«Cacia e o Baixo-Vouga»
Ao fim da tarde de 19 de Novembro de 1984, numa unidade hoteleira de
Cacia, foi apresentado ao público uma nova publicação, editada pelos
Serviços de Cultura da Câmara Municipal. Estiveram presentes órgãos da
comunicação social, diversas entidades de representação local e outras
pessoas interessadas pela cultura e pelo património regional.
O livro, que tem o título «Cacia
e o Baixo-Vouga», é uma colectânea de estudos, considerações,
memórias e entrevistas, de diversos autores, já publicados nos jornais
"Ecos de Cacia" e "O Nosso Jornal"; o trabalho de recolha e de
coordenação foi cuidadosamente feito por Bartolomeu Conde, que contou
com a colaboração de várias pessoas.
A apresentação oficial do
livro coube ao Vereador da Cultura, Custódio Ramos, que, na ocasião,
proferiu as seguintes palavras:
«Para procedermos à
apresentação pública do livro «Cacia e o Baixo-Vouga», editado sob a
responsabilidade dos Serviços Culturais da Câmara Municipal de Aveiro,
não podíamos escolher um espaço que não fosse em Cacia.
Povoação antiquíssima,
outrora dedicada exclusivamente à agricultura e à criação de gado, Cacia
passou, em meados deste século, por uma transformação profunda em
virtude da instalação de indústrias importantes como a Fábrica de
Celulose (Portucel), a Fábrica de Automóveis (FAP e actualmente a
Renault), a par de inúmeras unidades industriais de diferente dimensão.
Este surto industrial e o
consequente desenvolvimento do comércio, arrastaram para Cacia grandes
contingentes de pessoas vindas de outras terras, que
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aqui se radicaram, alterando a fisionomia desta até então pacata
localidade, com naturais reflexos no modo de viver, nos costumes
ancestrais, e até na alimentação.
A irreversibilidade desta
histórica evolução terá sido a causa que moveu alguns filhos de Cacia a
registarem oportunamente nos órgãos locais de comunicação – ECOS DE
CACIA e O NOSSO JORNAL – através de crónicas e entrevistas, os velhos
costumes da população traduzindo o seu modo de viver e de estar no
Mundo, antes da industrialização que descaracterizou a comunidade
originária.
Pretendia-se, assim, em
defesa da cultura popular caciense, deixar à posteridade um «retrato» de
Cacia do princípio do século dos trajos usados pelo povo, das suas
crendices e mezinhas, do esforçado trabalho agrícola, da educação
familiar, das normas do namoro, do casamento e das festas e romarias,
dos seus cantares, enfim, de tudo quanto a evolução havia alterado,
transformado ou simplesmente feito desaparecer.
Um dos cacienses que mais se
esforçaram por concretizar tal objectivo foi sem dúvida António Pinto
Perfeito, cujo nome ficará ligado à actividade artística, designadamente
no campo da música e das danças populares, do teatro amador, dos grupos
folclóricos, figurando por isso e com justiça na toponímia local.
Face ao valor histórico
daquelas crónicas, a Câmara Municipal de Aveiro aceitou sugestão de
publicar um livro que reunisse os trabalhos daquele autor, a que se
juntou escritos de outras pessoas que trataram temas sobre Cacia,
nomeadamente um valioso estudo sobre os achados arqueológicos, da
autoria do saudoso arqueólogo aveirense Dr. Alberto Souto, considerações
sobre esses achados expandidas pelo ilustre aveirense Dr. David Cristo,
um trabalho de João Sarabando sobre o Rio Novo do Príncipe, e ainda
descrições de outros autores cacienses sobre as artes tradicionais da
pesca do Baixo-Vouga, muitas delas já desaparecidas por motivo da
poluição.
Não fora, porém, o amor às
coisas da cultura popular, tornado quase uma obsessão, da parte de
Bartolomeu Conde e não teríamos o ensejo de apresentar e ler esta
publicação. A ele se deve tão só a ideia do livro, como consta do texto
do seu preâmbulo. De facto, Bartolomeu Conde, que teve a colaboração
amiga e incansável de Jeremias Bandarra, um artista de nomeada, e quiçá
de outras pessoas que não figuram na ficha técnica da edição, tomou
sobre os seus ombros, do início ao fim, a tarefa melindrosa de recolher
os trabalhos e gravuras, muitas das quais da sua autoria, facilitando
sobremaneira e actividade dos Serviços Culturais do Município.
A obra aí está, digna de
Cacia, digna de Aveiro, digna de todos nós. Parabéns a Cacia!
Bem hajam todos quantos colaboraram.
Obrigado pela vossa
presença».
Usou da palavra, entre
outras pessoas, Bartolomeu Conde, que historiou o processo de recolha de
todos os elementos e evocou os autores dos diversos artigos e assuntos
da colectânea, designadamente António Pinto Perfeito.
No final, o Dr. José Girão
Pereira, Presidente da Edilidade, congratulou-se com a iniciativa,
agradeceu a todos quantos tornaram possível a publicação de «Cacia e o
Baixo-Vouga» e disse que a Câmara, da sua responsabilidade, está sempre
aberta a tudo o que divulgue a cultura, a arte e a tradição aveirenses.
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