FEIRA DE MARÇO
A 555.ª edição da Feira de Março programou-se para o
período de 25 de Março a 25 de Abril. Criada em 1434, ela continuou
através dos séculos e consegue actualizar-se constantemente.
Cerca de duas centenas de expositores e feirantes
constituíram o fulcro do tradicional certame, incluindo os
divertimentos. Este alargamento do número de participantes só foi
possível com o acréscimo de cerca de mil metros quadrados à superfície
até agora disponível no Recinto Municipal de Feiras e Exposições. Mesmo
assim, houve que proceder a um rateio que impossibilitou a presença de
mais de uma centena de interessados.
A efeméride, que este ano ocorreu, foi comemorada com a
cunhagem de uma medalha alusiva, da autoria do artista Afonso Henrique.
No respectivo catálogo, em palavras de abertura, escreveu
o Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Dr. José Girão Pereira:
«Como, uma vez mais, se pode verificar, a Feira de Março
consegue não só renovar-se, todos os anos, em alguns dos seus aspectos,
como manter aquele cunho tradicional e popular que sempre foi a sua
principal característica ao longo dos séculos.
Para tal tem contribuído (sem falsa modéstia no que nos
respeita) o especial carinho com que a Câmara Municipal acompanha a
respectiva realização, sempre aberta a inovações que não destruam o seu
cunho, sempre disposta a investir no que proporcione mais qualidade – e,
até, mais espaço ao ar livre, como acontece este ano, além de mais
espaço coberto, como sucederá no próximo ano.
A Feira de Março/89 festeja uma interessante efeméride: a
dos 555 anos da sua criação pelo Rei D. Duarte, a pedido do seu irmão o
Infante D. Pedro, como se evoca num dos textos que integram este
catálogo. Entendeu-se, por isso, de algum modo vincar a passagem desta
data, o que foi feito, singelamente, com a cunhagem de uma medalha
alusiva e a edição de um livro sobre a evolução da Feira. Também assim
se evidencia o real interesse que este popular certame continua a
merecer por parte dos responsáveis pelo Município de Aveiro.
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Curiosamente, poderá dizer-se que a Feira de Março é uma
manifestação de vitória do espírito sobre a matéria. De facto, enquanto
muralhas ruem ou são demolidas, o espírito aveirense conseguiu, ao longo
de séculos, passar de geração em geração, mantendo bem viva, e sempre
presente, uma ligação que diríamos de ternura relativamente a uma
tradição que teima, garbosamente, em continuar – viva e actuante.
Não poderíamos deixar de registar nestas linhas o nosso
regozijo pelos feirantes e expositores que, em cada vez maior número
(daí o facto de muitos deles terem de «ficar de fora»...), acorrem à
Feira de Março – o que demonstra a eficácia do certame, eficácia que
sabemos se prolonga, pela concretização de contactos, ao longo de
praticamente todo o tempo entre a realização de duas Feiras
consecutivas.
Estamos, pois, todos nós de parabéns. Resta – e disso
temos a certeza comprovada e garantida – que os aveirenses e os
visitantes se divirtam e
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aproveitem o mundo de fantasia e realidade que a Feira de Março a todos
oferece, pouco pedindo em troca.
… E já estamos a pensar na Feira de Março de 1990!»
Por seu turno, o Vereador Prof. Celso dos Santos, em nome
da Comissão Executiva, deixou no mesmo catálogo as seguintes palavras:
«Mais uma vez se realiza uma nova edição da Feira de
Março.
Vai longínquo o tempo em que à Feira de Março era simples
entreposto de trocas comerciais, então de maioria produtos agrícolas e
seus derivados.
Evoluindo ao longo dos anos, modernizando-se, sem que por
isso tenha perdido o cunho popular, passou a exposição-feira comercial,
industrial e serviços, representando de algum modo o que é realidade da
região aveirense.
É ainda um inegável cartaz de atracção e promoção
turística, veículo de propaganda das potencialidades de Aveiro, além de
constituir um lugar de entretenimento e lazer.
Com os 555 anos, a Feira de Março de provecta idade não é
velha. É cada vez mais nova e melhor. Ao manter uma tradição popular é
pólo aglutinador de multidões que nela procuram expor e transaccionar os
mais diversos produtos, a animação e a distracção.
A sua tendência forte para o crescimento tem vindo a ser
contrariada com a falta de espaço, nomeadamente o constitui do pela área
coberta. A Câmara Municipal tem consciência de tal facto, o que de facto
lamenta, mas o carácter de provisoriedade do local, em que actualmente
se realiza, aconselha a que não sejam feitas obras dispendiosas.
Deste modo, a Comissão Executiva não pode corresponder às
muitas solicitações que lhe foram presentes, designadamente no sector
das exposições, esperando de todos a melhor compreensão.
Ela está, contudo, cada vez maior, na área livre
nomeadamente, cada vez mais rejuvenescida e esteticamente bonita, com
mais expositores e um programa variado de animação.
Ocupando uma área total de 47700 m2, 5900 m2 de área
coberta, nela participam 52 feirantes, 94 expositores, 12 associações e
31 divertimentos, além de restaurantes, bares e outros não
especificados.
Uma palavra de saudação a todos os que participam na
Feira/89, de modo particular aos feirantes e expositores. O meu
reconhecimento a todos os que, com o seu trabalho, tornam possível a sua
realização.
Por deliberação do Executivo Municipal, tomada em 24 de
Abril, a Feira de Março prolongar-se-ia excepcionalmente até ao dia 1 de
Maio.»
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Carta de D. Duarte estabelecendo, a pedido do infante D. Pedro,
uma feira em Aveiro, em Maio de cada ano, com a duração de oito
dias (27 de Fevereiro de 1434).
«D. Duarte, pela graça de Deus rei de Portugal e do Algarve,
senhor
de Ceuta, a quantos esta carta virem fazemos saber que nós,
havendo por nosso serviço e bem da nossa terra, damos poder,
licença e lugar ao infante D. Pedro, meu sobre todos muito
prezado e amado irmão, que ele mande fazer, e se faça daqui em
diante, em cada ano, na sua vila de Aveiro e no mês de Maio, uma
feira franqueada, a qual se fará desta guisa começar-se no
primeiro dia do dito mês e durará até ao dia de S. Miguel
seguinte, que são oito dias. (...)
A qual carta lhe assim confirmamos com esta limitação, que a nós
praz: que a dita feira se mude ao primeiro dia de Março, assim
como era do primeiro dia de Maio. E com esta limitação mandamos
que se cumpra e guarde inteiramente».
– MUSEU NACIONAL DE AVEIRO, Livro dos Registos da Câmara da Vila
de Aveiro, fls. 19 e segs. |
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