Homenagem a Homem Cristo
Como foi anunciado, tanto no
último número deste Boletim como em diversos meios da comunicação
social, a Câmara Municipal de Aveiro deliberou prestar homenagem ao
emérito aveirense Francisco Manuel Homem Christo, na ocasião do
cinquentenário da sua morte. De facto, nos dias 25, 27 e 28 de Fevereiro
de 1993, a efeméride foi celebrada com a concretização de um programa
elaborado e preparado durante algumas semanas.
No primeiro daqueles dias –
data exacta do falecimento, ocorrido em 1943 – efectuou-se uma romagem à
sua campa, no Cemitério Central de Aveiro, com a participação da
Autarquia, entidades diversas e familiares; foi um momento expressivo e
enriquecido pelas palavras de circunstância, proferidas pelo Dr. Vasco
Branco, que recordou a vida do homenageado, enalteceu as suas qualidades
de lutador incansável pela justiça, fraternidade e democracia, e
sublinhou o que mais o distinguiu, sobretudo no campo do jornalismo
panfletário e na defesa da sua terra.
Na mesma cerimónia, o Dr.
José Girão Pereira, como Presidente da Edilidade, acompanhado de um neto
de Homem Christo, depôs uma coroa de flores sobre a campa; por fim,
foram declamados alguns poemas.
Seguidamente, o Governador
Civil do Distrito descerrou uma lápide toponímica na rua do Dr. Homem
Christo, que se estende ao longo do canal do Cojo, na freguesia da
Glória.
Nos dias 27 e 28, em duas
sessões evocativas, efectuadas no salão cultural do
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Município, diversos oradores falaram sobre Homem Christo e a sua época,
versando os seguintes temas:
– Liberalismo, Democracia e
Socialismo na História Contemporânea de Portugal (Professor Doutor
Amadeu Carvalho Homem); Homem Christo Desconhecido (Luís Marques Homem
Christo); Homem Christo Pedagogo (Professor Doutor Filipe Rocha); Homem
Christo e a Diocese (Mons. João Gonçalves Gaspar); Homem Christo e a
Grande Guerra (Doutor Nuno Severiano Teixeira); Homem Christo Jornalista
(Dr. Carlos Braga); O 1.º de Maio no "Povo de Aveiro" de 1898-1926 (Dr.
Manuel Rodrigues); Homem Christo e o Parlamento (Dr. Francisco Messias
Trindade); Homem Christo e o Porto de Aveiro (Eng.º Lauro Marques).
Esperamos que estas
conferências e comunicações sejam editadas em livro, como documento da
personalidade de um ilustre e invulgar aveirense.
A Câmara Municipal de Aveiro
também mandou cunhar uma medalha em bronze e deliberou que fosse
esculpido um busto para ser colocado nas imediações do lugar onde Homem
Christo viveu e faleceu.
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«Homem Christo acreditou antes de ver. Previu e preanunciou;
apostolizou e, com fé inquebrantável, denunciou e azorragou os
hereges e infiéis. Proclamou a verdade com a certeza de a
possuir; sacudiu as letárgicas indecisões; castigou,
implacavelmente, as deserções e as apostasias; iluminou os
entendimentos obstinadamente negativos e os que não alcançavam,
para além das realidades concretas, os dois clássicos palmos
adiante do nariz; e cobriu de opróbrio aqueles que deixavam
obnubilar pelas malquerenças pessoais a cívica isenção que impõe
o aplauso e a cooperação a favor do efectivo bem comum.
Convenceu e galvanizou, contestou e rebateu opiniões que haviam
feito carreira nas esferas oficiais e se tinham quase como
doutrinas irrefutáveis, deu, ao jeito do seu temperamento, a
sacudidela necessária para os acordar, para vencer a inércia,
para a revisão e reconsideração das soluções do problema
portuário nacional.
E em tudo foi como ele era, como sempre fora. Combativo, cru –
algumas vezes atentaram no fervor do afecto filial deste
desencadeador de animadversões? –, empolgado pelo seu próprio
entusiasmo, repontão quando lhe cerceavam os meios de
afirmar-se, castigador e elucidador, exacerbado e sem perder o
sentido das possibilidades exequíveis, dominado por alguns
sonhos desferidos a partir de premissas sólidas – a democracia,
a liberdade, uma pátria grande e a pequena pátria de Aveiro
engrandecidas e prestigiadas.»
Eduardo Cerqueira
("Litoral", 9-3-1963) |
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