Alberto Costa tem pose televisiva. O
tenente Manuel Santos também. Costa sabe enquadrar-se com mestria frente
às objectivas. Santos não lhe fica atrás. Não é para menos. Nos últimos
meses não têm feito outra coisa que não seja dar entrevistas. O seu
êxito deve-se ao casco de um velho barco à vela: a reconstrução da
fragata D. Fernando II e Glória, nuns estaleiros navais na Gafanha da
Nazaré, perto de Aveiro.
Ambos cuidam do enfermo navio «como se
de um filho se tratasse». Alberto Costa é o mestre da obra. Sabe
de barcos em madeira como ninguém. Tem 56 anos e desde os 14 que não
conhece outra profissão. Correu mundo. Trabalhou em África, em Angola e
Moçambique. Fez-se mestre na África do Sul. Ao longo de mais de três
décadas, muitos foram os bosques que habilmente transformou em
embarcações. Há uma, no entanto, que guarda com redobrado carinho: a nau
São Vicente. Mas a fragata D. Fernando é, sem dúvida, o barco da sua
vida: «fazer este trabalho ao fim de tantos anos é realizar o sonho de
uma vida inteira.»
O tenente Santos é um
lobo-do-mar. Passou mais tempo embarcado do que em terra. É artilheiro
da Armada Portuguesa em fim de carreira. Passou por quase todas as
fragatas da classe João Belo. Recorda com saudade a capacidade de fogo
da Roberto Ivens. A sua derradeira missão prende-se com a
reconstrução da D. Fernando. Santos pertence à Comissão Executiva da
Marinha para o restauro do navio. Zela «pelos interesses do Estado»
junto do estaleiro: «acompanho a obra porque sei como as coisas devem de
ser feitas.» Com alguma tristeza reconhece que «numa altura em que vai
entrar para a efectividade este magnífico barco, há um marinheiro que
vai para casa.» — ele próprio.
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