Acesso à hierarquia superior.

Boletim n.º 4 - Ano II - 1984


TROÇO «ALBERGARIA-VISEU»

da Via Rápida «Aveiro-Vilar Formoso»

 

No passado dia 18 de Julho, visitou Aveiro o Primeiro Ministro Dr. Mário Soares, que se fez acompanhar dos Ministros do Equipamento Social e do Mar, respectivamente Rosado Correia e Carlos Melancia.

Recebido na Praça do Marquês de Pombal por uma Companhia do Batalhão de Infantaria de Aveiro, que lhe prestou honras militares, logo foi cumprimentado pelas entidades presentes no átrio do Governo Civil.

A finalidade principal desta visita foi a assinatura do contrato de adjudicação do troço Albergaria-a-Velha-Viseu da via rápida Aveiro-Viseu-Guarda-Vilar Formoso.

Na sessão solene, o Primeiro-Ministro estava acompanhado pelo Governador Civil de Aveiro, pelos Ministros do Equipamento Social e do Mar, pelo Presidente da Junta Autónoma das Estradas e pelo Governador Civil de Viseu. Presentes à sessão alguns Presidentes dos Municípios do Distrito e outros do Distrito de Viseu.

No uso da palavra, o Governador Civil recordou que Aveiro é o terceiro distrito do Pais com capitação mais elevada: apesar disso «temos sido esquecidos, ultrapassados, e até em muitos casos ignorados pelo investimento público nas nossas ambições». E apresentou concretamente algumas das necessidades do Distrito, realçando especialmente a rede viária, as obras do porto, e o desenvolvimento da Universidade, afirmando a dado passo: «as fontes de riqueza têm de ser protegidas!».

O Ministro do Equipamento Social fez referência à obra em causa e falou da necessidade do porto de Aveiro. Dizendo que o Distrito de Aveiro é dos que mais iniciativas têm demonstrado, afirmou: «O relançamento do País passará necessariamente por Aveiro». / 58 /

O Presidente da Junta Autónoma de Estradas fez uma breve história da evolução das estradas: romanas, reais, nacionais, europeias. Apontou, depois, alguns dados sobre o troço Albergaria- Viseu da via rápida.

O Primeiro-Ministro começou por classificar o discurso do Governador Civil como o caderno reivindicativo do Distrito de Aveiro, um Distrito onde se sente que há grande progresso, um Distrito com grandes possibilidades e que anda para diante. Afirmando que muita gente, neste País, ainda não se apercebeu da importância da entrada de Portugal na CEE, disse que «mau grado certo pessimismo, há razões para o povo ter esperança.»

Do Governo Civil, o Primeiro-Ministro dirigiu-se a pé para a Câmara Municipal. Foi saudado pelo Presidente da Assembleia Municipal, Francisco da Encarnação Dias, cujas palavras se reproduzem no final desta notícia. Foram-lhe ofertadas uma estatueta de Santa Joana Princesa e a medalha da cidade, que logo agradeceu; depois lembrou o exemplo de tolerância e liberalismo dado por Aveiro, afirmando a dado passo: «Sem trabalho, sem disciplina, sem estabilidade não é possível a nenhum país resolver os seus problemas.»

Ao almoço, o antigo Governador Civil de Aveiro, Dr. Francisco do Vale Guimarães, propôs ao Primeiro-Ministro a sugestão de declarar o palheiro de José Estêvão, na Costa Nova, de interesse público e lembrar ainda a colocação dos bustos dos Professores Barbosa de Magalhães e Manuel de Andrade no átrio do Tribunal.

O Dr. Mário Soares percorreu as obras do porto de Aveiro e fez uma visita demorada à Universidade, onde, em sessão solene, foi informado das prementes carências deste estabelecimento de ensino superior. Depois, esteve na sede da Associação Académica dos Estudantes da Universidade e, ao fim da tarde, foi recebido pelo Bispo de Aveiro.

À noite presidiu a um jantar de empresários da região, organizado pela Associação Comercial de Aveiro. Nos discursos havidos, foram abordados diversos problemas: política económica global, carga fiscal, taxas de juro e condições de crédito, problemas da exportação, legislação laboral, segurança social, regionalização e outros. O Primeiro-Ministro respondeu a todos os problemas abordados, deixando vincada esta mensagem: «Aos empresários exige-se que comecem, agora, a pensar verdadeiramente em termos europeus. Num momento em que o estrangeiro, CEE, EFT A, Japão, Estados Unidos e países árabes querem investir em Portugal, de que é que os nossos industriais, que têm dinheiro lá fora, estão à espera?». E à pergunta: «Mas há esperança?», o Primeiro-Ministro respondeu: «Obviamente que há, com uma condição: termos juízo».

O Dr. Mário Soares regressou a Lisboa nessa mesma noite. / 59 /

  Palavras do Presidente da Assembleia Municipal

Não têm sido muitas as vezes que em Aveiro repicam os sinos, ouve-se a Banda, embandeiram-se os Paços do Concelho, para receber a ilustre visita dum Primeiro-Ministro. Daí que, para além da honra da visita, seja grande a nossa satisfação pela presença de V. Ex.ª, a quem apresento respeitosos cumprimentos de boas vindas, em nome das gentes e do Concelho de Aveiro, extensivos a toda a comitiva.

Que possa V. Ex.ª, em tão curta visita, observar com atenção a realidade da região, ficar atento e aberto às suas legítimas aspirações, e que o balanço da visita lhe imponha o desejo de voltar, são os nossos sinceros votos, Senhor Primeiro Ministro.

Efectivamente, e cobardia seria nesta altura esquecê-lo, o que vai na alma do Povo da nossa terra, o que em Aveiro se sente, é uma tristeza constante e profunda pelo esquecimento do poder central pela nossa cidade e sua região, é uma desconfiança permanente pela justiça das decisões governamentais, quando, a essa mesma justiça ou em seu nome, se sobrepõem interesses nem sempre confessados, atitudes carecidas de lisura, e assim nos vemos confrontados com outras regiões politicamente mais fortes, talvez, mas só em número de votos.

Assim tem acontecido nos campos das Ciências (estou a referir-me ao Centro Tecnológico de Cerâmica e Vidro), dos Desportos, dos Departamentos Públicos, da Agricultura, da Saúde, do Turismo, etc..

Por tudo isto, Senhor Primeiro Ministro, a presença de V. Ex.ª em Aveiro, o contacto com as suas gentes e a nossa realidade, podem significar o inverter da maré, ou pelo menos, deixa-nos a esperança que assim seja, e que os reais problemas, que hoje nos desgostam e preocupam, possam merecer a V. Ex.ª uma maior compreensão e receptividade, por um conhecimento mais directo dos mesmos.

Senhor Primeiro Ministro:

A estrada Aveiro/Vilar Formoso é hoje ponto de honra para toda esta região, e a adjudicação do troço Albergaria-a-Velha/Viseu, que V. Ex.ª hoje consumou, é facto a registar na história desta laboriosa cidade, que assim, e em pouco mais duma semana, vê realizadas duas grandes aspirações: a criação e instalação do Gabinete do Vouga, e esta adjudicação do troço da Via Rápida; o primeiro, pela / 60 / importância na recuperação de milhares de hectares de produtivas e ubérrimas terras agrícolas, riqueza incalculável para a economia do País, que tão carecida está, e forte contributo para um combate frontal ao desemprego em toda a vasta região da Bacia do Vouga, ao desenvolvimento do porto de Aveiro como consequência natural, ao afluxo de divisas pelo seu desenvolvimento turístico, em todos os casos, peta riqueza que todos esses empreendimentos podem trazer a toda uma região que ama o trabalho como ama a Liberdade, que é praticamente auto-suficiente, que é das primeiras a pagar contribuições para o Estado, que tem capacidades criativas, empreendedoras e organizativas, mas que tem também, entre outras carências, e infelizmente, a pior rede de telefones e a pior rede de estradas do País.

Senhor Primeiro Ministro:

Conhece V. Ex.ª o forte espírito liberal dos aveirenses, o seu sentido de independência que abomina os servilismos e as subserviências, sem contudo deixar de preservar e respeitar as hierarquias, as instituições e os valores morais. Foi com este espírito que foi possível realizarem-se em Aveiro os Congressos Democráticos Republicanos, que foram a semente do regime que hoje defendemos, com respeito pelas liberdades... e pela ordem.

Não sofremos em toda esta região, com o 25 de Abril, as grandes convulsões das tentativas totalitárias, ou os graves problemas laborais que provocaram o desequilíbrio das Empresas e tanto afectaram a economia nacional.

Não somos povo de vir para a rua lançar barricadas ou arrancar caminhos de ferro, às vezes, quiçá, talvez em prejuízo próprio, mas queremos continuar ser amantes do trabalho, e a não acreditar que a justiça só aparece quando a Força da Razão se substitui pela Razão da Força.

Senhor Primeiro Ministro:

É do conhecimento dos Portugueses as dificuldades que o País atravessa. Já se vêem a olho nu, já que se sente em cada família, e não valerá muito a pena iludirmo-nos ou anestesiarmo-nos. Vivemos agora a esperança da nossa entrada no Mercado Comum, e é esse o farol da nossa miragem.

Calculo que, para um Governante responsável, os tempos que vivemos são de preocupação constante. Mas em primeiro lugar, desculpe-me V. Ex.ª esta opinião que é ilacção da realidade aveirense: É PRECISO, É URGENTE, QUE O PAÍS TRABALHE, POIS SÓ O TRABALHO É GERADOR DE RIQUEZA, DO BEM ESTAR E DA PAZ PARA A FAMÍLIA PORTUGUESA.

Muito Obrigado.

Aveiro, 18 de Julho de 1984

 

 

Página anterior

Índice Geral

Página seguinte

pp. 57-60