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Boletim n.º 3 - Ano II - 1984


O GOVERNADOR DE OÍTA EM AVEIRO

 

No passado dia 28 de Outubro, deslocou-se a Aveiro o Governador da Província de Dita, no Japão, Dr. Morihiko Hiramatsu, que se fez acompanhar pelo Adido Cultural da Embaixada Nipónica, em Lisboa. O Presidente e os Vereadores da Câmara Municipal de Aveiro, o Presidente da Assembleia Municipal, o Reitor da Universidade, os Comandantes das Forças Militares e Militarizadas, um representante do Bispo da Diocese e outras individualidades aguardaram os ilustres visitantes à sua chegada.

Na sessão solene, que decorreu no salão nobre dos Paços do Concelho, falou o Presidente da Assembleia Municipal, cujas palavras abaixo se transcrevem. O Diplomata Japonês, na sua alocução, acentuou que o seu País continua aberto ao intercâmbio cultural, científico e comercial, regozijando-se com esta visita, a qual servia para activar as relações entre as duas cidades. O Presidente da Câmara de Aveiro, num feliz improviso, manifestou satisfação por receber tão ilustre representante e prometeu uma maior aproximação entre Aveiro e Oíta.

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Finalizando a sessão, o Governador de Oíta referiu o passado histórico que une os dois Países, invocando a figura de S. Francisco Xavier – o pioneiro que levou à sua terra o cristianismo e a cultura portuguesa.

No Governo Civil, após os cumprimentos apresentados pelo Governador de Oíta, o Dr. Hiramatsu e o Dr. Gilberto Madaíl trocaram impressões sobre a possibilidade de desenvolvimento das relações culturais e comerciais entre as duas regiões.

Feita uma breve visita ao Museu local, a comitiva dirigiu-se ao edifício Oíta, para se proceder à sua inauguração.

A estadia da embaixada japonesa terminou após o almoço, oferecido pela Câmara Municipal num hotel da cidade. A despedida, o Dr. Girão Pereira, em nome da Edilidade Aveirense, confiou ao Dr. Hiramatsu uma simples mas expressiva mensagem, para ser entregue ao Presidente da Câmara de Oíta.

 

Palavras do Presidente da Assembleia Municipal

Ex.mo Senhor Governador de Oíta:

Quero em primeiro lugar e em nome da cidade de Aveiro, apresentar-lhe os nossos mais respeitosos cumprimentos, as nossas fraternas e cordiais saudações.

Constitui a visita de V. Ex.ª um privilégio para a cidade de Aveiro, e desejo-lhe testemunhar principalmente, Senhor Governador, quanto nos sentimos honrados com ela.

São decorridos precisamente três anos que uma embaixada aveirense se encontrava em Oíta, retribuindo visita, é certo, mas também estreitando laços, acrescentando mais elos na cadeia do protocolo selado entre as nossas cidades, consolidando alicerces de um intercâmbio que desejamos firme e transparente. Mas mais do que um contacto protocolar que também desejamos de longa vida, não posso deixar de recordar, aquando da nossa visita, a surpresa da recepção, o acolhimento das gentes, a entrega total e espontânea de uma cidade a outra cidade, tão distantes uma da outra quer no espaço, quer no tempo, e que mais pareciam reencontrar-se, após anos largos de ausência. Quiçá, talvez que fosse o encontro da História, e o encontro com a História.

Em Oíta, Senhor Governador, nos encontramos com o nosso navegador Fernão Mendes Pinto, o nosso médico Luís de Almeida, o nosso missionário S. Francisco Xavier... e todos os marcos ainda vivos da nossa passagem pelo Oriente, pelo vosso grande País – marcos que o tempo não destruiu, nem na memória dos homens se apagou. E nessa nossa viagem, que aqui recordo (e aqui estão presentes muitos participantes), trouxemos na nossa bagagem, para além dum passeio sempre apetecido de encontro com outras gentes e civilizações, a extraordinária lição de homenagem e gratidão dum grande País, o Japão, à História dum outro País, o nosso Portugal.

Um grande País que, como ninguém, o escreveu e cantou Venceslau de Morais, e que tanto o amou. Este nosso Cônsul de Portugal em Hiogo, Kobe e Osaka votou a sua existência a descrever e a investigar o Japão, e por lá morreu, aos 75 anos, em Tokushima.

«Cá está o meu Japão», escreveu Venceslau de Morais; «Revejo as casinhas de madeira e de papel, a amálgama de lojas abarrotando de mil indústrias estranhas, aqui um templo em festa, além um cortejo de enterro entre flores: e / 67 / pelas ruas, a alegre quermesse do povo, arrastando ruidosamente os socos, vendilhões, passeantes, as crianças garridas, as «musumés» em sedas. Fecham o quadro montanhas viçosas, dum verde negro de folhagem projectando no azul límpido do céu as largas ramadas».

E, revendo-me em todas estas coisas, ocorre-me ao espírito o sentimento desconsolador de nada ter dito, de nada ter escrito, que exprima realmente o que seja o Japão. O encanto que emana deste País abençoado sente-se, sente-se apenas, como um perfume que se aspira, mas que as palavras não definem.

 

Senhor Governador:

Recordar, hoje aqui, a nossa cidade irmã de Oíta é também a homenagem à grande potência mundial que vocês construíram, com muita perseverança, com muito amor, mas certamente com muito trabalho. O Japão que se impôs ao mundo por toda sua capacidade dum grande povo, que sofreu na carne os horrores de Hiroshima e Nagasaki, soube renascer das próprias cinzas, com uma firmeza e uma disciplina que o mundo reconhece, admira e respeita. E tudo isto sem perder os encantos da vossa civilização, a sensibilidade da entrega total às coisas simples, o seu grande amor à natureza, o respeito pela tradição: o culto dos arranjos das flores, as cerimónias rituais do chá, a graça do vestir do kimono, tudo é sensibilidade, encanto, respeito e amor.

 

Senhor Governador:

Ao terminar, quero comunicar-lhe, com muito prazer, que a Assembleia Municipal, a que presido, aprovou ontem um voto de regozijo pela visita de V. Ex.ª. Esse voto, é o voto duma cidade que abraça a outra cidade. É o abraço de Aveiro à cidade de Oíta. É o abraço da História, é o abraço de irmãos.

 

 

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