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Boletim n.º 18 - Ano IX - 1991

Achega para quem tiver de montar o Museu Municipal

João Evangelista de Campos

 

Esta ACHEGA destina-se, principalmente, a ajudar quem tiver de fazer a montagem do Museu de Aveiro que a Câmara Municipal pretende efectuar. São elementos que me vieram ás mãos nas minhas pesquisas e, pelo que se vê dos sublinhados que fiz, verifica-se que os objectos cedidos pela Câmara o foram a título de depósito; e, até, numa das actas se consignou que o Museu Regional de Aveiro e a Confraria do Santíssimo Sacramento da Glória ficavam obrigados à restituição dos objectos cedidos, logo que a Câmara o exija.

Calculo que, quanto aos artigos que serviram de base à criação do Museu em 1930 (ofertas do saudoso e estudioso aveirense Dr. Alberto Souto), não haverá qualquer problema para fazerem parte do Museu Municipal, pois devem estar reunidos e á guarda do Museu Nacional de Aveiro – e foram-no com a devida autorização ministerial, conforme consta da informação dada pelo Dr. Alberto Souto e registada na acta da Câmara Municipal quando recebeu esses objectos. Quanto aos outros, ou porque estarão inventariados como pertencentes àquele Museu ou pela invocação de usucapião, é mais difícil – talvez – obter a sua restituição. Suponho, no entanto, que tais objectos não interessarão ao Museu Nacional, pois este é especialmente de Arte Sacra, sendo pois natural que, por ordem superior, eles possam ser entregues para figurarem no Museu Municipal.

Esta ACHEGA dá porém – penso eu – a quem tiver de fazer a montagem do Museu Municipal os elementos de prova que eles pertencem à Câmara Municipal e, portanto, devem ser expostos neste Museu.

Vejamos, pois, o que consegui averiguar a tal respeito:

Como se vê do ofício n.º 150 do Governo Civil de Aveiro, datado de 4 de Setembro de 1911 e assinado pelo Dr. Rodrigo José Rodrigues, foi este quem tomou a iniciativa de destacar o amanuense João Augusto Marques Gomes, cidadão de muito e reconhecido mérito e competência como antiquário, escritor e, também, cultor de arte diz-se naquele ofício – para construir a base do Museu de Arte Sacra que a Comissão Municipal determinou instalar no Convento de Jesus, para evitar a perda dos artigos contidos neste Convento.

Diz-se mais, no referido ofício, que o Governo Civil põe toda a sua boa vontade e serviço à disposição da Câmara, mantendo o referido amanuense encarregado de proceder àquela instalação; julgava, no entanto, que a Câmara deveria chamar para si a direcção daquele serviço e inscrever a verba necessária para estes trabalhos.

A Câmara, na sua sessão de 6 de Setembro, resolveu agradecer àquele Governador Civil o esforço que fez para a instalação do Museu Municipal no referido Convento, louvando os serviços prestados por Marques Gomes e informando que a Câmara apenas tomou posse dos edifícios dos suprimidos Conventos (o de Jesus e o das Carmelitas) e não de quaisquer mobiliários e objectos de arte que neles se encontram, pois estes estão confiados à guarda e responsabilidade do Delegado do Procurador da República, nesta Comarca. Assim, só quando lhe forem entregues aqueles bens, poderá estudar o plano da referida instalação, de acordo com outras a fazer ali; e, só por ocasião da organização do seu orçamento para 1912, poderá dotar convenientemente as despesas a fazer com o citado Museu.

A Câmara tomou posse dos edifícios dos Conventos de Jesus e das Carmelitas em Julho de 1911, conforme se vê da acta da sessão de 13 daquele mês e ano, e, nessa altura, telegrafou ao Ministro da Justiça a agradecer-lhe a valiosa cedência daqueles edifícios. E, na sessão de 23 de Agosto, o Presidente Daniel Gomes de Almeida propôs a instalação, no Convento de Jesus, de várias instituições a cargo da Câmara, com o fim de a libertar do pagamento das rendas de casa que pagava pelos locais ocupados pelas mesmas, isto devido ao precário estado financeiro da Câmara.

Na sessão de 25 de Outubro de 1911, a Câmara resolveu representar à Comissão dos Monumentos Nacionais para que do Museu Municipal / 28 / não fosse retirado qualquer objecto que a ele deva pertencer, pois consta haver intenção de levar alguns desses objectos para o Museu Nacional de Lisboa.

Pela acta da sessão de 4 de Janeiro de 1912, verificou-se que, por solicitação do Governador Civil, a Câmara resolveu que fossem transferidos, como depósito, para o Museu Municipal que se está organizando os seguintes objectos pertencentes à Câmara:

– 2 padrões em bronze de almude e meio almude.
– 2 padrões em bronze, de antigos pesos;
– A bandeira antiga do Município;
– A bandeira da extinta Câmara de Esgueira;
– Os antigos chapéus do trajo camarário;
- 1 reposteiro bordado a restalho;
– Os talizes que têm servido na procissão de Corpus Christi;
– 1 baixo relevo em madeira, representando a Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel.


O Governador Civil, pelo seu ofício n.º 121 de 9 de Janeiro de 1912, confirmou terem entrado no Museu aqueles objectos, acrescentando-lhe uma maquete da estátua de José Estêvão e 3 xairéis antigos bordados a restolho mas não mencionava nem os talizes, nem os chapéus.

Na sessão de 25 de Janeiro de 1912, a Câmara, a pedido do Governador Civil (ofício n.º 194 de 23 de Janeiro), resolveu ceder por depósito para o Museu Municipal a moldura doirada do retrato de D. Manuel, a fim de ser aplicado – diz o ofício do Governador Civil – a cingir uma exposição de fotografias oferecidas pela Casa Biel, referentes a objectos que hoje estão já recolhidos no indicado Museu.

O Governador Civil, pelo ofício n.º 196 de 30 de Janeiro, agradeceu à Câmara a cedência da referida moldura.

Na sessão de 19 de Dezembro de 1912, a Câmara resolveu autorizar a saída, para o Museu Municipal, de um livro de registo existente no seu arquivo, com capas de carneira e incrustações metálicas, livro de valor artístico, que no dito Museu tem lugar especial.

Em Abril de 1915, António da Silva Melo Guimarães deixou, por testamento, à Biblioteca do Museu de Aveiro, todos os livros que eram dos seus irmãos Joaquim e Manuel, alguns dos quais têm honrosas dedicatórias de brasileiros e portugueses ilustres, recomendando que esses livros fossem enviados ao Sr. Marques Gomes, como se vê da notícia publicada no Jornal "O Democrata" com o n.º 365, de 9 de Abril de 1915.

Na sessão do Senado Municipal de 18 de Outubro de 1915 foi resolvido conceder ao Museu Nacional de Aveiro, nos termos das concessões anteriores, por depósito, a colecção dos tomos, que existem no arquivo municipal, do Diário da Antiga Câmara dos Deputados e a colecção das Ordenações do Reino. / 29 /

A pedido do Director do Museu Regional de Aveiro, foi resolvido, na sessão de 17 de Outubro de 1918, deixar ficar à guarda do mesmo, e até que seja de novo colocado no mercado do mesmo nome, a construir no Cojo, o medalhão que encima o frontispício do Mercado de Manuel Firmino, em demolição.

Na sessão de 9 de Janeiro de 1919, foi resolvido confiar à guarda da Confraria do Santíssimo Sacramento da Glória uma imagem de S. Sebastião, pertencente ao Município e, bem assim, do Museu Regional de Aveiro o pendão municipal, com a obrigação de aquelas duas entidades fazerem a sua restituição logo que pela Câmara lhes for ordenado e pondo-se o pendão no seguro.

Nessa mesma sessão ficou resolvido também fazer retirar, sem demora, da frontaria do extinto Mercado de Manuel Firmino o medalhão que ainda ali se encontra, e entregá-lo, nos termos da sua deliberação, ao referido Museu.

Na sessão de 30 de Julho de 1931, a Câmara autorizou o pagamento de 100$00 por uma placa representando umas ai minhas, adquiridas para o Museu Municipal.

Ao Museu de Aveiro, segundo se vê de uma notícia publicada no jornal "O Democrata" n.º 1366, de 6 de Abril de 1935, ofereceu o nosso conterrâneo Manuel Luís Coimbra Flamengo, residente em Lisboa, uma valiosa colecção de 154 moedas, algumas das quais muito antigas e novas.

Isto foi o que me veio parar às mãos; aceito, porém, que haverá outras coisas depositadas no Museu Nacional – e que não interessem às suas colecções e possam interessar ao Museu Municipal, por serem, ou terem sido, propriedade da Câmara, ou oferecidas com o fim de virem a pertencer a este último Museu.

João Evangelista de Campos
 


 

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