Apresentação
Sua Mãe guardava todos estes
acontecimentos em seu coração.
Lucas 2, 51
Catedral sou de memórias
feita, teia de luz
e sombras entrelaçando-se
E. Beirão – Na Luz das Palavras,
1998, p. 103
1. A nossa vida é feita de laços, de muitos laços, tantos que unem
numa teia infinda todos os momentos e acontecimentos de uma vida,
tudo o que nela cabe – e é tanta coisa, meu Deus! Sobretudo as
pessoas que fizeram parte dela e com ela interagiram, tocando-a
simplesmente ou moldando-a.
Porque não há acontecimentos nem
situações sem pessoas, estas é que são a razão e o centro de tudo. E
também as emoções (mais raramente), os atos, o agir.
Porém, já que se trata de memórias,
convém alertar que “falamos facilmente sobre o que fazemos mas
raramente falamos do que sentimos, e menos ainda do que somos. Não é
fácil desnudarmo-nos.(...)” (E. Beirão, Novamente Diário, 1999, p.
176).
2. Apesar do que fica transcrito,
asseguro que estas memórias não são ficção, antes dizem e assumem as
experiências que vivi, o que fiz e o que senti, como agi e como
reagi. Elas são a minha vida. Diria mais: elas são o meu tesouro.
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Baseei-me para as escrever na minha
memória, em algumas notas de diário, em documentos (como cartas e
convocatórias, que algumas vezes reproduzo), em livros e jornais
(que também cito amiúde), em apontamentos.
O que “fui” e o que “sou” infere-se da
leitura dos relatos que redigi, deduz-se das pessoas que intervieram
nos eventos, até dos contextos e fotografias que selecionei.
Entrevê-se ainda nos textos que escrevi e estão depositados noutras
obras, alguns dos quais às vezes chamo à colação. Aí se insinua o
meu “pensar” e certamente o meu “ser”.
3. Para compor estas memórias regressei
ao passado, não por saudosismo, não ao passado pelo passado, antes
com a intenção de, pela memória, descer à raiz e alicerce da minha
vida, seguindo depois o fio da sua história.
E senti-me feliz.
Ao voltar-me todo para trás, não me
perdi nesse mundo remoto, mas encontrei-me comigo e elevei-me ao que
fiz e ao que sou. Senti-me e sinto-me feliz.
Ao olhar para trás, não fiquei
transformado em estátua de sal, paralisado e inerte.
Ao olhar-me hoje, olhos nos olhos,
também não me vejo estátua de prata ou de ouro, mas vislumbro
fímbrias de luz que procuram afastar a sombra e ocupar-lhe o espaço,
acendendo um caminho iluminado. Sou feliz. Esta é uma “flor de
memórias” (EB) onde tudo está entrelaçado, como na vida. São
Memórias Entrelaçadas.
Aveiro, 5 de abril de 2018
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