Centro de Formação
Profissional
O
dia 23 de Fevereiro de 1988 ficou a marcar uma data de grande relevo na
vida da Cidade de Aveiro, pois foi então que se assinou, nos Paços do
Concelho, o protocolo para a construção do Centro de Formação
Profissional. As suas estruturas ocuparão cerca de 60% do que serão as
novas instalações a construir no edifício da antiga Fábrica de Cerâmica
Jerónimo Pereira Campos; os restantes 40% destinar-se-ão a uma
área cultural, a Casa da Cultura do Município
–
acerca da qual o Presidente da Câmara manifestou a certeza de que muito
contribuirá para uma melhor vivência e convivência dos aveirenses, além
de constituir um pólo de atracção para artistas nacionais e
estrangeiros, que passarão a dispor de adequados espaços para
manifestações das mais diversificadas características.
A antiga Fábrica Jerónimo Pereira Campos é um notável exemplar da
arquitectura industrial dos finais do século XIX
–
e o respectivo projecto de recuperação, a realizar pelo Instituto de
Emprego e Formação Profissional, obedece à directriz fundamental de
preservação da traça originária exterior do edifício, mantendo uma das
chaminés (dado que a outra se encontra muito degradada).
O projecto comporta algumas alterações em relação a um outro,
anteriormente apresentado, atendendo à necessidade de mais rapidamente
ser possível viabilizá-lo, para o que bastante contribuiu ter-se
conseguido baixar o custo das obras em cerca de 200 mil contos.
O Dr. José Girão Pereira disse ainda que, na área exterior, serão
efectuados diversos melhoramentos, tais como o arranjo do canal e sua
dragagem, criando-se uma zona de água, que acabará por ser elemento a
levar em consideração num dos futuros fulcros mais importantes da
urbanização da cidade.
A área total de construção será superior a 20 mil metros quadrados, dos
quais cerca de catorze mil serão de área útil.
Apresentamos a seguir o texto da intervenção do Secretário de Estado do
Emprego e Formação Profissional, Dr. Bagão Félix, proferida no acto
acima referido:
«Estão criadas, a partir de hoje, todas as condições para que, dentro
em breve, Aveiro possa vir a ter o seu Centro de Formação Profissional.
Trata-se de um vultoso investimento que, no conjunto da obra e
equipamento, ultrapassará um milhão de contos, em parte financiados por
recursos comunitários.
Para 1988, estão previstos, no PIDDAC, 200 000 contos, valor suficiente
para que a obra possa prosseguir a um ritmo desejável.
Importa realçar a importância que, para um distrito como o de Aveiro,
tem este equipamento, atentas as potencialidades de desenvolvimento
económico e social de. que tem dado sobejas provas e a relevância de
actividades industriais e comerciais de considerável peso, quer na
formação de valor acrescentado nacional, quer no aumento das exportações
nacionais.
Importa, neste momento, e de uma maneira sucinta, realçar alguns
aspectos que se prendem com a génese e desenvolvimento deste
investimento, cujo anúncio formal e definitivo aqui nos associa:
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a) o respeito pelo compromisso solene tomado por um anterior Governo (em
1985) de construir um Centro de Formação Profissional em Aveiro;
b) o grau de razoabilidade que, em estreita colaboração com a Câmara
Municipal de Aveiro, foi possível acautelar na elaboração do projecto,
numa perspectiva de encontrar o maior denominador comum entre a
necessidade de rigor na gestão dos recursos públicos e a eficácia social
e técnica dos dinheiros investidos.
Vale a pena referir, aqui, que foi possível, quer por redução de áreas
de utilidades dispensável, quer por melhor e mais polivalente
aproveitamento de espaços, diminuir em mais de 200 000 contos o valor
estimado de construção inicialmente projectada.
Num país de recursos escassos, onde existem ainda importantes
necessidades básicas por satisfazer, sentimos a obrigação política e
moral de, sem inviabilizar o necessário Centro de Formação Profissional
de Aveiro, condicionar aos aspectos essenciais da sua actividade.
Procurou-se o desejável equilíbrio de soluç6es, afastando-se as
estruturas megalómanas e desinseridas da realidade nacional, por um
lado, ou a mesquinhez de soluç6es que atrofiassem o normal
desenvolvimento e eficiência do novo Centro de Formação Profissional,
por outro;
c) entendimento entre as estruturas estatais e camarária num assunto em
que cada uma das partes soube ouvir e harmonizar posiç6es com o único
objectivo de melhor dotar esta zona do País num domínio da formação
profissional, que hoje constitui em Portugal um verdadeiro investimento
estratégico;
d) o compromisso aqui formalmente tomado pelo Governo de considerar os
legítimos representantes da indústria, comércio e serviços do distrito
de Aveiro como interlocutores privilegiados no planeamento de acções e
cursos do referido Centro de Formação Profissional de Aveiro,
admitindo-se mesmo como possível, num próximo futuro, a sua gestão
participada;
e) a possibilidade de conciliar a construção do novo Centro de Formação
Profissional com o objectivo de, através da recuperação das antigas
instalações de uma unidade fabril de apreciável valor arquitectónico,
servir igualmente o objectivo de conservação do património cultural;
f) finalmente, o aproveitamento da nova unidade para instalar o Centro
de Emprego de Aveiro, o que, por um lado, permitirá uma gestão integrada
entre as duas realidades e, por outro lado, reduzirá os encargos
actualmente assumidos pelas instalações ocupadas por aquele Centro,
aliás deficientes e fora da zona central da cidade.
O Centro de Formação Profissional de Aveiro será, numa primeira fase,
orientado para as seguintes áreas de forte implantação no distrito:
- Construção civil
- Electricidade electrónica
- Telecomunicações
- Metalomecânica
- Cerâmica
- Madeiras
- Química
- Sector terciário
- Formação de chefias e de quadros
Finalmente, gostaria de referir alguns dos aspectos que orientam a
política relativa à construção de novos Centros de Formação Profissional
no nosso País.
Em 1.º lugar, importará referir que a formação profissional é uma
atitude dinâmica e não uma realidade estática. Quer dizer que a formação
de hoje não será a mesma da que se fizer de aqui a três anos para uma
mesma profissão, porque entretanto houve evolução tecnológica, criação
de novos métodos de trabalho e obsolência de equipamentos. Em segundo
lugar, porque a formação profissional só faz sentido se, entre outras
coisas, preparar efectivamente as pessoas para uma actividade
profissional. Isto é, se, de algum modo, puder possibilitar a promoção
de emprego ou pelo menos, prevenir o desemprego. E, obviamente, é no
tecido produtivo que se geram empregos. E tanto melhores resultados se
obterão quanto a formação estiver intimamente ligada aos centros de
criação de emprego.
Pensamos que nesta matéria, o Estado tem um papel importante a
desempenhar, desde logo ao nível da avaliação das necessidades. Isto é,
tem de haver um mínimo de planeamento que contribua para a definição de
quais as profissões mais importantes para o fim do século. Não podemos
andar por aí a fazer excesso de formação em actividades que,
provavelmente daqui a dez ou quinze anos, não dizem nada ao País. Tem de
haver um mínimo de planeamento. E essa é uma função que ao Estado
compete, tal como lhe competem as actividades de fiscalização e, também,
a de desenvolver acções formativas para zonas brancas, onde, por várias
razões, os agentes económicos têm dificuldade em actuar.
Daí que não sejamos adeptos da formação profissional excessivamente
virada para novas estruturas de betão armado. E se o Centro de Formação
Profissional de Aveiro se justifica plenamente pelo que já atrás referi,
não parece ser curial que se façam centro aqui, centro acolá para este
ou aquele sector e muitas vezes motivados por pressões de ordem
estritamente local.
Parece-nos desejável, dentro de certos limites (embora tenhamos de ter
um mínimo de estruturas neste espaço), que a formação seja feita por
conjugação com as empresas ou associações.
Porque corre-se o risco de um centro se tomar obsoleto ao nível de
instalações e de equipamentos, ou, por outro lado renovando-se o
equipamento, se transformar
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num verdadeiro centro tecnológico que talvez não corresponda ao que os
formandos vão encontrar nas empresas. Tem de haver um certo equilíbrio
que exige uma actuação cuidadosa.
Daí que ao Centro de Formação Profissional de Aveiro venha a ser exigida
uma estrutura e uma organização simultaneamente orientadas pelos
princípios da:
a) polivalência de formação
b) polivalência de utilização
c) alternância
Polivalência de formação,
desenvolvendo o conceito de formação orientada para famílias
profissionais, substituindo o sistema de formação para profiss6es muito
específicas, num mundo do trabalho em que cada vez é mais necessário
preparar os jovens mais para a mobilidade e adaptabilidade do que para a
especialização.
Polivalência de utilização, optimizando-se a
capacidade das instalações e equipamentos para outros sistemas de
formação como a aprendizagem e formação em cooperação com empresas e
associações empresarias e, também, como pólos de Escolas Profissionais
(cuja implantação está, neste momento, a ser objecto do estudo de uma
Comissão MEMESS) ou de acções de formação em colaboração com a
Universidade de Aveiro, designadamente no sector das telecomunicações.
Alternância, traduzida na
necessidade de complementar a formação no Centro com a vivência e
aprendizagem directa na empresa, na medida em que a formação
profissional não consiste num mero processo aquisitivo de conhecimentos
ou capacidades gerais e técnicas, mas também de preparação para o
exercício de uma profissão concreta e, mesmo em certos casos, para
adaptação a um posto de trabalho específico.»
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