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Boletim n.º 1 - Ano I - 1983

AVEIRO

Aveiro é uma cidadezinha linda, cantante, arejada, que desabrocha como uma fresca flor aquática, como um enorme nenúfar branco...

Terra de encanto! Paisagem de maravilha! Nunca os nossos olhos extasiados se fartam de contemplar o formoso país que cinge a cidadezinha clara!...

Domingos Guimarães

 

 

 

Ninguém vem a Aveiro que não fique seduzido, e noutro país esta região seria um lugar de vilegiatura privilegiado. É um sítio para contemplativos e poetas: qualquer fio de água lhes chega e os encanta.

As névoas têm na ria uma vida extraordinária: cada gota possui uma alma distinta e irisa-se como uma bola de sabão.

A ria é mágica e possui uma luz própria que a veste...

Raul Brandão

 

 

Quem recebia o ramo à porta, descia à entrada da casa, no melhor trajo, a acolher o hóspede bendito. No patamar punham-se almofadas, quanto mais ricas melhor, e sobre elas ajoelhavam o irmão que recebia o ramo e o que o entregava.

O que o entregava beijava-o antes de o deixar, e quem o recebia, beijava-o por sua vez, ao tomá-la nas mãos, e imediatamente o passava à mulher mais graduada da família. (...) que ali estava já (...) para desse modo confessar a sua fé enternecida e prestar culto e reconhecimento às honras que partilhava. Depois, os dois parceiros erguiam-se e abraçavam-se, e os irmãos que vinham no cortejo apressavam-se, um por um, a abraçar o neófito.

Na igreja ou nas capelas o ritual da entrega era o mesmo. (E aqui interromperei, para observar que ainda é). E sempre, enquanto a entrega se consumava, se ouviam as músicas e os foguetes, e muitas lágrimas de comoção se derramavam. Era a visita do Senhor!... A ela se associavam os estranhos amigos dos «irmãos», concorrendo para a realçar com grande número de foguetes. Se se tratava de pessoa de muitas relações e estimada, os foguetes, no momento da entrega, eram um chuveiro atroador.

Receber o ramo era uma consagração, um título de dignidade, cobiçado dos humildes e apreciado pelos mais subidos – para os humildes a honra suprema da sua vida, à qual não raro sacrificavam o melhor dos seus haveres.

Jaime Magalhães Lima

 

 

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