variações do clima não tinham apenas razões
humanas centralizadas na produção de CO2. Na sua origem
estavam causas humanas que ultrapassavam largamente a referida produção
de anidrido carbónico, mas também causas naturais. Este alarmismo,
reducionista, seria apenas uma forma de desviar as atenções de outros
problemas, de consequências bem mais graves do que as alterações
climáticas.
Para muitos especialistas
o mundo está em progressiva e irreversível degradação provocada pela
destruição indiscriminada dos recursos naturais, pela poluição sem
limites, incluindo a provocada por armamento, nuclear e químico, o
envenenamento dos produtos alimentares, os gastos energéticos
sumptuosos, o fim aprazado dos recursos energéticos conhecidos, etc.
Tudo isto contra a imensa maioria da humanidade e em benefício de uma
oligarquia poderosa, que continua a enriquecer independentemente das
crises (1).
Como sempre, os
protagonistas e responsáveis pela maior parte destes problemas são uma
minoria planetária de apenas 4% da população mundial. Os E.U.A., embora
enfrentando cada vez mais dificuldades, continuam a manter-se na
liderança desse protagonismo, sendo o maior consumidor de recursos e o
maior poluidor e destruidor do mundo.(2)
Daí que os acontecimentos relativos a esse país e seus aliados sejam
incontornáveis sempre que tratamos de problemas ambientais e de
qualidade de vida ao nível planetário.
Para um mundo farto e
aterrado com a agressiva, irresponsável e criminosa governação da dupla
Bush/Cheney e seus conselheiros neocons, a eleição de um presidente
negro do Partido Democrata, cuja campanha fora um enunciado de promessas
de esperança, constituiu uma vaga de alivio.
Passados apenas alguns
meses, confirma-se aquilo que os mais avisados previam: as perspectivas
abertas com a eleição de Obama não se concretizam, continuando a
manter-se, no essencial, todos os problemas que os ultraconservadores
deixaram como herança.
Em alguns aspectos, estes
até se agravaram, como o refinanciamento do sistema financeiro
fraudulento, a não retirada das tropas do Iraque, o envio de mais tropas
para o Afeganistão, o alargamento da guerra ao Paquistão, os novos
bombardeamentos de civis, a política expansionista, genocida e racista
de Israel, as ameaças ao Irão, a manutenção das prisões secretas e dos
raptos e a abertura de novas prisões secretas flutuantes, a não
resolução do embargo a Cuba, a abertura de mais bases militares na
América Latina e em África, culminando com a recente intervenção de
militares americanos no golpe de Estado nas Honduras e posterior ajuda
financeira. Pesem embora as declarações iniciais de Obama e Sr.ª Clinton,
condenando o golpe neste país, a diplomacia USA, tão lesta a defender
democracias de pacotilha, permanece muda e queda. Começam-se a levantar
legítimas suspeitas de que, ou Obama se encontra refém do mesmos
conservadores de sempre, o que configuraria um golpe de estado, ou
concorda com eles e mentiu ao eleitorado e ao mundo. O mais certo serão
as duas coisas juntas. Por um lado, os complexos militar,
industrial/químico e financeiro dos E.U.A., de mãos dadas, continuam
apostados em continuar a politica de pilhagem dos E.U.A. Por outro,
Obama assume a missão de continuar a suposta predestinação desse país
como líder mundial. Comprova-se assim que a mudança no interior do
sistema é virtualmente impossível.
Enquanto isso, e talvez
para facilitar a aceitação dessa situação, continua a vaga de alarmismo,
senão mesmo de terror junto das populações do globo. Para culminar o
ano, pródigo em acontecimentos alarmantes, ou alarmistas,
propositadamente espalhados ou não, outra notícia surgiu, com uma
propagação no mínimo suspeitas: a da gripe suína ou H1N1. Mesmo antes de
ser conhecida a gravidade da doença já os governos andavam num afã, ao
mais alto nível, todos a uma voz, a “informar” as populações de que um
quarto delas, senão mais, iria ficar infectada. Quando uma política
responsável apontaria para reduzir o alarmismo nas populações, o que
aconteceu foi precisamente o contrário. A crer em tal gravidade da
epidemia, tudo indicaria que a OMS e os Governos iriam produzir os seus
próprios genéricos, baratos. Mas não. Eis que se vão gastar fortunas
(públicas) por esse mundo fora na compra de milhões de vacinas (a
monopólios privados). Quem diz gastar para uns, diz obviamente arrecadar
para outros. Por acaso, ou talvez não, quando foi divulgada a gripe, a
dita vacina estava quase pronta e os governos apressaram-se a encomendar
doses imensas à empresa produtora, que, de um dia para o outro via
multiplicar os seus lucros centenas de vezes. Por acaso, ou talvez não,
a empresa era norte-americana e pertencera ao Sr. Rumsfeld, o
ex-secretário da defesa de Bush, cujo governo, fora também comprador de
doses maciças de vacinas à mesma empresa quando do anunciado surto de
gripe aviária. Daí ao levantar da suspeita de que a gripe era um produto
de laboratório propositadamente lançado “no mercado”, com a cumplicidade
das autoridades, incluindo as sanitárias, foi um ápice.
Como se vê, o ambiente
planetário não melhorou no ano que passou. E o seu principal problema é
o mundo continuar à mercê de grupos mais ou menos gananciosos, mais ou
menos irresponsáveis, mais ou menos criminosos, que, através da
acumulação de dinheiro fácil, chegaram aos lugares cimeiros do poder. As
recentes iniciativas das nações mais industrializadas sobre o clima e o
desarmamento, destinam-se mais a atemorizar países considerados inimigos
e impor metas a outros países em crescimento, do que em assumir a sua
quota-parte no desastre climático
(3).
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Contraditoriamente, ou
talvez não, 2009 pode também vir a ser o ano em que sinais de esperança
surgem por algumas partes do mundo, nomeadamente na América Latina, com
uma evidência não conhecida há muito. Por mais que a mentira oficial o
tente esconder, um mundo novo teima em renascer das cinzas de um mundo
velho em decadência. Mas este não dá tréguas, não findará por sua livre
vontade e continua a justificar o seu combate cerrado por aqueles que
querem ver este planeta livre da barbárie destruidora. Como temos
referido em textos anteriores o principal inimigo do ambiente não é o CO2
mas sim o sistema económico/ politico que se impõe pela força ao mundo e
o destrói pouco a pouco. |
(Dos jornais)
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(1)
O sector
financeiro está o mesmo que antes; as seguradoras de saúde ganharam com
a reforma de saúde, as empresas de energia ganharam com a reforma do
sector, os sindicatos perderam com a reforma trabalhista e, certamente,
a população dos EUA e do mundo perde, porque a destruição da economia é
grave por si mesma. Se o meio ambiente é destruído, os que mais sofrerão
serão os pobres. Os ricos sobreviverão aos efeitos do aquecimento
global. (Noam Chomsky, em entrevista ao “La Jornada”, 23/09/09)
(2)
Um dos
problemas ambientais menos conhecidos, mas nem por isso menos
importante, é o da quantidade de resíduos radioactivos, bacteriológicos
e químicos com que as suas intervenções militares vêm contaminando todo
o planeta e não apenas os locais de guerra.
(3)
Coincidindo com
a reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a não proliferação de
armas nucleares, realizou-se este mês de Setembro uma Cimeira destinada
a preparar a conferência de Copenhaga no próximo mês de Dezembro, na
qual os maiores poluidores tentarão um acordo posterior ao de Kioto
sobre as alterações climáticas. A China já assumiu que irá fazer
mudanças.
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