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ANTÓNIO CÂNDIDO DA CUNHA
Pintor
NA VILA DA FEIRA
«Tinha de realizar o milagre que,
por fortuna sua e nossa realizou, de tirar do visual o sonoro» (Conferência do Dr. Jaime Magalhães
Lima)
Nasceu na cidade de Barcelos em 11
de Novembro de 1866, sendo filho de José Joaquim da Cunha,
construtor civil e chefe da filarmónica local.
Cursou, com brilho, a Academia
Portuense de Belas Artes.
Ligou a sua vida ao Porto, durante
os 40 anos em que lá residiu, trabalhou e onde veio a falecer a 16
de Outubro de 1926.
Por isso, é considerado filho
adoptivo da cidade Invicta.
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EI-Rei D. Carlos que, juntamente com
a rainha D, Amélia, foram grandes protectores de artistas,
conhecedor do valor de Cândido da Cunha, subsidiou os seus estudos e
conseguiu-lhe uma pensão pelo Ministério das Obras Públicas,
proporcionando, assim, a sua ida para Paris onde trabalhou e se
aperfeiçoou.
Isto teve lugar depois do pintor ter
oferecido àqueles, quando da sua visita ao Porto, o retrato do
príncipe D. Luís Filipe.
Nos primeiros tempos da sua mocidade
fez um retrato do rei D. Luís que ainda existe na Câmara Municipal
de Barcelos.
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Os seus quadros, expostos no Salon,
alcançaram grande êxito, nomeadamente o «Sagrado Viático» (1898) que
foi premiado.
Foi discípulo de João Correa,
Jean-Paul Laurens e Benjamin Constant.
A característica predominante do
pintor, que dominou toda a sua vida artística, foi o seu amor à
paisagem como «pintor elegíaco, enamorado das paisagens
crepusculares, plenas de melancolias das sombras envolventes ou da
tragédia do sol agonizante» – Fernando Pamplona (Dicionário de
Pintores e Escultores – vol. 1, pág. 282).
Foi um romântico, um lírico na
pintura, como o foram Soares dos Passos e Guilherme Braga na poesia.
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Amou a natureza, na pintura, como
Júlio Dinis a amou na prosa mimosa dos seus escritos.
Sem ofender a verdade da natureza,
reproduziu-a nos seus quadros através da serenidade da sua alma e do
seu coração, aceitando-a como companheira de dias calmos, colhendo
as suas paisagens e os seus arrebatamentos sem grandes vibrações de
cor ou de movimentos.
Muitos dos seus quadros são
verdadeiras fotografias de uma natureza impregnada pela sua própria
melancolia.
Segundo o Dr. Jaime de Magalhães
Lima, na magistral conferência que leu no Salão Silva Porto por
ocasião da abertura da «Exposição de Quadros de Cândido da Cunha» em
13 de Novembro de 1926 – «Tinha de realizar o milagre que, por
fortuna sua e nossa, realizou, de tirar do visual o sonoro. Porque a
paisagem de Cândido da Cunha é muito mais sonora do que visual;
muito mais uma vibração que uma edificação; muito mais emanação do
que forma».
Joaquim Costa, que o classificou
como «pintor de tonalidades tristes», definiu-o, no artigo que sobre
ele escreveu no «Primeiro de Janeiro» de 1926 como «um lírico, de
nobre feição elegíaca, um intimista e um concentrado que, mesmo
interpretando a natureza, sabia reflectir um pouco a sinceridade do
seu drama interior».
Exposição de quadros pintados por António Cândido da Cunha.
Também foi pintor de figura e
ilustrador.
Como homem foi íntegro, de moral sã,
tão digno e verdadeiro como o foi como artista.
Conta Cláudio Corrêa d'Oliveira
Guimarães – no seu artigo «Pintor – Poeta», publicado no «Tripeiro»
de Março de 1952, fls. 259, que o Rei D. Carlos muito admirava
Cândido da Cunha «achando que, superior ainda à sua arte
excepcional, estava o seu carácter sem jaça, o espelho cristalino da
sua vida sem sombras».
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Deixou avultado número de trabalhos
que se encontram, em grande parte, recolhidos em museus como
Casa-Museu dos Patudos, perto de Almeirim, Palácio Ducal de Vila
Viçosa (onde está o quadro «Agar e Ismael no Deserto», oferecido
pelo autor a EI-Rei D. Carlos em reconhecimento pela protecção que
lhe dispensou), Museu Nacional Soares dos Reis, Museu Grão Vasco e
agrupados em colecções particulares, como na Quinta do Mosteiro, das
filhas do Dr. Luís de Magalhães, Clube Portuense, do Dr. Couto
Soares e do Conde de Alpendurada.
Como aveirense, desejo destacar que
o nosso distrito mereceu ao pintor motivo de inspiração, atraído
pelas suas belezas naturais: assim, escolheu motivos de Águeda,
distinguindo-se uma pintura que faz parte daquela colecção do Dr.
Couto Soares – «Pôr do Sol na Pateira de Fermentelos».
«Entre os céus portugueses, Cândido
da Cunha preferiu pintar os empíreos azuis do seu Minho bem-amado,
ou os húmidos, tocados de melancolia, de Águeda-a-Linda. Os céus
escaldantes do Alentejo ou os céus luminosos do Algarve nunca o
seduziram» (Cláudio Corrêa de Oliveira Guimarães, cit. estudo fls.
258).
Bem andou o grande escritor e
aveirense Dr. Jaime Magalhães Lima interessando-se pelo nome e
glória do pintor que tanto dignificou o nosso distrito.
Como bibliografia sobre este pintor
podemos indicar: «Dicionário de Pintores e Escultores» de Fernando
de Pamplona (vol. I, pág. 282) e ainda a bibliografia por este
apontada: Joaquim Lopes – artigo in «Museu» vol. III, n.º 7; Guia de
Portugal; Fernando de Pamplona «Um século de pintura e escultura em
Portugal»; «Retratos de Artistas no Museu Nacional de Soares dos
Reis».
Podemos acrescentar a «Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira» e o aludido artigo de Cláudio
Corrêa de Oliveira Guimarães – «Pintor – Poeta» em «O Tripeiro» de
Março de 1952.
Cândido da Cunha só muito
tardiamente se preocupou com a exposição dos seus quadros.
Foi tarde porque a morte
surpreendeu-o antes de satisfazer este seu desejo.
Um grupo de amigos e admiradores –
Dr. Leopoldo Mourão, Carlos Guerreiro, Dr. Jacinto Magalhães,
Eduardo Honório de Lima, Ricardo Spratley, Júlio Pina, Joaquim
Lopes, Porfírio de Abreu e Alberto Silva, reuniram-se em comissão e
levaram a cabo, depois da sua morte, uma exposição das suas obras,
que teve lugar no Salão Silva Porto, da mesma cidade, em Novembro de
1926.
Foi editado um catálogo cujos
exemplares são muito raros com breves e eruditas palavras de Joaquim
Costa, que finaliza dizendo que os quadros expostos «são o índice
moral de uma sensibilidade muito requintada e traduzem a nobre
expressão de um espírito que, procurando ansiosamente a Beleza, fez
da Arte a sua melhor linguagem, para comunicar aos homens o poema
emocionante da sua ternura.»
No frontispício anuncia que aquela
obra foi premiada com medalha na Exposição Universal-Internacional
de 1900 (Paris) e com medalha de segunda classe, em 1896 pelo Grémio
Artístico de Lisboa.
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Inclui quadros, desenhos e carvões,
com o nome dos que, então, os possuíam.
No que diz respeito ao distrito de
Aveiro:
Começa por se referir às reproduções
que fez de alguns quadros, entre as quais inclui: «Igreja de S.
Martinho da Gândara (contra poente); luz crepuscular (Águeda);
Trecho de Águeda – 1909; Pateira de Fermentelos (carvão) 1924 e
arrola como obras expostas:
a) quadros a óleo: Pateira de
Fermentelos; rua de Águeda; Águeda; Rua de S. Bento (Águeda); Igreja
de S. Martinho da Gândara (contra-poente).
b) a pastel: Águeda; Pateira de
Fermentelos.
c) carvões: Igreja de S. Martinho da
Gândara; dois sobre a Pateira de Fermentelos; Águeda; Margens da «Pateira
de Fermentelos»; arredores de Aveiro; Paisagem Águeda.
Publica-se a fotografia de um trecho
da exposição.
Em 1927, publicou-se, no Porto, um
opúsculo intitulado «Cândido da Cunha – o Pintor do Mistério da
Paisagem – Homenagem Póstuma dos amigos e admiradores do grande
poeta», edição fora do mercado.
Com uma abertura sem assinatura,
inclui a já referida conferência lida no Salão Silva Porto, por
ocasião da abertura da exposição, por Dr. Jaime de Magalhães Lima,
sob o título – Cândido da Cunha o pintor do mistério da paisagem.
Reúne, ainda, diversos artigos que
sobre ele se escreveram e estavam dispersos em jornais: Cândido da
Cunha, por A. Soucasaux («A Opinião», de Barcelos de 14 de Outubro
de 1926); Cândido da Cunha, por Fra. Angélico («Jornal de Notícias»
de 20 de Outubro de 1926); Cândido da Cunha, citado artigo de
Joaquim Costa («O Primeiro de Janeiro» de 21 de Outubro de 1926); o
Pintor Cândido da Cunha, por Júlio Brandão («O Primeiro de Janeiro»
de 24 de Outubro de 1926); Cândido da Cunha, pelo Conselheiro Luís
de Magalhães («Correio da Manhã» de 30 de Outubro de 1926); Cândido
da Cunha, por Guedes de Oliveira («O Primeiro de Janeiro» de 18 de
Novembro de 1926); Cândido da Cunha, por Carlos Manuel Ramos
(Ilustração Moderna – mês de Novembro de 1926); Cândido da Cunha,
por João Augusto Ribeiro (Ilustração Moderna – mês de Novembro de
1926) e Um Grande poeta que desapareceu, por Campos Monteiro
(Ilustração Moderna – mês de Novembro de 1926).
O título dado a este meu trabalho
define o seu âmbito e delimita a sua fronteira. Do mesmo modo que já
fiz no estudo sobre Guilherme Braga e Miguel Ângelo Pereira, vou ao
encontro do laço que o prende à história da Vila da Feira, no quadro
da sua vida profissional e artística.
Em 1899 – Cândido da Cunha foi
solicitado para pintar um quadro com a figura da «Justiça», para o
Tribunal Judicial da Feira.
Era então juiz desta comarca o Dr.
António José Coelho da Rocha.
Foi intermediário entre este e o
pintor, o escrivão-notário desta vila, José Cândido Marques de
Azevedo (distinto escritor e poeta), o que se explica por serem
conterrâneos.
Às suas filhas, D. Isabel e D. Berta
de Azevedo, devo a gentileza da oferta dos documentos que servem de
base a este estudo, que faziam parte do arquivo de seu pai.
Em carta de 11 de Julho de 1899,
Cândido da Cunha anunciava a Marques de Azevedo que só na semana
seguinte podia remeter o croquis do quadro, por andar muito
ocupado com a instalação do seu «novo atelier construído
recentemente» e comenta: «A figura da justiça representada segundo a
imposição do meritíssimo juiz é dum classicismo banal. A minha ideia
é outra, no entanto espero que o meu esboceto o satisfaça
plenamente».
Em outra carta datada de 20 de
Agosto, sem indicação do ano, que julgo ser do mesmo de 1899, diz:
«Para não excitar mais a sua curiosidade e a do meritíssimo juiz,
remeto-lhe um pequeno croquis do quadro para o tribunal.
Nessa meia dúzia de rabiscos está simplesmente a ideia geral. Há
detalhes sob o ponto de vista da cor e do desenho que só poderão ser
analisados em um outro esboceto que oportunamente enviarei. Como vê
a figura está sentada em uma cátedra e não de pé conforme a
indicação do meretíssimo juiz. Na mão direita tem a espada e na
esquerda as tábuas da Lei. As balanças estão aos pés sobre um degrau
do estrado.
O resto fica completamente a
descoberto. Se eu conseguir, como tenho fé, dar-lhe uma expressão
austera, grave, em harmonia com uma atitude hierática, fica completo
o meu fim.
Tapar-lhe os olhos com um farrapo
seria bom se não houvesse outros meios de conceber uma figura
representando a Justiça.
Não quero, todavia impor a minha
ideia. É bom discutir-se para o bem dum e doutro».
Em seguida informa não poder dar o
quadro pronto no fim do mês de Agosto mas apenas durante o de
Setembro.
Conclui: «Eu tenho imensa vontade de
fazer uma obra que por todos os modos agrade, mas para isso é também
necessário que não me obriguem a fazê-la de empreitada».
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Afinal, o quadro só veio a
completar-se no ano seguinte, pois dele consta a data de 1900.
Junto a estas cartas, estava o
parecer do juiz da comarca, Dr. António José Coelho da Rocha, sem
data ou assinatura, em que ponderava: «Tenha a bondade de devolver
ao Sr. Cândido da Cunha o croquis junto e pedir-lhe para nos
enviar logo que possa o segundo, a fim de melhor se poder avaliar o
seu pensamento e ideia geral do quadro.
Lembro porém que seria conveniente
pôr as balanças na mão esquerda da figura e as tábuas da lei aos pés
da mesma no estrado e onde estão actualmente as balanças.
Assim respeitava-se mais a história
e ficava a figura também mais em harmonia com a lenda da fábula.
A actual cabeça e cara da figura
também tem pouca expressão e simpatia e seria bom ver se era
possível remediar estes inconvenientes. Mas como somos leigos na
matéria o illustre artista resolverá o que melhor entender».
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Vê-se que houve dois esbocetos ou
croquis.
Não sei a qual se reporta o que se
encontrou junto àquelas cartas e aqui se reproduz: deve ser o 1.º,
porque o segundo deve ajustar-se já à orientação adoptada no quadro.
A apreciação do juiz parece
referir-se ao primeiro, presumindo-se que antes deste o magistrado
havia dado o seu parecer, talvez quando encomendou o trabalho.
Este concretizou-se no mencionado
quadro, pintado a óleo que, como dissemos, existe numa das salas do
Tribunal Judicial desta vila, onde se realizam as audiências do
segundo juízo.
Até às obras que o edifício sofreu
na passada década de quarenta, esteve na sala de audiências, hoje a
do primeiro juízo, por detrás da tribuna do juiz onde agora está
praticada a janela da varanda.
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Esboceto do quadro «A Justiça».
Tribunal Judicial da Vila da Feira. |
Tem a altura de cerca de 2 m. e a
largura de 1,50 m., incluindo a moldura que tem cerca de 0,20 m.
Na sua parte inferior tem, do lado
esquerdo – Porto 1900 e, do lado direito a assinatura do autor –
Cândido da Cunha.
O quadro é bom, interessante e
agradável, figurando a justiça com um semblante sereno, sem lhe
faltar a devida austeridade, honrando o seu autor.
Está sentada numa cátedra com
aspecto hierático e muito geométrico, sobre uma almofada tendo, na
mão direita, o livro da lei e, na esquerda, a espada da justiça.
Penso que a espada devia estar na mão direita e o livro da lei na
esquerda, para que a justiça não seja canhota, visto aquela
representar o seu meio executivo, em conformidade com o que está
prescrito no livro da lei a aplicar, com a ponderação e equilíbrio
ajustados simbolicamente na balança.
Entendo, ainda, que a posição dada à
espada, no esboceto, alcança uma maior originalidade e corrige, de
certo modo, aquele aspecto hierático, dando, à figura, maior
elegância.
O artista excedeu-se no desejo
manifestado na carta de 20 de Agosto: «Se eu conseguir, como tenho
fé, dar-lhe uma expressão austera, grave, em harmonia com uma
attitude hierática, fica completo o meu fim».
Os pés repousam no segundo degrau
sobre uma almofada enquanto a balança está depositada no primeiro,
respeitando-se a ideia que presidiu à do esboceto.
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A indumentária está adequada, dando
severidade e dignidade à figura; está inspirada nas vestes ainda
hoje adoptadas pelos magistrados em exercício de funções.
A do esboceto pode ser mais
aliciante, sobretudo em quadro já rematado, pelo efeito das suas
cores, mas não preferível. Embora seja possível ter adeptos nos
tempos de hoje, não é de estranhar o critério seguido, finalmente,
pelo pintor e daqueles que, como eu, ainda crêem na veracidade do
adágio – «o hábito faz o monge».
No quadro, a cara, de traços
distintos, ajusta-se à serenidade exigida na aplicação da justiça,
mas por outro lado denuncia uma severidade que hoje já não encontra
ambiente mas que, de facto, se filia num conceito da época.
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«A
Justiça». Quadro a óleo de António Cândido da Cunha. Tribunal
Judicial da Vila da Feira. |
O juiz, Dr. Coelho da Rocha, já
então entendia que «a actual cabeça e cara da figura também tem
pouca expressão e simpatia e seria bom ver se era possível remediar
estes inconvenientes».
Para a mentalidade de hoje, é
preferível uma justiça com a expressão mais carinhosa.
Neste particular o pintor, quando
fez o esboço, teve uma visão larga do conceito humano da justiça.
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Por certo modificou um pouco a sua
primeira interpretação para contemporizar com o temperamento do
Juiz, expresso no seu parecer.
Entendo, porém, que Cândido da Cunha
dentro do critério que adoptou podia ter dado maior movimento à
cara, aliviando o cabelo que se apresenta muito escorrido.
Há, porém, um pormenor que valoriza
muito este quadro e distingue o seu autor. A figura está
aparentemente com os olhos cerrados mas, quem a analisar de perto,
pode verificar que eles estão discreta e levemente entreabertos,
abandonando-se a velha interpretação de uma justiça cega, que teve a
sua máxima representação na imagem dos olhos vendados.
Diploma - Desenho de António Cândido da
Cunha.
O pintor já defendia, na aludida
carta de 20 de Agosto, esta ideia de uma justiça atenta, no pleno
exercício dos sentidos humanos, para melhor encontrar a verdade.
– «Tapar-lhe os olhos com um farrapo
seria bom se não houvesse outros meios de conceber uma figura
representando a Justiça. Não quero, todavia, impor a minha ideia».
Cândido da Cunha fugiu ao
«classicismo banal» que o juiz manifestava no seu parecer (cit.
carta de 11-7-1899).
Ao fazer estas observações não posso
deixar de reconhecer que o quadro foi pintado há 70 anos e que o
conceito de justiça e o modo do seu exercício muito evoluíram de
então para cá e ainda que o artista é um produto da época e do seu
meio ambiente.
Está suficiente e sobriamente
iluminado como melhor convinha ao fim a que se destina e bem se
enquadra no temperamento do pintor: é de lamentar, porém, que não
esteja em sala de maiores dimensões, onde possa sobressair, dando
pleno rendimento ao seu mérito.
A reprodução que se faz do esboceto
e do quadro e a publicação que também se faz do teor das cartas do
pintor e do parecer do juiz da comarca, oferecem a todos os que me
lerem elementos importantes de interpretação, o conhecimento das
razões que determinaram o pintor na sua concepção e a oportunidade
de fazerem um julgamento próprio.
No referido catálogo da exposição da
obra de Cândido da Cunha, há referência a um carvão pertencente a
Joaquim Leite, intitulado «Estudo para o quadro» a Justiça (carvão),
que deve referir-se ao que acabo de referir.
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Apesar dos esforços que empreguei
não consegui localizá-lo.
Para terminar informo que Cândido da
Cunha desenhou o diploma dos prémios que em 22 de Outubro de 1907
foram instituídos pelo benemérito Fortunato da Fonseca Meneres para
os que, no ano lectivo de 1906-1907, se distinguiram no 1.º e 2.º
graus, nas escolas primárias da Vila da Feira, cujos exemplares
foram impressos nas oficinas do "Comércio do Porto».
Infelizmente o desenho não tem
assinatura: sei serem da sua autoria pela referência que lhes é
feita no "Progresso da Feira», número 172 de 27 de Outubro de 1907.
FOTOCÓPIAS DOS AUTÓGRAFOS DAS CARTAS
DE CÂNDIDO DA CUNHA E DAS OBSERVAÇÕES DO JUIZ DR. COELHO DA ROCHA
SOBRE O QUADRO – «A JUSTIÇA»
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