Quem se desloca a Aveiro para nos
visitar não pode deixar de incluir no seu programa de viagem ou de
excursão uma ida ao Museu de Aveiro, rico no recheio de arte barroca
e em diversos pormenores de arquitectura; mas, se o turista ao
desejo de conhecer alia um amor a quem tentou aproximar-se mais de
Deus, então recolher-se-á por momentos junto dum precioso túmulo
que, há séculos colocado no velho coro de baixo da igreja de Jesus,
guarda os restos mortais duma Princesa de Portugal.
Dentro daquelas vetustas paredes,
testemunhas de muita vida de sacrifício, de oração e de amor, o
visitante rememora um pouco de história de Aveiro. Mas não só: o
grande edifício cenobítico lembra e faz viver com emoção o exemplo
de santidade de D. Joana, a filha do Rei Africano.
Não é, pois, rotineiramente que
passamos junto do convento dominicano, sempre que subimos ao burgo
que outrora foi muralhado. Afinal, reis da Pátria e bispos da
Igreja, fidalgos da corte e nobres da cidade, membros do clero e
pessoas do povo aí foram também muitas vezes para implorar a ajuda
da Princesa, agradecerem o seu valimento, venerarem a sua virtude,
admirarem e adaptarem para as suas a vida dela.
Assim, procuraremos hoje trazer ao
leitor amigo a mensagem da nossa meditação de horas furtivas sob o
tema que encima estas linhas – Os Bispos de Aveiro e o culto de
Santa Joana. Também aqui, desta forma simples, ficará registado
um capítulo da nossa história.
1 – Santa Joana no Mosteiro de Jesus
O mosteiro de Jesus de Aveiro teve
por fundadora D. Brites Leitão ou D. Brites Leitoa que, sendo de
nobre linhagem, se criou em casa do Infante D. Pedro e casou com
Diogo de Ataíde, cavaleiro fidalgo da mesma casa e guarda-mor de D.
Isabel, esposa do filho de D. João I. Falecida esta, os cônjuges
vieram para Ouca (Vagos), onde possuíam uma rica e vasta quinta.
Túmulo de Santa Joana Princesa, em
Aveiro.
Entretanto, sobreveio uma peste.
Apesar de terem retirado para Leiria, Diogo de Ataíde faleceu em
1453; um dos dois filhos também sucumbiu ao flagelo – o primeiro
morrera aos oito meses de idade; D. Brites, viúva de 27 anos,
regressou a Ouca, na companhia das duas filhas. Resolveu depois
dar-se à vida religiosa e, de acordo com o prior do convento
dominicano da Misericórdia, mandou construir uma pequena edificação
no sítio onde mais tarde se ergueu o mosteiro de Jesus; entrava para
lá a 24 de Novembro de 1458, com as filhas.
Em 1460, bateu à porta D. Mícia ou
Mécia Pereira, senhora fidalga, que enviuvara havia dois anos. A sua
presença no incipiente recolhimento foi útil e decisiva; trouxe bens
que se empregaram na compra de terrenos, com que se alargaram os
iniciais, e na construção do edifício.
Pela bula Pia Deo et Ecclesiae
desideria, de 16 de Maio de 1461, o Papa Pio II autorizava a
fundação conventual. (1) D. Brites e D. Mícia propuseram-se
fazer a igreja e aumentar a habitação, em forma de mosteiro; a
primeira pedra foi lançada por D. Afonso V e benzida, a 15 de
Janeiro de 1462, pelo bispo de Coimbra, D. João Galvão. D. Brites
deslocava-se para Ouca com o fim de dirigir o fabrico dos tijolos e
das telhas e D. Mícia ficava em Aveiro a vigiar as obras. Esta
última senhora, esgotada pelo trabalho, morreria a 3 de Outubro de
1464.
A primeira tomada de hábito foi a 25
de Dezembro de 1464 e, a 1 de Janeiro seguinte, realizava-se a
cerimónia da clausura. Um ano depois professava D. Brites e mais
duas religiosas; as restantes aguardaram o domingo após a Epifania,
12 de Janeiro, data em que, mais uma vez, esteve presente D. Afonso
V.
A fundadora finou-se a 3 de Agosto
de 1480. O mosteiro, cujo edifício sofreu através dos tempos
/ 29 / diversas ampliações e
modificações, desde o início beneficiou material e moralmente com a
estadia de Santa Joana, filha daquele monarca e de sua mulher, a
rainha D. Isabel. Foi esse um facto extraordinário e de grande
alcance na existência do cenóbio e do burgo, que ficou a marcar na
história de ambos. O Príncipe Perfeito, que contrariaria a vocação
da irmã, dar-lhe-ia finalmente as próprias rendas da vila de Aveiro.
(2)
Santa Joana nasceu em Lisboa, no
Paço de Alcáçova, a 6 de Fevereiro de 1452. Seu irmão mais velho
morrera com meses de idade e, por isso, no meio do maior entusiasmo,
foi jurada em cortes por Princesa herdeira do Reino, título que pela
primeira vez se dava em Portugal; embora o tivesse perdido, passados
dois anos, pelo nascimento do novo irmão, o futuro D. João II, nem
por isso o povo e os cronistas deixaram de a tratar por Princesa.
Órfã de mãe aos quatro anos, procurou sempre praticar a mais
edificante virtude, apesar do fausto e do ambiente da corte; e assim
foi crescendo.
Aos 19 anos, com a autorização de
seu pai que voltava vitorioso de África, recolheu-se ao mosteiro de
Odivelas. Desejando, porém, uma vida de mais austera penitência, mal
decorridos sete meses, mudou para o pobre convento dominicano de
Jesus, em Aveiro; a 25 de Janeiro de 1475, com o hábito da Ordem dos
Pregadores, iniciaria o noviciado.
Conhecido este propósito,
moveram-lhe grande oposição o pai, o irmão, os fidalgos, os
procuradores de cidades e vilas, que viam na sua atitude um perigo
para a sucessão do trono, visto o rei ter apenas aqueles dois
filhos. Mas nada demoveu a Princesa que, apesar de não ter sido
autorizada a fazer os votos perpétuos, ficou no convento, onde seria
«freira sem profissão».
(3)
Senhora de grande beleza, de firme
carácter e de excelsa virtude,
(4) vários príncipes a
quiseram para esposa, ao que ela sempre resistiu. Finalmente, depois
duma vida de perfeição, de humildade e de fervor espiritual, falecia
no mosteiro de Jesus, a 12 de Maio de 1940, apenas com 38 anos de
idade. (5)
Logo após a sua morte, o povo de
Aveiro, antecipando-se ao julgamento da Igreja, começou a
denominá-la por santa e a venerá-la. D. Pedro II alcançaria mais
tarde do Papa Inocêncio XI o breve de 4 de Abril de 1693, no qual se
confirmava o culto, sendo concedida à Princesa a designação de beata
e o ofício e a missa próprios, para todo o País e para a Ordem
Dominicana.
O mesmo rei ordenou a renovação e o
aformoseamento do coro de baixo, onde Santa Joana havia sido
sepultada, e mandou substituir a urna, que continha os seus restos
mortais desde 1577, pelo valioso túmulo actual. Precioso trabalho de
mosaico de mármores polícromos, formando desenhos geométricos e
emblemas sagrados nas faces, a sua traça é do arquitecto real João
Antunes. (6)
O processo da canonização de Santa
Joana, iniciado em Maio de 1746, nunca foi concluído, por
desinteresse dos requerentes.
(7)
Durou quatro séculos a vida
conventual de Jesus, fortemente alentada pelo nome e pela santidade
da Princesa e a 2 de Março de 1874 faleceria a última religiosa e,
com o desenlace, fechar-se-ia o velho ciclo cenobítico.
(8)
2 – Santa Joana, Protectora de Aveiro
Encontramo-nos em 1773. D. José I,
em carta régia de 28 de Setembro, solicitava a Clemente XIV a
criação da Diocese de Aveiro. O papa, após minucioso inquérito,
deferiu o pedido do rei em breve de 12 de Abril do ano seguinte.
Estava erigida uma catedral entre nós.
(9)
A instauração da nova Diocese, na
mente de D. José I e do Marquês de Pombal, obedecia a um plano de
valorização local – tanto mais que Aveiro era também já um centro de
piedade à volta das cinzas da Princesa Santa Joana. Com efeito, a
vila fora elevada a cidade em 1759 e, no ano posterior, a sede da
/ 30 / provedoria ou
corregedoria era transferida de Esgueira para Aveiro; o Governo
mostrava ainda efectivo interesse pela melhoria da barra e pela
instalação de indústrias de vidro e de seda.
(10)
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PRINCESA SANTA
JOANA
(Retrato do quadro em trajo da corte da segunda metade do
século XV, existente no Museu de Aveiro) -
Versão a cores |
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Desde 1801 até 1813, esteve à frente
da Diocese o bispo D. António José Cordeiro, figura que aliava à
erudição, à energia, à firmeza de carácter e ao zelo apostólico, uma
virtude invulgar e uma extraordinária piedade; mostrou-se ainda um
insigne aveirense e um valoroso patriota na reacção e na luta contra
as incursões napoleónicas.
(11)
Já antes das invasões francesas, o
Prelado se havia interessado pelo culto de Santa Joana.
Efectivamente, a 29 de Abril de 1807, publicara o seguinte
documento:
«Desejando Nós concorrer quanto de
Nós depende para o culto e veneração da augusta Princesa de
Portugal, a Bem-aventurada Santa Joana, cujas sagradas relíquias se
conservam no real mosteiro de Jesus, desta cidade, e promover a
solenidade da sua festividade, reconhecendo os muitos benefícios de
que os Nossos diocesanos são devedores à mesma Santa Princesa;
Havemos por bem ordenar que os revs.
párocos e eclesiásticos assistentes nesta cidade vão com cota ou
sobrepeliz e barrete à solene procissão que se faz em cada um ano no
dia da festa da mesma Santa Princesa, para o que se ajuntarão na
catedral pelas três horas e meia da tarde, e daí sairão
processionalmente debaixo da cruz da mesma catedral em direitura à
igreja do dito real mosteiro para se encorporarem na referida solene
procissão». (12)
Brasão de D. António José Cordeiro,
Bispo de Aveiro.
Por seu turno, as dominicanas, «em
fins de 1806 ou princípios de 1807, dirigiram ao Príncipe Regente,
depois D. João VI, uma súplica, manifestando-lhe os desejos de que a
festividade da Princesa Santa Joana, que elas anualmente mandavam
celebrar, fosse feita com toda a pompa e luzimento».
(13) O
Príncipe, depois de ter a concordância do provedor da Comarca, da
Câmara de Aveiro e do procurador da Coroa, e depois de o
desembargador do Paço ter dado, a 27 de Janeiro de 1807, o seu
despacho favorável, determinou, por provisão passada a 12 de
Fevereiro seguinte, logo registada na Chancelaria a 17 do mesmo mês:
«... Hei por bem que a procissão que
no dia da festividade da Princesa Santa Joana se costuma fazer na
dita cidade [de Aveiro] seja considerada como real e que a ela
assista e a acompanhe o senado da Câmara da mesma cidade, que
nomeará as pessoas que deverão levar o pálio e insígnias principais,
e determinará o giro regular e decente da mesma procissão assim como
costuma praticar nas procissões reais, assistindo também com as suas
insígnias à Missa da festa do referido dia na dita igreja [do
mosteiro de Jesus] no lugar que lhe competir com decência e decoro
segundo as minhas reais ordens».
(14)
A Câmara Municipal de Aveiro
começou, deste modo, a tomar à sua conta, entre as festividades que
mandava celebrar com luzimento, também a de Santa Joana; e de tal
forma a devoção à Princesa se avolumou, que o culto de Santa Ana, há
séculos Padroeira de Aveiro, passou a segundo plano – para
finalmente entrar no olvido. Os próprios missais romanos, no
apêndice para Portugal, que nos anos de setecentos incluíam no
calendário de Aveiro os textos litúrgicos para a Mãe da Virgem
Maria, omitiram-nos nas edições do século XIX.
(15)
Iniciara-se, contudo, o período
difícil das lutas contra os franceses invasores. Formara-se mesmo em
Aveiro uma Junta Provisional, à semelhança da que fora
instituída no Porto e dela dependente, que era reconhecida pelas
autoridades civis, militares e eclesiásticas; urgia defender a
Nação. (16) Levado pela sua formação religiosa, D. António
José Cordeiro rogava instantemente aos diocesanos que pedissem a
ajuda divina, com a invocação de Santa Joana. A 5 de Agosto de 1808,
durante a primeira invasão e já escolhido como presidente da
Junta Provisional de Aveiro, escrevia em circular:
«Devendo Nós reconhecer que as
calamidades que temos sofrido são um efeito da vingança de Deus
Nosso Senhor pelos pecados com que temos ofendido e provocado a sua
ira, é preciso, amados irmãos e filhos caríssimos, por meio de
penitências
/ 31 / e de um perfeito
arrependimento das nossas culpas aplacar a ira do Senhor e
desarmarmos o braço da sua divina justiça, para que pela sua
misericórdia ponha termo ao castigo, de que Napoleão e as suas
tropas têm sido o instrumento, e proteja e auxilie as portuguesas e
as dos nossos fiéis aliados para serem inteiramente desbaratadas as
do inimigo e se concluir em todo o Reino a restauração da Monarquia
Portuguesa; e é também preciso ao mesmo tempo desagravar os
horríveis e sacrílegos desacatos que aquelas tropas francesas sem Fé
nem Religião têm feito tão repetidas vezes ao Santíssimo e Adorável
Sacramento do Altar, não só profanando os vasos sagrados mas também
lançando por terra ímpia e sacrilegamente as sagradas partículas.
Pelo que temos resolvido fazer, na tarde do dia 7 deste mês, uma
procissão de penitência que sairá da Nossa catedral, sendo levada
nela a devotíssima imagem do Senhor Ecce Homo, que se
encaminhará à igreja do real mosteiro de Jesus, aonde se venera o
corpo da Bem-aventurada Princesa Santa Joana, a quem já em princípio
da nossa consternação havíamos tomado por medianeiro para com o Pai
de Misericórdias, e outrossim, no dia 15 deste mês, expor o
Santíssimo Sacramento por todo o dia à adoração dos fiéis e na tarde
do mesmo dia fazer procissão de desagravo, da mesma forma que se faz
a do Corpo de Cristo».
Os párocos e clérigos seculares e
regulares da cidade deveriam concorrer à Sé com os fiéis e fazer
penitência, jejuns, esmolas, mortificações e orações; os pastores de
almas nas suas freguesias fariam uma ou outra procissão num dos dias
de preceito, logo que recebessem esta ordem, «que não demorarão na
sua mão mais de duas horas».
(17)
Todo o Reino estava levantado. O
inimigo era vencido na Roliça (17 de Agosto) e no Vimeiro (21 de
Agosto) pelas tropas anglo-Iusas; depois da Convenção de Sintra,
realizada a 30, os franceses retiraram-se em navios ingleses, com
armas, bagagens e riquezas roubadas. Acabara a primeira invasão.
(18)
A 24 de Agosto, já D. António, em
extensa circular, celebrava alegremente o facto. Tendo cessado o
flagelo, convidava todos os fiéis a darem graças a Deus. Informava
que, também por esse motivo, resolvera celebrar Pontifical na Sé no
dia 8 de Setembro, com sermão, exposição do Santíssimo Sacramento,
procissão eucarística até à igreja de Jesus, «aonde se venera o
corpo da Bem-aventurada Princesa de Portugal Santa Joana, cuja
intercessão para com o Pai das Misericórdias e o Deus de toda a
consolação havíamos implorado», cantando-se aí um solene te-deum,
e regresso em nova procissão para a sé; todo o clero, residente até
à distância de uma légua, viria tomar parte nestes actos religiosos.
Com as «devidas demonstrações de alegria» os párocos, «no primeiro
domingo ou dia festivo com o seu respectivo clero e povo, ou ao
menos uma pessoa de cada casa», cantariam o te-deum com as
preces do Ritual, nas igrejas das freguesias.
(19)
Entretanto, restabelecera-se a
regência do Reino e o País organizava-se para resistir a qualquer
novo ataque do inimigo.
(20) A 24 de Janeiro de 1809, o bispo
escrevia nova pastoral. Rogava a todos que impetrassem de Deus o seu
valimento; pedia também, afora outras orações e penitências, que se
implorasse, «com uma particular confiança e devoção, o patrocínio e
intercessão da Santíssima Virgem Mãe de Deus, Protectora do Reino, e
da Augusta Princesa de Portugal, Santa Joana».
(21)
Inesperadamente, porém, dá-se a
segunda invasão napoleónica nos princípios de 1809. Entrando por
Chaves, os franceses chegaram ao Porto, que logo capitulou;
estava-se nos fins de Março. Em Aveiro, aos primeiros rumores de
guerra, o povo armou-se, assumindo a orientação o prelado, que
mandou executar o plano de defesa do ano transacto. A tal ponto os
aveirenses não foram dos menos aguerridos, que o inimigo não
transpôs o rio Vouga para o sul; somando-se à divisão do coronel
inglês Trant no início de Abril, aguentaram a defesa e depois, a 10
de Maio, atravessavam para o norte. O Invasor, surpreendido em
Albergaria-a-Nova, nada mais teve a fazer do que retirar,
pressentindo-se já na derrota.
(22) A 19 do referido mês de
Maio, o segundo bispo de Aveiro mandava que se cantasse um
te-deum de acção de graças em todas as igrejas paroquiais.
(23)
Mas, em Junho de 1810, surgia de
novo o espectro da luta armada. Felizmente, marchando Massena para o
sul vindo de Cidade Rodrigo e depois da derrota do Buçaco, Aveiro
pôde respirar. Os seus habitantes, que se tinham refugiado nas
areias de São Jacinto e da Gafanha e nas ilhas da ria, começaram a
regressar e a retomar a vida normal.
(24) A 18 de Abril de
1811, o prelado anunciaria a derrota definitiva dos franceses,
possuído de intensa satisfação; por isso, mais uma vez prescrevia o
canto do te-deum em todas as igrejas; anunciava que, na
catedral, haveria a mesma cerimónia a 21 e, noutro dia a designar,
celebraria Pontifical pela manhã e presidiria à tarde, após um
sermão, a uma procissão eucarística até à «igreja do real mosteiro
de Jesus aonde se venera o corpo da Santa Princesa, cuja intercessão
havíamos implorado, e ali cantaremos outra vez o te-deum».
Desde já D. António José Cordeiro convidava para essas solenidades
todo o clero com domicílio dentro da área de uma légua e mandava que
se fizessem actos de desagravo pelos «horrorosos
/ 32 /
e sacrílegos desacatos»
contra o Santíssimo Sacramento, as imagens e os templos, «além de
outros muitos criminosos excessos» que cometeram os «bárbaros
inimigos sem religião, sem fé e sem moralidade».
(25)
Entretanto, ficava em Portugal, no
rescaldo das invasões francesas, um certo descontentamento social e
político. Em Aveiro, foi preponderante e decisiva a acção da loja
maçónica dos Santos Mártires.
MOSTEIRO DE JESUS – (Hoje Museu
de Aveiro)
O movimento revolucionário foi
alastrando por todo o País; o regime liberal eclodiria em 1820.
Promulgadas pelas novas Cortes as Bases da Constituição em Março de
1821, logo se procedeu ao seu juramento em toda a Nação. A cerimónia
realizou-se em Aveiro no dia 29, presentes a Câmara Municipal, o
prelado e as demais autoridades civis, militares e eclesiásticas. A
10 de Abril, foi o juramento das forças de linha, com parada em
Santo António; a seguir, todos se dirigiram para o convento de
Jesus, onde o vigário geral, Dr. Manuel Rodrigues de Araújo Taborda,
presidiu à Missa Solene e ao te-deum. Também nesta ocasião
não foi esquecida Santa Joana, junto de cujo túmulo se realizou a
cerimónia religiosa.
Apesar de tão grandes festas pelo
nascimento do liberalismo em Portugal, mesmo com a participação da
autoridade diocesana, não deviam ser pequenas as apreensões do
mosteiro de Jesus em face dos factos políticos que desde logo se
viram ser de tendência anticlerical. O futuro dar-lhe-ia razão.
(26)
3 – No declínio e na extinção do mosteiro de Jesus
Um decreto de 5 de Agosto de 1833,
assinado por D. Pedro IV, que obedecia aos princípios do
liberalismo, licenciava todos os noviços dos conventos e proibia a
admissão de novos; nos anos seguintes, ficariam sob a sua alçada os
mosteiros femininos. O País assistiria, então, durante dezenas de
anos, à morte lenta da vida claustral: o mosteiro fechava-se, ao
desaparecer a última professa, e os bens com o imóvel eram
incorporados na Fazenda Nacional. Quanto aos conventos masculinos, a
lei tornar-se-ia mais radical: seriam puramente extintos, em 1834,
pelo célebre decreto de 28-30 de Maio, e os frades espoliados do que
era seu, deixariam violentamente as casas.
(27)
Embora os recursos das dominicanas
se tivessem ressentido depois da extinção das Ordens Religiosas e
consequente desamortização dos seus bens, a festa de Santa Joana
continuava a ser a principal do mosteiro, entre as diversas que aí
se realizavam; as irmãs não podiam, todavia, dar à solenidade a
imponência do passado. Por tal razão, a Câmara Municipal não só
continuaria a estar presente mas também tomava a seu cargo, a partir
de 1844, as despesas da procissão, além do que lhe era devido pela
provisão real de 1807. Uns anos com mais brilho e outros com menos,
a festividade foi-se fazendo durante a progressiva decadência, tanto
do mosteiro de Jesus como da diocese de Aveiro.
Não se pode, contudo, deixar de
registar o facto de as festas de Santa Joana, celebradas em Maio de
1863, terem a presidência de D. Joaquim Moreira dos Reis, bispo
resignatário de Angola, convidado para o efeito; houve Pontifical,
pregando o Cónego Dr. José Joaquim de Carvalho e Góis, que seria
vigário geral de Aveiro em 1868-1869. Estava à frente do bispado o
Dr. José António Pereira Bilhano, por incumbência do arcebispo de
Braga.
/ 33 / A presença de um
prelado, como era um facto insólito desde há dezenas de anos, atraiu
muita gente a Aveiro e na procissão incorporaram-se os párocos da
cidade e dos arredores, as autoridades civis e militares, as
irmandades locais e a tropa aqui aquartelada.
(28)
A agonia do convento de Jesus de
Aveiro prolongou-se por quarenta anos, tudo se consumando a 2 de
Março de 1874. Estavam à frente do governo do Bispado, como vigário
geral efectivo o Dr. Manuel Augusto de Sousa Pires de Lima, quase
sempre ausente por causa dos afazeres no parlamento, e, como vigário
geral substituto, o Dr. Manuel Baptista da Cunha, mais tarde
arcebispo de Mitilene e depois arcebispo de Braga. Era administrador
apostólico da Diocese de Aveiro, nessa altura, D. José Joaquim de
Azevedo e Moura, arcebispo de Braga, que nomeara aqueles vigários
gerais. (29)
Já a 9 de Fevereiro daquele ano, o
delegado do Tesouro Público no Distrito de Aveiro, António Leite de
Sousa Reis, avisava a Direcção-Geral dos Próprios Nacionais de que a
última professa do convento, D. Maria Henriqueta dos Anjos Barbosa
Osório, se encontrava em perigo de vida; em face disso, perguntava
qual o destino a dar às recolhidas que com ela viviam, se o
desenlace surgisse. A 13 de Fevereiro, também o vigário geral
substituto pedia instruções à Secretaria de Estado de Negócios
Eclesiásticos e o delegado do Tesouro urgia cópia do inventário.
(30) A 18, oficiava o director-geral dos Negócios Eclesiásticos
ao Dr. Baptista da Cunha, solicitando informações sobre o destino
das senhoras recolhidas no mosteiro, que, «não podem ali
conservar-se depois de tomar posse [do edifício] a Fazenda
Nacional». (31)
D. Manuel Correia de Bastos Pina
Bispo de Coimbra
O vigário geral respondeu, a 23,
pedindo caridade para essas pobres senhoras, pois «seria grande
dureza e violência expulsá-las do convento imediatamente após o
falecimento da última freira».
(32)
Morta a última religiosa, o Dr.
Baptista da Cunha, logo no mesmo dia 2 de Março de 1874, expunha ao
director-geral dos Negócios Eclesiásticos o que pensava sobre o
futuro do edifício. Embora a Fazenda Nacional tomasse conta da casa,
«maior utilidade pública resultaria de ele ser concedido para ali se
estabelecerem as aulas e repartições públicas eclesiásticas deste
bispado e a residência do prelado»; além disso, ainda aí haveria
lugar «para a arrecadação dos objectos de maior valor pertencentes à
mitra, que até agora tinham sido guardados no convento de Jesus, e
para arrumação dos livros que escaparam à rapacidade e à voracidade
do incêndio que, em 1864, reduziu a cinzas a maior parte do paço
episcopal, parte dos quais estão a granel e mal acondicionados». O
vigário geral lembrava, portanto, a conveniência de «ser entregue ao
governo deste bispado o convento de Jesus, com alguns dos seus
rendimentos e a sua mobília, para ali se formar um seminário, ou ao
menos só o edifício com as suas dependências para ter o destino
acima indicado». (33)
Madre Maria Inês Champalimaud Duff -
Directora do Colégio de Santa Joana.
Contudo, surgiu imediatamente um
movimento diferente na cidade, encabeçado pela Câmara Municipal e
acarinhado pelas recolhidas, com o qual se pedia ao rei a
conservação do mosteiro como recolhimento ou casa de educação e
ensino. (34) O próprio vigário geral substituto, a 10 de
Março, dava a sua opinião e fazia nova proposta, escrevendo ao
mencionado director-geral:
«Com referência ao conteúdo no meu
ofício de 2 do corrente, cumpre-me acrescentar que, tendo-me
constado, depois de expedido o mesmo ofício, haver-se assinado nesta
cidade uma representação pedindo a conservação do convento de Jesus
como colégio de educação para o sexo feminino e parecendo-me ser de
reconhecida utilidade pública a fundação de um semelhante
estabelecimento, cuja falta é de há muito sentida no Distrito de
Aveiro, entendo que a conveniência de ter aquele convento o destino
indicado é superior à de ele ser dado para seminário diocesano.
Assim, pois, é somente no caso de não se fundar no convento colégio
para o sexo feminino que eu peço a concessão dele para seminário, ou
ao menos para a instalação das repartições e aulas eclesiásticas e
residência do prelado».
(35)
/
34 /
De facto, o Governo atendeu às
instantes súplicas dos aveirenses e, por uma portaria de 22 ou 30 de
Maio de 1874, autorizava a conversão do mosteiro de Jesus em colégio
feminino, sob a orientação da pupila D. Leonor Angélica Cardoso de
Lemos; a nova instituição passou a denominar-se Colégio de Santa
Joana Princesa. (36) O colégio, todavia, a braços com
graves diliculdades, mal iniciou então a sua acção benéfica;
(37)
anos mais tarde, já extinto o bispado em 1882 e incorporada a cidade
de Aveiro no território do de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos
Pina teve mesmo de se
opor à aplicação do edifício a
hospital ou às repartições do governo civil e conseguia que o Estado
ordenasse a imediata reparação do que fosse mais urgente.
(38)
O bispo de Coimbra recorreu depois à
Congregação de Santa Catarina de Sena das Irmãs Terceiras
Dominicanas, no sentido de melhorar o colégio; para o efeito
entendeu-se com D. Teresa Saldanha de Oliveira e Sousa, irmã do
Marquês de Rio Maior, que, embora ainda não tivesse professado,
dirigia a Congregação que fundara. De facto, após algumas
diligências, o colégio de Santa Joana reabriria com novo vigor a 10
de Novembro de 1884; as irmãs tomaram simultaneamente à sua guarda a
casa e as relíquias da Padroeira de Aveiro.
(39) Graças a
Bastos Pina, assim se consolidara a existência do que, «sendo um dos
primeiros do País, é o assombro de todos os que de longe e de perto
o visitam». (40)
Durante vinte e cinco anos, centenas
de meninas passaram pelo Colégio de Santa Joana, sob a égide da
sempre recordada Madre Maria Inês Champalimaud Duff. D. João
Evangelista de Lima Vidal escreveria mais tarde:
«A alma ardente de um bispo que por
aqui passou – D. Manuel Correia de Bastos Pina – a um doce ninho de
oração, de recolhimento e de penitência, que ali se abrigara em
Jesus à sombra das velhas telhas dominicanas, fez suceder, sem lhe
alterar em nada o seu ar celeste, mas abrindo-lhe horizontes mais
largos, mais em conformidade com as condições e as exigências dos
tempos, um colégio famoso de educação de meninas, que teve o nome,
ainda hoje tão recordado, de Colégio de Santa Joana Princesa de
Aveiro [...]. Só Deus sabe ao certo a soma exacta dos benefícios
que espalhou pela cidade e pelo País inteiro o colégio de Santa
Joana». (41)
A 5 de Outubro de 1910, foi a
implantação da República em Portugal. O novo regime, embora pugnando
pela liberdade total, a 8 de mesmo mês restabelecia plenamente as
leis do Marquês de Pombal, de Joaquim António de Aguiar e de Anselmo
José Braamcamp sobre a Companhia de Jesus e todas as demais Ordens e
Congregações Religiosas.
(42) A 18 de Outubro, saíram do
mosteiro de Jesus as últimas religiosas e, a 21, foi transferido o
Santíssimo Sacramento para a vizinha igreja da Glória.
(43) O
histórico edifício conventual, depois de entregue, a 11 de Julho de
1911, à Câmara Municipal, viu-se transformado em museu, na parte
contígua ao claustro e à igreja. A nova instalação teve efeito pela
portaria de 23 de Agosto.
(44)
Assim a renascida diocese de Aveiro,
restaurada em 1938, encontrou o convento de Jesus: museu belo mas
morto, que guarda dentro das suas paredes preciosidades de história
e de arte, onde se encontram também as cinzas vivas de santidade da
Princesa, protectora de Aveiro.
4 – Na Diocese de Aveiro, após a sua restauração
É interessante notar que, desde o
início da campanha pelo ressurgimento do bispado, os aveirenses se
voltaram piedosamente para aquela que, deixando Lisboa, viveu,
morreu e foi sepultada entre eles; os católicos aveirenses confiaram
em que Santa Joana não deixaria de ser a sua celeste Protectora.
Logo no dia 24 de Março de 1931, uma
comissão foi à Nunciatura Apostólica, em Lisboa, e falou com
/ 35 / Mons.
Giovanni Beda Cardinale, solicitando-lhe o valimento a favor da sua
pretensão. (45) Na mesma altura confiaram ao Núncio
Apostólico, para ser entregue ao Santo Padre Pio XI, uma exposição
por escrito. Nela se historiavam os efeitos perniciosos da extinção
da diocese, ao mesmo tempo que se apontavam as razões para o seu
restabelecimento. Quase a terminar, dizia a referida exposição:
«Com a protecção da Princesa Santa
Joana, cujas cinzas se guardam em precioso túmulo no convento de
Jesus de Aveiro, da qual é patrona, [...] a coragem e a boa vontade
jamais nos faltarão a favor deste nosso empreendimento.»
(46)
O primeiro bispo de Aveiro, na
segunda fase da diocese, foi D. João Evangelista de Lima Vidal,
aveirense de nascimento e amigo entranhado da sua terra; tendo
celebrado a Missa Nova na igreja de Jesus a 25 de Dezembro de 1896,
levado pela devoção à Princesa e pelo agradecimento do que devia à
sua intercessão e do que recebera do colégio quando criança,
(47)
aí pregou diversas vezes na festividade de Santa Joana.
(48)
Restaurada a diocese de Aveiro em
1938, logo D. João Evangelista de Lima Vidal procurou incentivar o
culto da Padroeira. É que, encerrados embora em precioso sepulcro,
os seus restos mortais encontravam-se quase abandonados e sem a
devoção daqueles que têm a honra de os possuir na sua cidade.
Olhava-se para a beleza do cofre raro como peça de museu e não se
reparava no fulgor que ainda vem do seu íntimo, rompendo a dureza do
mármore, a lembrar virtude e santidade. A 15 de Janeiro de 1939, já
em Aveiro se realizava a primeira grande peregrinação ao glorioso
sepulcro de Santa Joana.
(49) Nessa altura, escreveu e disse
o arcebispo:
|
|
|
|
D. João
Evangelista de Lima Vidal.
Arcebispo-Bispo de Aveiro |
|
«Seja como for, o que me incumbe
desde já, e ardentemente, é procurar, quanto em mim caiba, não
deixar cair este nome nas sombras do silêncio e do sono, é limpar de
uma primeira camada de poeira o manto da Santa Princesa; é acender
uma lâmpada à beira do seu sepulcro; é fazer ouvir, aos quatro lados
do seu mausoléu, o murmúrio suave das preces e dos corações dos
fiéis; é dizer às aranhas e aos vermes, e a todos esses micróbios
que se valem do esquecimento e da noite para viverem: para fora
daqui, parasitas; o corpo de uma Santa não é pasto miserável para a
vossa fome; para fora daqui, importunos, vós não sois coroa para a
fronte imaculada da Santa; dai-lhe lugar à luz, à luz refulgente do
meio-dia; dai-lhe lugar às flores, flores de fragrância, flores ele
brancura; dai-lhe lugar à luz, à luz das velas, brilhantes como
estrelas do céu; dai-lhe lugar ao incenso, que rola em espirais ao
trono de Deus; dai-lhe lugar às preces, ao doce sussurro das almas;
dai-lhe lugar ao amor, que é afinal a luz dos nossos olhos, a vida
da nossa vida, a alma da nossa alma».
(50)
No mesmo ano, verificar-se-iam mais
duas peregrinações ao túmulo de Santa Joana: uma do arciprestado de
Vagos, a 16 de julho de 1939;
(51) outra, a 15 de Outubro, de
Águeda e ílhavo com suas freguesias.
(52) O povo, em grande
número, concentrou-se na Avenida nas Tílias, no Parque. Celebrada a
Missa, todos se dirigiram para a catedral e depois para a igreja de
Jesus, em cortejos a que Aveiro não estava habituado.
Ainda em 1939, a 9 de Novembro,
iniciou-se a celebração da Missa às quintas-feiras, na mencionada
igreja de Jesus, que se prolongou durante algum tempo.
(53)
Mais tarde, a partir de 5 de Novembro de 1950, dar-se-ia continuação
ao culto nesse histórico templo, com a liturgia dominical;
(54)
continua a haver concorrência de devotos que aproveitam essa ocasião
para também prestarem veneração à Princesa que, deixando a corte,
escolheu a pobre vila de Aveiro e fez nela a sua «Lisboa a pequena».
(55)
Seminário de Santa Joana Princesa, em
Aveiro.
Em Junho de 1940, sob a presidência
do cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, foram
efectuadas invulgares festas em honra de Santa Joana, ainda como
acção de graças pela restauração da diocese de Aveiro. Depois da
novena preparatória,
/ 36 / realizou-se, na manhã
do dia 15, uma Missa campal no Parque, seguida de pereginação ao
túmulo; no dia 16, o cardeal patriarca celebrou Pontifical, segundo
o rito joanino, e presidiu à procissão; e, no dia imediato, houve um
sarau de gala no Teatro Aveirense.
(56)
A 24 de Agosto de 1941, terceiro
aniversário da assinatura da bula pontifícia da reconstituição do
bispado, o prelado de Aveiro promoveu uma nova peregrinação
diocesana, que se concentrou na igreja da Vera-Cruz e no largo
fronteiriço, dirigindo-se depois para o túmulo.
(57)
As festas de 1942, a 23 e 24 de
Maio, tiveram uma circunstância que as assinalou: é que, no primeiro
desses dias, na presença de autoridades e de muito povo, colocou-se
oficialmente e solenemente se benzeu a primeira pedra do seminário
diocesano de Aveiro, que tem o nome de Santa Joana.
(58)
Em 1948, efectuaram-se as chamadas
festas da cidade; também no programa foi inserida, a 23 de Maio, a
festividade litúrgica da Padroeira, com as cerimónias do costume.
(59) De igual forma em 1952 – ano do quinto centenário do seu
nascimento (60) – e em 1959 – ano do milenário de Aveiro
(61) – incluiu-se a mesma festa nas da cidade, respectivamente a
11 de Maio e a 28 de Junho.
Pormenor do Seminário de Santa Joana
Princesa, em Aveiro.
O feriado municipal em Aveiro, desde
1951, é o dia 12 de Maio, aniversário da morte de Santa Joana e seu
dia litúrgico; nele se tem celebrado anualmente a festa religiosa da
Princesa, pelo menos com Missa solene e procissão, sob a presidência
do prelado diocesano.
Em 1964, completados os vinte e
cinco anos da sua nova existência, a diocese agradeceu, a 12 de
Maio, os primeiro cinco lustros cravejados de favores de Deus e
perfumados pela protecção da Padroeira. Na verdade, Santa Joana tem
estado presente na piedade dos crentes, quer nas horas de grande
regozijo como em 1938, quer nos momentos perturbantes de aflitiva
inquietação como nos princípios do século passado. A luz que lhe
encheu os olhos é a mesma que, com o ar salgado do oceano e da ria,
a todos nos irmana.
Decorreram com dignidade as
cerimónias habituais; nessas horas, todos estiveram presentes,
mortos e vivos, os de perto e os de longe, a agradecer dons
recebidos e a rogar novos favores. Após o Pontifical da manhã,
cantou-se à tarde o te-deum, na presença das autoridades;
Santa Joana foi piedosamente evocada. Sempre sob a presidência de D.
Manuel de Almeida Trindade, actual bispo de Aveiro, seguiu-se a
procissão, entre o repique dos sinos, no meio de alas de povo, com
aprumo, devoção e amor. Assim terminaria um dia grande para a cidade
e para a diocese, que souberam ajoelhar diante de Deus em oração
reconhecida. (62)
5 – Finalmente... Padroeira de Aveiro
A 21 de Junho de 1959, em documento
público dirigido aos seus diocesanos, o bispo de Aveiro, D. Domingos
da Apresentação Fernandes, manifestava o desejo de impulsionar mais
o culto da Princesa e de envidar os esforços para que fosse retomado
o processo da
/ 37 / sua canonização,
suspenso desde os meados do século XVIII; nesse sentido, nomeou uma
comissão para tratar das questões referentes, de colaboração com o
postulador da Ordem Dominicana.
(63) Criava ainda, na mesma
data, a associação dos Pagens de Santa Joana Princesa,
destinada a jovens de ambos os sexos, com sede na igreja de Jesus,
(64) onde também – canonicamente erecta já desde 1877 –
existe a Real Irmandade de Santa Joana Princesa.
(65)
D. Manuel de Almeida Trindade
(actual Bispo de Aveiro)
Em Aveiro, como se disse, «a
excelente Infanta e singular Princesa»
(66) começou a ser
considerada pelo povo como sua celestial Padroeira, a partir do
início do século XIX, aquando das invasões francesas. Todavia, a
confirmação ou o reconhecimento da Santa Sé apenas se daria passado
mais de século e meio.
Com efeito, a 17 de Julho de 1964,
D. Manuel de Almeida Trindade dirigiu ao papa uma petição,
requerendo que Santa Joana, embora apenas beatificada, fosse
daclarada Padroeira da cidade e da diocese de Aveiro, um vez que
nunca havia sido reconhecida como tal.
(67)
Ouvida a Sagrada Congregação dos
Ritos, Paulo VI assinava, a 5 de Janeiro de 1965, um breve em que
determinava:
«Nós, portanto, de muito bom grado
resolvemos atender ao pedido, no desejo de premiar condignamente tão
piedosa devoção popular. [...] Com conhecimento certo e prudente
deliberação e pelo Nosso poder apostólico, por este breve
perpetuamente confirmamos ou constituímos e declaramos a
Bem-aventurada Joana, Princesa de Portugal, como principal Padroeira
junto de Deus para a cidade e para toda a diocese de Aveiro,
/ 38 / com todos as honras
anexas e privilégios litúrgicos que legalmente competem aos
padroeiros principais dos lugares».
(68)
A 13 de Março seguinte, o referido
dicastério romano autorizava que, na diocese de Aveiro, a festa
litúrgica de Santa Joana, decorrente a 12 de Maio, fosse de segunda
classe, com missa e ofício próprios.
(69)
Em nota pastoral de 7 de Abril, D.
Manuel de Almeida Trindade deu então aos seus diocesanos a «feliz
notícia» do bom termo das diligências efectuadas, depois de ter
seriado resumidamente as manifestações de culto à volta da figura de
Santa Joana e de haver aludido a trabalhos de investigação sobre a
sua vida. O actual prelado de Aveiro também augurava: – "Oxalá este
facto venha despertar ainda mais, não só na cidade mas ainda em toda
a diocese, a devoção a Santa Joana e em breve possamos ver concluído
o processo da sua canonização».
(70)
Na Assembleia Nacional, um dos
deputados do distrito, o Dr. Belchior Cardoso da Costa, referiu-se
ao jubiloso acontecimento na sua intervenção de 23 de Abril. Num
discurso cheio de ponderação falou da devoção dos povos de Aveiro a
Santa Joana e dos predicados humanos e virtudes cristãs da Princesa
e fez votos por que um dia se alcance a suprema glorificação da
Igreja para a Filha de D. Afonso V; «penso mesmo – disse – que
caberá bem aos nossos representantes oficiais junto da Santa Sé
tomar partido por esta nobre causa e auxiliar o insigne prelado nos
altos propósitos que o orientam e o dominam em matéria de tanta
sublimação e da mais importante transcendência para o progresso
espiritual do nosso povo».
(71)
Também a Câmara Municipal de Aveiro,
representante autorizada das gentes da sua jurisdição, não podia
faltar com o seu aplauso. Na reunião ordinária de 26 de Abril,
aprovou por unanimidade a proposta do presidente, Dr. Artur Alves
Moreira, para que se exarasse na respectiva acta «um voto de
congratulação e regozijo pelo facto de Sua Santidade o Papa Paulo VI
[..,] ter constituído Santa Joana Princesa Padroeira principal da
cidade e da diocese de Aveiro» e se formulasse «o veemente desejo de
que o processo da sua canonização se conclua o mais brevemente
possível». (72)
Aspecto de uma procissão de Santa
Joana.
Falando da augusta Filha de D.
Afonso V, escreveu o historiador Frei Luís de Sousa: – «E não
ficaram só encerradas nos claustros do mosteiro as virtudes desta
Senhora; passavam fora e chegava o zelo em que ardia da honra de
Deus a procurar com eficácia que
/ 39 / não houvesse na vila
quem vivesse com escândalo ou em mau estado; e, tendo notícia de
algum, dava-lhe remédio com seu poder e cuidado».
(73)
Pois agora, volvidos cinco séculos
sobre a sua vida, pela mesma cidade que ela amou e por esta diocese
marinha e lagunar continua a velar e a rezar junto de Deus a
Princesa Real que piedosamente invocamos. Convencidos da verdade da
sua fé, que sempre desejaram viver e transmitir, os nossos bispos
têm procurado estimular a devoção a Santa Joana, como ajuda para
todos no caminho do bem e no culto da virtude, de que ela é modelo.
Aveiro possui diversos luminares de
primeiro plano em vários campos de actividade; também pode
legitimamente orgulhar-se desta sua filha adoptiva que, trocando
corajosamente o fausto da corte pela pobre vila de então, escolheu a
nossa terra para aqui viver com humildade e serenamente morrer.
As gentes da beira-ria, no meio de
quem a Princesa ficou sepultada, não querem ter as relíquias
venerandas da sua Padroeira como simples objecto de frio museu,
guardadas embora em carinho e cuidado; mais do que isso, desejam
constantemente rodeá-Ias com o incenso de religioso amor e com o
murmúrio de íntima prece. É que as personagens heróicas do passado
serão tanto mais úteis no presente, quanto mais as inserirmos na
vida de todos os dias.
________________________________
NOTAS:
(1)
– A bula pontifícia, cujo original reapareceu em 1967, foi
reproduzida em gravura e transcrita pelo Dr. António Gomes da Rocha
Madahil na revista ARQUIVO DO DISTRITO DE AVEIRO, 1967, VoI. XXXIII,
n.º 130, pgs. 81-92; o Dr. Francisco Ferreira Neves, na mesma
revista – 1958, XXIV, n.º 95, pgs. 207-210 – já a havia transcrito e
traduzido sobre o treslado de 1769. O Padre Dr. Domingos Maurício
Gomes dos Santos, S. J., em O MOSTEIRO DE JESUS DE AVEIRO, VoI. II/2,
Lisboa, 1967, pgs. 363-364, também a publicou e traduziu.
(2)
– Maurício dos Santos, ob. cit., Vol. I/1, Lisboa, 1963, pgs. 3-115;
Rangel de Quadros, AVEIRO (APONTAMENTOS HISTÓRICOS) – Mosteiros e
Conventos – II – Mosteiro de Jesus.
(3)
– Frei Luís de Sousa, HISTÓRIA DE S DOMINGOS, VoI. III, Livro V, 3.ª
edição, Lisboa, 1866, pg: 404.
(4)
– Margarida Pinheiro, na CRÓNICA DA FUNDAÇÃO DO MOSTEIRO DE JESUS DE
AVEIRO E MEMORIAL DA INFANTA DONA JOANA, existente na
biblioteca-arquivo do Museu de Aveiro, fI. 56 r a e b (Leitura,
revisão e prefácio de Rocha Madahil e ed. de Ferreira Neves –
Aveiro, 1939, pg. 89), escreveu: – «E ainda que de tão nova idade
fosse, quantos a viam e ouviam julgavam ser de vinte cinco ou trinta
anos per sua grande prudência e saber. Era no rosto e corpo mui
aposta, a fronte muito graciosa, os olhos verdes mui fremosos, o
nariz meão e de boa feição, a boca grossa e revolta, rosto redondo,
o carão alvo com alguma quanta quer cor bem posta, muito fremosa
garganta e mãos mais do que se pudesse achar e ver a nenhuma outra
mulher, alta e grande de corpo direito, mui aposto e airoso à vista
e representação de grande senhora e estado». A cronista a seguir
alude à sua «vida angélica» e depois, sobretudo nas disputas com D.
João II, à sua firmeza de carácter.
(5)
– Maurício dos Santos, ob. cit., Vol. I/1, pgs. 36-114; Margarida
Pinheiro, ob. Cit. (CRONICA...).
(6)
– Maurício dos Santos, ob. cit., Vol. I/2, pgs. 185-223; no Vol. II/3,
pgs. 602-603, publicou este autor o breve da beatificação
equipolente de Santa Joana.
(7)
– Ibid., pgs. 224-246.
(8)
– Vd. à frente, n.º 3.
(9)
– J. G. Gaspar, A DIOCESE DE AVEIRO, Aveiro, 1964, pgs. 40-47.
(10)
– Ibid., pg. 39; Eduardo Cerqueira, O Milenário de Aveiro e o
Bicentenário da sua elevação a cidade – ARQUIVO DO DISTRITO DE
AVEIRO, 1959, Vol. XXV, n.º 100, pg. 252.
(11)
– J. G. Gaspar, ob. cit., pgs. 69-1O2.
(12)
– Biblioteca – Arquivo do Museu de Aveiro – Livro das Pastoraes
dos Ex. Bispos d'Aveiro – Liv. I (1776-1836), fls. 254-255.
(13)
– Rangel de Quadros, AVEIRO (APONTAMENTOS HISTÓRICOS.) – III –
Festividades Municipais – XI – Festa e Procissão da Princesa Santa
Joana.
(14)
– Dos livros da Câmara Municipal, n.º 3, fls. 164, transcrito no
jornal aveirense CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS, ano 49, n.º 25, de
11-5-1901; Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D.
João VI, Livro XI, fls. 9-v.; Maurício dos Santos, ob. cit.,
I/3, pg. 356 e II/3, pg. 608.
(15)
– Com efeito, hoje já ninguém em Aveiro lembra Santa Ana como sua
Padroeira. Rangel de Quadros, em AVEIRO (APONTAMENTOS HISTÓRICOS) –
III – Festividades Municipais – II – Festa da Gloriosa Santa Ana,
escreveu sobre a origem desta antiga devoção entre pôs: – «Em Aveiro
houve uma terrível peste, que muitas vítimas causou e muito assustou
os habitantes da localidade. Diversos escritores se referem a este
facto, mas não lhe assinalam a época. É possível que fosse nos
princípios da Monarquia. Sabe-se que o povo, aterrado com tal
acontecimento, recorreu ao patrocínio da gloriosa Santa Ana,
tomando-a desde então como Padroeira de Aveiro e prometendo
prestar-lhe culto e festejá-la muito especialmente no dia em que
dela reza a Igreja, 26 de Julho».
De 1807 a 1874 inclusive, sempre a
Câmara Municipal de Aveiro deu luzimento à procissão de Santa Joana,
excepto nos anos de 1834-1843, em que apenas houve festa no interior
da igreja, a que o Senado Municipal assistiu. Em 1875 e 1876, a
solenidade realizou-se por iniciativa de comissões particulares, não
estando presentes nem as autoridades civis nem a Câmara. Em 1877 foi
criada a Irmandade de Santa Joana que tomou à sua conta a festa e a
procissão, em que se incorporou a Câmara até 1910. Os novos
Estatutos da Irmandade de Santa Joana Princesa de Portugal, datados
de 1-6-1924, impõem à respectiva Mesa (art.º 10.º, n.º 4.º) a
obrigação de «dar conhecimento à Câmara Municipal de Aveiro do dia e
hora em que devem ter lugar a solenidade e procissão da Santa
Princesa, a fim de assistir àquelas solenidades e procissão e de
concorrer, querendo, para as despesas da mesma procissão, segundo a
antiga prática da mesma Câmara». Actualmente, esta é convidada e
voluntariamente participa nas cerimónias. Vd. Maurício dos Santos,
ob. cit., Vol. I/2, pgs. 247-2.19.
(16)
– Marques Gomes, SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DE AVEIRO. Aveiro, 1899,
pgs. 548-549, citando o Lívro n.º 3 do Regulamento da Câmara de
Aveiro.
(17)
– Livro das Pastoraes dos Ex. Bispos d'Aveiro cit., fls. 256-259.
(18)
– HISTÓRIA DE PORTUGAL, Barcelos, VoI. VI, 1934, pgs. 337-339.
(19)
– Arquivo de Igreja Paroquial da Vera-Cruz (Aveiro) – Livro da
freguesia de Nossa Senhora da Apresentação da Vila de Aveiro aonde
se registam, copiam e ajuntam as Pastorais do ilustríssimo e
Reverendíssimo Senhor Bispo Conde da Cidade e Bispado de Coimbra.
(Contém também as dos Bispos de Aveiro) , fls. 125-126, v.;
Biblioteca-arquivo do Museu de Aveiro, Livro das Pastoraes cit.,
fls. 259-268.
(20)
– HISTÓRIA DE PORTUGAL cit., pgs. 339-340.
(21)
– Arquivo da Igreja Paroquial da Vera-Cruz (Aveiro) – Livro cit.
fls. 127-127, v.
(22)
– HISTÓRIA DE PORTUGAL cit., pgs. 339-343; Marques Gomes, CENTENÁRIO
DA GUERRA PENINSULAR (1808-1908) – NOTAS E DOCUMENTOS, Aveiro, 1908,
pg. 28; Maurício dos Santos, ob. cit., Vol. I/3, pg. 375.
(23)
– Arquivo da Igreja Paroquial de Eixo, – Livro das Pastorais do
Bispado de Aveiro (1803-1881), fls. 29, v.-30, v.
(24)
– HISTÓRIA DE PORTUGAL cit. pgs. 346-351; Marques Gomes, ob. cit.,
pg. 28; Maurício dos Santos, ob. Cit., Vol. I/3, pg. 378.
(25)
– Arquivo da Igreja Paroquial da Vera-Cruz (Aveiro) – Livro cit.,
fls. 133-134.
(26)
– Maurício dos Santos, ob. cit., Vol. I/3, pgs. 386-387; Marques
Gomes, CENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 1820 – INTEGRAÇÃO DE AVEIRO NESSE
GLORIOSO MOVIMENTO, Aveiro, 1920, pgs. 22 e 55.
(27)
– Maurício dos Santos, ob. cit., Vol. I/3, pg. 402, CHRONICA
CONSTITUCIONAL DE LISBOA, n.º 127, de 31-5-1834.
(28)
– Maurício dos Santos, ob. cit., VoI. I/3, pgs. 412-413. (29) – J.
G. Gaspar, ob. cit., pgs. 193-210.
(29)
– J. G. Gaspar, ob. cit., pgs. 193-210
(30) – Maurício dos Santos,
ob cit., Vol. I/3, pg. 448.
(31)
– J. G. Gaspar, ob. cit., pg. 199.
(32)
– Arquivo da Cúria Diocesana de Aveiro, Registo de Ofícios do
Dr. Manuel Baptista da Cunha como vigário geral substituto, Livro I,
fls. 33-33, V.
(33)
– Ibid., fls. 34, v.-35, v.
(34)
– Maurício dos Santos, ob. cit., Vai. 1/3, pg. 452; Rangel de
Quadros, AVEIRO (APONTAMENTOS HISTÓRICOS) – Mosteiros Conventos –
IV – II – Mosteiro de Jesus.
(35)
– Arquivo da Cúria Diocesana de Aveiro, Registo cit., fls.
37-37, v.
(36)
– Maurício dos Santos, ob. cit., Vol. I/3. pg. 457; Arquivo da
Congregação das Irmãs Terceiras Dominicanas, Crónica, III, pg. 108.
(37)
– Ibid.
(38)
– Marques Gomes, D. MANUEL CORREIA DE BASTOS PINA – ESBOÇO
BIOGRÁFICO, Porto, 2.ª edição, 1898, pg. 95;
Maurício dos
Santos, ob. cit., I/3, pg, 458; INSTITUIÇÕES CHRISTÃS (revista),
Coimbra, 2.ª série, n.º 3, de 5-8-1883, pg. 72.
(39)
– Maurício dos Santos, ob. cit., I/3, pgs. 459-462; Arquivo da
Congregação das Irmãs Terceiras Dominicanas, Crónica, III, pgs.
113-117.
(40)
– Marques Gomes, ob. cit., pg. 96.
(41)
– CORREIO DO VOUGA (semanário diocesano), n.º 1178, de 30-1-1954, pg.
1.
(42)
– DIÁRIO DO GOVERNO, de 10-10-1910.
(43)
– Maurício dos Santos, ob. cit., I/3, pg. 490.
(44)
– Ibid., pgs. 490-491; Marques Gomes, Museu Regional de Aveiro,
em ALMANAQUE ILUSTRADO DE A LIBERDADE PARA 1913, pgs. 214-222.
(45)
– CORREIO DO VOUGA cit., n.º 19, de 29-3-1931, pg. 2.
(46)
– Ibid., n.º 57, de 17-1-1932, pg. 4.
(47)
– ARQUIVO DO DISTRITO DE AVEIRO cit., Algumas notas biográficas
de D. João Evangelista de Lima Vidal, 1938, VoI. IV, n.º 16, pgs.
257-258.
(48)
– Dos seus sermões, mandou imprimir o PANEGYRICO DE SANTA JOANNA
PRINCEZA, recitado na Egreja de Jesus, em Aveiro, no dia 15 de Maio
de 1898; Coimbra, 1899.
(49)
– Referido em CORREIO DO VOUGA cit., n.º 1089, de 10-5-1952, pg. 13
(Efemérides).
(50)
– CORREIO DO VOUGA cit., n.º 413, de 12-2-1939, pg. 1.
(51)
– Ibid., n.º 435, de 22-7-1939, pg. 2.
(52)
– Ibid., n.º 448, de 21-10-1939, pgs. 1-3.
(53)
– Ibid., n.º 452, de 18-11-1939, pg. 2.
(54)
– Ibid., n.º 1014, de 11-11-1950, pg. 2
(55)
– Margarida Pinheiro, ob. cit. (Leitura de Rocha Madahil), pg. 177;
«ao qual [mosteiro] chamava minha Lisboa a pequena»; no manuscrito,
fls. 105 v b.
(56)
– CORREIO DO VOUGA cit., n.º 478, de 25-5-1940, pg. 1, e n. º 482,
de 22-6-1940, pgs. 1-3.
(57)
– Ibid., n.º 543, de 30-8-1941, pg. 1.
(58)
– Ibid., n.º 581, de 30-5-1942, pg. 2.
(59)
– Ibid., n.º 888, de 29-5-1948, pg. 2.
(60)
– Ibid., n.º 1090, de 17-5-1952, pgs. 1, 4, 5 e 10. A 14-5-1953 foi
posto a circular no país um selo de correio de dois valores – 1$00 e
3$50 – comemorativo do V Centenário do nascimento de Santa Joana;
reproduzia a tábua quatrocentista existente no Museu de Aveiro (Vd
CORREIO DO VOUGA, n.º 1140, de 9-5-1953, pg. 12). .
(61)
– Ibid., n.º 1455, de 4-7-1959, pgs. 14 e 4.
(62)
– CORREIO DO VOUGA cit., n.º 1697, de 8-5-1964, pg. 4; e n. º 1698,
de 15-5-1964, pg. 7.
(63)
– Ibid., n.º 1454, de 27-6-1959, pgs. 1 e 4.
(64)
– Ibid., pg. 4.
(65)
– O documento comunicando a aprovação civil na sessão de 23 tem a
data de 26 de Março de 1877; a aprovação canónica é de 7 de Abril (Vd.
Estatutos da Real Irmandade do Santa Joanna Princeza de PortugaI
Filha de El-Rei D, Afonso V, Coimbra, 1877, pgs. 15-16). Por
decreto de 5 de Maio do mesmo ano foi-lhe permitido usar o título de
Real.
(66)
– Margarida Pinheiro, ob. cit., pg. 79, na «leitura» cit.; no
manuscrito, a fls. 50 v a.
(67)
– Existe cópia do documento no Arquivo da Cúria Diocesana de
Aveiro; foi publicado por Rocha Madahil no ARQUIVO DO DISTRITO DE
AVEIRO, 1966, VoI. XXXII, n.º 127, pgs. 161-176 (Princesa Santa
Joana – Do Senhorio Temporal da Vila ao Padroado Espiritual da
Cidade e da Diocese de Aveiro).
(68)
– ACTA APOSTOLICAE SEDIS (Órgão oficial da Santa Sé), 1965, Ano e
VoI. 57, n.º 10, pgs. 716-717; CORREIO DO VOUGA, n.º 1744, de
9-4-1965, pg. 1; ARQUIVO DO DISTRITO DE AVEIRO, Rocha Madahil, art.
cit., pgs. 169-170.
(69)
– Arquivo da Cúria Diocesana de Aveiro; CORREIO DO VOUGA, n.º 1744,
de 9-4-1965, pg. 5; ARQUIVO DO DISTRITO DE AVEIRO, art. cit. de
Rocha Madahil, pg. 174. Já a 23 de Maio de 1959, a Santa Sé
autorizara que a Princesa fosse Padroeira secundária do Seminário
que, desde o início, tem o seu nome (Arquivo da Cúria Diocesana de
Aveiro).
(70)
– CORREIO DO VOUGA, n.º 1744, de 9-4-1965, pgs. 1 e 10; ARQUIVO DO
DISTRITO DE AVEIRO, Rocha Madahil, art. cit., pgs. 170-174.
(71)
– CORREIO DO VOUGA, n.º 1747, de 7-5-1965, pgs. 1 e 5; ARQUIVO DO
DISTRITO DE AVEIRO, Rocha Madahil, art. cit., pg. 175; DIÁRIO DAS
SESSÕES da Assembleia Nacional, de 24-4-1965, n.º 203, pgs.
4862-4864.
(72)
– Arquivo da Cúria Diocesana de Aveiro; CORREIO DO VOUGA, n.º 1747,
de 7-5-1965, pg. 2.
(73)
– Frei Luís de Sousa, HISTÓRIA DE S. DOMINGOS, Vol., Liv. e Ed,
cit., pg. 399 |