quanto ganham os escritores

mais conhecidos do mundo?

POR JEAN GODEFROY

Mais de uma vez certamente vos terá assaltado a curiosidade de saber quanto ganhará o vosso autor predilecto, quanto somarão os proventos dos escritores de maior nomeada, e até que ponto a celebridade dum romancista ou dum autor dramático significa que a fortuna e o êxito pecuniário o protegeram simultaneamente.

Em 1934 já não há ninguém que ignore que ser escritor, poeta ou autor dramático apenas representa um rendimento mais que modesto, não chegando por vezes para o sustento duma família. Nos tempos que correm, em que uma grande parte dos mortais se julgam escritores e até génios incompreendidos, quantos dentre eles ganham o suficiente para viver, e quantos, mesmo, não têm obtido até agora da literatura mais que despesas, quase sempre inúteis?

 

"A OESTE NADA DE NOVO"

12 MILHÕES DE FRANCOS

Ficareis sabendo sem surpresa que a maior receita financeira alcançada pelas obras literárias dos últimos anos foi A oeste nada de novo, de Erich Maria Remarque, que em três
anos rendeu doze milhões de francos. Mas a sorte raramente se conserva fiel aos seus escolhidos, e assim o romance seguinte,
Depois, não rendeu mais ao autor do que trezentos ou quatrocentos mil francos. Desde então Remarque, que emigrou muito antes do advento do hitlerismo à Alemanha, não tem ganho absolutamente nada, e vive apenas do que ainda lhe rende o A oeste nada de novo.


Entre os proventos de escritores regulares ocupam o primeiro lugar, sem contestação, os pertencentes ao escritor inglês Noël Coward, que, não tendo ainda 35 anos, recebe anualmente direitos, como autor, compositor e cupletista, que orçam por três ou quatro milhões de francos.

 

O «POBRE» SHAW

É, de resto, aproximadamente, a mesma soma que recebe o humorista George Bernard Shaw, que se permitiu o luxo de recusar a importância do prémio Nobel, que anda por cem mil coroas suecas. E declarou recentemente que logo que complete oitenta anos não quererá mais receber os direitos das suas obras, para não ter que pagar impostos nem questionar com os seus editores.

É em Inglaterra que se devem procurar os magnates da literatura. Rudyard Kipling ganha igualmente uns três milhões de francos cada ano, tanto como H. C. Wolls, enquanto que Sommeret-Margham e o famoso romancista policial Philippe Hoppenheim terão de se contentar anualmente com milhão e meio ou dois milhões de francos.


E EM FRANÇA... MARCEL
PAGNOL

Os honorários dos escritores franceses são consideravelmente inferiores a estas somas fabulosas. Não há notícia certa de nenhum romancista ou autor dramático francês que recolha anualmente um milhão de francos, a não ser Marcel Pagnol, ao qual Topaze, Marius e Fanny renderam em dois anos e meio mais de cinco milhões de francos.

Ao passo que este resultado representa um recorde em França, não é raro nem na Inglaterra nem nos Estados Unidos.

A Journey's End de R. C. Sheriff, representada em Paris com o título de A grande viagem, rendeu ao seu autor mais de cinco milhões de francos, a mesma quantia que J. B. Priestely recebeu pela The good compagnion, e Noël Coward pela Bitter Sweets.


O "RECORD» INEXCEDÍVEL

DE WALLACE

Mas nenhum escritor pode gabar-se de ter atingido as somas fabulosas que o escritor Edgar Wallace tem ganho com os seus romances policiais.

Deduzidas todas as despesas de colaboração e documentações, ficavam-lhe, segundo declaração de sua mulher, cerca de dez a quinze milhões de francos líquidos em cada ano, quantia que nenhum escritor conseguiu até hoje atingir.


GANDHI NÃO PRECISA

DE DINHEIRO

Há meses, uma importante casa editora americana propôs ao famoso Gandhi escrever as suas memórias em cinco volumes, garantindo-lhe pelos direitos mundiais desses livros duzentos mil dólares, ou seja, três milhões de francos. Um representante do editor foi à Índia propositadamente para se pôr em contacto com o eremita naturalista, mas este recusou peremptoriamente a proposta, sem mais discussões, declarando que não tinha necessidade de dinheiro e não estava disposto a trabalhar por encomenda.

Mas se Gandhi recusou as propostas do editor americano, em compensação o famoso bandido Dillinger, em seguida à sua última evasão no mês de Março, fez uma proposta a um editor de Nova York para escrever as suas impressões sobre a Justiça pela soma, antecipadamente paga, de cem mil dólares. Desta vez foi o editor que não aceitou, sob pretexto de que era indigno de um comerciante yankee manter negócios com o «Inimigo Público n.º 1» dos Estados Unidos.


HONORÁRIOS DE OUTRO

TEMPO

Falando dos espantosos honorários de hoje, é interessante compará-los com os de outro tempo. Poucas pessoas sabem, por exemplo, que durante toda a (Continua na página 46)

 

 

/ 46 / sua vida o grande poeta Charles Baudelaire, o imortal autor das Flores do mal, não conseguiu ganhar cem mil francos, compreendendo nesta soma os seus contos, traduções e ensaios, e as numerosas edições dos seus poemas.

O grande escritor russo Dostorvieski escreveu um dia, quase no fim da vida, que acabava de receber a quantia de cem rublos, que perfazia cem mil rublos, totalidade de todos os seus honorários.

Ibsen, que viu a sua estátua erigida em vida, lastimava-se muitas vezes das dificuldades financeiras a que estavam sujeitos os escritores e declarou amargamente que durante toda a sua vida ganhara menos que qualquer exportador de peixe ou negociante de peles.

 

Encimando o artigo, no alto da página 7: da esquerda para a direita – Marcel Pagnol. Foto G. L. Manuel Frères – Paris; Bernard Shaw. Foto Agence Rol – Paris; Edgar Wallace. Fotoreportage Trampus – Paris. Na base da página 8: Erich Remarque e Rudyard Kipling. Fotos G. L. Manuel Frères – Paris.

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