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N.º 4

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1967 

 

  Antologia Aveirense
 

FRANCISCO JOAQUIM BINGRE

 

NOTAS

BIOGRÁFICAS

 

 

Francisco Joaquim Bingre, que usou o nome arcádico de Francélio Vouguense, e também foi conhecido por Cisne do Vouga, nasceu na freguesia de S. Tomé, de Canelas, concelho de Estarreja, deste distrito de Aveiro, a 9 de Julho de 1763. Foram seus pais Manuel Fernandes e D. Ana Maria Clara Hybinguer, austríaca. Bingre é corruptela do nome Hybinguer; o povo de Canelas adulterou este nome, aportuguesando-o em BINGRE, que o poeta adoptou como apelido.

Passados os anos pueris em Canelas, seus pais levaram-no para Lisboa, para uma casa de comércio de uns alemães, com quem tinha sociedade, e onde sua mãe tinha estado no tempo do seu casamento, a fim de ali ser educado e instruído. Mas além de Gramática Latina, que estudou com o Prof. Manuel Pereira da Costa, professor régio em Lisboa, não se sabe que frequentasse alguma aula regular. Deixado este estudo, dedicou-se ao comércio na dita casa, e, ao mesmo tempo, ao das musas.

Em 1790, com Caldas Barbosa, Joaquim Severino e Curvo Semedo, lançou as bases da Academia das Belas Letras, mais tarde conhecida por NOVA ARCÁDIA, na qual fez tão rápidos progressos em Poesia e Literatura, que veio por isto a ser membro da Academia Real das Ciências, a que não eram admitidos senão os que fossem de consumada literatura.

Com a idade de trinta anos, pouco mais ou menos, consorciou-se em Canelas, com D. Ana Maria Pires, de quem teve seis filhos.

Os pais do poeta morreram ambos em 1793, com pequeno intervalo, deixando-lhe um pequeno património.

Exerceu, em Ílhavo, em 1801, o ofício de escrivão dos órfãos; mais tarde, em 1824, foi escrivão da câmara, e do judicial e notas, na vila do concelho de Mira. Depois, impossibilitado de servir emprego por sua avançada idade e doença, rodeado de numerosa família, de filhos e netos, alguns já órfãos de pai, viveu na mais dolorosa e extrema miséria, chegando a passar fome autêntica, e vivendo de esmolas de amigos e inimigos, até à sua morte, em 1856, quase com 93 anos.

É muito para admirar que, não obstante o aflitivo estado de privações, doença e velhice neste último período da sua vida, nunca deixasse de fazer versos, embora neles transpareça a sua odisseia, a sua tragédia.

Bingre foi o maior improvisador do seu tempo, depois de Bocage. Tão notável poeta como modesto, pois nunca se preocupou com a publicação das suas obras, poetava porque isso lhe estava no temperamento. Nas obras de Bingre, todas em verso, acham-se gloriosas memórias dos factos mais brilhantes de que ele teve notícia. José Agostinho de Macedo classificou-o de «bom poeta e judicioso homem, no qual a capacidade natural supria todos os estudos».

Das suas numerosas obras poéticas, podemos referir as seguintes: mil cento e vinte sonetos, pouco mais ou menos; vários poemas maiores como – O Momo poema heroi-cómico; As Mulheres – poema heróico e apologético; As Sombras ou Passeio Fantástico; O Cidadão Liberal rindo com a sua sanfona; As Aventuras ou Lograções; Dramas alegóricos; ditos heróicos; uma Farsa e um Entremês; e bem assim de poemas menores, como salmos penitenciais; cantatas; hinos; canções; elegias; epístolas; cartas; odes Horacianas, Sáficas, Pindáricas, Anacreônticas; éclogas, idílios, ditirambos, sonhos, apólogos, contos morais, anfiguris, apótemas, alegorias; epigramas madrigais. E tantas outras.

Continuou a fazer versos quase até aos últimos dias da sua vida. Faleceu, como já se referiu, no ano de 1856 e jaz sepultado na casa dos ossos da igreja de Mira.

(Elementos coligidos do ARQUIVO DO DISTRITO DE AVEIRO, aut. Álvaro Fernandes, Volumes V e XXIX, e do ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA).

 

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               ELOGIO DE AVEIRO

Talábrica senil, famoso Aveiro,

Bordado de riquíssimas salinas,

Que com tuas alvíssimas colinas

Formas um pitoresco tabuleiro;

 

Tu foste audacioso marinheiro

Que rasgando altas ondas cristalinas

Em África arvoraste as Lusas Quinas

E de Benim descobridor primeiro.

 

Tu das últimas praias do ocidente

Aos Áfricos sertões nossa lei pura

Levaste, e nos mostraste a baga ardente.

 

Pela tua atrevida sangradura

A estrada se encontrou do rico Oriente,

Onde o Gama depois audaz fulgura.

 

A S. MAJESTADE A RAINHA, VISITANDO AVEIRO. RECITADO PELA PRIOREZA DE JESUS

 

Vem, excelsa Rainha Portuguesa,

Visitar o sagrado mausoléu

Que encerra o corpo da que está no Céu,

Jana Santa, virginal Princesa.

 

Ela fugiu às pompas da realeza

Desprezando real, térreo himeneu;

e entre a nossa humildade se escondeu,

Sacrificando a Deus a sua pureza.

 

Pedi de Afonso Quinto à régia filha

que abençoe esta vossa monarquia

Para gozar da paz que no Céu brilha!

 

Monjas, irmãs, com cândida alegria,

Levantemos um hino à maravilha

De ver hoje entre nós fulgir Maria.

 

páginas 88 e 89

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