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Boletim n.º 1 - Ano I - 1983

...AVEIRO

 

Eu nasci em Aveiro, ao que suponho na proa de alguma bateira. Fui baptizado à mesma hora, nas águas da nossa ria. Abriram-se-me os ouvidos ao som cadenciado dos remos no mar, ao pio estrídulo das famintas gaivotas, ao praguedo inocente dos pescadores. Encheu-se-me o peito à nascença do ar salgado da maresia. S. Francisco de Assis chamava a estas coisas irmãos, chamava a estas coisas irmãs: o irmão Vouga, o irmão luar que à noite o prateia, os irmãos peixes, as irmãs espumas, areias, estrelas.

Mas aqui há mais do que uma simples fraternidade, há mais do que a suave harmonia da natureza e da alma de Aveiro; chego a crer que há uma verdadeira encarnação, o encontro de duas coisas no mesmo ser.

Nós, os de Aveiro, somos feitos, dos pés à cabeça, de ria, de barcos, de remos, de redes, de velas, de montinhos de sal e areia, até de naufrágios. Se nos abrissem o peito, encontrariam lá dentro um barquinho à vela, ou então uma bóia ou uma fateixa, ou então a Senhora dos Navegantes.

Assim plasmado de Aveiro, com os beiços a saber a salgado, a pingar gotas da ria por todo o corpo, por toda a alma, eu sou uma nesga, embora minúscula, desta deliciosa aguarela de Aveiro; eu sou um pedaço da nossa terra.

D. JOÃO EVANGELISTA DE LIMA VIDAL

 

 

A paisagem aveirense tem as transparências cristalinas do céu do Mediterrâneo e conjuntamente a suavidade e a velada languidez duma primavera da Holanda ou dos recessos abrigados dos mares escandinavos; tem a vastidão da estepe e os mimos e a frescura dos vales protegidos das montanhas.

Jaime de Magalhães Lima

 

 

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