O primeiro Executivo da Junta de Freguesia de
Aradas, na segunda metade do Século XX, tomou posse exactamente no
primeiro dia desse período: 1 de Janeiro de 1951. Era constituído pelos
seguintes três elementos:
● Presidente – João Nunes da Rocha
● Secretário
– João Gonçalves Madaíl
● Tesoureiro
– António Ferreira Borralho Júnior
Todos eles pessoas muito respeitadas e
importantes no meio local.
O Presidente, João Nunes da Rocha, que nasceu
no Bonsucesso em 1 de Maio de 1912 e faleceu em 18 de Julho de 1994, era
um "self-made man", ou seja, fez-se por si próprio. Era o mais velho dos
nove filhos do pequeno construtor civil José Nunes da Rocha, conhecido
pela alcunha de Zé Piolho. Partindo do nada, tornou-se no que porventura
terá sido o maior empregador de toda a História da nossa Freguesia.
Industrial do ramo de madeiras, começou com uma modesta carpintaria
junto dos lavadouros do Bonsucesso, em sociedade com António Pereira
Caetano, sob a firma Rocha & Pereira. Desfeita a firma, passou a
trabalhar como empresário em nome individual. Dando largas à sua veia de
visionário sonhador, ultrapassou o ramo inicial da simples carpintaria
de madeiras e criou um produto novo, à base de aparas de madeira e
cimento, que chamou de "Madel". Talentoso e empreendedor, aproveitou
esse produto para construir casas pré-fabricadas, que vendia para
múltiplas finalidades. Nomeadamente, terá vendido milhares para
Moçambique, onde na região de Tete, no Songo, serviram para montar a
cidade estaleiro das obras de construção da gigantesca Barragem de
Cabora Bassa, no Rio Zambeze.
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A sua organização empresarial, distribuída pelo Bonsucesso, Lisboa e
Moçambique, chegou a ter mais de mil trabalhadores em simultâneo. Numa
Freguesia essencialmente rural, como a nossa era então, esse poder
empregador na área da indústria foi duma notável importância económica e
social.
João Nunes da
Rocha, cuja história seria interessantíssimo que alguém escrevesse, era
uma figura controversa, de relacionamento pessoal nada fácil. Isso
contribuiu para que se visse forçado a abandonar os seus negócios e
fugir para o Brasil, na decorrência dos acontecimentos subsequentes à
Revolução do 25 de Abril de 1974. Voltou mais tarde e retomou a fábrica.
Contudo, os tempos tinham mudado e ela não mais voltou a atingir o
esplendor que tivera no passado.
O Secretário,
João Gonçalves Madail, além de grande proprietário, era também um
importante industrial do ramo das pescas.
O Tesoureiro,
António Ferreira Borralho Júnior, mais conhecido pela alcunha de Roleta,
agricultor, era igualmente um grande proprietário.
1 - Na
primeira reunião, extraordinária, realizada logo após o acto de posse,
no próprio dia 01/01/1951, o novo Executivo decidiu:
● Nomear
escrivão Armindo Ramos Bartolomeu, do Bonsucesso, que entrou logo em
funções.
● Mandar
levantar uma planta do cemitério, fazer nova marcação de talhões e
sepulturas e reparar as ruas do mesmo e alargá-Ias.
As
consequências desta decisão – ou melhor, do modo como ela foi levada à
prática – ainda hoje se fazem sentir na quase impossibilidade de as
pessoas circularem entre as campas do agora chamado Cemitério Velho. É
um problema que ficará para sempre.
Aliás, as
questões do cemitério, pela sua delicadeza, e porque têm vindo sempre a
ser motivo das maiores preocupações para todos os Executivos, incluindo
o actual, irão neste livro ser objecto de capítulo específico.
– Mandar
trancar todos os livros da Junta anterior e inutilizar todas as folhas
em branco e utilizar livros novos para esta Junta.
– Reparar
todo o edifício da Junta e aplicar uma fechadura nova na sala pequena.
Fazer um balcão para essa sala, onde vai ser instalada a Secretaria,
"para segurar o público, facilitando mais o exercício nas funções da
mesma Junta assim",
João
Nunes da Rocha. Nasceu no Bonsucesso em 1 de Maio de 1912.
Faleceu em 18 de Julho de 1994
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– Elaborar o cadastro dos pobres e indigentes desta Freguesia.
– Inventariar
todos os móveis e aplicar-lhes uma etiqueta numerada.
2 - A
primeira sessão ordinária da Junta realizou-se no dia 28 de Janeiro de
1951. Reunião em que foi tomada a controversa decisão de vender por
cinquenta mil escudos, aos Serviços Municipalizados da Câmara Municipal
de Aveiro, a rede de distribuição de energia eléctrica, venda em que a
Junta anterior exigia o pagamento de cem mil escudos. Não vou aqui
repetir o assunto porque já foi tratado com todo o detalhe em livro
anterior (1).
3 - Lendo as
actas de todo o mandato, verifica-se que o essencial da actividade da
Junta foi o habitual: arranjo dos caminhos, das fontes e dos lavadouros.
Obviamente que não vou deter-me em pormenores sobre essa matéria –
embora não deva deixar de enfatizar um hábito saudável, que então se
verificava e se prolongou ainda pelos mandatos das Juntas seguintes, até
ao final do Século XX: quando comissões de habitantes se dirigiam à
Junta a pedir o arranjo de algum caminho, era normal oferecerem os
terrenos que fosse necessário ocupar nos alargamentos e ainda darem uma
comparticipação financeira. As actas estão cheias de situações desse
tipo. De há uma década para cá, no entanto, esse hábito perdeu-se de
todo. Agora todos exigem tudo! Mas ninguém é capaz de retribuir com o
quer que seja!
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(1) MARTINS.
David Paiva, "Aradas - Um Olhar Sobre a Primeira Metade do Século XX".
2008, J. F. Aradas, páginas 245 a 253.
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