AVEIRO
Aveiro é uma cidadezinha linda, cantante, arejada, que
desabrocha como uma fresca flor aquática, como um enorme nenúfar
branco...
Terra de encanto! Paisagem de maravilha! Nunca os nossos
olhos extasiados se fartam de contemplar o formoso país que cinge a
cidadezinha clara!...
Domingos Guimarães
Ninguém vem a Aveiro que não fique seduzido, e noutro
país esta região seria um lugar de vilegiatura privilegiado. É um sítio
para contemplativos e poetas: qualquer fio de água lhes chega e os
encanta.
As névoas têm na ria uma vida extraordinária: cada gota
possui uma alma distinta e irisa-se como uma bola de sabão.
A ria é mágica e possui uma luz própria que a veste...
Raul Brandão
Quem recebia o ramo à porta, descia à entrada da casa, no
melhor trajo, a acolher o hóspede bendito. No patamar punham-se
almofadas, quanto mais ricas melhor, e sobre elas ajoelhavam o irmão que
recebia o ramo e o que o entregava.
O que o entregava beijava-o antes de o deixar, e quem o
recebia, beijava-o por sua vez, ao tomá-la nas mãos, e imediatamente o
passava à mulher mais graduada da família. (...) que ali estava já (...)
para desse modo confessar a sua fé enternecida e prestar culto e
reconhecimento às honras que partilhava. Depois, os dois parceiros
erguiam-se e abraçavam-se, e os irmãos que vinham no cortejo
apressavam-se, um por um, a abraçar o neófito.
Na igreja ou nas capelas o ritual da entrega era o mesmo.
(E aqui interromperei, para observar que ainda é). E sempre, enquanto a
entrega se consumava, se ouviam as músicas e os foguetes, e muitas
lágrimas de comoção se derramavam. Era a visita do Senhor!... A ela se
associavam os estranhos amigos dos «irmãos», concorrendo para a realçar
com grande número de foguetes. Se se tratava de pessoa de muitas
relações e estimada, os foguetes, no momento da entrega, eram um
chuveiro atroador.
Receber o ramo era uma consagração, um título de
dignidade, cobiçado dos humildes e apreciado pelos mais subidos – para
os humildes a honra suprema da sua vida, à qual não raro sacrificavam o
melhor dos seus haveres.
Jaime Magalhães Lima
|