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Boletim n.º 5 - Ano III - 1985

«Cacia e o Baixo-Vouga»


Ao fim da tarde de 19 de Novembro de 1984, numa unidade hoteleira de Cacia, foi apresentado ao público uma nova publicação, editada pelos Serviços de Cultura da Câmara Municipal. Estiveram presentes órgãos da comunicação social, diversas entidades de representação local e outras pessoas interessadas pela cultura e pelo património regional.

O livro, que tem o título «Cacia e o Baixo-Vouga», é uma colectânea de estudos, considerações, memórias e entrevistas, de diversos autores, já publicados nos jornais "Ecos de Cacia" e "O Nosso Jornal"; o trabalho de recolha e de coordenação foi cuidadosamente feito por Bartolomeu Conde, que contou com a colaboração de várias pessoas.

A apresentação oficial do livro coube ao Vereador da Cultura, Custódio Ramos, que, na ocasião, proferiu as seguintes palavras:

«Para procedermos à apresentação pública do livro «Cacia e o Baixo-Vouga», editado sob a responsabilidade dos Serviços Culturais da Câmara Municipal de Aveiro, não podíamos escolher um espaço que não fosse em Cacia.

Povoação antiquíssima, outrora dedicada exclusivamente à agricultura e à criação de gado, Cacia passou, em meados deste século, por uma transformação profunda em virtude da instalação de indústrias importantes como a Fábrica de Celulose (Portucel), a Fábrica de Automóveis (FAP e actualmente a Renault), a par de inúmeras unidades industriais de diferente dimensão.

Este surto industrial e o consequente desenvolvimento do comércio, arrastaram para Cacia grandes contingentes de pessoas vindas de outras terras, que / 72 / aqui se radicaram, alterando a fisionomia desta até então pacata localidade, com naturais reflexos no modo de viver, nos costumes ancestrais, e até na alimentação.

A irreversibilidade desta histórica evolução terá sido a causa que moveu alguns filhos de Cacia a registarem oportunamente nos órgãos locais de comunicação – ECOS DE CACIA e O NOSSO JORNAL – através de crónicas e entrevistas, os velhos costumes da população traduzindo o seu modo de viver e de estar no Mundo, antes da industrialização que descaracterizou a comunidade originária.

Pretendia-se, assim, em defesa da cultura popular caciense, deixar à posteridade um «retrato» de Cacia do princípio do século dos trajos usados pelo povo, das suas crendices e mezinhas, do esforçado trabalho agrícola, da educação familiar, das normas do namoro, do casamento e das festas e romarias, dos seus cantares, enfim, de tudo quanto a evolução havia alterado, transformado ou simplesmente feito desaparecer.

Um dos cacienses que mais se esforçaram por concretizar tal objectivo foi sem dúvida António Pinto Perfeito, cujo nome ficará ligado à actividade artística, designadamente no campo da música e das danças populares, do teatro amador, dos grupos folclóricos, figurando por isso e com justiça na toponímia local.

Face ao valor histórico daquelas crónicas, a Câmara Municipal de Aveiro aceitou sugestão de publicar um livro que reunisse os trabalhos daquele autor, a que se juntou escritos de outras pessoas que trataram temas sobre Cacia, nomeadamente um valioso estudo sobre os achados arqueológicos, da autoria do saudoso arqueólogo aveirense Dr. Alberto Souto, considerações sobre esses achados expandidas pelo ilustre aveirense Dr. David Cristo, um trabalho de João Sarabando sobre o Rio Novo do Príncipe, e ainda descrições de outros autores cacienses sobre as artes tradicionais da pesca do Baixo-Vouga, muitas delas já desaparecidas por motivo da poluição.

Não fora, porém, o amor às coisas da cultura popular, tornado quase uma obsessão, da parte de Bartolomeu Conde e não teríamos o ensejo de apresentar e ler esta publicação. A ele se deve tão só a ideia do livro, como consta do texto do seu preâmbulo. De facto, Bartolomeu Conde, que teve a colaboração amiga e incansável de Jeremias Bandarra, um artista de nomeada, e quiçá de outras pessoas que não figuram na ficha técnica da edição, tomou sobre os seus ombros, do início ao fim, a tarefa melindrosa de recolher os trabalhos e gravuras, muitas das quais da sua autoria, facilitando sobremaneira e actividade dos Serviços Culturais do Município.

A obra aí está, digna de Cacia, digna de Aveiro, digna de todos nós. Parabéns a Cacia!
Bem hajam todos quantos colaboraram.

Obrigado pela vossa presença».

Usou da palavra, entre outras pessoas, Bartolomeu Conde, que historiou o processo de recolha de todos os elementos e evocou os autores dos diversos artigos e assuntos da colectânea, designadamente António Pinto Perfeito.

No final, o Dr. José Girão Pereira, Presidente da Edilidade, congratulou-se com a iniciativa, agradeceu a todos quantos tornaram possível a publicação de «Cacia e o Baixo-Vouga» e disse que a Câmara, da sua responsabilidade, está sempre aberta a tudo o que divulgue a cultura, a arte e a tradição aveirenses.

 

 

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