1 – A região do VOUGA e a Economia Nacional
O nosso País importou, em 1976,
carne no valor de 3 milhões de contos, apesar de as capitações
portuguesas ficarem abaixo das de todos os países desenvolvidos do
ocidente europeu (Quadro n.º 1 – Anexo).
No que se refere a leite e
produtos lácteos há também acentuadas carências (Quadro n.º 2 –
Anexo).
Para alimentarmos uma pecuária
tão fortemente deficitária, tivemos de importar, em 1976, milho
e sorgo no valor de 7,7 milhões de contos, sendo os valores
dispendidos no exterior para aquisição de soja, amendoim e
girassol também consideráveis (Quadro n.º 3 – Anexo). |
|
Fertilizados pelas suas águas, os
campos marginais proporcionam excelentes e variadíssimas
culturas aos seus proprietários. |
É, pois, urgente sabermos se temos
ou não condições para aumentarmos a nossa Produção Pecuária e se
somos ou não capazes de produzir os alimentos-base para sustentar os
efectivos pecuários de que carecemos.
Se, por um lado, os nossos balanços
hídricos apresentam um grande déficit no período primaveril-estival,
temos, em contrapartida, valores de radiação global dos mais
elevados do Mundo. Será que no jogo possível destas duas realidades
encontramos a chave da nossa auto-suficiência?
A região do Vouga marca uma posição
saliente no âmbito da Pecuária Nacional. Já em 1972 (I.N.E.) o
distrito de Aveiro só foi suplantado pelo de Braga no número de
cabeças de bovinos e está num primeiro lugar destacado quanto ao
número de vacas turinas.
Na análise dos factores de produção
de leite em várias explorações da região de Aveiro, Ramiro do
Rosário e outros (1975) verificaram uma estreita correlação entre o
custo da alimentação e o custo final de obtenção de leite (53 – 66
%).
/ 15 /
Vouga, «o mais lusitano rio português»,
no dizer de Aquilino Ribeiro.
Nos custos da alimentação do gado
leiteiro, a proporção entre os custos das forragens e os custos dos
concentrados por litro de leite produzido são muito variáveis, a
saber: 1$86 a 4$42 para as primeiras e $60 a 2$87 para os segundos.
Segue-se, por ordem decrescente, a
mão-de-obra com custos que vão de $82 a 2$70 por litro de leite
produzido.
A substituição, sempre que possível,
da produção de forragem por prados permanentes ou temporários – em
que o pastoreio seja a forma dominante ou exclusiva – e a utilização
minimamente possível de concentrados, fará cair o custo da
alimentação.
A considerável melhoria de manejo de
gado resultante da utilização de parques bem dimensionados
conduzirá, por seu turno, à diminuição de custos de mão-de-obra.
Mas, além de produzir melhor, nós
podemos e precisamos de produzir mais.
O preço por litro de leite está
também muito relacionado com o número de animais da exploração,
sendo – segundo os já citados autores – as explorações com 10 a 30
hectares e efectivos pecuários de 20 a 40 vacas, as menos
vulneráveis. Cabe aqui um papel de muito relevo ao associativismo
agrícola, já com tantas tradições na região de Aveiro.
Note-se que também se pode produzir
mais em minifúndios, como se prova no Japão e em Taiwan; portanto,
naqueles casos em que o associativismo é considerado demasiado
agressivo pelas populações, o estudo e adaptação da realidade
daqueles países é de grande interesse.
No referente à comercialização de
produtos, a concentração da maior parte das unidades de produção de
lacticínios no distrito de Aveiro e a existência de um matadouro
industrial e de uma fábrica de industrialização de carnes em
organismos ligados à Lavoura, facilitarão uma integração de
actividades agrárias com maior garantia de defesa económica.
2 – Plano de aproveitamento do Vouga
Segundo o estudo prévio elaborado
pela C. O. B. A, a obra de beneficiação do Vale do Vouga interessa a
uma área de 48 000 ha e importa em 3635850 contos.
Estes encargos não devem ser
totalmente debitados às terras beneficiadas, pois a obra tem ainda
outros objectivos, tais como a produção de energia eléctrica,
combate à poluição proveniente de efluentes fabris, regularização do
leito do rio e domínio das cheias. Mesmo assim, a importância a
despender é suficientemente elevada para exigir uma quantificação
prévia e cuidada dos benefícios que resultarão da concretização do
projecto, antes de se iniciar a obra. Ora, isso só pode conseguir-se
com um mínimo de realismo, através de uma experimentação bem
conduzida em áreas suficientes e representativas.
Por outro lado, uma vez concluída a
obra, não deve perder-se tempo na utilização dos benefícios dela
decorrentes. Não é admissível a repetição do caso do aproveitamento
da Idanha em que, volvidos dezenas de anos sobre a sua conclusão,
ainda não tem um plano definido de utilização. E o caso repetiu-se
nos aproveitamentos do Mira e do Roxo. Já basta!
Cabe aqui um papel muito importante
a uma experimentação válida que não pode perder mais tempo. Há que
fornecer-lhos os meios indispensáveis: terras, pessoal, máquinas.
Depois, mas só depois, devem exigir-se-lhe respostas concretas.
3 – Óptica I.N.I.A. para o desenvolvimento da região do Vouga (Jan.
1977)
A produção de leite e carne é feita
com a participação de todos os sectores agrários de exploração nela
envolvidos.
A selecção de acções a desencadear
deverá ser feita de acordo com a rapidez em que a solução é
atingida, utilizando conhecimentos adquiridos ou a adquirir em fases
sucessivas, com meta num modelo integrado de exploração.
Se o preço do leite no Norte Litoral
depende fundamentalmente do custo da alimentação das vacas e o mesmo
devendo suceder à carne, o pastoreio directo sempre que possível
e/ou a produção de forragem mais barata serão as molas económicas.
Certamente que, para se obterem produções elevadas de verde – e esse
será o processo lógico de indução a um mais baixo preço de custo –
teremos de recorrer às adubações necessárias, o que parece
contrariar as nossas intenções de produzir mais e mais barato. Neste
sentido, utilizaremos nos prados consociações de gramíneas com
leguminosas, em que as sementes destas serão inoculadas com
bactérias do género Rhysobium, de que resultará os adubos azotados
serem dispensados ou apenas utilizados em doses diminutas na altura
da sementeira.
Numa paisagem de encanto, um carro de
bois atravessa a vau o Rio Novo do Príncipe.
Estamos também interessados no
estudo da dinâmica da matéria orgânica dos solos, como factor de
equilíbrio da sua fertilidade. Ao associarmos as preocupações que já
existem em certos países evoluídos da contaminação da toalha
freática pelos adubos e pesticidas usados em doses sempre
crescentes, com a predominância dos solos leves da região de Aveiro,
não podemos deixar de pensar que também aqui – ao
/ 17 / aumentar a capacidade
de troca catiónica dos solos a matéria orgânica deva ter grande
importância.
Temos sempre em vista a criação de
uma Agricultura menos vulnerável, parcimoniosa na utilização de
factores de produção externos, que deixe de ser poluente ao
conseguir a conciliação do económico com o ecológico. Na verdade, se
nos interessa e é para nós vital melhorarmos a nossa balança de
pagamentos, também nos interessa e também é vital, a manutenção de
um meio ambiente harmonioso.
Na mesma óptica, procuraremos
reduzir ao mínimo a utilização de concentrados na alimentação de
animais adultos e estudos de alimentação e nutrição de vitelos
visarão substituir a quase totalidade das proteínas do leite, por
outras formas animais ou vegetais. Sempre a preocupação de
utilização máxima da erva do prado.
Batatal nas Gafanhas.
Dada a importância da Pecuária na
região de Aveiro, o I.N.I.A., através do seu Serviço Regional,
pretende o seu equacionamento, para o que precisa de realizar
ensaios em terras bem representativas, de modo a que os resultados
aí observados possam ser generalizados a grandes áreas.
As nossas propriedades
experimentarão os prados melhorados, regados e fertilizados, os
parqueamentos, e um manejo adequado será utilizado na medição das
potencialidades de produção de leite e carne, optimizando a
utilização de:
verde;
conservado de verde (feno e
silagem);
silagem de milho.
Estudado o mecanismo da produção,
chegaremos ao estabelecimento de modelos de produção, que deverão
ser rapidamente difundidos pelos Serviços de Extensão Agrícola.
Como antecipação na criação de
modelos experimentais, prevemos estudos sócio-económicos de vários
tipos de explorações, estudos esses que continuarão depois para
confirmação ou modificação dos trabalhos de investigação.
Os modelos serão influenciados por
diversos factores de natureza económica, social e até política,
todas eles variáveis no tempo, donde resulta a necessidade de uma
«testagem» contínua.
Nas unidades experimentais será
reservada uma certa área para estudao de culturas tradicionais mais
importantes na zona, como o milha, a batata e o feijão, e para
estudo de novas culturas, como a beterraba e a soja; estas duas
últimas culturas – dadas também as suas possíveis ligações à
Pecuária – são de grande interesse potencial.
Nesses estudos serão incluídos
vários tipos de ensaios que fornecerão uma base segura de conselhos
aos agricultores sobre fertilização, correctivos, variedades, épocas
de sementeira, intervalos de rega, dotações de rega, pesticidas,
etc.
Um laboratório polivalente de salas
e forragens completará a gama de conhecimentos de base, necessárias
à formação de conselhos bem fundamentados aos utilizadores.
/ 18 /
|
QUADRO N.º 1
Consumo de
carne per capita em alguns países – Kg/ano |
|
|
|
Bovinos |
Ovinos |
Suínos |
Aves |
Países |
1973 |
1974 |
1973 |
1974 |
1973 |
1974 |
1973 |
1974 |
Áustria
Bélgica / Luxemburgo
Canadá
França
Irlanda
Itália
Holanda
Noruega
Inglaterra
Estados Unidos
Portugal |
23,0
29,9
43,8
28,3
18,7
26,1
18,6
15,3
23,0
39,8
14,5 |
25,3
31,2
44,1
29,1
20,5
20,1
19,6
16,4
25,4
40,0
15,6 |
––
1,1
1,2
3,5
10,0
1,1
0,2
4,5
8,2
1,2
2,5 |
––
1,1
1,1
3,5
8,2
1,1
0,1
4,7
7,7
1,1
2,4 |
40,3
41,9
27,5
29,0
31,0
13,4
27,1
19,3
20,8
26,0
18,0 |
40,3
42,1
25,9
29,9
30,5
15,0
29,3
––
20,7
28,0
17,7 |
––
––
––
––
13,3
17,3
––
8,6
––
––
8,7 |
––
––
––
––
––
––
––
––
––
––
10,4 |
|
|
Fonte:
Jasiorowski, H. A. –
The current status in World animal production,
Roma, F. A. O.,
1975.
|
QUADRO N.º
2
Importações
de alguns produtos pecuários de maior significado |
|
|
Produtos |
(Em toneladas) |
1971 |
1972 |
1973 |
1974 |
Carne
Bovinos
Ovinos e caprinos
Suínos |
22827,1
––
10200,7 |
31878,5
369,0
12539,5 |
20097,5
175,2
5427,1 |
34932,5
––
11373,2 |
Leite
leite e natas frescas
leite em pó
leite condensado
Queijo
Manteiga |
9,1
131,6
340,0
922,0
1853,8 |
1144,8
336,3
427,9
1318,8
2543,4 |
985,6
770,3
239,8
893,8
1764,8 |
––
––
––
––
–– |
|
|
Fonte: «Estatísticas
Agrícolas» –
I. N. E.
|
QUADRO N.º 3
(Parcial)
Valores de
importação de alguns produtos agrícolas |
|
|
Produtos |
(Unid. 103 esc.) |
1970 |
1971 |
1972 |
1973 |
Amendoim c/ casca
Amendoim s/ casca
Girassol
Soja |
21 198
281 619
––
–– |
39 720
305 497
––
–– |
72 285
459 429
92 708
32 096 |
48 830
399 871
328 158
137 342 |
|
|
Fonte: «Estatísticas
Agrícolas» –
I. N. E. |