MOSTRA DA ANTIGA CERÂMICA
DE AVEIRO
Durante a VII Feira de
Artesanato da Região de Aveiro, esteve patente, num dos pavilhões das
Exposições, a Mostra da Antiga Cerâmica de Aveiro iniciativa que
pertenceu ao Pelouro da Cultura da Câmara Municipal e que se realizou
pela primeira vez na nossa cidade, com o fim de lembrar uma actividade
característica do homem aveirense.
Como na ocasião se escreveu,
tratou-se simplesmente de uma mostra, a significar apenas o que era: um
mero testemunho. «Talvez sirva de incentivo para maiores cometimentos,
com a necessária colaboração dos munícipes».
Aí se apresentaram valiosas
peças da história do barro nas terras alavarienses, provenientes tanto
do espólio da Câmara Municipal como de colecções particulares. Há
documentos que registam o artesanato na época dos Romanos e no tempo dos
Suevos e dos Visigodos, como há provas que o atestam em Aradas no século
XV; e, no século seguinte, fora das muralhas de Aveiro, a sul, era
grande a concentração de oleiros, agrupados na Confraria das Santas
Justa e Rufina.
Publica-se aqui, na íntegra,
o apontamento do respectivo «desdobrável»:
Crê-se que já os Fenícios,
vindos para esta região ao redor do século X antes de Cristo, tenham
trazido com eles o hábito de modelarem com perfeição objectos de barro.
Após os Lusitanos, chegaram
os Romanos, que também se dedicaram ao artesanato cerâmico – o que se
documenta pelos vestígios recolhidos em Cacia, no ano de 1930. Os Suevos
e os Visigodos seguiram a tradição que encontraram na região
alavariense; o forno achado em Eixo, na Costa das Arribas, em Dezembro
de 1985, atesta o fabrico de tégulas e tijolos nos séculos VI-VIII.
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As artes cerâmicas
progrediram na Península Ibérica, a partir do século VIII, impulsionadas
pelos Árabes, mestres e vulgariza dores da arte oleira.
Na primeira metade do século
XV, o artesanato aparece-nos documentado em Aradas – o que não quer
dizer que não fosse aqui praticado em tempos anteriores.
No século XVI, Aveiro
surge-nos como florescente centro oleiro. Fora das muralhas para sul,
estendia-se o «Bairro dos Oleiros» e a classe agrupava-se na respectiva
Confraria de Santa Justa e Santa Rufina. Aveiro bastava-se e até
exportava para a Província do Minho, pois eram numerosos os navios que
daqui levavam olarias para os portos de Viana do Castelo e Caminha.
Em Eixo, continuava-se a
trabalhar em cerâmica. Jorge da Silva, escudeiro da Princesa Santa
Joana, no seu testamento feito em 1555, no lugar da Granja de Cima,
declarava dever 1.549 réis a João Forneiro, de Eixo, de serviços e de um
milheiro de telha. Nas primeiras décadas do nosso século, ainda aqui, em
bons fornos, se fabricava telha que, pela qualidade do barro, era muito
pretendida no país.
Em Aveiro, a partir do
primeiro terço do século XVIII, desenvolveu-se uma arte cerâmica bem
caracterizada, cujos testemunhos são não apenas peças de uso doméstico e
decorativo, mas também presépios, calvários e imagens devocionais. José
Dias dos Santos, Rangel (SA), Bartolomeu Gaspar, Joaquim Marques dos
Santos, Manuel Marques de Figueiredo, Manuel António (o Tigelinha), um
de apelido Lemos, e, mais recentemente, João da Graça e Pedro António
Marques (Pedro Serrano), a que se juntavam as freirinhas dos conventos
do burgo, foram artistas que nos deixaram estatuetas de subtil
espiritualidade e modelações de grande categoria.
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