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De negro vestida

 

Maria da Nazaré

Tem o seu nome bordado

Nas rodas de um cachené

Painel há muito guardado

 

Anda pela praia a chorar

Recordando o triste dia

Que aquele mar se fez mar

Arrancando-lhe a alegria

 

– Despe-se o sol, á tardinha

E eu de negro vestida

Sem saber se é sina minha

Ou se é castigo da vida

 

Longe vão os tempos d´ouro

Em que ela, feliz, vaidosa

Passeava o seu tesouro

Pelos grãos de areia mimosa

 

Seu filho, luz do seu ser

Que a vida atirou pró mar

E no mar viu padecer

Pra nunca mais o abraçar

 

Foi-se-lhe o dom de sorrir

Foi-se o alento e a alegria 

Foram-se as cores do vestir

Foi-se o pão de cada dia

 

Porque também, noutra era

O pai dos filhos perdeu

Triste fado, vil quimera

Que ao seu olhar se prendeu

 

– Assim me persegue o pranto

E eu de negro vestida

E no negro do meu manto

Escondo as agruras da vida

 

Sem se render à amargura

Que o destino é como é

Pela praia arrasta a loucura

Maria da Nazaré

 

Francisco José Rito

 

 

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04-05-2018