Até aqui, só temos citado nomes
de vultos operários falecidos, que prestaram ao movimento
associativo bons serviços e desinteressados.
Hoje, porém, vamos abrir uma
excepção. E será a única, pois se trata de um veterano das lides
associativas, um homem que há mais de setenta e cinco anos
consagrou e consagra ainda a sua vida, o seu pensamento aos
princípios que abraçou, quando era novo, quando tinha uns moços
vinte anos.
Esse veterano, esse homem é Luís
Soares, que nascido em 29 de Março de 1858
(1), conta portanto,
presentemente, a provecta idade de 95 anos.
(2) |
|
Luís Soares |
É uma relíquia que vem do tempo da
Associação Fraternidade Operária (1872).
(3) Ali adquiriu as suas
inspirações, ali formou o seu espírito associativo. Depois ingressou
na Associação dos Trabalhadores na Região Portuguesa, na secção do
norte (Porto) (4)
e é com saudade que ele recorda esse tempo, conforme escreveu numa
carta, em 1948, da qual respigamos este sugestivo trecho:
«– Eu estou velho e fisicamente
impossibilitado de trabalhar em prol da causa que abracei ainda bem
novo. Mas tenho saudades não só dos tempos das lutas passadas como
dos meus antigos companheiros nessas lutas.
Quando na antiga Associação dos
Trabalhadores, no Porto, no largo das Fontainhas, n.º 50,
organizou-se o parlamento operário... e festejou-se o 18 de Março,
no qual tomaram parte tantos velhos elementos já desaparecidos e
lembra-me bem de todos eles e com grandes saudades, e todos nesse
tempo tinham a coragem de resistir contra os insultos de que eram
vítimas.»
Este trecho reflecte bem os
sentimentos de Luís Soares. Tinha, então, quando o escreveu, já 90
anos, isto é: conservar a mesma ideia e o mesmo sentimento no seu
espírito.
E nesse mesmo ano, a propósito do 31
de Janeiro, (5)
em outra carta, diz-nos das apreensões que teve quando se produziu
esse movimento, o que, na realidade, se confirmou.
Escreveu ele:
«– ...trouxe-me à recordação, já
muito distante, de um bem amigo em casa de quem trabalhava, Joseph
Delerne, fabricante de pianos. Este meu amigo, no dia da Revolução
do 31 de Janeiro, às seis horas da manhã, mandou-me chamar, pois que
tinha rebentado a República. Eu morava no largo da Póvoa e quando
cheguei à Rua do Paraíso, ouvi um alarido enorme, vivas e morras no
Largo da Lapa. Passou por mim toda a força da Guarda Municipal do
quartel de S. Brás, muito silenciosa, em direcção à Rua do
Bonjardim. Fez-me pensar aquele contraste de tanto entusiasmo ali
tão perto e tanto silêncio da Guarda.
Ao passar o Largo da Lapa o
entusiasmo era enorme e, em frente do quartel de 18, vejo o
esquadrão
/ 22 / de cavalaria formado e
muito sossegado, o que foi novo motivo para mim impressionante.
Cheguei a casa do meu bom amigo e
mestre e contei-lhe as minhas impressões, mas ele, que já não era
novo, estava cheio de entusiasmo. Fomos para o Largo da Lapa e aqui
queriam abrir o portão do quartel, mas não conseguiram. Clareou o
dia e eu abeirei-me do Dr. Alves da Veiga e disse-lhe das minhas
impressões. Respondeu-me de mau humor, o que estranhei, pois ele era
sempre muito delicado.
Descendo a Rua do Almada, romperam
em marcha as três bandas regimentais, entoando a «Portuguesa»,
provocando grande entusiasmo, mas não me saía da cabeça a diferença
de proceder que tínhamos observado.
Viterbo de Campos
(6) e muitos outros
companheiros e eu fomos os primeiros que entrámos na Câmara. Alguns
Republicanos já tinham receio que os socialistas quisessem tomar
partido do movimento. Andavam alarmados, mas sem razão para tal.
E noutro passo diz:
«...a polícia do Porto, para
introduzir a desconfiança entre os socialistas e os republicanos,
estabeleceu uma esquadra mesmo defronte da Associação dos
Trabalhadores, que era uma casa de um andar e tinha nos baixos a
oficina da cooperativa dos operários tecelões, que vieram da
Fraternidade Operária. E, em parte conseguiu-o pois que foi a partir
dessa data que se produziram as dissidências associativas
(7) e os
mal-entendidos com o Partido Republicano.»
Mas Luís Soares, sempre fixe, sempre
pronto nas lides associativas, marcou no Porto o seu lugar.
Não era um jornalista, não era um
escritor, nem era um orador. Mas a sua palavra era a de um sincero,
a de um crente, a de um convicto, como o prova a sua firmeza de
carácter ainda presente no seu espírito, o que muito contradiz com
certos pusilânimes que temos encontrado pela vida fora. Não voltou a
casaca.
Exerceu no partido operário, desde
1885, vários cargos de destaque, fazendo parte dos seus corpos
directivos no norte e comparticipado em numerosos Congressos nas
suas diferentes modalidades sociais.
(8)
Foi proposto candidato a deputado
pelo Porto e por Gaia, em várias eleições, sendo a primeira vez em
1889 (Porto) em que obteve 165 votos, o que, para a época, já era
alguma coisa e, em 1890, pelo círculo de Gaia, alcançando «mais de
quinhentos votos» e «quanto aos que lhe não contaram, não seriam
menos de outros tantos», conforme relata «O Protesto Operário»
n.º 417-1890, o que significa que a obra das tropelias eleitorais é
de todos os tempos.
(9)
O seu nome honrado, a sua
inalterável fé nos princípios, conquistaram-lhe a simpatia de todos
os elementos associativos e democratas.
Ainda em 1950 ele escrevia-nos, e já
com 92 anos:
«Desde muito novo comecei a sentir o
peso da constituição da sociedade. Por isso, quando me apareceram as
nobres ideias do seu aperfeiçoamento, abracei-as com entusiasmo e
amor.
Prestes a findar a minha passagem
por este vale de lágrimas, levo no meu coração todas as simpatias e
admiração por aqueles que não fraquejam na luta constante contra
todas as dificuldades que lhes aparecem na sua santa missão».
Tem razão. Agora só vivemos de
saudades daqueles que têm caído pelo áspero caminho da vida,
daqueles que foram nossos amigos e nossos companheiros nas jornadas
associativas.
É a fatal lei da vida!
Mas felizmente, Luís Soares está
vivo, na aldeia da ínsua de Carregosa (Oliveira de Azeméis), e é,
repetimos, um veterano da passada era associativa; é uma relíquia de
1872, do tempo de José Fontana e Antero de Quental, que, apesar dos
seus 95 anos, se mantém firme nos seus princípios democráticos, como
um bom rochedo e crente no ideal que abraçou aos 20 anos, isto é, há
setenta e cinco anos, e, por isso, o seu nome honra a galeria de
«VULTOS OPERÁRIOS», como sendo um homem de carácter (hoje coisa tão
escassa!) e um fiel paladino do bem-estar da Humanidade.
OBS.: – Joseph Delerne era um
emigrado francês da revolução de 1840, que viveu e morreu no Porto.
Pertenceu à Associação dos Trabalhadores, na sua secção nortenha.
__________________________________
NOTAS
(1)
– Em Rôge, Vale de Cambra, filho de pai incógnito e de Joana –
segundo o seu bilhete de identidade.
(2)
– Luís Soares faleceu no lugar da Ínsua, Oliveira de Azeméis, no dia
2 de Outubro do ano de 1955, portanto, com 97 anos de idade.
(3)
– «Por esse tempo (1872) fundou-se a Fraternidade Operária,
sociedade que tinha por fim a propaganda socialista, inspirando-se e
recebendo instruções da Internacional... A sua organização era
secreta... abrangia os operários de Lisboa e Porto e vilas
circunvizinhas das duas cidades, e tendo logo no primeiro ano da sua
instalação uns vinte mil sócios.» – do «Movimento Operário em
Portugal» de Campos Lima.
(4)
– «Resultou da fusão das seguintes associações: de Trabalho
Nacional, fundada em 1871, de Fraternidade Operária, Fraternidade
Agrícola, Fraternal dos Trabalhadores, Associação de todas as
classes trabalhadoras, Fraternal Barreirense e Fraternidade Operária
do Porto, fundadas em 1872.
O fim da Associação dos
Trabalhadores da Região Portuguesa era a regularização do tempo e
condições do trabalho, o salário, as relações com os possuidores dos
instrumentos de produção. Além disso deveria instituir escolas e
bibliotecas, desenvolver a cooperação e o crédito. A organização do
trabalho deveria fundar-se na solidariedade social.» – do «Movimento
Operário em Portugal», de Campos Lima.
/ 23 /
(5)
– Ruy Luis Gomes, no seu livro «Problemas de Investigação e
História», afirma nas páginas 132, 133 e 134: «Nessas acções de
massas destacam-se dois elementos que, além disso, também estão
ligados às movimentações do Ultimatum – 31 de Janeiro..
Um deles é Viterbo de Campos,
natural da freguesia da Vitória, da cidade do Porto, marceneiro...
Outro destacado militante foi Luís Soares, serralheiro,
natural de Vale de Cambra, distrito de Aveiro, e que exerceu vários
cargos desde 1885.» «...Nas proximidades do Ultimatum – 31 de
Janeiro, o Porto era, pois, um centro industrial com um proletariado
vivendo em baixíssimas condições económicas, mas com dirigentes da
categoria de Viterbo de Campos e Luís Soares...»
Mais adiante, páginas 155 e 156,
transcreve de Basílio Teles o seguinte: «Quem prepondera, quem se
mostra no primeiro plano, quem se exibe em relevo poderoso, são os
paisanos desconhecidos que investem com a porta do quartel de
infantaria 18, e os sargentos e soldados anónimos que, horas depois,
na rua de Santo António e na câmara replicam ao fogo da Guarda
Municipal». Depois diz: «E, para que a Revolução triunfasse, faltou
apenas a unidade das forças democráticas e das forças operárias.
É certo que Basílio Teles ainda
tentou essa unidade, entrando em contacto com o prestigioso
militante operário Luís Soares que, de resto, acompanhara as
forças revolucionárias desde a concentração no Campo de Santo Ovídeo
(hoje Praça da República). Mas esse diálogo foi já na fase final da
revolução, quando os combatentes estavam entrincheirados no edifício
da Câmara (Praça da Liberdade) e prestes a serem bombardeados pela
artilharia fiel ao governo.»
Por sua vez, Basílio Teles, no seu
livro «Do Ultimatum ao 31 de Janeiro» à página 301, diz: «Depois, a
cooperação dos operários, infelizmente recolhidos em suas casas –
explicava-se – por haverem as fábricas suspendido a labutação, em
consequência das ocorrências da manhã. Por fortuna, o acaso depara
um chefe socialista, Luís Soares, a quem se mostra a urgência de
convocar os companheiros, e se expõe, nas suas linhas principais, o
plano concebido rapidamente minutos antes. Este operário corajoso e
simpático põe-se imediatamente à disposição dos republicanos
(circunstância essencial, que Pinheiro Chagas não mencionou num seu
artigo, relativo ao incidente, publicado dias depois); mas observou,
e com razão, que seria empresa difícil reunir, antes da noite, os
homens importantes do partido socialista, e muito menos os milhares
de operários, que a execução do plano pressupunha. «– Os chefes do
movimento – dizia – revelaram em tudo a mais extraordinária
imprevidência. Presumindo demasiado do valor das forças militares,
tinham-se alienado, se não as simpatias, o concurso activo das
classes populares, – que não devia ter sido desprezado» – concluiu,
em tom de censura, Não obstante, lembrava que se consultasse um
industrial estrangeiro experiente, que indicaria a táctica a seguir
naquela fase desesperada da revolta.
Esta conversa tinha lugar ao ar
livre na Rua da Fábrica...»
(6)
– Viterbo de Campos foi o mentor do movimento associativo e político
no Porto e director do jornal «O LAR SOCIALISTA».
Do livro da Cooperativa do Povo
Portuense à memória de VITERBO DE CAMPOS, à página 35 pode ler-se:
«Vamos, senhoras e senhores, dar por concluída esta nossa tarefa,
mas não podemos perder este ensejo sem tornar bem conhecidas as
magníficas frases com que o nosso antigo e querido companheiro Luís
Soares encerrou o seu discurso pronunciado junto da sepultura de
Francisco Viterbo de Campos.
Elas são, a nosso ver, de uma
oportunidade flagrante e de um alcance social eloquente. Ei-las:
...«Mas não fiquemos pelas
lágrimas sinceras que aqui vimos derramar; há muito que fazer. A
obra de Viterbo tem de ser continuada.
Se há coragem para isso, metamos
mãos à obra.»
E tenho dito.»
(7)
– «No Porto ainda se procurou entravar estes dissídios. Entre o
Centro Operário de Propaganda Socialista e a Associação dos
Trabalhadores na Região Portuguesa entabularam-se negociações para
um acordo, sendo escolhida uma comissão com elementos de ambos os
campos para tratar do assunto, a qual ficou composta por Ferreira
Lisboa, Fernandes de Oliveira, Moreira da Silva e Santos Silva, pela
Associação dos Trabalhadores, e Luís Soares, Manuel José da Silva,
Macedo de Andrade e Fernandes Pinto, pelo Centro Operário de
Propaganda Socialista...
Estes componentes ficaram
constituindo a Junta Federal do Norte do Partido Operário
Socialista.
Esta junta nada adiantou na questão
da dissidência, pois, enquanto os elementos do Centro Operário de
Propaganda Socialista defendiam a fusão das duas correntes
socialistas, os aderentes da Associação dos Trabalhadores só
aceitavam a coligação...» – NOTAS PARA A HISTÓRIA DO SOCIALISMO EM
PORTUGAL (1871-1910) de César Nogueira, páginas 205 e 206.
(8)
– Neste mesmo livro à página 162 e 163: «A questão das licenças para
trabalhar foi, em 1887, a origem do revigoramento da organização do
movimento operário nacional... No Norte, a comissão eleita na
Associação dos Trabalhadores (Porto) era assim constituída:
Silvestre Pinto Caldeira, Eduardo de Carvalho, António Teixeira de
Carvalho, Lourenço Gomes, Luís Soares, Francisco Viterbo de
Campos e António da Rocha Coelho.»
Do Almanaque socialista PENSAMENTO
(Revista Internacional), no Volume lI, n.º 34: «Segundo o
Regulamento Geral do Partido Operário Socialista, aprovado na
Conferência de 1882, art. 2.º, subdividia-se o Partido em três
federações distritais – a do norte, capital Porto; a do centro,
capital Coimbra; a do sul, capital Lisboa». Cada Conselho Federal
era composto de sete membros, eleitos por sufrágio dos respectivos
federados». Destes Conselhos só funcionaram o do sul e o do norte. O
do centro só se organizou em 1885 unicamente. Damos a seguir a nota
dos membros dos Conselhos Federais, que dirigiram o socialismo
português, desde a I Conferência Nacional Socialista, em 1882
(Lisboa), até à II Conferência Nacional Socialista, em 1895 (Tomar),
que, contra nossa vontade, não é completa e talvez susceptível de
rectificação em virtude da falta de documentação e também por nos
últimos anos as eleições dos cargos federais não correrem
normalmente, em virtude dos desacordos na vida da organização
socialista: – 1884, Conselho Federal do Sul: José Augusto Guedes
Quinhones, J. A. Pinto, Francisco Viterbo de Campos, Eudóxio César
de Azevedo Gneco, Manuel Luiz de Figueiredo, Domingos Henriques
Nunes da Silva, António Joaquim da Conceição Pires, Conselho Federal
do Norte: Heliodoro Augusto Salgado, Luís Soares, Joaquim José
Tavares, José Maria Pina, José da Silva Lino, Francisco Guilherme,
Alecrim, Eduardo da Cunha e Carvalho, 1885, Idem, sul... Idem,
norte: Eduardo de Carvalho e Cunha, Lourenço Gomes, Luís Soares,
Silvestre Pinto Caldeira, Francisco Viterbo de Campos, José Maria
Pina, 1886, Idem, sul... Idem, norte: Silvestre Pinto Caldeira,
Lourenço Gomes, Ricardo D. Pôças, Eduardo Carvalho e Cunha, Manuel
A. Lopes, Luís Soares, Francisco Viterbo de Campos. 1887,
Idem, sul... Idem, norte: Lourenço Francisco Gomes, Luís Soares,
Francisco Viterbo de Campos, António Teixeira de Carvalho, António
da Rocha Coelho, Silvestre Pinto Caldeira, Eduardo de Carvalho e
Cunha...
Ao Volume lII, n.º 38, nota 1: «Esta
Junta Geral não terminou a sua missão, não funcionando em 1902 e
1903. Só em 1 de Novembro de 1904 é que foi organizada uma nova
Junta Geral, também com sede no Porto, que ficou assim formada:
Efectivos – Luís Soares, João Pinto Maravilhas Pereira,
Inácio de Sousa, Joaquim Mendes Gomes, José Maria Conceição
Fernandes, Manuel José da Silva, Filipe Soares Dias. Suplentes –
José António da Silva, Manuel da Silva Guimarães, Caetano Soares da
Silva, Torcato Joaquim do Couto (Ver O Primeiro de Maio, n.º
81, de 13 de Novembro de 1906, Lisboa). Esta Junta Geral funcionou
até à Conferência Nacional extraordinária que se efectuou em Junho
de 1906, em Tomar.» «Nesta Conferência extraordinária foi resolvido
/ 24 / sancionar a adesão ao
Comité Socialista Internacional, e continuar a depositar confiança
na Junta. Das Notas para a História do Socialismo em Portugal, de
César Nogueira, nas páginas 116 e 117: – «Entre 1880 e 1881
produziu-se no Porto uma dissidência na Associação dos Trabalhadores
na Região Portuguesa, fundando os dissidentes, que, parece, eram
três grupos, a União Democrática Social, a qual tinha por mentor
Pinto Barbosa, elemento de valor. A dissidência teve resultados
infecundos, apesar de ter existido durante dez anos. Mais tarde, em
1881, retirou-se outro grupo da Associação dos Trabalhadores
(Porto), organizando a Associação União dos Trabalhadores, de feição
anarquista, dirigida pelo antigo elemento socialista Ermelindo
António Martins. A respeito destas divergências informa o velho
militante da Fraternidade Operária no Norte (1872) Luís Soares,
em carta, enviada de Ínsua de Carregosa (Oliveira de Azeméis) e
datada de 8 de Outubro de 1947, dirigida a António Martins (Porto) o
seguinte: «Vão desaparecendo uns após outros tantos velhos
companheiros de luta pelas suas velhíssimas idades. Júlio de
Oliveira apareceu na Associação dos Trabalhadores, no Largo das
Fontainhas, 50, mas pouco tempo lá se demorou. O Barbosinha foi
escorraçado por Ermelindo António Martins, a quem chamara dandy por
usar capa à maneira espanhola e ser burguês. Notava-se o José Pinto
Rodrigues Beça, ao tempo rapaz, novo e inteligente, era por assim
dizer quem fazia mais despesa com o jornal O Operário. Mas o
Ermelindo, embora tivesse outros conhecimentos e facilidades na
exposição, tinha um génio tão irascível que custava a suportar. Por
isso o Barbosa saiu, indo com ele uns poucos, entre eles o Júlio de
Oliveira, fundando a União Democrática Social, na Rua do Almada. E
esta foi a primeira dissidência. Éramos poucos, mas ficamos. Manuel
José Martins era primo do Ermelindo e do José Martins Gonçalves
Viana. Todos os três metalúrgicos. Manuel começou trabalhando por
sua conta. Faziam os dois parte do conselho do Círculo, como então
se chamava esse corpo, que mais tarde foi Conselho Central. Manuel
José Martins, inteligente e honesto, começou prosperando, mas
acompanhando a causa e auxiliando cada vez mais, moral e
materialmente, o movimento. Ermelindo começou a chamar-lhe burguês,
por despeito. Declarou-se anarquista e saiu da Associação
acompanhado de alguns. Foi assim que nasceu o anarquismo no Porto».
Nas páginas 321 e 322: «Em 18 de
Março constituiu-se a Casa do Povo Portuense (actualmente
Cooperativa do Povo Portuense, em virtude da legislação sobre Casas
do Povo decretada pelo regime do 28 de Maio), sendo seus
organizadores Serafim dos Anjos, Pinho e Pinto, Manuel José da
Silva, Maravilhas Pereira, José Ribeiro, Soares de Aguiar e
Francisco Viterbo de Campos, seu principal animador. Inscreveram-se
nela 197 sócios» (entre os quais Luís Soares, sócio fundador,
conforme narra o Relatório da Direcção da Cooperativa do Povo
Portuense, relativo ao ano de 1954).
Luís Soares foi também membro da A.
I. T. (Associação Internacional do Trabalho) – na A Origem da 1.ª
Internacional em Lisboa, de Carlos da Fonseca, págs. 199, 200 e
201.
Foi Presidente da Assembleia-Geral
da Casa do Povo Portuense nos anos 1911/12.
No livro de César Oliveira «O
Operariado e a República Democrática 1910-1914, na página 213,
pode ler-se, da transcrição do jornal A Batalha Socialista,
de 10 de Julho de 1913, acerca do V Congresso Socialista: «A
primeira sessão foi consagrada à constituição do Congresso. A
segunda foi a sessão solene, a que presidiu o velho lutador do
Norte, Luís Soares.»
(9)
– Transcrições das NOTAS PARA A HISTÓRIA DO SOCIALISMO EM PORTUGAL
(1871-1910), de César Nogueira:
«1889.
...A 20 de Outubro realizaram-se
eleições para Deputados, apresentando a organização socialista as
seguintes candidaturas (ver o Protesto Operário n.º 390, Lisboa,
1889):
Pelo Porto: Luís Soares. A
candidatura pelo Porto alcançou 165 sufrágios (ver idem e «A Voz
do Operário» n.º 523, Lisboa, 1889).
1890.
..Em 30 de Março celebraram-se
eleições para Deputados. Os socialistas do Norte decidiram, porém,
concorrer à urna, apresentando as seguintes candidaturas (ver o «Protesto
Operário» n.º 409, Lisboa, 1890).
Vila Nova de Gaia: Luís Soares.
1892.
...Em 23 de Outubro efectuaram-se as
eleições para deputados...
No Porto, o Centro Operário de
Propaganda Socialista, que, como temos exposto, era oposto à
Associação dos Trabalhadores, resolveu entrar no acto eleitoral
propondo para candidatos a Deputados os da seguinte lista: Vila Nova
de Gaia: Luís Soares.
1901.
...Em 6 de Outubro celebraram-se
eleições para Deputados... No Porto, porém, o Partido Socialista
resolveu concorrer e apresentar as seguintes candidaturas, a que
juntamos a votação respectiva (ver «O Comércio do Porto» n.º 239,
Porto, 1901):
|
Circulo
Oriental |
Votos |
Macedo de Andrade
Joaquim Francisco Pedrosa
Manuel José da Silva
José Maria da Conceição
Fernandes
Luís de Oliveira |
72
69
71
69
71 |
Total |
353 |
|
|
|
|
|
|
Circulo
Ocidental |
Votos |
Francisco Viterbo de Campos
João Fernandes de Oliveira
João Pinto Maravilhas
Pereira
Inácio de Sousa
Luís Soares |
193
193
204
182
217 |
Total |
989 |
|
|
A soma total dos círculos foi de
1381 votos.
1904.
...Em 26 de Junho realizaram-se
eleições para Deputados. O Partido Socialista Português resolveu
abster-se de concorrer às urnas. Contudo, um grupo de socialistas do
Porto deliberou apresentar ao sufrágio uma lista de candidatos a
Deputados por esta cidade...
Bairro ocidental: Luís Soares,
Luís Gonçalves de Oliveira, Macedo de Andrade, Luís Cândido Pereira,
Tomás Gasparinho da Silva Valente, Joaquim Francisco Pedrosa, Tomás
Gomes da Silva.
1910.
...Quando se realizaram as eleições
para Deputados, em 28 de Agosto, as últimas do regime monárquico, o
Partido Socialista resolveu concorrer às urnas em Lisboa e Porto e
no resto do País, nos termos do resolvido na Conferência de Coimbra,
em 1901, contrariamente à opinião de Azedo Gneco. Não tinha em mira
vencer, mas sim fazer uma afirmação de princípios e comprovar a
existência da sua organização...
No Porto os socialistas apresentaram
as seguintes candidaturas (ver «A Voz do Povo» n.º 171, Porto,
1910): Círculo 5: Eudóxio César Azedo Gneco, Manuel José da Silva,
Luís Soares, José de Oliveira Rodrigues, Inácio de Sousa.
O resultado da votação no Porto foi
de 195 boletins, sendo 86 no círculo 5...» |