Breve história do "ISCA"
Por Dr. Orlando de Oliveira
Ainda
hoje estão por explicar as manifestações oníricas, mas a verdade é que
os sonhos existem.
Os problemas da juventude estavam (ainda estão) tão
vivamente arreigados em mim que posso dizer sem exagero que passei toda
a vida a sonhar, isto é, a arquitectar projectos de realizações que
beneficiassem os jovens aveirenses.
O meu sonho grande era o de que houvesse em Aveiro um
aparelho escolar que proporcionasse todas as oportunidades possíveis aos
jovens estudantes, de modo a que eles tivessem à sua disposição todos os
tipos de escolas e cursos onde pudessem conquistar a bagagem necessária
para triunfar na luta pela vida, na qual venceriam tanto melhor quanto
mais bem apetrechados estivessem esses estudantes.
Para um pobre mortal como eu, a transformação desse sonho
em realidade era praticamente impossível, mas parcelei o todo e alguma
coisa se conseguiu com umas tantas dessas parcelas:
a) – Quanto ao liceu, edifício inicialmente com a forma
de U, consegui parcialmente a sua transformação em H, isto é, ampliação
da ala sul. Não tive o mesmo êxito para a ala norte.
b) – Em colaboração com o Dr. Armando Rocha, ao tempo
Director-Geral dos Desportos, edificou-se o Pavilhão Gimno-Desportivo em
terrenos do liceu e, neste capítulo, o Engenheiro Alberto Branco Lopes e
os Professores Dr.ª Maria Helena Silva, Dr.ª Idália Sá Chaves e José
Jorge Sá Chaves deram uma preciosa achega quando se elaborou um
primoroso trabalho académico cuja finalidade era a de se tentar a
criação de um Instituto de Educação Física em Aveiro. O trabalho foi
feito graças, principalmente, à muita dedicação e competência da
professora Dr.ª Idália Sá Chaves, mas não se pôde ir mais além. Foi um
sonho gorado, à espera de que, mais tarde ou mais cedo, aparecesse um
realizador mais feliz, como me parece que vai acontecer, segundo adiante
se verá.
c) – Sonhei com a Universidade e sujeitei-me a que me
censurassem e chamassem nomes pouco apetecíveis por considerarem e
classificarem esse sonho como utópico. Afinal, em 1973, a Universidade
nascia por Decreto de 11 de Agosto e já hoje, passados 14 anos, é uma
Escola florescente, bem projectada e bem enraizada no meio aveirense.
d) – Do mesmo modo, e com a ajuda do então Governador
Civil, Dr. Vale Guimarães, evitou-se o desaparecimento da Escola do
Magistério Primário.
Aveiro é o Berço da Liberdade como lhe chamou Marques
Gomes, mas não é apenas isso é
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a capital de um distrito cheio de virtudes e de capacidades operativas,
principalmente nos domínios industriais que fizeram dele o 32 distrito
português economicamente mais valioso.
Sabe-se que os jovens de constituição física e estrutura
psíquica normais têm geralmente como predominante uma de duas tendências
ou a especulativa ou a de aplicação prática.
Por isso, e numa organização inteligente do ensino, foram
postos no trajecto desses mesmos jovens dois tipos de ensino secundário
liceal e técnico. Visto assim o problema, tudo está correcto e o aluno,
uma vez terminado o ensino primário, escolheria, destes dois, aquele
para que se sentisse mais vocacionado.
Infelizmente, esta ideia, lógica e correcta, foi
erradamente transposta para a prática corrente, pensando-se que para o
ensino liceal seguiriam os alunos ricos e para o técnico os menos
favorecidos na escala social. Daqui resultou o apagamento do ensino
técnico e a criação do ensino unificado. Mas isto são contas doutro
rosário.
A verdade é que, dentro do vasto campo do Ensino Técnico,
em grau mais elevado do que o secundário, havia em Lisboa e no Porto
Escolas denominadas Institutos Médios, um Comercial e outro Industrial.
Os jovens escolares residentes ou naturais de Lisboa e
Porto tinham melhores possibilidades de frequentar esses Institutos; os
das outras localidades só o podiam fazer se se deslocassem para uma das
duas capitais.
Evidentemente que este facto era uma aberração e
provocava desejos de o contrabalançar com atitudes compensatórias,
proporcionando igualdade de oportunidades a todos os jovens portugueses.
Vivendo nós em Aveiro, distrito com largas capacidades no
campo industrial, como já se disse, a exigirem correspondências nos
campos comercial e administrativo, sentíamos que a nossa juventude
estava fartamente desamparada. Acarinhávamos portanto no nosso espírito
a ideia de criar em Aveiro um Instituto Comercial e um Instituto
Industrial.
Ponderados os factos, optámos por iniciar os trabalhos
pelo Instituto Comercial, por ser muito menos oneroso.
Estudou-se o problema.
O que era afinal um Instituto Comercial?
Em 1947, quando os Institutos Comerciais e Industriais do Porto e de Lisboa ou o ensino neles
ministrado contava com cerca de um século de existência, foi publicado
em separata do Boletim da Direcção-Geral do Ensino Técnico Elementar e
Médio um detalhado relatório sobre a situação desse Ensino nos dois
níveis, elementar e médio.
Apoiados nesse relatório, diremos o que vai seguir-se.
A finalidade específica dos Institutos Comerciais é
preparar os quadros dos auxiliares imediatos da gerência das explorações
económicas de diversos tipos. Aí podem, sem dúvida, chegar os diplomados
mais hábeis das escolas de grau inferior (elementares), como alguns que
se muniram com um diploma universitário, mas nunca daí ascenderão ao
plano directivo e de supervisão a que naturalmente poderiam aspirar.
Uma vez que sem dificuldade se encontra a zona própria de
actividade correspondente a este grau de ensino comercial, entende-se
que deve ser conservado, tanto mais que tem a justificá-lo cerca dum
século de existência, e não foi julgado inútil na época em que era
ministrado na mesma escola que conferia o diploma de curso superior.
A esta razão geral podem juntar-se outras. As
necessidades de formação escolar das técnicas de comércio, nos nossos
dois maiores centros mercantis, não podem ser atendidas exclusivamente
pelas escolas comerciais. Tanto assim é que o seu professorado e muitos
dos que utilizam o trabalho dos seus diplomas solicitam a ampliação dos
objectivos de ensino dessas escolas.
À maior complexidade de administração das grandes
empresas, que se localizam de preferência em Lisboa e Porto, corresponde
muito naturalmente uma escola de grau mais elevado. As empresas de
grande porte constituem naturalmente minoria. Por isso um instituto em
cada uma daquelas duas cidades parece bastar.
Encerrar o actual instituto do Porto, como muitos
preconizam, seria reduzir a nível largamente desproporcionado com as
exigências do meio o ensino comercial ali ministrado.
O sistema tem vícios, mas, fundamentalmente, o maior
deles provém da função preparatória atribuída até agora aos institutos
comerciais. Mais uma razão, pois, para suprimir esta função
preparatória, o que permite reduzir a 3 anos o curso de contabilistas,
sem qualquer prejuízo para as suas finalidades profissionais.
Tanto o Instituto de Lisboa como o do Porto eram
estabelecimentos com largas e boas tradições, com vida já longa a
justificar o bom nome feito com os tempos, em que o último Regulamento
era o constante do Decreto n2 38 231, de 23 de Abril de 1951.
Por ele se sabia que o objectivo dos Institutos
Comerciais era o de preparar contabilistas e técnicos para os serviços
das alfândegas e auxiliares da administração. Para isso, leccionavam-se
neles 3 cursos:
a) – Contabilista;
b) – Perito aduaneiro;
c) – Correspondente em línguas estrangeiras.
O ensino seria paralelo ao do 32 ciclo liceal e os
diplomados com o Curso de Contabilista poderiam
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ingressar no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras,
nos Cursos de Administração Militar e Naval e estavam legalmente
habilitados para peritos dos Tribunais de Comércio, chefes de
contabilidade dos serviços da Fazenda e Contabilidade do Ultramar,
administradores de falências e funções análogas.
Como se verifica, estes Institutos preparavam alunos para
óptimas situações práticas, o que tornava ainda mais aliciante o
propósito de instalar um em Aveiro, colocando esta cidade e a sua
população em condições idênticas às dos habitantes de Lisboa e Porto.
Uma unidade industrial tem dois sectores bem distintos,
embora interligados o sector técnico e o administrativo. Qual deles o
mais valioso Se, por um lado, é preciso fabricar bem, isto é, produzir
mercadorias de boa qualidade para terem aceitação no mercado, por outro,
a instituição tem que ser bem administrada, com gerência competente e
eficiente.
Estas ideias correspondiam (e correspondem) a dois tipos
de Escolas que, no momento do sonho, se chamavam respectivamente
Instituto Industrial e Instituto Comercial e se acantonavam no
Ministério da Educação num departamento conhecido com a designação de
Ensino Médio, ou seja um grau de ensino situado entre o elementar e o
superior.
Apenas no Porto e em Lisboa havia tais Escolas repetimos,
e por aqui, por Aveiro, sentia-se a necessidade da sua existência, pelas
razões já apontadas da pujança industrial do distrito.
Assim se pensava, assim se sonhava. Mas... como realizar
o sonho
Havia ao tempo um colégio de fama em Oliveira de Azeméis
de que era proprietário o Senhor António de Almeida, homem de larga
iniciativa como vamos ver. Éramos (e somos) amigos e ele costumava
abeirar-se de mim sempre que o apoquentava qualquer problema. Foi assim
que um belo dia de 1964 ele me procurou para saber o que eu pensaria da
possível criação e instalação de um Instituto de Ensino Comercial Médio
no distrito de Aveiro, de preferência em Oliveira de Azeméis ou em
Aveiro.
Prontamente lhe respondi que estávamos ambos de acordo
quanto à necessidade da existência desse Ensino Médio no distrito de
Aveiro, mas eu entendia que, dadas as características e o valor
industrial do distrito, eram necessários dois Institutos, um Comercial e
outro Industrial. Quanto à localização, Oliveira de Azeméis era muito
próximo do Porto, e Aveiro tinha a vantagem de ser a capital distrital e
ter já portanto um certo número de condições favoráveis que outras
localidades não possuíam.
Mais me informou o Senhor António de Almeida que estava
acobertado pelo Senhor Leonardo Nunes Pereira, homem de Loureiro
(Oliveira de Azeméis), possuidor de fartos capitais e disposto a
colaborar nesta iniciativa.
Aclaravam-se deste modo as premissas condicionantes de
uma boa solução para problema tão importante e tão promissor para a
juventude aveirense.
Ponderou-se que, embora se pretendessem os dois
Institutos, era prudente começar pelo Comercial por este ter menos
exigências de instalações e técnicas. Uma vez instalado este, e com
êxito, abalançar-nos-íamos ao Industrial.
Assim se pensou e assim se fez. Nasceu o Instituto
Comercial de Aveiro.
Arranjou-se uma casa com um mínimo de condições, na Rua
João Mendonça, onde ainda hoje está instalado, comprou-se mobiliário
numa fábrica de Avanca e requereu-se superiormente o Alvará do
Estabelecimento, para o que comparecemos em Lisboa, no Gabinete do
Sub-Secretário de Estado da Educação, o Presidente da Câmara Municipal
de Aveiro, Engenheiro Agrónomo Henrique Álvaro Pires de Mascarenhas, o
Senhor Almeida e eu próprio, aonde entregámos um requerimento depois de
expormos verbalmente a nossa pretensão.
Passados alguns dias, tínhamos em nosso poder a
comunicação do deferimento respectivo. Estavam reunidos os elementos
necessários para iniciarmos o trabalho escolar, faltando apenas encarar
o problema do pessoal docente, do pessoal administrativo e do pessoal
auxiliar.
Para o pessoal docente, recorri à Dr.ª Armanda Simões
Encarnação Dias, licenciada em Matemática, para exercer as funções de
directora; além dela, escolhi alguns professores liceais das disciplinas
correspondentes aos programas dos Institutos (Decreto N.º 38 231, de
23-4-1951), alguns licenciados em direito do Instituto Nacional do
Trabalho, alguns economistas que trabalhavam em Aveiro, e Dr. Frederico
de Moura, licenciado em Medicina e em História.
O nosso Instituto (particular) encontrou sérias
dificuldades da parte do Instituto do Porto do qual estávamos
dependentes porque os professores desta Escola eram profissionais
altamente qualificados, cheios de prestígio que punham em dúvida a
possibilidade de nós, em Aveiro, conseguirmos um grupo de professores à
altura de com eles emparceirar, ideia esta que apenas começou a
esfumar-se no fim do ano, quando os nossos alunos foram ao Porto prestar
as suas provas de exame.
A instalação do Instituto em Aveiro tinha sido precedida
de um estudo demográfico que nos dava as probabilidades de
auto-suficiência financeira. Foi uma frustração esse estudo porque a
afluência de alunos à nova escola foi desoladoramente fraca. O
Estabelecimento de Ensino era particular e havia que pagar as despesas;
o referido estudo previa que uma propina de cerca de 500$00 mensais
seria suficiente para o efeito, mas os alunos prováveis fizeram as
contas doutra forma. Estavam numa idade
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em que uma das suas grandes aspirações era a libertação da tutela
paterna e, nesse tempo, por pouco mais de 500$00 mensais arranjava-se no
Porto ou em Lisboa uma pensão para estudantes. Era fácil portanto
convencer os pais de que pouco se lucrava em frequentar o Instituto de
Aveiro e esse pouco era amplamente compensado pelo prestígio e alta
competência dos professores dos Institutos do Porto e Lisboa.
Foi assim que o trabalho escolar em Aveiro se iniciou com
frequência irrisória, o que causou avultado prejuízo financeiro no final
do primeiro ano de funcionamento.
Tentou-se o segundo ano com mais disciplinas, mais
professores, mais avultadas despesas. De novo a frequência do 1.º ano
foi muito baixa e começou a prever-se futuro pouco ambicioso para uma
Escola que parecia ser tão necessária em Aveiro.
Eu tinha o encargo de orientar toda a vida do Instituto,
sem qualquer remuneração e, como ao tempo era Vereador Camarário, ia
dando conhecimento ao Colégio Municipal da precária situação financeira.
Estes factos vinham já do tempo do Engenheiro Henrique de
Mascarenhas que exercera a presidência camarária até 3 de Abril de 1965
e agora, com o Dr. Artur Alves Moreira na presidência, começava a
encarar-se a possibilidade de a Câmara comprar a Escola, mantê-la como
municipal e tentar a sua passagem a oficial.
16-12-1968 VISITA MINISTERIAL A AVEIRO – Após visita
feita ao Instituto Médio do Comércio, Sua Excelência o Ministro da
Educação Nacional, escuta alguns esclarecimentos dados pela respectiva
Directora, na presença do Presidente da Câmara (Dr. Artur Alves Moreira)
e do Governador Civil (Dr. Francisco do Vale Guimarães)
Foi assim que, na acta da sessão camarária de 5 de Abril
de 1965, ficou exarado que a Câmara deliberou corroborar as diligências
já efectuadas pela Presidência respeitantes à instalação, nesta cidade,
de um estabelecimento de ensino particular para o ensino comercial de
grau médio (Instituto Comercial).
O problema ia-se repetindo com agravamento da situação
financeira e voltou a ser abordado na sessão da Câmara, de 10 de Abril
de 1967, de cuja acta consta que O Presidente informou a Câmara das
diligências feitas, pessoalmente, do que se passou junto do Senhor
Subsecretário de Estado da Administração Escolar, referente à actual
situação do Instituto Médio do Comércio de Aveiro.
E tudo assim continuou por mais um ano, até que, como
consta do Relatório das actividades camarárias de 1968, no capítulo
“Instrução”: “Como nota relevante de actuação nesta rubrica da
Instrução, há que mencionar a aquisição, por parte da Câmara, do
Instituto Médio do Comércio, pela Importância de 260 contos, e, ainda, o
dispêndio de 186 contos com o seu funcionamento e manutenção. Tal facto
se deve à Intenção de não deixar acabar, na nossa cidade, tão meritório
estabelecimento de ensino que se Instituiu por Iniciativa particular,
antes, mantê-lo até que, superiormente, seja decidido oficializar-se,
como tudo leva a crer depois das afirmações feitas pelo Senhor Ministro
da Educação Nacional, Dr. José Hermano Saraiva, aquando da visita de S.
Ex.ª a Aveiro, em 16 de Dezembro do ano em consideração.”
Há que realçar e louvar esta atitude da Câmara de então e
o do seu Presidente, Dr. Artur Alves Moreira, que deste modo concorreram
deliberadamente para que se tornasse definitiva a instalação, em Aveiro,
de tão valioso instrumento para a criação de proficientes auxiliares das
actividades
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comerciais e industriais do riquíssimo distrito de Aveiro. Honra lhes
seja!
Tanto mais que, como vamos ver, veio a acontecer
posteriormente a oficialização da Escola. Assim, Aveiro veio a ficar
mais rica em instituições escolares e a dispor no seu meio de um
estabelecimento que não teria sem a iniciativa referida.
Com efeito, em 1971, três anos depois de a Câmara comprar
o Instituto, este recebia o Estatuto de Secção do Instituto Comercial do
Porto. A Câmara deve ter investido durante esses 3 anos cerca de 500
contos que passaram a dar bom rendimento imediato, quer na valorização
dos alunos, quer nos aumentos de ordem social, professores e empregados
administrativos e auxiliares.
Deixou de ser Directora a Dr.ª Armanda Simões Dias e foi
nomeado subdirector da Secção o Dr. Joaquim José da Cunha, que foi
destacado do Instituto do Porto para a Secção de Aveiro.
É de salientar ainda que a frequência começou a aumentar
porque as propinas passaram a custar muito menos, dando-se assim um
passo importante em benefício da nova Escola.
Relembrando os sentimentos que então povoaram o meu
pensamento, vou transcrever o que escrevi e foi publicado em Litoral de
28 de Agosto de 1971.
«Dada a circunstância de eu
então associar a qualidade de edil à de professor, e movido por dois
grandes amores – o de contribuir para valorizar os estudantes e o de
desejar engrandecer Aveiro – resolvi apresentar o assunto nas
actividades camarárias, exibindo como grande argumento o facto de
considerar como mais fácil conseguir-se que o Governo ajudasse a
libertar-se a Câmara dum eventual encargo com um Instituto já existente,
do que criar uma Escola nova, Isto é, sem ver na base um sacrifício
valioso já feito pela Câmara.
Foi o caso de se esgrimir com o coração e o pensamento
cheios de razões e amores válidos. E a verdade é que, mais pela força
dessas razões e desses amores do que pela da oratória que nunca quis
nada comigo, a Câmara foi total e rapidamente compreensiva, adquirindo a
Instituição em crise.
Assim praticou um acto de alto significado político e de
autêntico fomento de promoção humana.
Fez-se a sementeira e a terra era úbere, embora tivessem
que passar alguns anos e gastar bom dinheiro para aflorar à superfície o
primeiro rebento da planta que, precisamente por ser de germinação
difícil, traz consigo a simpática promessa de ser forte e umbrosa.
Posto Isto, e porque nada mais me cabia, recolhi ao meu
silêncio de anacoreta, sem nada mais saber do que se passava. Mas os
homens bons e devotados estavam no seu posto a trabalhar e faziam-no em
silêncio como convém.
Que se passaria entre a Câmara, o Governo Civil e o
Governo Eu nada conhecia mas, como homem da rua, aguardava serenamente o
momento propício para lançar os foguetes do regozijo e para ouvir
talvez, aqui ou além, o estoiro das garrafas do festivo espumoso.
E, de repente, violento estremeção me acordava do sonho
embalador e ternamente apetecido, para que eu soubesse da transformação
do Instituto particular em Instituto oficial.
Enquanto não pode ser totalmente Independente, será
Secção do Instituto Comercial do Porto, mas Isso é apenas uma questão de
pormenor sem Interesse de facto é um Instituto oficial, onde os alunos
pagam uma Insignificância e onde todos os actos têm a chamada oficial do
Estado e o correspondente valor legal.
Chegada a hora dos hossanas aos que dirigem e comandam,
forme-se o cortejo apropriado e demos ao acontecimento o valor de um
grande passo em frente, com rumo ao futuro de Aveiro.
Bendito o sacrifício camarário, agora nobremente
compensado! E que ele sirva para nos galvanizar e seja a promessa de
que, antes do destroçar do cortejo, há que dar ainda outros passos em
frente com rumo ao futuro de Aveiro!»
Passou o ano lectivo de 71/72, o primeiro como Secção do
Instituto Comercial do Porto, e, em 24 de Junho de 1972, o mesmo jornal
“Litoral” publicava outro artigo da minha lavra intitulado Balanço, onde
se dizia:
«As ocorrências valerosas são
modestas, simples, humildes, dispensando foguetes de propaganda e
multidões de anonimato.
Pois assim aconteceu anteontem nesta cidade, quando à
tarde se reuniu no Salão Cultural da Câmara um grupo de Indivíduos
responsáveis e conscientes adultos alguns e jovens outros.
Fundo da lição:
assinalar efeméride relevante na história do ensino em Aveiro, qual era
o final do primeiro ano lectivo da Secção de Aveiro do Instituto
Comercial do Porto.
Material a utilizar:
rememorar a vida da Escola, em referência às três fases até agora
percorridas, ou seja, Instituto de ensino particular de propriedade
particular, Instituto de ensino particular de propriedade camarária e
Instituto de ensino oficial como agora de facto é.
Aveiro, no reconhecimento do Inalienável direito que
todos os jovens têm à educação, não se ficou por sonhos ou palavras
altissonantes; foi realista, concretizou e assim
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convenceu as Pessoas e Entidades responsáveis de que
tinha direitos suficientes para merecer o auxilio estatal e ser dotada
com uma Escola desta índole.
Os dirigentes, consubstanciados no Director e Subdirector
do Instituto Comercial do Porto, honraram a cidade e a Secção com a sua
presença e os seus pensamentos de louvor, concordância e incitamento,
deixando-nos a obrigação de fazer o balanço daquele primeiro ano de
actividade.
Aveiro, como nas grandes ocorrências, foi modesta,
simples e humilde na recepção a tão grados embaixadores da boa nova, mas
não faltaram, nem o Governador Civil, nem o Presidente da Câmara, para
dizerem aos professores e aos alunos da Secção que acompanhavam
atentamente as actividades de uns e de outros e esperavam de todos a
melhor dedicação para que Aveiro fosse mais rica e pudesse distribuir
melhor essa riqueza.
Bom augúrio esta modéstia, simplicidade e humildade, pois
o trabalho escolar só é sério e produtivo quando realizado no recato da
sala de aula, sem estridências de trompete nem zabumbices de bombardinos.
Assim o teriam entendido os Ilustres pedagogos que são o Director e
Subdirector do Porto e os restantes professores que os acompanharam.
Balanço Pela nossa parte não será difícil de fazer.
Os problemas da educação, embora financeiramente
deficitários, são sempre realizações de Investimento. Portanto, em vez
das habituais rubricas de Devedores Gerais, Credores Gerais, Letras a
pagar ou Letras a receber, só há que perguntar Quantos jovens estudantes
se valorizaram e enriqueceram com o labor da Secção, de tal modo que
venham a aumentar a produtividade aveirense?
A resposta afirmativa é indiscutível; temos todos a
certeza segura de que alguns dos nossos estudantes, sem terem abandonado
as casas familiares, conquistaram saber e títulos de que em breve
tirarão proveito.
Foram muitos os que aproveitaram A relatividade dos
números Impõem a sua lei há cinco anos havia no mundo 450 milhões de
estudantes e apenas uma minúscula gota (uma centena) coube este ano ao
nosso Instituto. Com números desta grandeza são Irrisórias as
comparações do muito ou do pouco. O que interessa, isso sim, é que
alguns rapazes e umas tantas raparigas se promoveram e dignificaram.
Conclusão – A conta de Lucros e Perdas terá pequeno lucro
financeiro mas produzirá Cem por um na valorização do Capital humano que
utiliza a Instituição. Por isso se pede aos Senhores Accionistas (os
Aveirenses) que dêem a sua confiança ao Instituto (Secção de Aveiro) e
aprovem sem reservas as contas desde o primeiro ano de actividade.»
Esta fase de “Secção do Instituto Comercial do Porto”
durou cinco anos no decorrer dos quais alguns alunos concluíram os seus
estudos e arranjaram empregos mais ou menos pingues onde prestaram boas
provas e granjearam prestígio para a Escola que os preparou. Tudo se foi
reflectindo com brilho na nova Escola aveirense e de tal modo que, ao
fazer-se uma remodelação dos Institutos Comerciais, (Decreto-Lei n.º
32776, de 6 de Maio), foram criados com a nova designação de Institutos
Superiores de Contabilidade e Administração apenas 4 – Lisboa, Porto,
Coimbra e Aveiro – conhecidos com a sigla de ISCA.
Ficámos assim com a certeza certa de que, se não houvesse
uma Secção do Instituto Comercial do Porto em Aveiro, também não haveria
o ISCA de Aveiro. Cumpriram-se integralmente as previsões feitas e, como
se calcula, todos nós, os cabouqueiros, sentimos enorme satisfação com
esse facto.
A Câmara de Aveiro e o Governo, de mãos dadas, estão a
construir um novo edifício para esta Escola e bebemos a notícia no n.º 8
do Boletim Municipal de Aveiro, páginas 59 e 60. Colaborou nos projectos
de Arquitectura, de Engenharia, de Águas e Saneamento e de Electricidade
uma equipa formada por 3 arquitectos, 6 engenheiros, 6 desenhadores e um
Técnico de Construção Civil.
Não se pode dizer que houvesse falta de meios humanos,
apesar de se estranhar que nessa equipa não figure nenhum professor nem
nenhum aluno que, naturalmente, teriam alguma coisa a dizer sobre a
elaboração do programa que deve ter servido de base aos projectos.
Talvez por isso, certamente por isso, na descrição do edifício feita com
linguagem pretensamente erudita, não, conste nada sobre seus recreios no
meio da rua! Julgamos isto uma falta imperdoável.
Partindo do princípio que o programa da construção do
edifício está certo, há que louvar os esforços, quer camarários quer
governamentais, realizados para a condigna instalação do ISCA de Aveiro.
Está quase a chegar a hora das «BODAS DE PRATA» da Instituição e tudo se
deve preparar afanosamente para uma celebração apropriada.
Pela minha parte e, atrevo-me a pensá-lo, em nome do
Senhor António de Almeida, agora residente em Albufeira, e em memória do
Senhor Leonardo Nunes Pereira, associamo-nos às festas que se hão-de
realizar e cumprimentamos a todos que connosco colaboraram nas horas más
do início. Parabéns para Aveiro, que eu conheço, e que sei não me
deixaria ficar mal.
Que o ISCA de Aveiro conheça muitos êxitos na sua nova
casa.
Este desejo foi o motor que me levou a escrever o presente trabalho.
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Mais uma palavra para relembrar o sonho do “Instituto
Industrial de Aveiro”.
Entretanto leio no jornal Aveirense “Litoral” n.º 1482,
de 25 de Setembro, próximo passado, uma extensa reportagem sobre um
colóquio subordinado ao tema “Programa Estratégico do LNETI e o
relacionamento LNETI, Empresas, Universidade”, realizado em 18 de
Setembro de 1987, sob a organização e orientação da Associação
Industrial do Distrito de Aveiro (AIDA), a que preside a Senhora Dr.ª
Maria Helena Cerveira.
Esta Senhora discursou e, do seu longo discurso,
destacamos:
1.º – A defesa acalorada do distrito de Aveiro e o
protesto deliberado contra a partilha que se desenha ou parece querer
desenhar-se, formando áreas afectadas à Comissão de Coordenação da
Região Norte (CCRN) e outras à Comissão de Coordenação da Região Centro
(CCRC).
Nós que tanto e por tantas vezes temos escrito sobre essa
pretensa partilha, não podíamos deixar de nos regozijar por ser tão
consagrada personalidade a defender o mesmo ponto de vista que nós
defendemos, isto é, a integridade do nosso distrito, sem qualquer tutela
das CCRs.
2.º – Transcrevemos:
«Assim, entendemos que urge
promover a Implementação, em Aveiro, de um Centro de Formação para
Empresários e Técnicos Superiores, em que activamente participem a AIDA,
a Universidade de Aveiro, o LNETI, o Ministério do Emprego e Formação
Profissional e o Ministério da Indústria.
Paralelamente a este, pensamos que a outra obra de grande
necessidade e oportunidade bem patentes para o distrito e para a qual
esta reunião vai, certamente, dar especial contributo – aqui contamos
sobretudo com a boa vontade de V Ex.ª, Senhor Ministro (da Indústria e
Tecnologia) e Senhor Presidente do LNETI (Prof. Veiga Simão) – é a
criação, em Aveiro, do Instituto de Inovação e Desenvolvimento
Tecnológico para apoiar, de perto e eficazmente, a nossa Indústria tão
carenciada.»
Quanto ao primeiro ponto, nunca será demais enaltecer o
generoso cuidado com que a Senhora Presidente da AIDA pugna pela defesa
da integridade do distrito de Aveiro em futuro projecto de
regionalização. O manifesto descontentamento em relação à partilha do
distrito pelas duas Comissões de Coordenação.
Quanto ao segundo ponto, e por palavras mais simples, a
referida Senhora pede a criação em Aveiro de uma Escola Superior de
Economia e de um Instituto Industrial. Deste último, disse eu atrás que
o meu sonho sobre este tipo de escola saíra gorado, mas eu esperava que,
mais tarde ou mais cedo, aparecesse um realizador mais feliz do que eu o
fora. Com o coração cheio de esperança, pergunto, terá chegado a hora?
Estaremos, daqui a 25 anos, a festejar as bodas de prata do Instituto
Industrial de Aveiro
Dr. Orlando de Oliveira
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