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N.º 13

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Junho de 1972 

Homens do Porto – Barcelos e Vila da Feira

Por Roberto Vaz de Oliveira


Licenciado nas Faculdades de Direito e Letras – Secção de

Ciências Histórico-Geográficas – pela Universidade de Coimbra

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2 – ANTÓNIO CÂNDIDO DA CUNHA

 Pintor

NA VILA DA FEIRA

«Tinha de realizar o milagre que, por fortuna sua e nossa realizou, de tirar do visual o sonoro» (Conferência do Dr. Jaime Magalhães Lima)

Nasceu na cidade de Barcelos em 11 de Novembro de 1866, sendo filho de José Joaquim da Cunha, construtor civil e chefe da filarmónica local.

Cursou, com brilho, a Academia Portuense de Belas Artes.

Ligou a sua vida ao Porto, durante os 40 anos em que lá residiu, trabalhou e onde veio a falecer a 16 de Outubro de 1926.

Por isso, é considerado filho adoptivo da cidade Invicta.

António Cândido da Cunha. Clicar para ampliar.

EI-Rei D. Carlos que, juntamente com a rainha D, Amélia, foram grandes protectores de artistas, conhecedor do valor de Cândido da Cunha, subsidiou os seus estudos e conseguiu-lhe uma pensão pelo Ministério das Obras Públicas, proporcionando, assim, a sua ida para Paris onde trabalhou e se aperfeiçoou.

Isto teve lugar depois do pintor ter oferecido àqueles, quando da sua visita ao Porto, o retrato do príncipe D. Luís Filipe.

Nos primeiros tempos da sua mocidade fez um retrato do rei D. Luís que ainda existe na Câmara Municipal de Barcelos. / 41 /

António Cândido da Cunha. Clicar para ampliar.

Os seus quadros, expostos no Salon, alcançaram grande êxito, nomeadamente o «Sagrado Viático» (1898) que foi premiado.

Foi discípulo de João Correa, Jean-Paul Laurens e Benjamin Constant.

A característica predominante do pintor, que dominou toda a sua vida artística, foi o seu amor à paisagem como «pintor elegíaco, enamorado das paisagens crepusculares, plenas de melancolias das sombras envolventes ou da tragédia do sol agonizante» – Fernando Pamplona (Dicionário de Pintores e Escultores – vol. 1, pág. 282).

Foi um romântico, um lírico na pintura, como o foram Soares dos Passos e Guilherme Braga na poesia.

Amou a natureza, na pintura, como Júlio Dinis a amou na prosa mimosa dos seus escritos.

Sem ofender a verdade da natureza, reproduziu-a nos seus quadros através da serenidade da sua alma e do seu coração, aceitando-a como companheira de dias calmos, colhendo as suas paisagens e os seus arrebatamentos sem grandes vibrações de cor ou de movimentos.

Muitos dos seus quadros são verdadeiras fotografias de uma natureza impregnada pela sua própria melancolia.

Segundo o Dr. Jaime de Magalhães Lima, na magistral conferência que leu no Salão Silva Porto por ocasião da abertura da «Exposição de Quadros de Cândido da Cunha» em 13 de Novembro de 1926 – «Tinha de realizar o milagre que, por fortuna sua e nossa, realizou, de tirar do visual o sonoro. Porque a paisagem de Cândido da Cunha é muito mais sonora do que visual; muito mais uma vibração que uma edificação; muito mais emanação do que forma».

Joaquim Costa, que o classificou como «pintor de tonalidades tristes», definiu-o, no artigo que sobre ele escreveu no «Primeiro de Janeiro» de 1926 como «um lírico, de nobre feição elegíaca, um intimista e um concentrado que, mesmo interpretando a natureza, sabia reflectir um pouco a sinceridade do seu drama interior».

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Exposição de quadros pintados por António Cândido da Cunha.

Também foi pintor de figura e ilustrador.

Como homem foi íntegro, de moral sã, tão digno e verdadeiro como o foi como artista.

Conta Cláudio Corrêa d'Oliveira Guimarães – no seu artigo «Pintor – Poeta», publicado no «Tripeiro» de Março de 1952, fls. 259, que o Rei D. Carlos muito admirava Cândido da Cunha «achando que, superior ainda à sua arte excepcional, estava o seu carácter sem jaça, o espelho cristalino da sua vida sem sombras». / 42 /

Deixou avultado número de trabalhos que se encontram, em grande parte, recolhidos em museus como Casa-Museu dos Patudos, perto de Almeirim, Palácio Ducal de Vila Viçosa (onde está o quadro «Agar e Ismael no Deserto», oferecido pelo autor a EI-Rei D. Carlos em reconhecimento pela protecção que lhe dispensou), Museu Nacional Soares dos Reis, Museu Grão Vasco e agrupados em colecções particulares, como na Quinta do Mosteiro, das filhas do Dr. Luís de Magalhães, Clube Portuense, do Dr. Couto Soares e do Conde de Alpendurada.

Como aveirense, desejo destacar que o nosso distrito mereceu ao pintor motivo de inspiração, atraído pelas suas belezas naturais: assim, escolheu motivos de Águeda, distinguindo-se uma pintura que faz parte daquela colecção do Dr. Couto Soares – «Pôr do Sol na Pateira de Fermentelos».

«Entre os céus portugueses, Cândido da Cunha preferiu pintar os empíreos azuis do seu Minho bem-amado, ou os húmidos, tocados de melancolia, de Águeda-a-Linda. Os céus escaldantes do Alentejo ou os céus luminosos do Algarve nunca o seduziram» (Cláudio Corrêa de Oliveira Guimarães, cit. estudo fls. 258).

Bem andou o grande escritor e aveirense Dr. Jaime Magalhães Lima interessando-se pelo nome e glória do pintor que tanto dignificou o nosso distrito.

Como bibliografia sobre este pintor podemos indicar: «Dicionário de Pintores e Escultores» de Fernando de Pamplona (vol. I, pág. 282) e ainda a bibliografia por este apontada: Joaquim Lopes – artigo in «Museu» vol. III, n.º 7; Guia de Portugal; Fernando de Pamplona «Um século de pintura e escultura em Portugal»; «Retratos de Artistas no Museu Nacional de Soares dos Reis».

Podemos acrescentar a «Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira» e o aludido artigo de Cláudio Corrêa de Oliveira Guimarães – «Pintor – Poeta» em «O Tripeiro» de Março de 1952.

Cândido da Cunha só muito tardiamente se preocupou com a exposição dos seus quadros.

Foi tarde porque a morte surpreendeu-o antes de satisfazer este seu desejo.

Um grupo de amigos e admiradores – Dr. Leopoldo Mourão, Carlos Guerreiro, Dr. Jacinto Magalhães, Eduardo Honório de Lima, Ricardo Spratley, Júlio Pina, Joaquim Lopes, Porfírio de Abreu e Alberto Silva, reuniram-se em comissão e levaram a cabo, depois da sua morte, uma exposição das suas obras, que teve lugar no Salão Silva Porto, da mesma cidade, em Novembro de 1926.

Foi editado um catálogo cujos exemplares são muito raros com breves e eruditas palavras de Joaquim Costa, que finaliza dizendo que os quadros expostos «são o índice moral de uma sensibilidade muito requintada e traduzem a nobre expressão de um espírito que, procurando ansiosamente a Beleza, fez da Arte a sua melhor linguagem, para comunicar aos homens o poema emocionante da sua ternura.»

No frontispício anuncia que aquela obra foi premiada com medalha na Exposição Universal-Internacional de 1900 (Paris) e com medalha de segunda classe, em 1896 pelo Grémio Artístico de Lisboa. / 43 /

Inclui quadros, desenhos e carvões, com o nome dos que, então, os possuíam.

No que diz respeito ao distrito de Aveiro:

Começa por se referir às reproduções que fez de alguns quadros, entre as quais inclui: «Igreja de S. Martinho da Gândara (contra poente); luz crepuscular (Águeda); Trecho de Águeda – 1909; Pateira de Fermentelos (carvão) 1924 e arrola como obras expostas:

a) quadros a óleo: Pateira de Fermentelos; rua de Águeda; Águeda; Rua de S. Bento (Águeda); Igreja de S. Martinho da Gândara (contra-poente).

b) a pastel: Águeda; Pateira de Fermentelos.

c) carvões: Igreja de S. Martinho da Gândara; dois sobre a Pateira de Fermentelos; Águeda; Margens da «Pateira de Fermentelos»; arredores de Aveiro; Paisagem Águeda.

Publica-se a fotografia de um trecho da exposição.

Em 1927, publicou-se, no Porto, um opúsculo intitulado «Cândido da Cunha – o Pintor do Mistério da Paisagem – Homenagem Póstuma dos amigos e admiradores do grande poeta», edição fora do mercado.

Com uma abertura sem assinatura, inclui a já referida conferência lida no Salão Silva Porto, por ocasião da abertura da exposição, por Dr. Jaime de Magalhães Lima, sob o título – Cândido da Cunha o pintor do mistério da paisagem.

Reúne, ainda, diversos artigos que sobre ele se escreveram e estavam dispersos em jornais: Cândido da Cunha, por A. Soucasaux («A Opinião», de Barcelos de 14 de Outubro de 1926); Cândido da Cunha, por Fra. Angélico («Jornal de Notícias» de 20 de Outubro de 1926); Cândido da Cunha, citado artigo de Joaquim Costa («O Primeiro de Janeiro» de 21 de Outubro de 1926); o Pintor Cândido da Cunha, por Júlio Brandão («O Primeiro de Janeiro» de 24 de Outubro de 1926); Cândido da Cunha, pelo Conselheiro Luís de Magalhães («Correio da Manhã» de 30 de Outubro de 1926); Cândido da Cunha, por Guedes de Oliveira («O Primeiro de Janeiro» de 18 de Novembro de 1926); Cândido da Cunha, por Carlos Manuel Ramos (Ilustração Moderna – mês de Novembro de 1926); Cândido da Cunha, por João Augusto Ribeiro (Ilustração Moderna – mês de Novembro de 1926) e Um Grande poeta que desapareceu, por Campos Monteiro (Ilustração Moderna – mês de Novembro de 1926).

O título dado a este meu trabalho define o seu âmbito e delimita a sua fronteira. Do mesmo modo que já fiz no estudo sobre Guilherme Braga e Miguel Ângelo Pereira, vou ao encontro do laço que o prende à história da Vila da Feira, no quadro da sua vida profissional e artística.

Em 1899 – Cândido da Cunha foi solicitado para pintar um quadro com a figura da «Justiça», para o Tribunal Judicial da Feira.

Era então juiz desta comarca o Dr. António José Coelho da Rocha.

Foi intermediário entre este e o pintor, o escrivão-notário desta vila, José Cândido Marques de Azevedo (distinto escritor e poeta), o que se explica por serem conterrâneos.

Às suas filhas, D. Isabel e D. Berta de Azevedo, devo a gentileza da oferta dos documentos que servem de base a este estudo, que faziam parte do arquivo de seu pai.

Em carta de 11 de Julho de 1899, Cândido da Cunha anunciava a Marques de Azevedo que só na semana seguinte podia remeter o croquis do quadro, por andar muito ocupado com a instalação do seu «novo atelier construído recentemente» e comenta: «A figura da justiça representada segundo a imposição do meritíssimo juiz é dum classicismo banal. A minha ideia é outra, no entanto espero que o meu esboceto o satisfaça plenamente».

Em outra carta datada de 20 de Agosto, sem indicação do ano, que julgo ser do mesmo de 1899, diz: «Para não excitar mais a sua curiosidade e a do meritíssimo juiz, remeto-lhe um pequeno croquis do quadro para o tribunal. Nessa meia dúzia de rabiscos está simplesmente a ideia geral. Há detalhes sob o ponto de vista da cor e do desenho que só poderão ser analisados em um outro esboceto que oportunamente enviarei. Como vê a figura está sentada em uma cátedra e não de pé conforme a indicação do meretíssimo juiz. Na mão direita tem a espada e na esquerda as tábuas da Lei. As balanças estão aos pés sobre um degrau do estrado.

O resto fica completamente a descoberto. Se eu conseguir, como tenho fé, dar-lhe uma expressão austera, grave, em harmonia com uma atitude hierática, fica completo o meu fim.

Tapar-lhe os olhos com um farrapo seria bom se não houvesse outros meios de conceber uma figura representando a Justiça.

Não quero, todavia impor a minha ideia. É bom discutir-se para o bem dum e doutro».

Em seguida informa não poder dar o quadro pronto no fim do mês de Agosto mas apenas durante o de Setembro.

Conclui: «Eu tenho imensa vontade de fazer uma obra que por todos os modos agrade, mas para isso é também necessário que não me obriguem a fazê-la de empreitada». / 44 /

Afinal, o quadro só veio a completar-se no ano seguinte, pois dele consta a data de 1900.

Junto a estas cartas, estava o parecer do juiz da comarca, Dr. António José Coelho da Rocha, sem data ou assinatura, em que ponderava: «Tenha a bondade de devolver ao Sr. Cândido da Cunha o croquis junto e pedir-lhe para nos enviar logo que possa o segundo, a fim de melhor se poder avaliar o seu pensamento e ideia geral do quadro.

Lembro porém que seria conveniente pôr as balanças na mão esquerda da figura e as tábuas da lei aos pés da mesma no estrado e onde estão actualmente as balanças.

Assim respeitava-se mais a história e ficava a figura também mais em harmonia com a lenda da fábula.

A actual cabeça e cara da figura também tem pouca expressão e simpatia e seria bom ver se era possível remediar estes inconvenientes. Mas como somos leigos na matéria o illustre artista resolverá o que melhor entender».

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Vê-se que houve dois esbocetos ou croquis.

Não sei a qual se reporta o que se encontrou junto àquelas cartas e aqui se reproduz: deve ser o 1.º, porque o segundo deve ajustar-se já à orientação adoptada no quadro.

A apreciação do juiz parece referir-se ao primeiro, presumindo-se que antes deste o magistrado havia dado o seu parecer, talvez quando encomendou o trabalho.

Este concretizou-se no mencionado quadro, pintado a óleo que, como dissemos, existe numa das salas do Tribunal Judicial desta vila, onde se realizam as audiências do segundo juízo.

Até às obras que o edifício sofreu na passada década de quarenta, esteve na sala de audiências, hoje a do primeiro juízo, por detrás da tribuna do juiz onde agora está praticada a janela da varanda.

Esboceto do quadro «A Justiça».
Tribunal Judicial da Vila da Feira.

Tem a altura de cerca de 2 m. e a largura de 1,50 m., incluindo a moldura que tem cerca de 0,20 m.

Na sua parte inferior tem, do lado esquerdo – Porto 1900 e, do lado direito a assinatura do autor – Cândido da Cunha.

O quadro é bom, interessante e agradável, figurando a justiça com um semblante sereno, sem lhe faltar a devida austeridade, honrando o seu autor.

Está sentada numa cátedra com aspecto hierático e muito geométrico, sobre uma almofada tendo, na mão direita, o livro da lei e, na esquerda, a espada da justiça. Penso que a espada devia estar na mão direita e o livro da lei na esquerda, para que a justiça não seja canhota, visto aquela representar o seu meio executivo, em conformidade com o que está prescrito no livro da lei a aplicar, com a ponderação e equilíbrio ajustados simbolicamente na balança.

Entendo, ainda, que a posição dada à espada, no esboceto, alcança uma maior originalidade e corrige, de certo modo, aquele aspecto hierático, dando, à figura, maior elegância.

O artista excedeu-se no desejo manifestado na carta de 20 de Agosto: «Se eu conseguir, como tenho fé, dar-lhe uma expressão austera, grave, em harmonia com uma attitude hierática, fica completo o meu fim».

Os pés repousam no segundo degrau sobre uma almofada enquanto a balança está depositada no primeiro, respeitando-se a ideia que presidiu à do esboceto. / 45 /

A indumentária está adequada, dando severidade e dignidade à figura; está inspirada nas vestes ainda hoje adoptadas pelos magistrados em exercício de funções.

A do esboceto pode ser mais aliciante, sobretudo em quadro já rematado, pelo efeito das suas cores, mas não preferível. Embora seja possível ter adeptos nos tempos de hoje, não é de estranhar o critério seguido, finalmente, pelo pintor e daqueles que, como eu, ainda crêem na veracidade do adágio – «o hábito faz o monge».

No quadro, a cara, de traços distintos, ajusta-se à serenidade exigida na aplicação da justiça, mas por outro lado denuncia uma severidade que hoje já não encontra ambiente mas que, de facto, se filia num conceito da época.

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«A Justiça». Quadro a óleo de António Cândido da Cunha. Tribunal Judicial da Vila da Feira.

O juiz, Dr. Coelho da Rocha, já então entendia que «a actual cabeça e cara da figura também tem pouca expressão e simpatia e seria bom ver se era possível remediar estes inconvenientes».

Para a mentalidade de hoje, é preferível uma justiça com a expressão mais carinhosa.

Neste particular o pintor, quando fez o esboço, teve uma visão larga do conceito humano da justiça. / 46 /

Por certo modificou um pouco a sua primeira interpretação para contemporizar com o temperamento do Juiz, expresso no seu parecer.

Entendo, porém, que Cândido da Cunha dentro do critério que adoptou podia ter dado maior movimento à cara, aliviando o cabelo que se apresenta muito escorrido.

Há, porém, um pormenor que valoriza muito este quadro e distingue o seu autor. A figura está aparentemente com os olhos cerrados mas, quem a analisar de perto, pode verificar que eles estão discreta e levemente entreabertos, abandonando-se a velha interpretação de uma justiça cega, que teve a sua máxima representação na imagem dos olhos vendados.

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Diploma - Desenho de António Cândido da Cunha.

O pintor já defendia, na aludida carta de 20 de Agosto, esta ideia de uma justiça atenta, no pleno exercício dos sentidos humanos, para melhor encontrar a verdade.

– «Tapar-lhe os olhos com um farrapo seria bom se não houvesse outros meios de conceber uma figura representando a Justiça. Não quero, todavia, impor a minha ideia».

Cândido da Cunha fugiu ao «classicismo banal» que o juiz manifestava no seu parecer (cit. carta de 11-7-1899).

Ao fazer estas observações não posso deixar de reconhecer que o quadro foi pintado há 70 anos e que o conceito de justiça e o modo do seu exercício muito evoluíram de então para cá e ainda que o artista é um produto da época e do seu meio ambiente.

Está suficiente e sobriamente iluminado como melhor convinha ao fim a que se destina e bem se enquadra no temperamento do pintor: é de lamentar, porém, que não esteja em sala de maiores dimensões, onde possa sobressair, dando pleno rendimento ao seu mérito.

A reprodução que se faz do esboceto e do quadro e a publicação que também se faz do teor das cartas do pintor e do parecer do juiz da comarca, oferecem a todos os que me lerem elementos importantes de interpretação, o conhecimento das razões que determinaram o pintor na sua concepção e a oportunidade de fazerem um julgamento próprio.

No referido catálogo da exposição da obra de Cândido da Cunha, há referência a um carvão pertencente a Joaquim Leite, intitulado «Estudo para o quadro» a Justiça (carvão), que deve referir-se ao que acabo de referir. / 47 /

Apesar dos esforços que empreguei não consegui localizá-lo.

Para terminar informo que Cândido da Cunha desenhou o diploma dos prémios que em 22 de Outubro de 1907 foram instituídos pelo benemérito Fortunato da Fonseca Meneres para os que, no ano lectivo de 1906-1907, se distinguiram no 1.º e 2.º graus, nas escolas primárias da Vila da Feira, cujos exemplares foram impressos nas oficinas do "Comércio do Porto».

Infelizmente o desenho não tem assinatura: sei serem da sua autoria pela referência que lhes é feita no "Progresso da Feira», número 172 de 27 de Outubro de 1907.

 

FOTOCÓPIAS DOS AUTÓGRAFOS DAS CARTAS DE CÂNDIDO DA CUNHA E DAS OBSERVAÇÕES DO JUIZ DR. COELHO DA ROCHA SOBRE O QUADRO – «A JUSTIÇA»

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páginas 33 a 52

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