N.º 11 – Junho de 1999
Há vinte e cinco anos aconteceu o dia em que todos os sonhos e
esperanças pareciam possíveis. Há vinte e cinco anos aconteceu a
confiança de que podíamos. Há vinte e cinco anos estivemos tão perto...
Entretanto, os avanços e recuos, as “cambalhotas” ao sabor das
conveniências do momento, a hipocrisia, a mentira sistematicamente
repetida até parecer verdade, as promessas raramente cumpridas e o
egoísmo, fizeram perder a muita gente o sentido autêntico da verdade,
abrindo caminho a um branqueamento descarado do antigo regime e de
muitos dos seus militantes e agentes.
Todavia,
não foi há tantos anos assim. Não é possível que tenham sido esquecidas
conquistas tão importantes como o Poder Local, o direito de palavra e de
intervenção, o fim da Guerra Colonial, a libertação dos presos
políticos, a criação livre dos partidos, entre outras.
Mas é
verdade que as frustrações são muitas, que há imensas coisas por fazer,
que as populações participam cada vez menos na prática da democracia,
que se está esquecendo a generosidade e a abnegação, que estamos
perdendo as defesas contra a desinformação assistindo impávidos e
serenos à grande comédia (no mau sentido do termo) que são muitos dos
comícios, congressos, debates, “grandes reportagens”, alguns noticiários
televisivos, etc.
Dança-se à
volta das grandes questões. Finta-se quem ouve, mascarando de diálogo a
falta de vontade de fazer.
Por tudo isto, vinte e cinco anos depois do 25 de Abril de 1974, à beira
do novo milénio, seria bom termos a certeza da canção que diz: “E
se Abril ficar distante / desta terra e deste povo / a nossa
força é bastante / para fazermos um Abril novo”.
Mas não
tendo esta certeza, é indiscutível a de que sendo importante o que se
passa ao longo dos anos, não o são menos os momentos que se vivem, cada
um por si. |