O abraço amigo dos Governadores Civis de
Viseu e Aveiro.
No passado dia 10 de Outubro Aveiro
foi a Viseu. Aveiro-Cidade, Aveiro-Ria, recebeu o abraço amigo,
sincero, mesmo fraterno, de Viseu.
No limite dos distritos Aveiro e
Viseu abraçaram-se. Nos Paços do Concelho teve lugar a sessão de
amizade. O Presidente da Câmara Municipal de Viseu, Dr. Juiz Nelson
Bento do Couto, saudou as Autoridades Aveirenses em termos
repassados da maior alegria, expressando o júbilo das gentes
Viseenses ao receberem Aveiro, manifestando a mais viva esperança
quanto aos frutos de tão auspicioso como promissor encontro. Para
tanto, são fundamentais os interesses comuns que a todos necessário
se torna concretizar.
Em resposta, o Presidente do
Município Aveirense, Dr. Artur Alves Moreira, ao agradecer tão
festiva recepção, rendeu as mais sentidas homenagens às Autoridades
e ao Povo de Viseu, enaltecendo o alto significado da visita que
motivará amplo estreitamento de
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relações e profícuo entendimento e colaboração, em ordem a
atingir-se, fundamentalmente, um intercâmbio social, cultural,
económico e turístico, que, é evidente, resultará da concretização
da comum e urgente aspiração: a grande rodovia Aveiro-Viseu.
Acerca de tão importante
cometimento, falaram, também, e de que maneira, os Poetas Viseenses.
Seguiu-se a visita informal em que
as leis do protocolo cederam radicalmente às que se fundam na mais
sã e pura amizade.
Viseu recebeu Aveiro como só Aveiro
receberá Viseu.
Viseu e Aveiro falaram, também, pela
voz dos seus mais autorizados representantes.
Das palavras proferidas pelos dois
Governadores Civis, destacamos as que se seguem, às quais juntamos o
que a pena inconfundível de Eduardo Cerqueira escreveu há mais de
uma década, e com elas concluímos:
VISEU-AVEIRO DE MÃOS DADAS
Governador Civil de Viseu:
O Rio Vouga vai destas terras altas da Beira juntar-se, lá em baixo,
às águas do Atlântico. Iniciou-se agora uma jornada grande de
fraternidade entre povos ligados por esse elemento – irremovível,
porque o que Deus une o homem não pode separar.
Governador Civil de Aveiro:
Às quatrocentas e trinta mil almas de Viseu juntam-se quinhentas e
cinquenta mil almas aveirenses – quase um milhão –, treze por cento,
feitas as contas, no cômputo demográfico do País. E hoje sairemos
daqui mais compenetrados de que, começando Aveiro na viseense Serra
da Lapa e terminando Viseu na Ria, os nossos comuns interesses, se
valorizados pelo empenho comum de verter em riqueza as nossas
imensas potencialidades, serão enorme e desejável e permanente
contributo para a riqueza nacional.
ONDE NASCE O VOUGA
«Aveiro é lá em baixo, na terra rasa
e branda de ao pé do mar. Viseu fica cá pelo alto, cá pelos cimos
maciços e majestosos, no centro geográfico e administrativo da
região onde brota o Vouga. O rio corre infatigavelmente a levar-nos
a vossa água, a linfa da vossa terra – dador eterno do sangue das
veias dos vossos agros, que se empobrecem em nosso proveito. Algures
desponta singelo como uma fonte; e depois é arroio, e adiante
regato, e por múltiplos contributos engrossa e dilata-se; serpeia,
saltita pressuroso, vence obstáculos com afã e alvoroço e, como se
uma bússola tirânica lhe impusesse o caminho, busca,
inalteravelmente a nossa Ria.
É uma prova de amor perpétuo e um
consórcio indissolúvel cada dia renovado.
Aqui há uns quantos milhares de
anos, estas boas terras de Viseu eram já velhas – e as que circundam
Aveiro ainda não existiam.
O rio carregou materiais sem
descanso, dia após dia, ano atrás de ano e por séculos sem conta. E,
assim, esta terra generosa ajudou a formar a minha, numa oferenda
altruísta e constante que data das idades geológicas e perdurará por
incalculáveis tempos.
E o rio, que não cessa de correr e
só à beira da nossa porta abranda a marcha para chegar, manso, numa
carícia; o Vouga que, num ambiente de geórgica, se derrama
amorosamente na laguna – e lhe adoça o marinho travo salgado – abriu
um trilho, rasgou uma senda e imprimiu um sentido permanente no
fluir para os nossos plainos, que dos elementos físicos se comunicou
às predilecções humanas.
Atrás do rio seguiu a gente com o
seu abraço fraterno e as reiteradas demonstrações de muito afectuosa
solidariedade.» |