SANTA JOANA
O MAIS PRECIOSO TESOURO DA
CIDADE
D. António Baltasar Marcelino
Dado o relevante conteúdo da homilia proferida pelo Bispo
de Aveiro, D. António Baltasar Marcelino, na Eucaristia solene,
celebrada na Sé, no dia 12 de Maio, o "Boletim Municipal" entende
prestar um serviço prestimoso a toda a Comunidade ao publicar na íntegra
o texto dessa mensagem.
As Comemorações do 52 Centenário da morte de Santa Joana
Princesa, que o Papa Paulo VI, em 1965, constituiu e declarou padroeira
principal da Cidade e da Diocese de Aveiro, sugerem-me, por se tratar de
uma religiosa, uma reflexão mais cuidada sobre o sentido da vida
consagrada, como dom e como apelo, para a nossa Igreja Diocesana.
Nesta celebração eucarística, ponto central e mais alto
das Comemorações, louvando Deus, Pai e Senhor de todos os dons, pelo
chamamento que se dignou fazer à Santa Princesa e pela resposta, pronta,
generosa e fiel que a mesma soube dar, convido-vos a pedir comigo a Deus
que o povo cristão tenha, em relação à vida consagrada, uma correcta e
crescente compreensão e uma estima concreta e autêntica. Peçamos também
ao Senhor se digne continuar a chamar entre nós, jovens e menos jovens,
que O queiram seguir sem condições e façam da sua vida, pela acção
atenta do Espírito Santo, um permanente louvor de Deus, no serviço
generoso e dedicado aos irmãos.
AVEIRO CRESCE GRAÇAS A DOIS CONVENTOS
A pequena vila de Aveiro, a partir do séc. XV, cresce e
afirma-se progressivamente, não apenas pelas suas capacidades naturais e
humanas, mas também por albergar, dentro das suas reduzidas muralhas,
duas dinâmicas forças espirituais e morais: o Convento Dominicano de
Nossa Senhora da Misericórdia, de que resta apenas a sua igreja, hoje
esta Sé Catedral, e o Mosteiro de Jesus, das religiosas dominicanas,
hoje Museu de Aveiro, detentor do mais precioso tesouro desta cidade, a
Santa Princesa Joana, filha de El-rei D. Afonso V. Neste Mosteiro morreu
e está sepultada, após 18 anos da vida comunitária e da observância
religiosa que lhes foram permitidas pela sua condição e pelos chamados
"interesses do reino".
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Não constam, de então, outros mosteiros ou conventos, no
espaço geográfico da que é hoje a Diocese de Aveiro, que o foi antes na
sua primeira fase e com limites diferentes de 1774 a 1882, e de novo
restaurada em 1938, por querer de Deus, por bula do Papa Pio XI e por
denodado esforço apostólico de um grande aveirense e seu primeiro bispo,
D. João Evangelista de Lima Vidal, acompanhado então por um grupo de
gente, rica de fé e de grande amor à sua terra.
EMBRIÃO QUE FLORESCE NAS COMUNIDADES RELIGIOSAS ACTUAIS
A partir deste embrião que foram as duas primeiras
comunidades religiosas, vemos hoje uma árvore, proporcionada à
vitalidade de uma Cidade e de uma Diocese; que cresceu em gente, em
realizações, em capacidades e em problemas e desafios.
A Igreja Diocesana tem actualmente, no seu seio 25
institutos de vida consagrada (religiosos e seculares) num total de 34
comunidades e de algumas dezenas de leigos que vivem a sua consagração
na vida familiar e profissional, de harmonia com o seu estatuto de
secularidade.
E que fazem, entre nós, estes nossos irmãos e irmãs, como
membros do Povo de Deus que são e que todos somos como eles? O que fazem
está à vista, e será, para todos, a porta de acesso à possível
compreensão, na fé, daquilo que são na Igreja e do que constitui a sua
verdadeira identidade e a sua dimensão cristã e eclesial.
Formam e educam crianças e jovens; cuidam diariamente de
idosos e de doentes; são procuradores gratuitos e permanentes dos mais
pobres e carenciados; misturam-se com a população e vivem de porta
aberta para quem os procura e deles precisa; praticam o acolhimento das
maneiras mais diversas e para as mais diversas pessoas, em instituições
e serviços da Diocese; são, em muitos casos, profissionais de educação,
de saúde e ainda há quem faça trabalho de fábrica e de secretaria. Aos
institutos masculinos estão confiadas quatro paróquias, para além do
serviço das suas instituições; e há comunidades femininas que têm alguns
dos seus membros no trabalho exclusivo de comunidades paroquiais.
OS CONSAGRADOS VALEM PELO QUE SÃO
Porém, esta generosidade e dedicação que, em muitos
casos, se pode ver na sua missão de serviço evangelizador, não é senão,
como dizia, a porta de acesso à compreensão do mais importante.
Como frisou Paulo VI, os consagrados tornam-se sobretudo
úteis à Igreja e à sociedade, não tanto pelo que fazem, mas sobretudo
pelo seu "ser", pelo que são, por virtude da sua vocação e consagração.
Na compreensão progressiva do significado e do valor do seu "ser", se
encontra a chave de leitura da sua identidade, do sentido da sua
presença e da sua acção.
LIBERTAR AS MENTES DA SUPER E DA SUBVALORIZAÇÃO DA VIDA
CONSAGRADA
Historicamente, todos o sabemos, tanto se super valorizou
a vida consagrada em detrimento de outras vocações na Igreja, como se
desvalorizou, se lhe decretou a morte e se tentou explicar a sua
persistência à base de argumentos ausentes de critérios evangélicos e
distorcidos por infundados critérios humanos.
Deixando de lado a carga negativa dos preconceitos
históricos de que também foi vítima a Princesa Joana na sua opção
vocacional, preconceitos que ainda constituem poalha em muita gente que
parou no tempo mas nem por isso consegue fazer parar o tempo,
acautelemo-nos, seguindo a doutrina do Vaticano li, tanto dos exageros
que em tempos conferiam aos consagrados o estatuto de estado mais
perfeito no seio da Igreja, como do detrimento da mesma vocação de
consagração específica, depois que se descobriu e aprofundou a vocação
laical, se recuperou a teologia matrimonial e familiar e, pela reflexão
teológica e pelas orientações pastorais e canónicas, se deu uma mais
alargada compreensão e implementação dos diversos ministérios eclesiais.
Hoje tornou-se claro na Igreja que a vida consagrada não
se identifica com a universalidade da perfeição evangélica e que esta
perfeição tem, antes, as suas raízes e as suas exigências na consagração
baptismal, constituindo, por isso mesmo, um apelo permanente para todos
os cristãos, sem excepção, qualquer que seja o seu estado de vida e a
sua vocação específica na Igreja. Deste modo a vida consagrada, não
sendo uma grandeza isolada no seio do Povo de Deus, também não é uma
expressão competitiva, frente a outras formas de existência cristã.
Compreendendo cada vez melhor a Igreja, tornada visível e
concreta na Igreja Particular ou Diocesana, e, sentindo como exigência
da sua verdade ser uma comunidade de convocados para viver e testemunhar
o Mistério de Cristo, a vocação específica à vida consagrada adquire
nesta Igreja todo o seu sentido harmónico e original.
O AUXÍLIO PRESTIMOSO DE PAULO VI
Foi Paulo VI que, de maneira modelar, na Exortação
Apostólica "A evangelização no mundo contemporâneo" (E.N. 69), nos
iluminou o caminho para a verdadeira compreensão da vida consagrada.
"Pelo mais profundo do seu ser, diz o Papa, os religiosos
situam-se, de facto, no dinamismo da Igreja, sequiosa do absoluto de
Deus e chamada à santidade. É dessa santidade que dão testemunho.
Eles encarnam a Igreja desejosa de se entregar ao
radicalismo das bem-aventuranças. Eles são, enfim,
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pela sua mesma vida, sinal de uma total disponibilidade para Deus, para
a Igreja e para os irmãos. E, em tudo isto, têm os religiosos uma
importância especial no quadro do testemunho primordial na
evangelização. Este seu testemunho silencioso, de pobreza e de
despojamento, de pureza e de transparência, de entrega para a
obediência, pode tornar-se ao mesmo tempo uma interpelação para o mundo
e para a própria Igreja, uma pregação eloquente capaz de tocar o
coração, mesmo dos não cristãos de boa vontade, sensíveis a certos
valores.
É neste contexto de inserção eclesial que tem sentido de
dom e de apelo, para a nossa Igreja Diocesana, o estilo de vida em
comunidade dos consagrados; a força da sua espiritualidade e vida de
oração; a sua capacidade humanizadora; o seu compromisso apostólico com
todos e muito especialmente com os mais pobres, qualquer que seja a sua
forma de pobreza; as suas obras e instituições ou aquelas nas quais
trabalham com sentido evangelizador, que outro não pode ser o sentido da
sua presença e da sua acção.
Tudo isto nos conduz a dois pontos que pretendo pôr em
destaque neste Dia, como um serviço que devo à Igreja Diocesana, a fim
de que ela cresça, harmoniosamente, como Igreja de Cristo. Assim os
sintetizo:
– Que significado tem para a Diocese de Aveiro a presença
no seu seio de comunidades e de pessoas consagradas?
– Qual o compromisso próprio das comunidades e dos
consagrados na nossa Diocese?
A IGREJA OLHA A VIDA CONSAGRADA COMO DOM ACOLHIDO E
AGRADECIDO
A nossa Diocese é, como qualquer outra, por vocação e por
missão, Igreja universal, enraizada neste espaço geográfico, cultural e
humano que é Aveiro. Porém, nem o espaço, nem o tempo nos podem limitar
como Igreja universal de Cristo que nós somos. Aqui se concentra todo o
Mistério de Cristo ressuscitado que se deve tornar visível e
transparente para o mundo, através da nossa comunidade eclesial.
Como Igreja universal aqui concentrada, temos de
conservar e de promover, de todos os modos, a nossa abertura a todos – a
todas as Igrejas particulares, a todos os dons e apelos que delas nos
podem vir, a todas as vocações que Deus quiser suscitar. Abrirmo-nos e
aceitarmos eclesialmente tudo e todos como laços de comunhão.
O mistério de comunhão que existe na nossa Igreja
diocesana, como em qualquer outra, é verdadeiramente grandioso. Por esta
comunhão, o serviço apostólico está por inteiro, no bispo que preside à
comunidade diocesana como seu primeiro servidor; a Igreja universal está
toda, por inteiro, nesta nossa Igreja, quando, na sua vida e missão,
está conscientemente aberta e acolhedora dos dons de Deus e dos Apelos
dos homens.
Ora, a vida consagrada é um dom para a nossa Igreja e, a
ela, temos todos de estar abertos.
O Espírito Santo foi enriquecendo a nossa história com a
presença de comunidades e de pessoas consagradas (institutos religiosos
e seculares). Não surgiram entre nós. Enraizados já antes noutras
Igrejas e reconhecidos pela Igreja Universal, foram-nos enviados, vieram
de longe e de perto, há muito ou há pouco tempo, para se inserirem na
vida da nossa Igreja Diocesana. Vieram para potenciar a dimensão
contemplativa desta Igreja, para potenciar a nossa missão
evangelizadora, educadora, sócio-caritativa. Vieram e os acolhemos, como
algo que passou a fazer parte de nós mesmos, como algo de entranhável da
nossa vida eclesial.
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Dom à Igreja Diocesana, porque, como afirma o Vaticano "
(L.G. 43), "a profissão dos conselhos evangélicos é um dom divino que a
Igreja recebeu de Deus e que conserva com a Sua graça". Dom, porque, em
si mesmos, os institutos religiosos e seculares de vida consagrada estão
marcados pela gratuidade de Deus. Estas comunidades e pessoas estão,
pois, na nossa Diocese, não por méritos próprios ou por engenhos
próprios ou de outrem, mas "por soberana gratuidade do Pai, por amor de
Cristo-Esposo para com a Sua Igreja-Esposa".
A nossa atitude de acolhimento para com eles manifestará
a nossa fé e o nosso agradecimento para com o Senhor. Inseridos e
integrados na Igreja Diocesana, como dons vivos do Ressuscitado, o seu
não-acolhimento, a sua recusa ou marginalização na vida e na acção
pastoral, o não-reconhecimento da sua novidade carismática, seriam uma
recusa ao Senhor e ao Seu Espírito.
Como dom acolhido e agradecido serão os consagrados, na
Diocese e para a Diocese, um apelo e um estímulo para que ela viva o
Evangelho no seu radicalismo. É a este radicalismo que é chamado cada
cristão no seu seguimento de Jesus Cristo, único caminho e modelo de
santidade e de perfeição.
Apelo e estímulo a sermos todos, segundo o estado próprio
de cada um, comunidade fundada na fraternidade evangélica, segundo o
modelo da Comunidade-fraternidade, que deve ser cada comunidade
religiosa, pelo amor, pelo perdão, pelo diálogo, pela disponibilidade,
pela abertura, pela partilha, pelo clima contagiante de serenidade, de
oração, de paz.
Presença viva e expressiva de uma Igreja desejosa de se
entregar em total disponibilidade a Deus, à Igreja, aos irmãos, numa
atitude de peregrino, em busca da plenitude.
OS CONSAGRADOS MANIFESTAM A RIQUEZA DOS CARISMAS
Os consagrados mostram-nos, também, pela sua vida e pela
sua acção, a riqueza dos carismas com os quais Deus enriquece a Sua
Igreja, a família dos Seus filhos, testemunhando esta tão rica variedade
os diversos aspectos do Mistério de Cristo. Carismas, que são gérmenes
que cada família religiosa deve viver, guardar, aprofundar e
desenvolver, constantemente, na comunhão eclesial. Carismas que todos
nós somos chamados a conhecer, defender e apoiar para que sejam
integrados na comunhão diocesana com a sua riqueza diferenciada e não de
uma maneira vaga, ambígua e sem os contornos próprios que lhes vêm de
Deus e que a Igreja reconheceu como riqueza singular.
Neste reconhecimento e aceitação recebe a nossa Diocese a
graça de que tantos jovens se possam sentir confrontados pelo insondável
projecto de Deus em relação a cada um, e ao seu lugar como cristão na
Igreja e no mundo.
A catequese sobre a vida consagrada, que vimos fazendo
desde há anos sob diversos modos, em todas as paróquias da Diocese, para
além de um dever nosso, de bispo, presbitério e consagrados, pretende
ser também para o povo cristão o provocar do conhecimento e da gratidão
e o despertar da sensibilidade para o chamamento e para a resposta
generosa, em clima de fé, de serviço e de comunhão eclesial.
Desejo muito que saibamos, cada dia mais, intensificar e
qualificar esta catequese, que o testemunho da vida e da acção de todos
os consagrados tem por dever ilustrar.
CONSAGRADOS PARA A IGREJA UNIVERSAL NA IGREJA LOCAL
De tudo isto flui o compromisso das comunidades e das
pessoas consagradas no seio da Igreja Diocesana.
Ninguém se pode considerar da Igreja Universal, se não se
sentir ligado à vida e à missão de uma Igreja particular ou diocesana.
Em Novembro de 1978 disse João Paulo aos Superiores
Gerais, em Roma:
"Onde quer que vos encontreis no mundo, sois por essa
vocação para a Igreja Universal, através da vossa missão numa
determinada Igreja local. Portanto, a vossa vocação para a Igreja
Universal realiza-se dentro das estruturas da Igreja local. É necessário
fazer todo o possível para que a vida consagrada se desenvolva nas
Igrejas locais, para que contribua para a sua edificação espiritual,
para que constitua a sua força especial. A unidade com a Igreja
universal, por meio da Igreja local: eis aqui o vosso caminho".
A vida consagrada, religiosa ou secular, não pode mais
entender-se como uma consagração ou uma reserva especial para Deus. A
consagração é sempre uma realidade relativa, pois que toda a consagração
existe em ordem à missão. Assim, insistimos, sempre mais, sobre a missão
própria de cada uma das formas da vida consagrada, começando pelas
comunidades contemplativas.
É a missão que define o seu consagrado, porque este ser é
dinâmico e missionário. A realidade do caris ma fundacional lê-se em
função da sua missão eclesial. A missão é essencial à vida consagrada.
Consagrados por Deus e a Deus na Igreja, para quê, porquê? Para a
realização do projecto salvador. Por isso mesmo, nunca se poderá
considerar uma missão da Igreja, que não seja realizada no seio da mesma
Igreja e em verdadeira comunhão.
É NA IGREJA DIOCESANA QUE OS CONSAGRADOS PARTICIPAM DA
MISSÃO
A consagração nos diversos institutos de vida consagrada
(religiosa ou secular), tem um carisma próprio, não, porém, uma missão
própria, pois participa
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sempre na missão única da Igreja. A missão da Igreja Diocesana, e não
outra, é a missão de todos os consagrados existentes na Diocese.
Responsabilidade recíproca e benefício mútuo, quer para a
Diocese, quer, especificamente, comunidades ou pessoas. Todos nos
sentimos, permanentemente, convidados a purificar os nossos critérios,
passando do utilitário ao missionário, do particular ao eclesial, do
individual ao comunitário, do desencarnado ao concreto.
A Igreja Diocesana, se tem consciência desta realidade e
desta responsabilidade, não dispensará nunca uma pastoral orgânica, na
qual os consagrados têm o seu lugar próprio. A vida consagrada irá
também aparecendo cada vez mais na sua dimensão ministerial e na sua
participação específica, fazendo surgir, inevitavelmente, um estilo de
vida mais evangélico, uma mentalidade e uma expressão de compromisso
mais eclesiais no seio da Comunidade Diocesana.
Então, as comunidades de consagrados enriquecerão a
Igreja diocesana com os seus carismas próprios integrados na missão
comum, e as comunidades cristãs da Diocese enriquecerão os consagrados,
permitindo-lhes uma inserção de dimensão mais eclesial, mais pluralista,
mais concreta, mais missionária, mais fraterna.
A tensão, por vezes inevitável, entre o universal do
carisma do instituto e a intensidade com que se é chamado a viver o
compromisso missionário na Igreja Diocesana, não poderá nunca debilitar
a comunhão com o instituto ou família religiosa, antes, a enriquecerá,
se sempre se acentuar e valorizar o carisma fundacional próprio e a
compreensão autêntica da particularidade da Igreja Diocesana, aberta à
universalidade.
Tenho consciência de que é determinante o ministério
episcopal para a solução positiva desta inevitável tensão. E é também
importante que o Povo de Deus e todos os jovens cristãos vejam este
empenhamento do Bispo da Diocese em relação à salvaguarda da vida
consagrada na sua genuidade, na sua fidelidade e na sua correcta
integração na unidade da missão eclesial.
AS SEMENTES CRISTÃS VINDAS DO SÉCULO XV
Ponhamos, de novo, o nosso olhar nos primeiros
consagrados que, envolvidos no hábito branco de S. Domingos, Deus enviou
para terras de Aveiro, no já longínquo séc. XV. Trouxeram consigo, como
semente da vida cristã, uma vida simples e modesta, o testemunho de
pobreza e de austeridade, a expressão concreta do louvor de Deus e do
serviço da comunidade humana. Pelo estudo e pela pregação, pela oração e
pelo recolhimento, iluminaram, durante séculos, a nossa cidade com a luz
da fé e a alegria do Evangelho. Testemunhando, deste modo, o absoluto de
Deus, foram abrindo as portas do seu coração fraterno a quantos
demandavam, diariamente, o Convento de Nossa Senhora da Misericórdia e o
Mosteiro de Jesus, procurando a luz de Deus e se constituíram, desde
então, a seu modo e na sua parte, cabouqueiros da cidade e da diocese
futura, sempre aberta e acolhedora para todos quantos na Igreja sentem e
sentirão a vida consagrada, como escolha pessoal de Deus, para bem dos
homens.
SAUDAÇÕES E VOTOS FINAIS
Aos Padres Dominicanos e às Irmãs Dominicanas, hoje aqui
presentes em tão grande número, saúdo com especial afecto e gratidão. E,
em nome de toda a Diocese, quero aproveitar este momento e este dia,
para manifestar o nosso reconhecimento à
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Madre Geral e à Superiora Provincial das Irmãs Dominicanas de Santa
Catarina de Sena por terem querido dar à pastoral universitária, nesta
cidade, o grande contributo que vai significar o Lar Universitário de
Santa Joana Princesa, do qual lançaremos, hoje mesmo, a primeira pedra.
Saúdo, também, com amor fraterno, todos os consagrados de
institutos religiosos e seculares que vivem connosco em comunhão e
missão eclesial.
Peço a Deus para todos, por intercessão de Santa Joana
Princesa, a graça de uma fidelidade generosa, traduzida diariamente em
convincente testemunho de alegria, de paz e de disponibilidade pastoral.
Convido toda a Diocese e, de um modo particular, os
membros do nosso Presbitério, o corpo diaconal, todas as famílias
cristãs e comunidades paroquiais, a que acolham sempre os institutos de
vida consagrada, como dom de Deus que são, para a nossa Igreja
Diocesana. Promovam na gente nova o espírito de oração e o compromisso
apostólico, pois que estes propiciam o clima de abertura, para se poder
perceber e acolher os sinais de Deus que orientam para a resposta
acertada que cada cristão tem de dar para encontrar o seu lugar na
Igreja; que, com a ajuda de todos nós, os nossos jovens tenham também o
mesmo discernimento, decisão e generosidade daquela jovem de 20 anos
que, sendo filha de Reis, soube guardar bem viva a consciência de que a
sua vida pertencia, antes de mais e acima de tudo, a Deus, seu Senhor e
Pai.
Por ela, hoje, aqui, nos congregamos.
Por ela, hoje, aqui, louvamos festivamente o nosso Deus.
António Baltasar Marcelino
Bispo de Aveiro
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