TROÇO «ALBERGARIA-VISEU»
da Via Rápida «Aveiro-Vilar
Formoso»
No passado dia 18 de Julho, visitou Aveiro o Primeiro
Ministro Dr. Mário Soares, que se fez acompanhar dos Ministros do
Equipamento Social e do Mar, respectivamente Rosado Correia e Carlos
Melancia.
Recebido na Praça do Marquês de Pombal por uma Companhia
do Batalhão de Infantaria de Aveiro, que lhe prestou honras militares,
logo foi cumprimentado pelas entidades presentes no átrio do Governo
Civil.
A finalidade principal desta visita foi a assinatura do
contrato de adjudicação do troço Albergaria-a-Velha-Viseu da via rápida
Aveiro-Viseu-Guarda-Vilar Formoso.
Na sessão solene, o Primeiro-Ministro estava acompanhado
pelo Governador Civil de Aveiro, pelos Ministros do Equipamento Social e
do Mar, pelo Presidente da Junta Autónoma das Estradas e pelo Governador
Civil de Viseu. Presentes à sessão alguns Presidentes dos Municípios do
Distrito e outros do Distrito de Viseu.
No uso da palavra, o Governador Civil recordou que Aveiro
é o terceiro distrito do Pais com capitação mais elevada: apesar disso
«temos sido esquecidos, ultrapassados, e até em muitos casos ignorados
pelo investimento público nas nossas ambições». E apresentou
concretamente algumas das necessidades do Distrito, realçando
especialmente a rede viária, as obras do porto, e o desenvolvimento da
Universidade, afirmando a dado passo: «as fontes de riqueza têm de ser
protegidas!».
O Ministro do Equipamento Social fez referência à obra em
causa e falou da necessidade do porto de Aveiro. Dizendo que o Distrito
de Aveiro é dos que mais iniciativas têm demonstrado, afirmou: «O
relançamento do País passará necessariamente por Aveiro».
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O Presidente da Junta Autónoma de Estradas fez uma breve
história da evolução das estradas: romanas, reais, nacionais, europeias.
Apontou, depois, alguns dados sobre o troço Albergaria- Viseu da via
rápida.
O Primeiro-Ministro começou por classificar o discurso do
Governador Civil como o caderno reivindicativo do Distrito de Aveiro, um
Distrito onde se sente que há grande progresso, um Distrito com grandes
possibilidades e que anda para diante. Afirmando que muita gente, neste
País, ainda não se apercebeu da importância da entrada de Portugal na
CEE, disse que «mau grado certo pessimismo, há razões para o povo ter
esperança.»
Do Governo Civil, o Primeiro-Ministro dirigiu-se a pé
para a Câmara Municipal. Foi saudado pelo Presidente da Assembleia
Municipal, Francisco da Encarnação Dias, cujas palavras se reproduzem no
final desta notícia. Foram-lhe ofertadas uma estatueta de Santa Joana
Princesa e a medalha da cidade, que logo agradeceu; depois lembrou o
exemplo de tolerância e liberalismo dado por Aveiro, afirmando a dado
passo: «Sem trabalho, sem disciplina, sem estabilidade não é possível a
nenhum país resolver os seus problemas.»
Ao almoço, o antigo Governador Civil de Aveiro, Dr.
Francisco do Vale Guimarães, propôs ao Primeiro-Ministro a sugestão de
declarar o palheiro de José Estêvão, na Costa Nova, de interesse público
e lembrar ainda a colocação dos bustos dos Professores Barbosa de
Magalhães e Manuel de Andrade no átrio do Tribunal.
O Dr. Mário Soares percorreu as obras do porto de Aveiro
e fez uma visita demorada à Universidade, onde, em sessão solene, foi
informado das prementes carências deste estabelecimento de ensino
superior. Depois, esteve na sede da Associação Académica dos Estudantes
da Universidade e, ao fim da tarde, foi recebido pelo Bispo de Aveiro.
À noite presidiu a um jantar de empresários da região,
organizado pela Associação Comercial de Aveiro. Nos discursos havidos,
foram abordados diversos problemas: política económica global, carga
fiscal, taxas de juro e condições de crédito, problemas da exportação,
legislação laboral, segurança social, regionalização e outros. O
Primeiro-Ministro respondeu a todos os problemas abordados, deixando
vincada esta mensagem: «Aos empresários exige-se que comecem, agora, a
pensar verdadeiramente em termos europeus. Num momento em que o
estrangeiro, CEE, EFT A, Japão, Estados Unidos e países árabes querem
investir em Portugal, de que é que os nossos industriais, que têm
dinheiro lá fora, estão à espera?». E à pergunta: «Mas há esperança?», o
Primeiro-Ministro respondeu: «Obviamente que há, com uma condição:
termos juízo».
O Dr. Mário Soares regressou a Lisboa nessa mesma noite. /
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Palavras do Presidente da Assembleia Municipal
Não têm sido muitas as vezes que em Aveiro repicam os
sinos, ouve-se a Banda, embandeiram-se os Paços do Concelho, para
receber a ilustre visita dum Primeiro-Ministro. Daí que, para além da
honra da visita, seja grande a nossa satisfação pela presença de V.
Ex.ª, a quem apresento respeitosos cumprimentos de boas vindas, em nome
das gentes e do Concelho de Aveiro, extensivos a toda a comitiva.
Que possa V. Ex.ª, em tão curta visita, observar com
atenção a realidade da região, ficar atento e aberto às suas legítimas
aspirações, e que o balanço da visita lhe imponha o desejo de voltar,
são os nossos sinceros votos, Senhor Primeiro Ministro.
Efectivamente, e cobardia seria nesta altura esquecê-lo,
o que vai na alma do Povo da nossa terra, o que em Aveiro se sente, é
uma tristeza constante e profunda pelo esquecimento do poder central
pela nossa cidade e sua região, é uma desconfiança permanente pela
justiça das decisões governamentais, quando, a essa mesma justiça ou em
seu nome, se sobrepõem interesses nem sempre confessados, atitudes
carecidas de lisura, e assim nos vemos confrontados com outras regiões
politicamente mais fortes, talvez, mas só em número de votos.
Assim tem acontecido nos campos das Ciências (estou a
referir-me ao Centro Tecnológico de Cerâmica e Vidro), dos Desportos,
dos Departamentos Públicos, da Agricultura, da Saúde, do Turismo, etc..
Por tudo isto, Senhor Primeiro Ministro, a presença de V.
Ex.ª em Aveiro, o contacto com as suas gentes e a nossa realidade, podem
significar o inverter da maré, ou pelo menos, deixa-nos a esperança que
assim seja, e que os reais problemas, que hoje nos desgostam e
preocupam, possam merecer a V. Ex.ª uma maior compreensão e
receptividade, por um conhecimento mais directo dos mesmos.
Senhor Primeiro Ministro:
A estrada Aveiro/Vilar Formoso é hoje ponto de honra para
toda esta região, e a adjudicação do troço Albergaria-a-Velha/Viseu, que
V. Ex.ª hoje consumou, é facto a registar na história desta laboriosa
cidade, que assim, e em pouco mais duma semana, vê realizadas duas
grandes aspirações: a criação e instalação do Gabinete do Vouga, e esta
adjudicação do troço da Via Rápida; o primeiro, pela
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na recuperação de milhares de hectares de produtivas e ubérrimas terras agrícolas, riqueza incalculável para a economia do País, que tão
carecida está, e forte contributo para um combate frontal ao desemprego
em toda a vasta região da Bacia do Vouga, ao desenvolvimento do porto de
Aveiro como consequência natural, ao afluxo de divisas pelo seu
desenvolvimento turístico, em todos os casos, peta riqueza que todos
esses empreendimentos podem trazer a toda uma região que ama o trabalho
como ama a Liberdade, que é praticamente auto-suficiente, que é das
primeiras a pagar contribuições para o Estado, que tem capacidades
criativas, empreendedoras e organizativas, mas que tem também, entre
outras carências, e infelizmente, a pior rede de telefones e a pior rede
de estradas do País.
Senhor Primeiro Ministro:
Conhece V. Ex.ª o forte espírito liberal dos aveirenses,
o seu sentido de independência que abomina os servilismos e as
subserviências, sem contudo deixar de preservar e respeitar as
hierarquias, as instituições e os valores morais. Foi com este espírito
que foi possível realizarem-se em Aveiro os Congressos Democráticos
Republicanos, que foram a semente do regime que hoje defendemos, com
respeito pelas liberdades... e pela ordem.
Não sofremos em toda esta região, com o 25 de Abril, as
grandes convulsões das tentativas totalitárias, ou os graves problemas
laborais que provocaram o desequilíbrio das Empresas e tanto afectaram a
economia nacional.
Não somos povo de vir para a rua lançar barricadas ou
arrancar caminhos de ferro, às vezes, quiçá, talvez em prejuízo próprio,
mas queremos continuar ser amantes do trabalho, e a não acreditar que a
justiça só aparece quando a Força da Razão se substitui pela Razão da
Força.
Senhor Primeiro Ministro:
É do conhecimento dos Portugueses as dificuldades que o
País atravessa. Já se vêem a olho nu, já que se sente em cada família, e
não valerá muito a pena iludirmo-nos ou anestesiarmo-nos. Vivemos agora
a esperança da nossa entrada no Mercado Comum, e é esse o farol da nossa
miragem.
Calculo que, para um Governante responsável, os tempos
que vivemos são de preocupação constante. Mas em primeiro lugar,
desculpe-me V. Ex.ª esta opinião que é ilacção da realidade aveirense: É
PRECISO, É URGENTE, QUE O PAÍS TRABALHE, POIS SÓ O TRABALHO É GERADOR DE
RIQUEZA, DO BEM ESTAR E DA PAZ PARA A FAMÍLIA PORTUGUESA.
Muito Obrigado.
Aveiro, 18 de Julho de 1984
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