O mundo carece
de matérias-primas
celulósicas
POR PROF. ENG.º LUIZ DE SEABRA *
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O HOMEM PODERÁ OBTÊ-LAS SEM COMPROMETER O FUTURO
O uso do papel é de tal maneira corrente nos
nossos dias, datando a sua origem de épocas tão remotas, que nos
habituámos a vê-lo e a tratá-lo com uma indiferença que a garantia da
sua inexaustão está longe poder justificar. A todo o momento, na nossa
vida diária, se inutiliza um pedaço de papel com a mesma despreocupação
com que se derrama um copo de água à beira de uma nascente, estando para
muitos generalizada a noção de ser efectivamente inesgotável a fonte que
fornece a matéria prima de que é feito.
De facto, é a terra, por via do mundo
vegetal, um renovador contínuo da substância que constitui a base da sua
composição: a «celulose», podendo mesmo dizer-se que esta representa nas
plantas superiores, 50 ou mais por cento da totalidade dos componentes
que entram na constituição dos seus tecidos e órgãos.
Porém será errado confiar em que o mundo dos
seres vegetais constitui um manancial perene de riquezas, que o homem
pode explorar levianamente sem atender a certas leis que a Natureza dita
com inflexibilidade irredutível.
É sabido que muitas espécies foram já
extintas ao longo dos anos, por abuso irreprimido da sua exploração. No
que se refere às essências produtoras de madeiras, são conhecidos os
golpes profundos que têm sofrido não só as florestas densas das zonas
tropicais, de constituição natural, mas também as situadas em regiões de
clima temperado, onde o homem desde há muito intervém na sua regeneração
e cultivo.
Conflitos mundiais, altamente ruinosos e a
expansão súbita de numerosas indústrias consumidoras daquele material
têm sido causa de um abate nem sempre controlado e de dificuldades de
execução de uma política de reflorestamento e gestão capazes de
assegurar o equilíbrio desejável entre o consumo e a produção.
A indústria do papel, sendo uma das que no
Mundo mobiliza elevados e crescentes quantitativos de madeiras, é
frequentemente apontada como uma das mais desgastadoras do capital
florestal, ameaçando as gerações futuras de uma rarefacção de
consequências graves.
Ora não sendo a indústria da pasta
responsável pelo maior consumo das árvores abatidas no Mundo, é certo
que o volume de madeira absorvido por esta indústria se situa em posição
muito destacada em confronto com o conjunto das outras aplicações,
prevendo as estatísticas aumentos que, a curto prazo, poderão levar esse
consumo no continente europeu a valores não muito distantes dos 50 % do
total comerciado.
Numa situação mundial em que as preocupações
sobre o esgotamento das matérias primas que alimentam indústrias vitais
é cada vez mais alarmante, torna-se compreensível a apreensão com que é
encarado o problema do abastecimento das fábricas que produzem um
material duas vezes milenário, de que a nossa civilização não pode
prescindir, fabricado a partir de uma mesma substância, ainda que
extraída de espécies diferentes.
Referindo-se ao papel e cartão, as
estimativas da FAO calculavam para 1950 um consumo mundial que se
cifrava na ordem dos 45 milhões de toneladas, mobilizando cerca de 180
milhões de m. c. de madeira, valores que estavam duplicados em 1963.
Embora com oscilações acidentais, no decurso
dos 25 anos que se seguiram, as previsões feitas quanto ao crescimento
do consumo de pastas celulósicas foram amplamente confirmadas, dando-se
aumentos consideráveis não só nos países industrialmente desenvolvidos
como nos em via de desenvolvimento.
Assim, os consumos que se computavam em 1970
na ordem dos 130 milhões de toneladas, prevê-se estarem novamente
duplicados em 1985.
Este crescimento galopante, acompanhado da
instalação de unidades fabris com dimensionamentos calculados para
produções ultrapassando por vezes as disponibilidades imediatas de
matérias primas complicou e agravou a situação
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/ de crise, gerando por outro
lado um estado de coisas um tanto confuso para a análise dos mercados
internacionais. A esta indefinição não é estranha a acumulação de
estoques e a cotação imprecisa do custo das madeiras.
A pressão exercida sobre as fontes de
matérias primas fibrosas para papelaria iniciada no princípio do Século
assume uma importância destacada nos anos 40, verificando-se uma
activação de experiências laboratorial: de todos os níveis orientada na
busca de novas matérias primas celulósicas dos tipos mais diversos e
imprevistos.
Os projectos de investigação organizada
abrangiam assim não só o estudo das possibilidades de utilização de
outras espécies florestais, até então tidas como não se prestando aos
tratamentos industriais convencionais compreendendo plantas de curto
ciclo vegetativo, herbácea: ou arbustivas, nomeadamente resíduos
agrícolas e industriais e também plantas espontâneas, onde figuravam as
da flora tropical, quer arbóreas quer as de menor porte, vegetando em
extensas áreas, em muitos casos em povoamentos mistos.
Estes estudos foram preocupação de numerosos
laboratórios e centros de pesquisa especializados, com incidência na
Europa, sendo praticados quase de forma sistemática, analisando-se todo
o material disponível e produzido em quantitativos compatíveis com a
amplitude das escalas de fabrico daquela época.
Nalguns casos as conclusões foram
encorajadoras e levaram mesmo à instalação de pequenas unidades piloto.
No domínio da técnica sobretudo, diversos materiais mostraram-se capazes
de produzir uma grande gama de papéis mas não satisfazendo todavia às
qualidades exigidas no fabrico de certos tipos de grande procura, como
os de jornal e os de grande resistência destinados a embalagens
industriais.
Por outro lado, levantaram-se também
problemas de ordem técnico-económica dado que nalguns casos as reformas
que impunham aos métodos de tratamento e ao equipamento requerido para a
transformação em pasta e papel não foram facilmente aceites pelos
industriais, obrigados a alterar os esquemas de operação e maquinaria
tradicionais, sem a garantia de converter os mercados consumidores
igualmente tradicionalistas.
A possibilidade de utilização das essências
folhosas das regiões tropicais como matérias primas fibrosas para pasta,
foi considerada insistentemente durante longo período.
Além da grande heterogeneidade do Ienho
desses complexos florestais, onde num hectare se chegam a identificar
uma centena de espécies de estrutura diferente, as dificuldades de
assegurar o funcionamento de unidades fabris em regiões desprovidas de
infra-estruturas e onde a assistência técnica se torna dispendiosa, não
eram factores aliciantes. Também a distância dos mercados grandes
consumidores desencorajou progressivamente as iniciativas que chegaram a
ser planeadas.
Relativamente a plantas espontâneas do tipo
herbáceo, essas e outras causas foram motivo de insucesso. Foi o caso,
entre outros, da Cyperus papyrus do Lago Leopoldo II, ensaiado
pelos belgas no então Congo Belga e do «capim elefante» estudado pela
União Sul Africana, espécies capazes de produzirem excelentes pastas
para papel mas cuja colheita acarretava problemas impossíveis de superar
sem encargos elevados, não compensáveis.
Das tentativas feitas um pouco por todo o
Mundo, algumas houve porém que, não tendo conseguido alcançar a
projecção que delas se esperava, se situavam em níveis razoáveis de
produção, satisfazendo em parte mais ou menos importante os consumos
locais.
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De destacar o caso da Austrália e Nova
Zelândia que, com recurso aos eucaliptos resolveram grande parte dos
seus problemas de abastecimento de madeiras à indústria. Seleccionando
algumas espécies, de centenas representativas do Género, conseguiram
aqueles países fabricar uma gama muito vasta de papéis e cartões,
incluindo os de jornal e embalagem. Uma exploração florestal orientada
pela investigação aplicada e artifícios de técnica industrial que não
excluíram novos métodos de extracção, foram base de tal sucesso ficando
as importações reduzidas a um mínimo.
Também na Índia e no Japão, além de outros
países do Pacífico, se assistiu a uma substancial ampliação do uso do
«bambu», recorrendo ainda aquele País a espécies peculiares da sua
Flora, o que lhe permitiu a produção de pastas de variados tipos,
nomeadamente as de fibra longa e as mecânicas para impressão comum e
jornal.
As novas tendências pretendem ultrapassar o
aspecto regional e conseguir a produção de pastas que, além de
satisfazer as solicitações locais, possam entrar nos mercados
internacionais concorrendo para a cobertura do crescimento acelerado da
indústria mundial do papel, levando assim aos países produtores
benefícios financeiros que destacadamente pesam no equilíbrio da sua
economia.
Visto que as economias de escala incidem
substancialmente na rendibilidade da indústria da pasta para papel,
pressupõe este objectivo a possibilidade de se dispor de tonelagens
vultosas de matérias-primas celulósicas, de custo não elevado, sem
oscilações das características de qualidade tidas como condicionantes.
Parece claro dever atribuir-se à silvicultura um papel de relevo nesta
verdadeira cruzada, admitindo que uma solução existe realmente.
Uma política de reflorestamento intensivo,
recorrendo a essências de muito rápido crescimento, surgiu,
compreensivelmente como forma expedita de obter da terra, a curto prazo,
o que era reclamado pela indústria, dando satisfação às solicitações
ditadas pelo progresso dos países em vias de desenvolvimento e cobrir os
deficits dos grandes produtores e exportadores de pastas e papéis.
Conforme atrás mencionámos, as florestas
naturais, em particular as das zonas tropicais, exploradas em regra para
comércio das madeiras de valor xilógeno, deixaram de ser encaradas com
entusiasmo pelos que tiveram em mente o encaminhamento das essências não
comerciáveis para a indústria da pasta.
O revestimento de baldios e o repovoamento
de áreas onde a floresta se encontrava exausta dos exemplares
comerciáveis, com espécies exóticas, de características convenientemente
ajustadas às exigências da indústria da pasta, foi julgada a melhor de
todas as políticas para uma solução a curto prazo do problema das
matérias-primas papeleiras.
A escolha dessas espécies foi, em muitos
casos, objecto de experimentação, tanto no campo silvícola como
laboratorial.
Em diversos pontos do Globo e nas zonas
geográficas de características ecológicas mais variadas se assistiu a
tentativas que pretenderam atingir aquele objectivo. Citamos como mais
difundidos os trabalhos realizados pela Inglaterra, Bélgica, França,
Israel, Países Escandinavos, Austrália, Brasil, África do Sul, República
Malgache, União Indiana, etc.
Não foram numerosas as espécies eleitas mas
algumas deram provas encorajadoras, mostrando condições de boa
vegetação, crescimentos rápidos em diâmetro e qualidades papeleiras
convenientes. Na Itália por exemplo, o apuramento de certas raças de
Populus conduziu a resultados espectaculares, obtendo-se nas regiões
do Vale do Pó rendimentos por hectare tão lucrativos que se tornou
necessária a intervenção de uma política agrária de protecção à cultura
hortícola assim sacrificada pela ampliação incontida da populicultura,
em terrenos de franca aptidão agrícola.
Algumas outras folhosas, edaficamente menos
exigentes, foram introduzidas um pouco por toda a parte, alargando-se
nalguns países a sua área de cultura em ritmo notavelmente crescente,
sendo exploradas com sucesso para o abastecimento da indústria da
celulose. Estão neste caso Acacias spp. que, em conjunto com
alguns eucaliptos, destacadamente as E. saligna e E. grandis,
são largamente utilizados no fabrico de pastas na União Sul Africana,
prevendo-se um crescente alargamento da área a reflorestar, em
obediência a um planeamento sabiamente concertado com a indústria da
pasta, esta em muitos casos organizada segundo uma integração vertical
muito extensa.
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Parece fora de dúvida que, dentre as
Folhosas, os controversos eucaliptos constituem o caso mais notável de
expansão de espécies exóticas no Mundo. Na Europa com especial
referência à Península Ibérica; no Continente Africano, onde a sua
implantação ocorre tanto na Zona Mediterrânica como em certas regiões
planálticas do Centro e ainda no Sul, estendendo-se por vastas zonas de
condições edafoclimáticas específicas. Na América Latina tornou-se
também tradicional o uso dos eucaliptos na fabricação de pastas
celulósicas com especial relevo para o Brasil. Neste país as madeiras
provenientes de espécies exóticas cultivadas para o fabrico de celulose
deram lugar a produções que atingiam em 1977 uma tonelagem superior a 2
milhões e 300 mil toneladas de pasta, prevendo-se uma subida que elevará
aquele contingente para cerca de 5 milhões de toneladas em 1980. Neste
empreendimento, os eucaliptos, juntamente com alguns Pinus
exóticos, constituem a principal fonte de matéria prima.
Relativamente aos eucaliptos, os
crescimentos impressionantemente rápidos são característicos de algumas
espécies, quando cultivadas em estações ecológicas favoráveis. Também a
possibilidade de exploração em talhadia, e as características
tecnológicas ajustáveis aos tratamentos extractivos clássicos conjugada
com a carência de pastas nos mercados internacionais, facilmente
explicam a corrida a estas espécies, sobretudo nos países onde
escasseiam as espécies lenhosas ou onde estas não apresentam as
condições técnicas e económicas para satisfazer o que é exigível a uma
matéria prima para pasta.
Em face das vantagens citadas, facilmente se
compreende que os eucaliptos tenham tomado rapidamente o passo a outras
espécies porventura cultiváveis nas mesmas estações ecológicas.
É naturalmente possível que nalguns casos se
tenham cometido erros técnicos cujas consequências estão entretanto por
confirmar com bases seguras.
Julgamos por outro lado que, no ponto em que
se encontra a tecnologia do fabrico de papel, as fibras curtas, cujo
consumo no mundo tem vindo a sofrer um aumento constante,
particularmente significativo nos Estados Unidos (25 % do total) e no
Japão (58 % do total), não permitem o fabrico indiscriminado de todos os
papéis reclamados pelo consumo dado que não satisfazem genericamente as
exigências postas às características funcionais a que têm de responder.
A introdução de fibras longas provenientes
de espécies resinosas, em zonas geográficas diversas, não se processou
no mesmo ritmo, dado que a plasticidade ecológica é muito mais limitada
para a generalidade das espécies do Grupo.
Por outro lado também na maioria dos casos em que essa aclimatação se
revela possível, verificam-se com frequência alterações nas
características técnicas do lenho, invalidando os sucessos conseguidos
no domínio silvícola. Tais alterações são comuns quando se trata de
essências transpostas dos climas temperados para outras latitudes, onde
só acima de certos níveis se desenvolvem. Esta limitação acarreta ainda
problemas não só para a exploração como para a própria gestão da
floresta.
Nas regiões tropicais e subtropicais existem
entretanto presentemente plantações de extensão considerável de certas
Resinosas exóticas cujo rendimento se mostra perfeitamente ajustado à
exploração da indústria da pasta. As espécies representadas em tais
plantações são quase exclusivamente do género Pinus, oriundas de
zonas de altitude da América Central, contando-se por um número
relativamente restrito.
Em certas condições ecológicas, o seu
rendimento em madeira, na idade de exploração técnica rivaliza, se não
ultrapassa, o do próprio «eucalipto» (30 ou mesmo mais m3/ha/ano). Está
assinalada a presença de povoamentos destas espécies e a concretização
de projectos para uma vasta cobertura florestal em diversos países
africanos, nomeadamente Angola e África do Sul. No Brasil, onde a «pinho
do Paraná» (Araucaria brasiliensis) constituía a principal fonte
de fibra longa, a introdução de Pinus exóticos deu lugar a um
alargamento significativo da produção de pastas de resistência mecânica
de que o país era deficitário, na que foi imitado por outros países da
América Latina.
Prescrevem-se presentemente, como
contribuição para o saneamento de tal situação, outros meios de luta,
consistindo um deles num maior reaproveitamento do papel usado,
genericamente designado por «papel velho», como matéria-prima bruta para
o fabrico de certos papéis e cartões. Assinala a FAO que a importância
desta solução toma cada vez maior vulto à medida que a «fibra virgem»
sobe de preço e que a opinião pública se vai progressivamente
preocupando com os hábitos da chamada sociedade de consumo e
consequentes atentados aos princípios da Ecologia.
A prática é naturalmente sã e realista mas
tem como princípio de eficiência a criação de sistemas de recolha bem
organizados. Nalguns países – com destaque para a Holanda – a
percentagem do quantitativo de papéis velhos reciclados, relativamente
ao total consumido, ultrapassa os 40 %, mas em grande número de outros,
essa recuperação situa-se abaixo dos 10 - 20 %.
Outra política recentemente proclamada como
meio de reduzir o consumo de matérias-primas para pasta consiste no
estudo de técnicas que permitam utilizar no máximo toda a massa lenhosa
que pode ser fornecida pela árvore abatida, desde a casca à ramaria da
copa, senão a própria folhagem e ainda o cepo que na exploração corrente
se abandona na terra onde vem a apodrecer.
Activam-se pois as pesquisas que levem ao
conhecimento das incidências que uma tal prática possa trazer à
problemática que envolve não só a alteração da qualidade das pastas e
papéis como o ajustamento do equipamento fabril ao tratamento de
materiais que física e quimicamente se afastam muito dos laborados
tradicionalmente. Os problemas técnicos levantados, não sendo
possivelmente intransponíveis, são em muitos aspectos de natureza
complexa, podendo levantar dúvidas principalmente quanto aos reais
benefícios económicos
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/ dessa política. Mas, para
além deste aspecto financeiro imediato, não podem também menosprezar-se
as repercussões que poderá ter na inalterabilidade do meio ecológico,
uma mobilização praticamente integral e sistemática de toda a biomassa
gerada na floresta.
Assim assistimos, como desde há séculos, a
uma incessante luta pela obtenção de matérias-primas celulósicas que
levem ao desanuviamento das crises que periodicamente têm ameaçado o
Homem de ficar privado de um produto que, entre outras aplicações, está
na base do seu desenvolvimento cultural.
A responsabilidade de todas as iniciativas
que visam a um aumento reforçado e brusco das matérias-primas
celulósicas são em resumo muito mais preocupantes do que as que podem
resultar de uma análise precipitada dos factores em jogo. Algumas
decisões e formas de actuação, à primeira vista aliciantes, podem com
efeito, vir a ter reflexos contraproducentes e definitivamente
irremediáveis.
Todas as fases de estudo e planeamento
devem, por isso, apoiar-se em avaliações técnicas, conduzidas segundo
programas de pesquisa que assegurem a cobertura dos diferentes factores
que a curto ou longo prazo possam intervir no efectivo sucesso da
política a seguir.
A experiência adquirida ao longo do tempo
mostrou, com efeito, a necessidade de recorrer a sistemas de prospecção
e investigação que requerem a colaboração de todo um «staff» de
especialistas capazes de analisar e decidir sobre a viabilidade dos
projectos em todo o seu pormenor e extensão.
Muitos são hoje os Centros de Estudo e
Investigação que, dispersos pelo Mundo, procuram, segundo os modernos
conceitos, encarar com objectividade o problema do abastecimento de
material de papelaria, analisando todas as fontes existentes e
potenciais, atendendo não só a questões de interesse nacional,
designadamente diminuir importações e economizar e capitalizar divisas,
considerando no mesmo passo os problemas sociais e ecológicos que tanto
preocupam o mundo de hoje.
Portugal, país de indiscutível aptidão para
a cultura florestal, logo no final do primeiro quarto do Século encarou
a possibilidade de produzir pastas celulósicas com recurso às espécies
de que dispunha e que melhores condições ofereciam para serem tratadas
segundo o método na altura mais generalizado.
Assim foi lançado ainda antes dos anos 30
uma pequena unidade que, como pioneira, produziu as primeiras pastas
celulósicas de eucalipto pelo sistema ácido do bissulfito. Por longo
tempo sem procura no mercado interno, a pasta produzida em quantitativos
que orçavam as cinco mil toneladas anuais, não constituiu solução para a
crise que, em consequência da desorganização da indústria e dos mercados
internacionais, se agudizou durante e no após Guerra Mundial.
A viabilidade de utilização de outras
espécies florestais porventura disponíveis e a aplicação de outros
métodos de extracção da celulose não estava divulgado entre nós. Os
elevados teores em resina dos madeiras de pinheiro bravo puseram de
parte a hipótese de o utilizar na produção de pastas bissulfíticas. Por
outro lado, as solicitações postas por outras indústrias básicas
utilizadoras da madeira de pinho, constituíam um obstáculo a qualquer
projecto de evolução no sistema de tratamento, embora existissem já, em
laboração, na região Landesa, unidades que haviam recorrido a processos
alcalinos para a produção de pastas com esta espécie.
Os estudos a fazer para se chegar a um plano
convenientemente estruturado capaz de assegurar um bom êxito a qualquer
empreendimento de vulto eram morosos e dispendiosos e os investimentos
requeridos para a instalação de uma unidade fabril na escala considerada
rendível, excepcionalmente elevados para que se procedesse
aventurosamente. A acrescentar que nessa época, a inventariação
florestal do País estava por fazer e as estimativas do material lenhoso
disponível que oficiosamente circulavam não eram efectivamente
encorajadoras.
Deve-se à perseverança de um grupo de
industriais portugueses e ao seu valoroso espírito de iniciativa a
concretização de um novo projecto que, baseado na consulta e assistência
de institutos de pesquisa estrangeiros, levou ao arranque da nova
unidade que agora completa 25 anos de funcionamento.
Vinte e cinco anos de um labor marcado
por relevante progresso técnico e económico, certificado pelo conceito
internacional por que são tidos os produtos da sua fabricação.
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