No domingo seguinte ao da famosa Romaria de
Nossa Senhora das Dores, que então o Major Lebre realizava, em
Verdemilho, no primeiro fim-de-semana de Setembro após o dia 8 (4), a
Casa do Povo de Aradas organizava anualmente o Circuito Ciclista de
Aradas.
Cada edição constava de duas provas: uma, de
seis voltas ao circuito, destinada a Populares, ou seja, atletas não
federados; outra, de oito voltas, reservada a Amadores, ou seja, atletas
já filiados na Federação Portuguesa de Ciclismo, na categoria de
Amadores. À época, a categoria oficial mais elevada dos nossos ciclistas
era a dos chamados "Independentes".
A primeira edição do circuito ocorreu em 1950.
Seguiram-se outras, durante cerca de 10 anos. A Junta de Freguesia
oferecia sempre uma taça de prata, que constituía normalmente o primeiro
prémio da categoria de Amadores.
As provas decorriam num percurso com a extensão
de cerca de 10 quilómetros por volta. A meta era em Verdemilho, na Rua
Capitão Lebre, defronte da Sede da Junta de Freguesia. Os corredores
partiam daí para a Rua Dr. Alberto Souto, no Bonsucesso e Rua dos
Louros, até ao entroncamento com a Rua Direita, na Quinta do Picado.
Voltavam então à esquerda, para o lado de Aradas, e seguiam pela Rua
Direita até ao Eucalipto. Aí entravam na EN 109 e seguiam para
Verdemilho. No cruzamento, onde agora existe o Restaurante Bota Fogo,
voltavam de novo à esquerda, para a Rua Capitão Lebre, por onde seguiam
até à meta.
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O Circuito Ciclista de Aradas constituía uma grande festa popular, com
enorme adesão de gente de todas as redondezas. Alias, à época o ciclismo
era um desporto de massas, que rivalizava com o futebol. Nome grande era
o de Alves Barbosa, o popular Tó, ciclista do Sangalhos Desporto Clube –
que na época tinha uma grande equipa, que integrava, entre outros,
Simões Louro e os irmãos António e Antonino Batista. Alves Barbosa foi o
primeiro ciclista Português a correr a Volta a França. Ficou em lugar de
honra – o décimo. Só Joaquim Agostinho, anos mais tarde, conseguiu fazer
melhor.
A certa
altura surgiu outra grande promessa: Ribeiro da Silva, que representava
o Clube Académico do Porto. Era enorme a rivalidade entre ele e Alves
Barbosa – e ainda maior entre os adeptos de um e do outro. De tal jeito
que, na última etapa duma Volta a Portugal, que terminaria no Porto,
quando Alves Barbosa era o camisola amarela, os adeptos de Ribeiro da
Silva fizeram-lhe uma espera em plena estrada, nos Carvalhos,
agrediram-no e fizeram-no atrasar para perder a Volta para o seu
adversário! Essa rivalidade doentia só não durou muito tempo porque
Ribeiro da Silva morreu, de forma inesperada e prematura, num acidente
de moto.
Pelo Circuito
Ciclista de Aradas, embora modesto, passaram em início de carreira
corredores que mais tarde, como Independentes, vieram a ser famosos:
entre outros, recordo os nomes de João Alves Barbosa, primo do ró, que
mais tarde também correu no Sangalhos, e alguns corredores do
Bombarralense como Afonso Henriques, que depois representou o Benfica,
ou José Lourenço Calquinhas, e sobretudo Pedro Polainas, que vieram a
ser famosos corredores do Sporting.
O aumento do
número de automóveis, com o inevitável crescimento de trânsito, tornou
impossível fechar-se o trajecto durante grande parte duma tarde de
Domingo para que o Circuito Ciclista se pudesse realizar. E, portanto,
ele acabou naturalmente.
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(4) – MARTINS, David Paiva, Fragmentos de Vida
- A Minha Terra, 2005, ACAD, pgs. 147/148. |