Ao escrever sobre o Marco Miliário
da Mealhada somente me move o intuito de contribuir para a
propaganda e divulgação da peça de maior valor arqueológico
existente na Mealhada pelo interesse histórico para o Distrito de
Aveiro, por ter pertencido a uma região onde muito se fez sentir a
influência romana.
De AEMINIUM (Coimbra) saía para CALE
(Gaia), o traço da estrada romana OLlSSIPO – BRACARA (Lisboa –
Braga), cujo traçado correspondia de perto ao da Estrada Nacional
N.º 1. Depois de ter passado par Pedrulha, Adémia, Fornos, chegava a
alturas de Viminaria (Vimieira) onde se bifurcava em duas,
seguindo o ramo principal, a estrada militar ou consular, em
direcção a Cale e o outro – o comercial ou de penetração mais
por ocidente, pela borda do mar.
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A estrada era sinalizada por marcas
que assinalavam distâncias em milhas, marcando o da Mealhada XII,
que seria a distância de Aeminium a essa bifurcação, que localizamos
na Vimieira ou proximidades, por 12 milhas corresponderem a 17,778
km. (sendo a milha igual a 1 481,5 metros segundo Ságlio e Daremberg).
O aparecimento da marca em um local
mais distante poderá atribuir-se a ter sido para aí deslocado por
qualquer motivo ocorrido no decorrer de tantos séculos. Acresce, que
a Vimieira devia ter sido terra importante pela sua posição na
confluência dessas duas grandes estradas e, também, o atestam
inúmeros vestígios da presença romana constituídos por objectos de
metal e cerâmicas, moedas, sepulturas, etc. que nela têm aparecido
assim como nas cercanias, designadamente nos sítios das Areias e
Abitureira.
Nas duas presumíveis localizações
atribuídas à descoberta do marco não foram encontrados quaisquer
vestígios romanos.
O marco foi encontrado em 1856 a Sul
da Mealhada e à distância de 630 metros da vila (A. M. Simões de
Castro «Guia Histórico do Viajante em Coimbra e Arredores», e Pinho
Leal «P. Antigo e Moderno»).
No entanto Hübner, no Corpus
Inscriptionum Latinarum, na inscrição n.º 4640, diz que foi
encontrado em 1857, a 1508 metros da vila.
Recolhido pelo Dr. João Nobre
Araújo, que o ofereceu à Câmara Municipal, foi colocado no átrio
junto à escadaria, onde hoje se encontra. É um bloco de pedra de
calcário rijo, em forma de coluna cilíndrica, medindo de altura
máxima 1,81 m. e de perímetro 1,39 m., apresentando no seu terço
superior letras gravadas com altura média de 5,5 cm., bastante
gastas.
No bloco faltam letras e as
existentes constituem a seguinte inscrição aliás bastante mutilada:
SAR. DIVI
RON. AVG
COS. DESI
P. P.
XII
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O Professor D. Fernando de Almeida,
comparando esta inscrição com as dos marcos miliários de Coimbra e
de Ul (Oliveira de Azeméis) deu-lhe a seguinte decifração:
[C. Cae] sar, Divi / [Aug(usti) p]
ron(epos), / Aug(ustus), / [Pont(ifex)] max(imus), tri(unicia) / [p(otestate)
III], co(n)s(ul) desi(gnatus), / P(ater) P(atriae), / (milia passuum)
XII.
O Sr. Padre Nogueira Gonçalves, a
nosso pedido, traduziu:
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Caio César Augusto bisneto de
Augusto, Pontífice máximo, no ano 3.º do poder tribunício, Consul
eleito, Pai da Pátria. Milha XII.
Parece que as letras COS se devem
ler CON. O ano, poderá ser III ou IV, pois o ano III é uma
correspondência com o de UL, mas nada nos poderá garantir que os
dois marcos tenham sido colocados no mesmo ano.
É, pois, do Imperador Calígula do
ano 39 A. D. embora Hüber lhe dê o ano 40.
Esta peça arqueológica confirma a
passagem pelo concelho de Mealhada da estrada militar romana no ano
39 depois de Cristo, e é mais um elemento de valor a juntar a outros
para o estudo da romanização deste Concelho. |