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Boletim n.º 13-14 - Ano VII - 1989


FEIRA DE MARÇO

 

A 555.ª edição da Feira de Março programou-se para o período de 25 de Março a 25 de Abril. Criada em 1434, ela continuou através dos séculos e consegue actualizar-se constantemente.

Cerca de duas centenas de expositores e feirantes constituíram o fulcro do tradicional certame, incluindo os divertimentos. Este alargamento do número de participantes só foi possível com o acréscimo de cerca de mil metros quadrados à superfície até agora disponível no Recinto Municipal de Feiras e Exposições. Mesmo assim, houve que proceder a um rateio que impossibilitou a presença de mais de uma centena de interessados.

A efeméride, que este ano ocorreu, foi comemorada com a cunhagem de uma medalha alusiva, da autoria do artista Afonso Henrique.

No respectivo catálogo, em palavras de abertura, escreveu o Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Dr. José Girão Pereira:

«Como, uma vez mais, se pode verificar, a Feira de Março consegue não só renovar-se, todos os anos, em alguns dos seus aspectos, como manter aquele cunho tradicional e popular que sempre foi a sua principal característica ao longo dos séculos.

Para tal tem contribuído (sem falsa modéstia no que nos respeita) o especial carinho com que a Câmara Municipal acompanha a respectiva realização, sempre aberta a inovações que não destruam o seu cunho, sempre disposta a investir no que proporcione mais qualidade – e, até, mais espaço ao ar livre, como acontece este ano, além de mais espaço coberto, como sucederá no próximo ano.

A Feira de Março/89 festeja uma interessante efeméride: a dos 555 anos da sua criação pelo Rei D. Duarte, a pedido do seu irmão o Infante D. Pedro, como se evoca num dos textos que integram este catálogo. Entendeu-se, por isso, de algum modo vincar a passagem desta data, o que foi feito, singelamente, com a cunhagem de uma medalha alusiva e a edição de um livro sobre a evolução da Feira. Também assim se evidencia o real interesse que este popular certame continua a merecer por parte dos responsáveis pelo Município de Aveiro. / 69 /

Curiosamente, poderá dizer-se que a Feira de Março é uma manifestação de vitória do espírito sobre a matéria. De facto, enquanto muralhas ruem ou são demolidas, o espírito aveirense conseguiu, ao longo de séculos, passar de geração em geração, mantendo bem viva, e sempre presente, uma ligação que diríamos de ternura relativamente a uma tradição que teima, garbosamente, em continuar – viva e actuante.

Não poderíamos deixar de registar nestas linhas o nosso regozijo pelos feirantes e expositores que, em cada vez maior número (daí o facto de muitos deles terem de «ficar de fora»...), acorrem à Feira de Março – o que demonstra a eficácia do certame, eficácia que sabemos se prolonga, pela concretização de contactos, ao longo de praticamente todo o tempo entre a realização de duas Feiras consecutivas.

Estamos, pois, todos nós de parabéns. Resta – e disso temos a certeza comprovada e garantida – que os aveirenses e os visitantes se divirtam e / 70 / aproveitem o mundo de fantasia e realidade que a Feira de Março a todos oferece, pouco pedindo em troca.

… E já estamos a pensar na Feira de Março de 1990!»

 

Por seu turno, o Vereador Prof. Celso dos Santos, em nome da Comissão Executiva, deixou no mesmo catálogo as seguintes palavras:

«Mais uma vez se realiza uma nova edição da Feira de Março.

Vai longínquo o tempo em que à Feira de Março era simples entreposto de trocas comerciais, então de maioria produtos agrícolas e seus derivados.

Evoluindo ao longo dos anos, modernizando-se, sem que por isso tenha perdido o cunho popular, passou a exposição-feira comercial, industrial e serviços, representando de algum modo o que é realidade da região aveirense.

É ainda um inegável cartaz de atracção e promoção turística, veículo de propaganda das potencialidades de Aveiro, além de constituir um lugar de entretenimento e lazer.

Com os 555 anos, a Feira de Março de provecta idade não é velha. É cada vez mais nova e melhor. Ao manter uma tradição popular é pólo aglutinador de multidões que nela procuram expor e transaccionar os mais diversos produtos, a animação e a distracção.

A sua tendência forte para o crescimento tem vindo a ser contrariada com a falta de espaço, nomeadamente o constitui do pela área coberta. A Câmara Municipal tem consciência de tal facto, o que de facto lamenta, mas o carácter de provisoriedade do local, em que actualmente se realiza, aconselha a que não sejam feitas obras dispendiosas.

Deste modo, a Comissão Executiva não pode corresponder às muitas solicitações que lhe foram presentes, designadamente no sector das exposições, esperando de todos a melhor compreensão.

Ela está, contudo, cada vez maior, na área livre nomeadamente, cada vez mais rejuvenescida e esteticamente bonita, com mais expositores e um programa variado de animação.

Ocupando uma área total de 47700 m2, 5900 m2 de área coberta, nela participam 52 feirantes, 94 expositores, 12 associações e 31 divertimentos, além de restaurantes, bares e outros não especificados.

Uma palavra de saudação a todos os que participam na Feira/89, de modo particular aos feirantes e expositores. O meu reconhecimento a todos os que, com o seu trabalho, tornam possível a sua realização.

Por deliberação do Executivo Municipal, tomada em 24 de Abril, a Feira de Março prolongar-se-ia excepcionalmente até ao dia 1 de Maio.»

 

 

Carta de D. Duarte estabelecendo, a pedido do infante D. Pedro, uma feira em Aveiro, em Maio de cada ano, com a duração de oito dias (27 de Fevereiro de 1434).

«D. Duarte, pela graça de Deus rei de Portugal e do Algarve, senhor

de Ceuta, a quantos esta carta virem fazemos saber que nós, havendo por nosso serviço e bem da nossa terra, damos poder, licença e lugar ao infante D. Pedro, meu sobre todos muito prezado e amado irmão, que ele mande fazer, e se faça daqui em diante, em cada ano, na sua vila de Aveiro e no mês de Maio, uma feira franqueada, a qual se fará desta guisa começar-se no primeiro dia do dito mês e durará até ao dia de S. Miguel seguinte, que são oito dias. (...)

A qual carta lhe assim confirmamos com esta limitação, que a nós praz: que a dita feira se mude ao primeiro dia de Março, assim como era do primeiro dia de Maio. E com esta limitação mandamos que se cumpra e guarde inteiramente».

– MUSEU NACIONAL DE AVEIRO, Livro dos Registos da Câmara da Vila de Aveiro, fls. 19 e segs.

 

 

 

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