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Antologia Aveirense
FRANCISCO JOAQUIM BINGRE
NOTAS
BIOGRÁFICAS |
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Francisco Joaquim Bingre, que usou
o nome arcádico de Francélio Vouguense, e também foi conhecido
por Cisne do Vouga, nasceu na freguesia de S. Tomé, de Canelas,
concelho de Estarreja, deste distrito de Aveiro, a 9 de Julho de
1763. Foram seus pais Manuel Fernandes e D. Ana Maria Clara
Hybinguer, austríaca. Bingre é corruptela do nome Hybinguer; o
povo de Canelas adulterou este nome, aportuguesando-o em BINGRE,
que o poeta adoptou como apelido.
Passados os anos pueris em
Canelas, seus pais levaram-no para Lisboa, para uma casa de
comércio de uns alemães, com quem tinha sociedade, e onde sua mãe
tinha estado no tempo do seu casamento, a fim de ali ser educado e
instruído. Mas além de Gramática Latina, que estudou com
o Prof. Manuel Pereira da Costa, professor régio em Lisboa, não se
sabe que frequentasse alguma aula regular. Deixado este estudo,
dedicou-se ao comércio na dita casa, e, ao mesmo tempo, ao das musas.
Em 1790, com Caldas Barbosa,
Joaquim Severino e Curvo Semedo, lançou as bases da Academia das
Belas Letras, mais tarde conhecida por NOVA ARCÁDIA, na qual fez
tão rápidos progressos em Poesia e Literatura, que veio por isto
a ser membro da Academia Real das Ciências, a que não eram
admitidos senão os que fossem de consumada literatura.
Com a idade de trinta anos, pouco
mais ou menos, consorciou-se em Canelas, com D. Ana Maria Pires,
de quem teve seis filhos.
Os pais do poeta morreram ambos em
1793, com pequeno intervalo, deixando-lhe um pequeno património.
Exerceu, em Ílhavo, em 1801, o
ofício de escrivão dos órfãos; mais tarde, em 1824, foi escrivão
da câmara, e do judicial e notas, na vila do
concelho de Mira. Depois, impossibilitado de servir emprego por
sua avançada idade e doença, rodeado de numerosa família, de
filhos e netos, alguns já órfãos de pai, viveu na mais dolorosa e
extrema miséria, chegando a passar fome autêntica, e vivendo de
esmolas de amigos e inimigos, até à sua morte, em 1856, quase com
93 anos.
É muito para admirar que, não
obstante o aflitivo estado de privações, doença e velhice neste
último período da sua vida, nunca deixasse de fazer versos, embora
neles transpareça a sua odisseia, a sua tragédia.
Bingre foi o maior improvisador do
seu tempo, depois de Bocage. Tão notável poeta como modesto, pois
nunca se preocupou com a publicação das suas obras, poetava porque
isso lhe estava no temperamento. Nas obras de Bingre, todas em
verso, acham-se gloriosas memórias dos factos mais brilhantes de
que ele teve notícia. José Agostinho de Macedo classificou-o de
«bom poeta e judicioso homem, no qual a capacidade natural supria
todos os estudos».
Das suas numerosas obras poéticas,
podemos referir as seguintes: mil cento e vinte sonetos, pouco
mais ou menos; vários poemas maiores como – O Momo
–
poema
heroi-cómico; As Mulheres – poema heróico e apologético;
As Sombras ou Passeio Fantástico; O Cidadão Liberal rindo com a sua
sanfona; As Aventuras ou Lograções; Dramas alegóricos; ditos
heróicos; uma Farsa e um Entremês; e bem assim
de poemas menores, como salmos penitenciais; cantatas; hinos;
canções; elegias; epístolas; cartas; odes
Horacianas, Sáficas, Pindáricas, Anacreônticas; éclogas, idílios,
ditirambos, sonhos, apólogos, contos morais, anfiguris, apótemas,
alegorias; epigramas madrigais. E tantas outras.
Continuou a fazer versos quase até
aos últimos dias da sua vida. Faleceu, como já se referiu, no ano
de 1856 e jaz sepultado na casa dos ossos da igreja de Mira.
(Elementos coligidos do ARQUIVO DO
DISTRITO DE AVEIRO, aut. Álvaro Fernandes, Volumes V e XXIX, e do
ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA).
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