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Já depois de ter posto ponto final no meu despretensioso
escrito, tomei conhecimento da existência na sala de exposições da Fábrica
de Vidros "A Boémia" do um artístico vitral inserindo alguns nomes e datas
relativos à história da indústria vidreira no Concelho de Oliveira de
Azeméis. É do seguinte teor tal inscrição:
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1897 - Fundação da fábrica de Bustelo, por Francisco de Abreu e
Sousa e D. António de Castro e Lemos (actualmente fábrica "A
Vidreira").
1902 - Fundação da fábrica "A Boémia" (mantém
ainda a mesma denominação), por Francisco de Abreu e Sousa.
1926 - Constituição do Centro Vidreiro do Norte de Portugal, Lda -
actual proprietário das fábricas "A Vidreira" e "A Boémia" - por
Ramiro Mateiro, Augusto Guerra e António de Bastos Nunes.
Fábricas fundadas na região e
actualmente extintas:
"Côvo" = Côvo - S. Pedro de Vila Chã
"La-Salette" = Bustelo
"Pereira" = S. Tiago
"Progresso" = Cereal - S. Tiago.
1950
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Lamentavelmente, o transcrito texto enferma de duas
omissões e de uma alteração de um acto oficial que desvirtuam a história da
indústria vidreira no Concelho de Oliveira de Azeméis. Com efeito, no
respeitante à fundação da fábrica de Bustelo, mencionaram-se somente como
sócios fundadores Francisco de Abreu e Sousa e D. António de Castro e Lemos,
omitindo-se o terceiro sócio – António
/ 98 / da Silva Oliveira – que durante
vinte anos fez parte de três sociedades, a saber: Fábrica de Vidros do Côvo
Abreu, Castro & C.ª (11/12/1896 a 12/12/1897), Fábrica de Vidros de Bustelo
Abreu, Castro & C.ª (12/12/1897 a 18/12/1901) e Fábrica de Vidros de Bustelo
Castro, Almeida & C.ª (23/12/1901 a 9/1/1915).
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Fac-simile da escritura
notarial da constituição da sociedade Fábrica de Vidros do Côvo Abreu,
Castro & C.ª. |
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Escritura de Sociedade
Saibam os que este público instrumento virem que no ano do nascimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e noventa e seis, aos doze de
Dezembro nesta vila de Oliveira de Azeméis e no meu cartório compareceram
como primeiro outorgante o Excelentíssimo D. António de Castro e Lemos,
solteiro, maior, proprietário, como segundo outorgante Francisco de Abreu e
Sousa, casado, lapidário, ambos desta vila e como terceiro outorgante
António da Silva Oliveira, casado, lavrador do lugar do Crasto, freguesia de
Ul, desta comarca, reconhecidos de mim tabelião e das testemunhas abaixo
nomeadas e assinados que também reconheço, do que dou fé.
/ 99 /
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Fac-simile da escritura notarial de declaração da sociedade Fábrica de
Vidros do Côvo Abreu, Castro & C.ª, mudando a denominação para Fábrica de
Vidros de Bustelo Abreu, Castro & C.ª |
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Escritura de declaração
Saibam os que este público instrumento virem que no ano do nascimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e noventa e sete, aos doze de
Dezembro nesta vila de Oliveira de Azeméis e morada do Excelentíssimo D.
António de Castro e Lemos onde eu tabelião vim a rogo das partas aí perante
mim compareceram o dito Excelentíssimo D. António de Castro e Lemos,
solteiro, maior, proprietário, Francisco de Abreu e Sousa, casado,
proprietário, ambos desta vila e António da / 100 /
Silva Oliveira, casado, proprietário do lugar do Crasto, freguesia de UI,
desta comarca, reconhecidos de mim tabelião e das testemunhas abaixo
nomeadas e assinadas, que também reconheço, do que dou fé. Na minha presença
e das testemunhas por todos os três outorgantes foi dito: que tendo-se
constituído em sociedade sob a firma social de Fábrica de Vidros do Côvo
Abreu, Castro & Companhia, por escritura de sociedade de onze de Dezembro de
mil oitocentos e noventa e seis celebrada nas minhas notas estavam
contratados para noutro acordo, mudar a firma social para Fábrica de Vidros
de Bustelo Abreu, Castro & Companhia, visto mudarem a sede da fábrica para o
lugar de Bustelo, da freguesia de São Roque, desta comarca e que assim e
apenas com a referida mudança da firma social ratificam em tudo o mais a
referida escritura de sociedade que fica em pleno vigor.
Relativamente à segunda omissão, pelo descrito no vitral
em apreciação, em 1950 só existiam no Concelho de Oliveira de Azeméis (em
laboração ou extintas) seis fábricas de vidro. Tal número não corresponde à
verdade, pela não inclusão da última fábrica (a sétima) – Sociedade
Industrial Vidreira de Azeméis, Ld.ª (SIVAL) – que entrou em laboração em
1943, fabricando botões de vidro e posteriormente também variados artigos de
uso doméstico, tendo cessado a actividade em 1953.
Finalmente, a inserção do nome de Ramiro Gomes da Silva
Mateiro à cabeça dos sócios fundadores do Centro Vidreiro do Norte de
Portugal, Lda, em substituição de Augusto de Oliveira Guerra, trata-se de
uma premeditada e asquerosa insinuação, tendente a persuadir os visitantes
da fábrica "A Boémia" que o autor da inscrição do vitral alcançou a posição
a que chegou por consanguinidade e não por via nupcial.
E uma insinuação (dizia um intelectual cujo nome não me
ocorre) é mais ordinário que um monte de mentiras.
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Fac-simile da escritura
notarial da constituição da sociedade Centro Vidreiro do Norte de
Portugal, Ld.ª |
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Fac-simile da
escritura notarial da aquisição pela sociedade Centro Vidreira do Norte
de Portugal, Ld.ª, das fábricas de vidro "A Boémia", "Cercal" e
"Pereira". |
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