Aurélio Guerra, Indústria Vidreira no concelho de Oliveira de Azeméis. Subsídios para a sua história. Maio, 1991/1994, págs. 97 a 102.

Esclarecimento

 

Já depois de ter posto ponto final no meu despretensioso escrito, tomei conhecimento da existência na sala de exposições da Fábrica de Vidros "A Boémia" do um artístico vitral inserindo alguns nomes e datas relativos à história da indústria vidreira no Concelho de Oliveira de Azeméis. É do seguinte teor tal inscrição:

 


1897 - Fundação da fábrica de Bustelo, por Francisco de Abreu e Sousa e D. António de Castro e Lemos (actualmente fábrica "A Vidreira").

1902 - Fundação da fábrica "A Boémia" (mantém ainda a mesma denominação), por Francisco de Abreu e Sousa.


1926 - Constituição do Centro Vidreiro do Norte de Portugal, Lda - actual proprietário das fábricas "A Vidreira" e "A Boémia" - por Ramiro Mateiro, Augusto Guerra e António de Bastos Nunes.

 Fábricas fundadas na região e actualmente extintas:

"Côvo" = Côvo - S. Pedro de Vila Chã
"La-Salette" = Bustelo
"Pereira" = S. Tiago
"Progresso" = Cereal - S. Tiago.


1950
 

 

Lamentavelmente, o transcrito texto enferma de duas omissões e de uma alteração de um acto oficial que desvirtuam a história da indústria vidreira no Concelho de Oliveira de Azeméis. Com efeito, no respeitante à fundação da fábrica de Bustelo, mencionaram-se somente como sócios fundadores Francisco de Abreu e Sousa e D. António de Castro e Lemos, omitindo-se o terceiro sócio – António / 98 / da Silva Oliveira – que durante vinte anos fez parte de três sociedades, a saber: Fábrica de Vidros do Côvo Abreu, Castro & C.ª (11/12/1896 a 12/12/1897), Fábrica de Vidros de Bustelo Abreu, Castro & C.ª (12/12/1897 a 18/12/1901) e Fábrica de Vidros de Bustelo Castro, Almeida & C.ª (23/12/1901 a 9/1/1915).

   
 

Fac-simile da escritura notarial da constituição da sociedade Fábrica de Vidros do Côvo Abreu, Castro & C.ª.

 


Escritura de Sociedade
Saibam os que este público instrumento virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e noventa e seis, aos doze de Dezembro nesta vila de Oliveira de Azeméis e no meu cartório compareceram como primeiro outorgante o Excelentíssimo D. António de Castro e Lemos, solteiro, maior, proprietário, como segundo outorgante Francisco de Abreu e Sousa, casado, lapidário, ambos desta vila e como terceiro outorgante António da Silva Oliveira, casado, lavrador do lugar do Crasto, freguesia de Ul, desta comarca, reconhecidos de mim tabelião e das testemunhas abaixo nomeadas e assinados que também reconheço, do que dou fé.

/ 99 /

   
 

Fac-simile da escritura notarial de declaração da sociedade Fábrica de Vidros do Côvo Abreu, Castro & C.ª, mudando a denominação para Fábrica de Vidros de Bustelo Abreu, Castro & C.ª

 

Escritura de declaração
Saibam os que este público instrumento virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e noventa e sete, aos doze de Dezembro nesta vila de Oliveira de Azeméis e morada do Excelentíssimo D. António de Castro e Lemos onde eu tabelião vim a rogo das partas aí perante mim compareceram o dito Excelentíssimo D. António de Castro e Lemos, solteiro, maior, proprietário, Francisco de Abreu e Sousa, casado, proprietário, ambos desta vila e António da / 100 / Silva Oliveira, casado, proprietário do lugar do Crasto, freguesia de UI, desta comarca, reconhecidos de mim tabelião e das testemunhas abaixo nomeadas e assinadas, que também reconheço, do que dou fé. Na minha presença e das testemunhas por todos os três outorgantes foi dito: que tendo-se constituído em sociedade sob a firma social de Fábrica de Vidros do Côvo Abreu, Castro & Companhia, por escritura de sociedade de onze de Dezembro de mil oitocentos e noventa e seis celebrada nas minhas notas estavam contratados para noutro acordo, mudar a firma social para Fábrica de Vidros de Bustelo Abreu, Castro & Companhia, visto mudarem a sede da fábrica para o lugar de Bustelo, da freguesia de São Roque, desta comarca e que assim e apenas com a referida mudança da firma social ratificam em tudo o mais a referida escritura de sociedade que fica em pleno vigor.

Relativamente à segunda omissão, pelo descrito no vitral em apreciação, em 1950 só existiam no Concelho de Oliveira de Azeméis (em laboração ou extintas) seis fábricas de vidro. Tal número não corresponde à verdade, pela não inclusão da última fábrica (a sétima) – Sociedade Industrial Vidreira de Azeméis, Ld.ª (SIVAL) – que entrou em laboração em 1943, fabricando botões de vidro e posteriormente também variados artigos de uso doméstico, tendo cessado a actividade em 1953.

Finalmente, a inserção do nome de Ramiro Gomes da Silva Mateiro à cabeça dos sócios fundadores do Centro Vidreiro do Norte de Portugal, Lda, em substituição de Augusto de Oliveira Guerra, trata-se de uma premeditada e asquerosa insinuação, tendente a persuadir os visitantes da fábrica "A Boémia" que o autor da inscrição do vitral alcançou a posição a que chegou por consanguinidade e não por via nupcial.

E uma insinuação (dizia um intelectual cujo nome não me ocorre) é mais ordinário que um monte de mentiras.

 

   
 

Fac-simile da escritura notarial da constituição da sociedade Centro Vidreiro do Norte de Portugal, Ld.ª

 
     
   
 

Fac-simile da escritura notarial da aquisição pela sociedade Centro Vidreira do Norte de Portugal, Ld.ª, das fábricas de vidro "A Boémia", "Cercal" e "Pereira".

 
 

 

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