Fernão de Oliveira – O
primeiro gramático
Aveiro – Terra do seu
nascimento... ou da sua família?
João Gonçalves Gaspar
Vou novamente debruçar-me sobre a pessoa do primeiro gramático
português, o Padre Fernão de Oliveira – ou Fernando Oliveira. Contudo,
antes de entrar no tema que hoje pretendo desenvolver, muito rapidamente
direi quem foi ele e que obras literárias nos legou; se o faço aqui e
agora, é apenas para relembrar as variadíssimas facetas de uma vida de
aventura e os títulos dos livros que escreveu.
VIDA E OBRA
Fernão de Oliveira nasceu à volta de 1507, sendo seus pais – ao que se
tem dito – Heitor de Oliveira e D. Branca da Costa; reinava em Portugal
D. Manuel l e o nome e a fama do nosso País eram conhecidos e louvados
não só nas cortes europeias mas também em muitas partes do mundo.
Decorria a época venturosa de um povo cujas caravelas cruzavam os mares
e cuja acção já se fazia sentir na América do Sul e no
longínquo Oriente.
Desde a sua adolescência,
foi educado no Convento de S. Domingos, em Évora, onde fez a profissão
dos votos religiosos na Ordem dos Pregadores e recebeu a ordenação
sacerdotal.
Todavia, aos vinte e cinco
anos saiu do convento e emigrou para Espanha, obtendo certamente o breve
de secularização;(1) teria sido uma ausência pouco demorada,
pois, em 1536, publicou em Lisboa a "Gramática da Lingoagem Portuguesa".
Tornou a sair de Portugal,
num dos primeiros anos da década de 40, e embarcou de Barcelona para
Génova em 1541 ou 1542, tendo sido aprisionado pelas galés de França.
Dados os seus conhecimentos náuticos, logo se tornou piloto de um barco
gaulês. Voltou para Lisboa em 1543, na companhia do bispo Luigi
Lippomano, nomeado núncio apostólico junto da corte de el-Rei D. João
III.
"Constrangido por muita
necessidade de pobreza que tinha e fome que padecia",
(2) com o
frade Miguel Lobo embarcou de novo em 1 545, como piloto de uma das
vinte e cinco galés do barão de La Garde, então de passagem pelo Tejo;
elas iriam fazer parte da armada francesa com que Francisco I projectava
invadir a Inglaterra. Em Maio de 1546, Fernão de Oliveira cairia nas
mãos dos ingleses, quando a galé do barão de Saint-Blancard, onde ia,
foi apresada pela armada inimiga. Decorrido breve tempo, já gozando de
liberdade, conseguiu assinalado prestígio em Londres, inclusive na corte
de Henrique VIII, que lhe estabeleceria uma tença; mais tarde
declarar-se-ia afeiçoado ao monarca, "por ter sido seu criado e comer do
seu pão".(3)
Regressando a Lisboa, em
Novembro de 1547 foi sujeito de um processo da Inquisição, há pouco
estabelecida em Portugal; fora acusado por afirmações consideradas
heréticas, pelo elogio da política religiosa do dissidente Henrique VIII
e pelo escândalo que provocava o seu modo de trajar, em nada condizente
com a qualidade de sacerdote. Daqui resultou a condenação ao cárcere por
tempo indeterminado. Contudo, em Agosto de 1551, ser-lhe-ia concedida a
liberdade total, não podendo todavia sair do Reino sem licença.
No ano seguinte, embarcou
como capelão religioso numa caravela que fazia parte de uma pequena
frota portuguesa de três navios, destinada a auxiliar o destronado rei
de Velez, em Marrocos, a recuperar o seu lugar – cujos intentos se
goraram. Retornando, Fernão de Oliveira aceitou a hospitalidade de D.
António (ou Antão) da Cunha, na Beira.
Nos finais de 1554, aparece
nomeado como revisor da imprensa da Universidade, em Coimbra. Mais uma
vez preso em Lisboa no mês de Outubro de 1555, às ordens do Santo
Ofício, assim esteve durante dois anos. Em 1565, vamos encontrar Fernão
de Oliveira em Palmela, como mestre de casos de consciência na escola do
Convento dos Freires da Ordem de S. Tiago, auferindo a tença de vinte
mil réis na qualidade de clérigo de Missa. Tratar-se-á da mesma pessoa?
/ 10 /
Ainda vivia por 1581 , pois
é deste ano ou pouco depois a redacção da sua "História de Portugal".
Onde estaria ele? Apoditicamente não se sabe, como também se desconhece
o que mais fez, onde viveu os últimos anos e quando faleceu.
Colocando-se no partido dos defensores de D. António, Prior do Crato,
nas lutas pela sucessão do trono português, teria emigrado para França e
aí acabaria por morrer? É uma hipótese baseada no facto de diversos
manuscritos seus se encontrarem na Biblioteca Nacional de Paris, depois
de terem pertencido ao espólio do Cardeal Mazarino.
Se a vida de Fernão de
Oliveira é assim tão cheia de contrastes e peripécias, a sua actividade
literária também nos aparece multiforme, manifestando uma erudição
superior, com base tanto em conhecimentos humanistas e cristãos como na
experiência vivencial, colhida de muitas maneiras. Recordo seguidamente
os títulos das suas obras:
– Grammatica da lingoagem
Portuguesa, cuja redacção principal ou final, pelo que se deduz do
capítulo XLIV, foi feita em Lisboa e aqui saída do prelo em 27 de
Janeiro de 1536; o autor denomina-a como "Primeira anotação",
(4)
quase caderno para lhe servir de apontamento anunciador de trabalho com
mais fôlego. Por esta publicação, Fernão de Oliveira antecipou-se em
quatro anos à Gramática de João de Barros.
– Arte da Guerra do Mar,
cujo prólogo, dedicado a D. Nuno da Cunha, "capitão das galés do muito
poderoso Rei de Portugal Dom João o terceiro",
(5) tem a data de
28 de Outubro de 1554 e, impressa em Coimbra, estava pronta em 4 de
Julho de 1555. Tal como nos outros livros, o autor testemunha também
neste vastos conhecimentos, hauridos nos clássicos da arte, e regista
uma cuidada reflexão até ao ponto de muitas vezes ajustar á guerra do
mar as regras seguidas na guerra terrestre; são-lhe familiares não só os
textos da Bíblia mas também os grandes vultos da Antiguidade, filósofos,
humanistas, poetas, historiadores, políticos e luminares cristãos.
/ 11 /
– Ars Nautica, que é
uma obra escrita em latim, para maior difusão na Europa; nunca foi
impressa e, até há poucos anos, embora referenciada mais tarde por
Fernão de Oliveira no prólogo do "Livro da Fábrica das Naus", tinha-se
por perdida; conforme o próprio autor nela indica, foi redigida em 1570,
um pouco à pressa e precipitadamente, "devido às nossas muitas ocupações
na terra e no mar". (6) O autor reclama para si a primazia no
tratamento da matéria, "porque ninguém escreveu até agora em nossa
língua, nem grega nem latina, nem outra alguma que eu saiba".
(7)
O manuscrito encontra-se arquivado na biblioteca da Universidade de Leiden (Holanda) e foi descoberto e dado a conhecer pelo Prof. Luís de
Matos, em 1960. (8)
– Livro da Fabrica das
Naos, que é um autêntico compêndio de construção naval, "em regras e
preceitos ordenados e claros". (9) Este trabalho confirma o
privilégio de o seu autor ser pioneiro em tais assuntos: escrito em 1580
ou pouco antes, seria apenas impresso em 1898, por iniciativa de
Henrique Lopes de Mendonça.
– Primeyra parte do Livro
da antiguidade, nobresa, liberdade e immunidade do Reyno de Portugal,
que Fernão de Oliveira redigiu em 1581 ou pouco depois, com a finalidade
que indicou: – "Uma parte da proposição ou tenção deste livro é
mostrar como o Reino de Portugal é antigo e foi sempre livre, e nunca
vassalo de outra nação".
(10) O manuscrito, que faria parte de
uma obra que ficou incompleta, conserva-se na Biblioteca Nacional de
Paris.
– Hestorea de Portugal,
obra também incompleta, manuscrita e inédita, que se guarda igualmente
na mesma biblioteca francesa; redigida com idêntica finalidade da
anterior, só pode ter sido ordenada depois das Cortes de Tomar,
realizadas em Abril de 1581, onde El-Rei D. Filipe I confirmou a
liberdade de Portugal. (11) É interessante a achega
autobiográfica do seu título completo: – "Começa a Hestorea de Portugal,
recolhida de escriptores antigos, e cronicas aprovadas,
pelo licenciado Fernãdo liveyra, capellão dos Reys de Portugal de seu tempo".
(12)
– De re rústica, do
agrónomo latino Lúcio Columela, tradução em português, feita por Fernão
de Oliveira; interrompido no Capítulo IX, o manuscrito encontra-se na
referida biblioteca parisiense e permaneceu inédito até
que foi
publicado nos "Anais das Ciências, das Artes e das Letras", de 1819 a
1821. (13)
FAMÍLIA E TERRA NATAL
Por tudo o que sucintamente
ficou referido, podemos concluir que o Padre Fernão de Oliveira, sendo
expoente na história da língua portuguesa e na literatura náutica, deve
ser considerado, com muita justeza e sem qualquer dúvida, como uma
glória da família a que pertenceu e da terra que o viu nascer.
Mas... onde nasceu e qual a
sua família? É a pergunta que me sugeriu o tema desta reflexão.
Desde o ano de 1898, quando
Henrique Lopes de Mendonça publicou o processo do Tribunal da Inquisição
em que Fernão de Oliveira foi réu,
(14) tem-se repetidamente dito
e escrito que a então vila de Aveiro fora a terra da sua naturalidade.
De facto, no depoimento que
fez em 21 de Novembro de 1547, "perguntado como se chamava e donde era
natural, disse que se chamava Fernando Oliveira e que era natural do
Bispado de Coimbra, da vila de Aveiro.
(15) Dias depois, em 29 de
Novembro, respondendo à barra do mesmo Tribunal, diria que "era cristão
e por tal se tinha e que recebera água do santo baptismo e que fora
baptizado na igreja do Couto do Mosteiro, couto do bispo de Coimbra.
(16)
Numa primeira leitura, os
dois depoimentos levantam-nos uma dúvida real. Como terá sido possível
que o nascimento fosse em Aveiro e o baptismo se realizasse no Couto do
Mosteiro, do actual concelho de Santa Comba Dão? E isto pelo simples
motivo de que as crianças deviam ser baptizadas "o
mais tardar até oito
dias contados a partir do seu nascimento,
(17) sob penas cuja
gravidade aumentava com a demora;
(18) no mesmo século XVI, as
Constituições Sinodais do Bispado de Coimbra (1591) viriam também fixar
em lei "que, do dia em que o menino ou menina nascer até oito dias
primeiros seguintes, seu pai ou mãe ou quem o cargo tiver o faça
baptizar na igreja em cuja freguesia viver".
(19)
Em tempo
posterior, a legislação da Diocese do Porto, por exemplo, conformando-se
ao "costume deste Bispado e Constituições antigas", ordenava em 1687 que
todos os recém-nascidos fossem baptizados nas pias baptismais das
igrejas matrizes onde os pais fossem fregueses.
(20) Era ainda
tradição, conservada mesmo entre nós até quase aos nossos dias, que,
enquanto o baptismo se não ministrasse, a mãe, que estava ausente da
cerimónia religiosa, não saía de casa e recebia a criança à porta da sua
residência, no regresso da igreja.
/ 12 /
Confrontando, pois, os
referidos depoimentos com a legislação eclesiástica e os hábitos em
vigor, parece não ser viável que Fernão de Oliveira haja nascido em
Aveiro e tenha sido baptizado
no Couto do Mosteiro. Mas... como conciliar as duas afirmações no
Tribunal da Inquisição de Lisboa, a primeira perante o próprio
inquisidor Dr. João de Melo (e Castro), e a segunda perante o licencia
do Ambrósio Campelo, deputado do Santo Ofício?
Mais tarde, em 1570, Fernão
de Oliveira redigiu em latim a obra" Ars Nautica", cujo texto como já se
disse – foi reencontrado e conhecido apenas em 1960, graças ao Prof.
Luís de Matos. (21)
Duas páginas do manuscrito
são de extrema importância para o tema que me ocupa aqui e agora.
De facto, Fernão de
Oliveira, logo na folha 2r, intitula o prefácio da seguinte maneira: – "Praefatio
in Artem Nauticam Ferdignandi Oliverij de Sancta Columba" – isto é:
Prefácio para a "Ars Nautica" de Fernando Oliveira, de Santa Columba.
Mais ainda. Metade da folha 7v é ocupada por uma esclarecedora e
importante nota autobiográfica, numa sextilha em hexâmetros latinos, sob
a epígrafe: – "Auctoris de patria, parentibus, et nominibus suis,
exametrum" – ou seja: Hexâmetro sobre a terra natal do autor, seus pais
e nomes.
Assim se lê:
– «Aviger est locus, in quo
me genuére parentes,
Ordine equestres, mores modesti, et re mediocres,
At primos vagitus Gestosae edidit ortus;
Baptismum fidei dedit ecclesia alma Columbae.
Ferdignadus Oliverius postum est mihi nomen.
Sicut oliva ferax dignos nautae affero fructus.»
Em tradução:
– Aveiro é o lugar onde me
geraram os pais,
Da Ordem da Cavalaria, de costumes modestos, e de fortuna vulgar,
Mas o recém-nascido soltou os primeiros vagidos na Gestosa;
A igreja matriz de Columba deu o baptismo da fé.
Fernando Oliveira foi-me posto como nome.
Como oliveira produtiva dou frutos dignos ao navegante.
Já com mais de sessenta anos
de idade e livre do ambiente de pressão que o teria levado a exprimir-se
sinteticamente no Tribunal do Santo
/ 13 /
Ofício – e até o escrivão
António Roiz pode ter abreviado o depoimento – Fernão de Oliveira quis
ser claro nos elementos que desejou fornecer aos vindouros, apesar de
limitado ou constrangido pela métrica; embora gerado em Aveiro, viria a
nascer e a soltar os primeiros vagidos na povoação da Gestosa, da
freguesia do Couto do Mosteiro, então do Bispado de Coimbra mas, a
partir de 1882, do de Viseu; baptizado na respectiva igreja matriz,
dedicada á Mártir Santa Columba, deram-lhe o nome de Fernando (ou Fernão
de) Oliveira.
Todavia, a anotação
autobiográfica de Fernão de Oliveira proporciona-me algumas
considerações para possível esclarecimento do texto.
"Aviger", na pena do autor,
é mesmo Aveirol Dezenas de anos atrás, ao redigir a "Grammatica da
Lingoagem Portuguesa", referiu-se especialmente a Aveiro, dizendo que a
povoação tem este nome «porque dantes, nessa terra, morava um caçador de
aves, ao qual, como de alcunha, chamaram aveiro»;
(22) assim,
convencido de tal etimologia para o topónimo e fiel mesmo a hipotética
tradição local, Fernão de Oliveira logicamente não poderia traduzir de
outro modo, para latim, o nome de Aveiro, senão por" Aviger", palavra
por ele composta com radicais do mesmo idioma para significar, à letra,
"caçador – ou criador – de aves". No âmbito deste artigo, está fora de
questão dizer ou demonstrar que semelhante etimologia se encontra há
muito ultrapassada, dados os conhecimentos adquiridos posteriormente.
Ao afirmar, perante o
Tribunal da Inquisição, em 1547, que era natural de Aveiro, Fernão de
Oliveira teria sido levado a isso por um dos três motivos, ou por todos
conjuntamente: – ou porque, sem qualquer explicação, desejaria não
levantar ondas, por vulgarmente o suporem de Aveiro; ou porque, já
palpitando com vida no seio materno, em Aveiro começara a sua
existência; ou mesmo porque, com preciosismo de humanista, quereria
dizer ser originário ou de ascendência aveirense. Aliás, seus pais
viveram e casaram em Aveiro, como se depreende do hexâmetro da "Ars
Nautica".
Na verdade, pelo menos desde
o século XIV, tem sido constante em Aveiro a presença de pessoas com o
apelido "Oliveira". Luís da Gama Ribeiro Rangel de Quadros e Maia, nas
"Genealogias de Famílias Nobres Aveirenses",
(23) anotou que Mem
Roiz de Vasconcelos, rico-homem, meirinho-mar de el-Rei D. Dinis, já
depois da morte do monarca casou duas vezes – a segunda das quais com D.
Constança, filha de Afonso Anes de Brito e de D. Ousenda (ou Ausenda) de
Oliveira; na sua descendência irão aparecer em Aveiro, além dos
Oliveiras, os Vasconcelos, os Mendes, os Roiz, os Rangéis, os
Ribeiros...(24) Alguns Oliveiras tiveram situação de destaque no
século XVI.
As azenhas do Cojo ou da
Ribeira, em 1500, eram propriedade de D. Margarida Neto, casada com
Gaspar Coelho, que foram os progenitores de Gaspar Coelho Barreto e D.
Leonor de Oliveira Barreto; esta, que foi a mulher de Simão
Pires, da
Quinta da Varziela, da freguesia do Préstimo, herdou as referidas
azenhas. (25)
D. Isabel de Oliveira
Barreto, filha do último casal, juntou-se em matrimónio com Jorge
Fernandes Geta, fidalgo da Casa Real, que, tendo nascido no Vale do
Infesto, da freguesia de S. Miguel de Penela, se retirou para Aveiro,
por seus conterrâneos lhe imputarem um crime; foram os pais
de Mateus
Fernandes de Oliveira Barreto, baptizado em 25 de Setembro de 1582.
(26)
Em 1561, um tal Tomé de
Oliveira tratou de proceder á abertura de um arruamento na Vila Nova, no
sítio da Granja ou Campo do Frade; para isso, em 2 de Dezembro, obteve a
autorização do duque de Aveiro, D. João de Lencastre; tempo depois, em
29 de Março de 1566, ele e sua mulher, D. Cristina Pina, deram de
aforamento a Jorge Diz, carpinteiro, um pedaço de chão para a construção
de uma casa. (27)
Viveu durante o mesmo século
Pedro de Oliveira de Pinho, filho de Pedro de Pinho e de D. Maria de
Oliveira, o qual foi marido de D. Leonor Ribeiro, filha de Miguel
Ribeiro que, também ele, "passou a viver na vila de Aveiro, onde teve a
sua casa". (28) Rangel de Quadros perfilhou a ideia de
que Fernão
de Oliveira pertenceria a este ramo familiar.
(29)
Nos livros da Misericórdia
de Aveiro registam-se também alguns Oliveiras, como um certo Diogo de
Oliveira, que tomou juramento em 4 de Junho de 1595;(30) talvez seja o
mesmo em que, na eleição de 5 de Julho de 1598, os irmãos da Santa Casa
"votaram e elegeram para provedor".
(31) Era grande benemérito, a
ponto de, ao fechar-se o ano de 1599, deu à instituição uma boa esmola.
(32) É natural que também seja ele o vereador municipal Diogo de
Oliveira que, conjuntamente com seus pares, em 27 de Maio de 1598,
dirigiu a El-Rei D. Filipe I de Portugal uma carta, recorrendo a Sua
Majestade que houvesse por bem conceder à Câmara a autorização de
ocorrer às despesas com a procissão de Santa Ana, então
padroeira de
Aveiro, que a autarquia vinha custeando desde tempos imemoriais.
(33)
Por este apontamento, vemos
como, no século XVI, o patronímico "Oliveira" era vulgar em Aveiro;
contudo, se Fernão de Oliveira o usava pelo pai, outrossim podia
ostentar o "Costa", pelo lado materno. Também este apelido corria em
Aveiro.
________________________________
NOTAS:
(1) – Processo Inquisitorial, transcrito por Henrique Lopes de
Mendonça, O Padre Fernando Oliveira e a sua Obra Náutica, Lisboa, 1898,
pg. 108: - "Perguntado como se saira da Ordem, disse que fugira e que
depois houve uma Letra Apostólica para se fazer clérigo secular e que
esta Letra deixou aqui em esta cidade e que agora que a não acha e porém
que foi juiz dela o provisor e escrivão João Lopes".
(2) – Processo
Inquisitorial ref., id., pg. 102.
(3) – ld., pg. 109 e
113.
(4) – Grammatica da
Lingoagem Portuguesa, início e final.
(5) – Arte da Guerra
do Mar, rosto.
(6) – Ars Nautica, pg. 106
da 3.ª parte.
(7) –Livro da Fábrica
das Naos, transcrito por Henrique Lopes de Mendonça, ob. cit., pg. 150.
(8) – Vd. Boletim
Internacional de Bibliografia Luso-Brasileira, Vol. I, N.º 1, Jan.-Março
de 1960, Fundação Calouste Gulbenkian, pgs. 239-251.
(9) – Livro da
Fábrica das Naos, transc. por Henrique Lopes de Mendonça, ob. cit., pg.
149.
(10) – Cit. por Paul
Teyssier, L"'História de Portugal" de Fernando Oliveira apres le
manuscrit de Ia Bibliotheque National de Paris, Separata das Actas do
III Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, Vol. I, Lisboa,
1959, pgs. 359-379 (nomeadamente pgs. 363-364).
(11) – Hestorea de
Portugal, II Parte, Cap. V; Francisco Contente Domingues, Experiência e
conhecimento na construção naval portuguesa do século XVI: Os Tratados
de Fernando de Oliveira, Separata n.º 172 da Revista da Universidade de
Coimbra, Vol. XXXIII, Ano 1985, pgs. 339-364 (nomeadamente pg. 347; pg.
11 da Separata); Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, Vol. IV,
Lisboa, Editorial Verbo, 1978, pgs. 14-19.
(12) – Hestorea de
Portugal, fI. 1; cito por Francisco Contente Domingues, ob. ref., pg.
347 (pg. 11 da Separata ref.)
(13) – Publicação
cito no texto, Paris, Tomos IV a XII.
(14) – Henrique Lopes
Mendonça, ob. cit., que inclui o Processo Inquisitorial, além do "Livro
da Fábrica das Naos". A partir dessa data (1898). ficou liminarmente
arredada a tese seguida por Inocêncio Francisco da Silva (Dicionário
Bibliographico Portuguez), Tomo II, Lisboa, 1859, pg. 289), segundo a
qual Fernão de Oliveira teria nascido em Pedrógão, na província da
Beira; esta opinião baseava-se no facto de seu pai aí ter exercido o
cargo de juiz dos órfãos, durante algum tempo – o que também não se
conseguiu ainda demonstrar.
(15) – Henrique Lopes
de Mendonça, ob. cit., pg. 108.
(16) – Id., pg. 101.
(17) – Vg.
Constituições de D. Diogo de Sousa, bispo do Porto, Ano de 1496;
Fortunato de Almeida, História da Igreja em portugal, 2.ª ed., II Tomo,
1968, pg. 564.
(18) – Vg.
Constituições de Lisboa, Ano de 1536; Grande Enciclopédia Portuguesa e
Brasileira, VoI.IV, pgs. 140-141.
(19) – Constituições
Synodais do Bispado de Coimbra, Ano de 1591, Título 11, Constituição I.
(20) – Constituições
Synodais do Bispado do Porto, Ano de 1687 (impressas em 1735). Título
III, Constituição IV.
(21) – Vd. nota 8.
(22) – Grammatica da
Lingoagem Portuguesa, Cap. XXXI.
(23) – Genealogias de
Famílias Nobres Aveirenses, Leitura, anotações e publicação de Francisco
Ferreira Neves, Aveiro, 1957 (Separata do Arquivo do Distrito de Aveiro,
Vols. XX a XXIII).
(24) – Genealogias de
Famílias Nobres Aveirenses cit., pgs. 18-19, etc.
(25) – Id., pgs. 23 e
188; Rangel de Quadros, Aveiro – Apontamentos Avulsos (Manuscrito), fI.
125.
(26) – Genealogias..
cit., pgs. 23, 68 e 188.
(27) – Rangel de
Quadros, ob. cit., fls. 144-145.
(28) – Genealogias...
cit., pgs. 21 e 66.
(29) – Rangel de
Quadros, Aveirenses Notáveis, Vol. I, fI. 5.
(30) – Arquivo da
Misericórdia de Aveiro, Livro n.º 337, pg. 10; Amaro Neves, O Senhor da
Índia, 1991, pg. 21.
(31) – Id., Livro n.º
122, pg. 8; Amaro Neves, ob. cit., pg. 27.
(32) – Id., Livro n.º
123, pg. 58; Amaro Neves, ob. cit., pg. 23.
(33) – Rangel de
Quadros, Aveiro – Apontamentos Históricos, Vol. III, fls. 212-213.
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