Plano de actividades para o
ano de 1988
Na
ocasião oportuna, o Executivo apresentou o Plano de Actividades e o
Orçamento para o ano de 1988. Por nos parecer de interesse,
transcrevemos a respectiva Introdução, a responsabilidade do Presidente
da Câmara Municipal, Dr. José Girão Pereira:
Ao apresentar o Plano e o Orçamento para o ano de 1988 julgamos oportuno
tecer algumas considerações prévias a título de reflexão e de explicação
das opções e das soluções apresentadas nos dois documentos.
Um Plano de Actividades é, naturalmente, um instrumento que visa a
execução de um determinado número de obras e realizações, mas que não
deve surgir por acaso, antes profundamente ligado a uma análise
objectiva de um estádio de desenvolvimento concelhio e a uma filosofia e
a um modelo desse mesmo desenvolvimento no curtíssimo prazo de um ano
como a lei determina sem afectar o seu enquadramento numa visão mais
ampla do médio e longo prazo.
Destinando-se os dois documentos a orientar a actuação dos Órgãos do
Município no ano de 1988, naturalmente perguntamos:
a) – que perspectivas desejáveis de desenvolvimento para esse período?
b) – que meios financeiros?
c) – que opções?
A) – Que perspectivas em 1988?
Não temos receio em afirmar que o concelho e a região de Aveiro se
encontram numa fase crucial da sua história e do seu progresso.
Em primeiro lugar por uma razão de política administrativa. Localizada
entre dois centros políticos fortes, Porto e Coimbra, capitais
instaladas de uma chamada regionalização aparentemente irreversível,
Aveiro tende a perder a favor destes centros e da sua possível atracção
muito do que se julgava seu e legitimamente adquirido. Serviços públicos
importantes são extintos, técnicos são transferidos, e as pessoas em
geral têm de acorrer aos novos centros de decisão e influência.
Quer dizer que por esta via Aveiro, aparentemente, ficará mais pobre.
Restar-lhe-á, como forma de libertação, criar alternativas próprias que
a diferenciem e a imponham por essa via aos centros políticos e Aveiro
terá que se assumir pelo seu dinamismo económico e por padrões definidos
e bem adequados à sua realidade, transformando-se num pólo de atracção e
em modelo de desenvolvimento com criatividade e modernidade. Cremos que
essa fase já começou.
Se a Região Centro tem uma capital política bem definida (Coimbra), não
será ousado afirmar que na mesma região Aveiro é a sua capital económica.
E é nessa componente que Aveiro se diferenciará e é nela que se afirmará
o próprio poder central que se vê forçado a reconhecê-lo.
Aqui se desenvolvem neste momento as infra-estruturas que ultrapassam o
âmbito regional e nacional.
Em 1988, iniciar-se-ão no concelho os primeiros trabalhos do troço da
via rápida entre Albergaria e Aveiro, obra já adjudicada.
Continuarão os trabalhos do porto de Aveiro e os seus acessos directos.
Iniciar-se-á uma nova variante E.E.N.N. 235 e 335 que ligará
directamente o nó da auto-estrada Aveiro-Sul ao centro urbano.
Estará aberto o novo troço da auto-estrada que penetra no concelho.
Iniciar-se-á a recuperação da Fábrica Jerónimo Pereira Campos para
construção do grande Centro de Formação Profissional e do Centro
Cultural.
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O novo porto de pesca, embora não situado no concelho de Aveiro, será
também uma nova realidade.
São estes factores importantes para o papel que Aveiro deve desempenhar
na região. Mas são também novas situações com reflexos directos na
gestão municipal.
Com efeito, muitas das solicitações hoje dirigidas à Câmara e muitos dos
encargos por esta já suportados ou a suportar, deixaram de ser a
satisfação de uma restrita necessidade concelhia, para o serem duma
região, o que traz problemas novos e dificuldades acrescidas.
Referimo-nos concretamente aos encargos decorrentes da criação e
instalação de um terminal T.I.R.T., T.I.F., do novo Centro Regional de
Exposições, das novas redes viárias municipais, da própria Universidade,
etc. etc.
E isto numa altura em que ainda se encontram por satisfazer muitas das
carências do concelho, que são agravadas pelo afluxo de mais pessoas e
mais serviços.
O que quer dizer que uma grande parte das disponibilidades financeiras
têm que ser canalizadas mais para os problemas do crescimento que do
desenvolvimento.
B) – Enquadramento financeiro do Plano
O Orçamento para 1988 é o maior de sempre da Câmara de Aveiro, com uma
taxa de crescimento de 60% em relação ao ano anterior. Isso deve-se
fundamentalmente às verbas afectas à habitação que são conjunturais, e
para fazer face à primeira fase dos 906 fogos a construir. Não se prevê
nas restantes alíneas do orçamento um crescimento significativo.
Como é já do conhecimento público, há pelo contrário uma diminuição real
de receitas no que concerne á participação no Orçamento do Estado, dado
que a Aveiro cabe exactamente a mesma receita do ano de 1987 e as
despesas correntes de salários aumentarão no mínimo 5,5%. Perda real
portanto.
O saldo de tesouraria previsto no final do corrente ano é de cerca de
120 mil contos.
C) - Que opções para 1988?
Em face da presente proposta ora apresentada á Assembleia Municipal pode
sem risco afirmar-se que o Plano de 1988 é o maior, mais exigente e mais
difícil dos planos já apresentados, quer pelos montantes envolvidos quer
pelo volume e dificuldade das tarefas nele previstas.
Se se tiver em conta também o Plano dos Serviços Municipalizados, que
integre igualmente o plano de actividade dos órgãos do Município, poderá
verificar-se que:
– O maior investimento sectorial será feito no sector da habitação
social que assume assim o papel de primeira prioridade do Plano.
– Logo a seguir o grande campo de actuação é o ligado ás
infra-estruturas básicas de água e saneamento. Tem-se feito um enorme
esforço nos últimos anos particularmente no sector do abastecimento de
água.
Em 1988 espera-se fazer toda a cobertura da zona norte do concelho, de
Mataduços ao Paço, Póvoa do Paço, Sarrazola e Quintã do Loureiro,
algumas destas zonas já com obras em curso.
Por outro lado importa cobrir zonas ainda não abastecidas, como
Oliveirinha e Eirol, para além de ultimar situações pontuais noutras
freguesias.
Deve lançar-se o sistema de captação e cobertura da freguesia de Nariz.
Com estes trabalhos ficará resolvido todo o problema do abastecimento
concelhio.
Importa estar atento, porém, às fontes de água onde começa a haver
preocupações pela insuficiência de água de qualidade e pelos vestígios
já claros de salinização nas captações mais profundas. Daí a necessidade
de acelerar as captações do Carvoeiro já em 1988.
Ultimada a fase de abastecimento de água inicia-se a grande tarefa dos
esgotos, já com grande incidência no plano de 1988, como poderá
verificar-se.
Deve ainda referir-se o grande peso que no Orçamento e Plano constituem
as verbas afectas á educação e cultura particularmente pela aquisição de
dois grandes conjuntos (antiga Escola do Magistério e Instalações do
B.N.U.) que constituirão fundamentalmente infra-estruturas para acções
culturais, bem como o claro apoio às instalações desportivas.
Outra das opções significativas é o equipamento social através da
criação de novos centros, agora já a alargarem-se a todo o concelho.
Pelas razões já descritas, o Orçamento municipal é crescente, onerado
com o apoio a infra-estruturas de âmbito regionalmente, daí o ter de se
considerar o desenvolvimento económico como sector chave do Plano, bem
como as comunicações e transporte e urbanizações como sintoma claro de
crescimento.
Para não ser longo faz-se somente referência á necessidade de alterações
e valorização da estrutura interna da Câmara e dos quadros e
nomeadamente á criação de um Gabinete de Gestão Urbanística.
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