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TEXTOS DIVERSOS

Cinquenta anos depois − 1968/2018

Meus Amigos, faz hoje 50 anos que passei o Primeiro Natal em Angola.

Sou feliz, de uma forma plangente, lágrimas que teimam sempre em aparecer, fruto desta nostalgia que, por força das circunstâncias, deixei para trás nestas terras, e que, se calhar, nunca devia ter conhecido.

No entanto, dizia um ditado popular que quem beber água do Bengo nunca mais vai esquecer Angola! O Bengo é um gigante líquido, que passa pelos Dembos, onde estive, e vai desaguar a norte de Luanda, na Barra de Dande.

 

No momento desta fotografia, ao almoço, em 25 de Dezembro de 1968, já eu estava casado, com 23 anos. É no refeitório do nosso quartel, na província do Zaire, bem acima de São Salvador do Congo, onde recebemos a visita do CMDT da ZIN, brigadeiro Henrique d’Avellar, Oficial-General de duas estrelas. Confidenciou-me que foi “Cabo de Guerra”. Por ironias do destino, na mesa de Oficiais e Sargentos, eu não sou visto, mas estava lá. Apenas vejo de costas o meu amigo, o furriel Araújo. Também não estava presente o nosso primeiro sargento Mendes, por estar a fazer rabanadas na padaria!

A saudade leva-me ao etéreo poeta madeirense, Cabral do Nascimento, virando páginas do meu livro:

    NATAL AFRICANO

Não há pinheiros nem há neve,
Nada do que é convencional
Nada daquilo que se escreve
Ou que se diz…Mas é Natal.

Que ar abafado! A chuva banha
A terra, morna e vertical.
Plantas da flora mais estranha,
Aves da fauna tropical.

Nem luz, nem cores, nem lembranças
Da hora única e imortal.
Somente o riso das crianças
Que em toda a parte é sempre igual.

Não há pastores e ovelhas,
Nada do que é tradicional.
As orações, porém são velhas
E a noite é Noite de Natal.

Texto dedicado aos meus Amigos, no dia 25 de Dezembro de 2018

João Pires Simões

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18-10-2018