O GOVERNADOR DE OÍTA EM
AVEIRO
No passado dia 28 de Outubro, deslocou-se a Aveiro o
Governador da Província de Dita, no Japão, Dr. Morihiko Hiramatsu, que
se fez acompanhar pelo Adido Cultural da Embaixada Nipónica, em Lisboa.
O Presidente e os Vereadores da Câmara Municipal de Aveiro, o Presidente
da Assembleia Municipal, o Reitor da Universidade, os Comandantes das
Forças Militares e Militarizadas, um representante do Bispo da Diocese e
outras individualidades aguardaram os ilustres visitantes à sua chegada.
Na sessão solene, que decorreu no salão nobre dos Paços
do Concelho, falou o Presidente da Assembleia Municipal, cujas palavras
abaixo se transcrevem. O Diplomata Japonês, na sua alocução, acentuou
que o seu País continua aberto ao intercâmbio cultural, científico e
comercial, regozijando-se com esta visita, a qual servia para activar as
relações entre as duas cidades. O Presidente da Câmara de Aveiro, num
feliz improviso, manifestou satisfação por receber tão ilustre
representante e prometeu uma maior aproximação entre Aveiro e Oíta.
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Finalizando a sessão, o Governador de Oíta referiu o
passado histórico que une os dois Países, invocando a figura de S.
Francisco Xavier – o pioneiro que levou à sua terra o cristianismo e a
cultura portuguesa.
No Governo Civil, após os cumprimentos apresentados pelo
Governador de Oíta, o Dr. Hiramatsu e o Dr. Gilberto Madaíl trocaram
impressões sobre a possibilidade de desenvolvimento das relações
culturais e comerciais entre as duas regiões.
Feita uma breve visita ao Museu local, a comitiva
dirigiu-se ao edifício Oíta, para se proceder à sua inauguração.
A estadia da embaixada japonesa terminou após o almoço,
oferecido pela Câmara Municipal num hotel da cidade. A despedida, o Dr.
Girão Pereira, em nome da Edilidade Aveirense, confiou ao Dr. Hiramatsu
uma simples mas expressiva mensagem, para ser entregue ao Presidente da
Câmara de Oíta.
Palavras do Presidente da Assembleia Municipal
Ex.mo Senhor Governador de Oíta:
Quero em primeiro lugar e em nome da cidade de Aveiro,
apresentar-lhe os nossos mais respeitosos cumprimentos, as nossas
fraternas e cordiais saudações.
Constitui a visita de V. Ex.ª um privilégio para a cidade
de Aveiro, e desejo-lhe testemunhar principalmente, Senhor Governador,
quanto nos sentimos honrados com ela.
São decorridos precisamente três anos que uma embaixada
aveirense se encontrava em Oíta, retribuindo visita, é certo, mas também
estreitando laços, acrescentando mais elos na cadeia do protocolo selado
entre as nossas cidades, consolidando alicerces de um intercâmbio que
desejamos firme e transparente. Mas mais do que um contacto protocolar
que também desejamos de longa vida, não posso deixar de recordar,
aquando da nossa visita, a surpresa da recepção, o acolhimento das
gentes, a entrega total e espontânea de uma cidade a outra cidade, tão
distantes uma da outra quer no espaço, quer no tempo, e que mais
pareciam reencontrar-se, após anos largos de ausência. Quiçá, talvez que
fosse o encontro da História, e o encontro com a História.
Em Oíta, Senhor Governador, nos encontramos com o nosso
navegador Fernão Mendes Pinto, o nosso médico Luís de Almeida, o nosso
missionário S. Francisco Xavier... e todos os marcos ainda vivos da
nossa passagem pelo Oriente, pelo vosso grande País – marcos que o tempo
não destruiu, nem na memória dos homens se apagou. E nessa nossa viagem,
que aqui recordo (e aqui estão presentes muitos participantes),
trouxemos na nossa bagagem, para além dum passeio sempre apetecido de
encontro com outras gentes e civilizações, a extraordinária lição de
homenagem e gratidão dum grande País, o Japão, à História dum outro
País, o nosso Portugal.
Um grande País que, como ninguém, o escreveu e cantou
Venceslau de Morais, e que tanto o amou. Este nosso Cônsul de Portugal
em Hiogo, Kobe e Osaka votou a sua existência a descrever e a investigar
o Japão, e por lá morreu, aos 75 anos, em Tokushima.
«Cá está o meu Japão», escreveu Venceslau de Morais;
«Revejo as casinhas de madeira e de papel, a amálgama de lojas
abarrotando de mil indústrias estranhas, aqui um templo em festa, além
um cortejo de enterro entre flores: e
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pelas ruas, a alegre quermesse do povo, arrastando ruidosamente os
socos, vendilhões, passeantes, as crianças garridas, as «musumés» em
sedas. Fecham o quadro montanhas viçosas, dum verde negro de folhagem
projectando no azul límpido do céu as largas ramadas».
E, revendo-me em todas estas coisas, ocorre-me ao
espírito o sentimento desconsolador de nada ter dito, de nada ter
escrito, que exprima realmente o que seja o Japão. O encanto que emana
deste País abençoado sente-se, sente-se apenas, como um perfume que se
aspira, mas que as palavras não definem.
Senhor Governador:
Recordar, hoje aqui, a nossa cidade irmã de Oíta é também
a homenagem à grande potência mundial que vocês construíram, com muita
perseverança, com muito amor, mas certamente com muito trabalho. O Japão
que se impôs ao mundo por toda sua capacidade dum grande povo, que
sofreu na carne os horrores de Hiroshima e Nagasaki, soube renascer das
próprias cinzas, com uma firmeza e uma disciplina que o mundo reconhece,
admira e respeita. E tudo isto sem perder os encantos da vossa
civilização, a sensibilidade da entrega total às coisas simples, o seu
grande amor à natureza, o respeito pela tradição: o culto dos arranjos
das flores, as cerimónias rituais do chá, a graça do vestir do kimono,
tudo é sensibilidade, encanto, respeito e amor.
Senhor Governador:
Ao terminar, quero comunicar-lhe, com muito prazer, que a
Assembleia Municipal, a que presido, aprovou ontem um voto de regozijo
pela visita de V. Ex.ª. Esse voto, é o voto duma cidade que abraça a
outra cidade. É o abraço de Aveiro à cidade de Oíta. É o abraço da
História, é o abraço de irmãos.
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