Fábrica Aleluia
Em 1905, um grupo de cinco antigos operários cerâmicos
constituiu-se em "sociedade", cujo objectivo fundamental era a produção
de louças e azulejos. Situava-se no Largo dos "Santos Mártires", assim
passando a ser conhecida.
Um ano depois, por desentendimento entre os sócios, João
Aleluia, operário, artista e pintor, assumiu, como empresário, o activo
e passivo da Fábrica. Em 1911, face à limitação de espaço das
instalações dos "Santos Mártires", J. A. comprou a Quinta da Nunes do
Azeite, na Rua da Fonte Nova. Entretanto, já a qualidade da produção
tinha conquistado os mercados nacionais, especialmente a Beira Alta. E,
até 1917, a principal novidade foi a introdução de um moinho de vento,
pela grossa quantia de 50$00, fabricado por M. João Branco, da Quinta do
Picado.
Neste 1.º período, laborando cerca de vinte pessoas,
embora a maior produção fosse doméstica, os dotes de João Aleluia
transpareciam em jarras, pratos decorativos, painéis. Mas a azulejaria é
ainda reduzida.
De 1917 a 1935, com a transferência da fábrica para o
Canal da Fonte Nova, novos fornos e aproveitamento da água das marés
para moer o vidrado, reforçando a energia eólica, e, depois, num motor a
gás de 10/12 C.V., verificou-se um novo período de crescimento.
É o após Guerra, com o ressurgimento de novas empresas do
ramo e desenfreada concorrência. Os filhos de Aleluia, Gervásio e
Carlos, concluídos os estudos preliminares, fazem renascer as louças
decorativas e os painéis, realizando várias exposições, a 1.ª em 1922,
que teve assinalável êxito, com o lançamento da "Aleluia", como passou a
chamar-se.
O interesse dos filhos leva a introduzir novas máquinas,
vindas de Limoges e da Alemanha, para dar à fábrica outra dimensão. Mas,
João Aleluia morreu, inesperadamente, em 1935, quando ali trabalhavam 24
operários, sendo de 300.000$00 a produção anual.
De 1936 até 1955, ressalta uma extraordinária acção
social e cultural que bem atesta a situação de progresso económico.
Quanto à produção, esta não se afastou das linhas essenciais traçadas
por J. Aleluia. Mecanizada em sintonia com as melhores do seu ramo
industrial, é a azulejaria a grande aposta do mercado, ganhando neste
sector o respeito pelos seus mais directos concorrentes. Beneficiando de
uma excelente oficina de pintura, os seus painéis espalham-se um pouco
por todo o mundo, mas especialmente pelas antigas colónias e Brasil. Ao
completar os 50 anos de existência, em 1955, a fábrica Aleluia atingia o
auge da sua vida artística e da inserção na vida aveirense. Contava
então cerca de 400 operários, entre os quais alguns dos melhores
artistas cerâmicos do nosso século. Por ali passaram, entre outros,
Francisco Pereira, Licínio Pinto, João Lavado.
De então para cá, até 1973, gradualmente, novos projectos
vão surgindo com vista a uma total reconversão. A compra de vasta área
na Quinta do Simão era, pensavam os dois irmãos, o arranque para a etapa
mais próspera. Mas, nesse mesmo ano, a fábrica foi transaccionada,
desraizando-se das características que lhe tinham dado um forte cunho
aveirense, e como que empresa modelar, conjugando o labor fabril com
intensa vida cultural. Enquanto as novas instalações progridem, as
velhas, na Rua da Fonte Nova, vão sendo a pouco e pouco desactivadas e,
com elas, um símbolo nas artes cerâmicas da Região.
A. N.
1 Porto de Pesca – Aveiro – Ass. Marino – C 75x60 – 1938
2 Pote com motivos da Ria – Ass. Marino – C 63x24x24 –
1944 – Col. do autor
3 Prato com motivos de Painéis de Moliceiros – C
30x30 – s/ data – Col. J. Sarabando
4 Prato com motivos da Ria – Ass. J. Santos Silva – C
18x24x24 – 1945 – Câmara de Aveiro
5 Jarra com motivos da Ria – Ass. J. Santos Silva – C
40x40 – 1945 – Câmara de Aveiro
6 Peixes e Búzios – C 87x46 – s/ data – Col. G.
Aleluia
7 Pote I Com motivos da Ria – C 16x14 – s/ data –
Col. G. Aleluia
8 Jarrão II com motivos da Ria – C 56x26 – s/data – Col.
G. Aleluia
9 Prato com Santa Joana – C 24x24 – s/ data – Col. Paço
Episcopal
10 Jarrão I com motivos da Ria – C 47x26 – 1970
11 Pote II com motivos da Ria – C 20x20 – s/ data
12 Prato com Cruzeiro de S. Domingos – C 24x24 –
1970
NOTA: As peças N.os 4 e 5 são Prémios
atribuídos a alunos da Escola Industrial Fernando Caldeira.
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