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Boletim n.º 8 - Ano IV - 1986


MOSTRA DA ANTIGA CERÂMICA DE AVEIRO

 

Durante a VII Feira de Artesanato da Região de Aveiro, esteve patente, num dos pavilhões das Exposições, a Mostra da Antiga Cerâmica de Aveiro iniciativa que pertenceu ao Pelouro da Cultura da Câmara Municipal e que se realizou pela primeira vez na nossa cidade, com o fim de lembrar uma actividade característica do homem aveirense.

Como na ocasião se escreveu, tratou-se simplesmente de uma mostra, a significar apenas o que era: um mero testemunho. «Talvez sirva de incentivo para maiores cometimentos, com a necessária colaboração dos munícipes».

Aí se apresentaram valiosas peças da história do barro nas terras alavarienses, provenientes tanto do espólio da Câmara Municipal como de colecções particulares. Há documentos que registam o artesanato na época dos Romanos e no tempo dos Suevos e dos Visigodos, como há provas que o atestam em Aradas no século XV; e, no século seguinte, fora das muralhas de Aveiro, a sul, era grande a concentração de oleiros, agrupados na Confraria das Santas Justa e Rufina.

Publica-se aqui, na íntegra, o apontamento do respectivo «desdobrável»:

Crê-se que já os Fenícios, vindos para esta região ao redor do século X antes de Cristo, tenham trazido com eles o hábito de modelarem com perfeição objectos de barro.

Após os Lusitanos, chegaram os Romanos, que também se dedicaram ao artesanato cerâmico – o que se documenta pelos vestígios recolhidos em Cacia, no ano de 1930. Os Suevos e os Visigodos seguiram a tradição que encontraram na região alavariense; o forno achado em Eixo, na Costa das Arribas, em Dezembro de 1985, atesta o fabrico de tégulas e tijolos nos séculos VI-VIII. / 67 /

As artes cerâmicas progrediram na Península Ibérica, a partir do século VIII, impulsionadas pelos Árabes, mestres e vulgariza dores da arte oleira.

Na primeira metade do século XV, o artesanato aparece-nos documentado em Aradas – o que não quer dizer que não fosse aqui praticado em tempos anteriores.

No século XVI, Aveiro surge-nos como florescente centro oleiro. Fora das muralhas para sul, estendia-se o «Bairro dos Oleiros» e a classe agrupava-se na respectiva Confraria de Santa Justa e Santa Rufina. Aveiro bastava-se e até exportava para a Província do Minho, pois eram numerosos os navios que daqui levavam olarias para os portos de Viana do Castelo e Caminha.

Em Eixo, continuava-se a trabalhar em cerâmica. Jorge da Silva, escudeiro da Princesa Santa Joana, no seu testamento feito em 1555, no lugar da Granja de Cima, declarava dever 1.549 réis a João Forneiro, de Eixo, de serviços e de um milheiro de telha. Nas primeiras décadas do nosso século, ainda aqui, em bons fornos, se fabricava telha que, pela qualidade do barro, era muito pretendida no país.

Em Aveiro, a partir do primeiro terço do século XVIII, desenvolveu-se uma arte cerâmica bem caracterizada, cujos testemunhos são não apenas peças de uso doméstico e decorativo, mas também presépios, calvários e imagens devocionais. José Dias dos Santos, Rangel (SA), Bartolomeu Gaspar, Joaquim Marques dos Santos, Manuel Marques de Figueiredo, Manuel António (o Tigelinha), um de apelido Lemos, e, mais recentemente, João da Graça e Pedro António Marques (Pedro Serrano), a que se juntavam as freirinhas dos conventos do burgo, foram artistas que nos deixaram estatuetas de subtil espiritualidade e modelações de grande categoria.

 

 

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