A Praça Velha, uma das mais
vetustas da Vila da Feira, está situada na sua parte antiga.
Em forma de quadrilátero, tem a
área aproximada de 1175 metros; abre seus braços – um para a
Igreja Matriz (antiga Igreja do Convento de S. João Evangelista)
pela rua que lhe dá acesso para sul – denominada do Dr. Roberto
Alves e outro para a Igreja da Misericórdia, (edificada junto à
antiga Igreja de S. Nicolau – depois Capela de S. Francisco) pela
rua que lhe dá acesso para norte (que faceia o largo dos Condes de
S. João de Vêr) denominada do Doutor Guilherme Moreira, como
querendo unir as duas Igrejas Matrizes, de S. Nicolau da Feira
(respectivamente a mais moderna e a mais antiga).
Tem um outro acesso para nascente
– a rua da Lavandeira.
Denomina-se, desde 1940, «Praça do
Dr. Gaspar Moreira» em homenagem àquele que, tendo sido distinto
advogado nesta vila, presidente da Câmara Municipal da Feira e
administrador do concelho, foi uma das figuras mais destacadas da
vida social, política e do fôro neste concelho e comarca, desde os
fins do século passado até 1937, ano em que faleceu, em casa da
mesma Praça, onde viveu e teve o seu escritório de advogado,
durante muitos anos.
/ 56 /
Anteriormente denominou-se «Praça
da República. É circundada, do poente pelo edifício da Câmara
Municipal e por parte do denominado da Secretaria e, dos demais
lados, por casas particulares: ao centro tem um antigo e elegante
chafariz – ao qual, em parte, dão acesso escadas de pedra, dado o
pronunciado desnível do pavimento da praça – em ladeira que descai
de norte para sul.
Foi em tempos o principal centro
da vila, privilégio que ainda hoje mantém em grau muito reduzido.
Por isso, a sua história tem
interesse e de relevo, para a vila, através das edificações que a
circundam e dos motivos que a ornamentavam (pelourinho) e a
ornamentam (chafariz).
Infelizmente, da antiga praça,
tudo está reformado: hoje quase só resta o declive do seu piso e a
memória de uma grandeza e nobreza que aqui recordamos.
Planta topográfica da Praça Dr. Gaspar
Moreira (Praça Velha) – 1943 (escala 1:1000)
|
1 – Praça Dr.
Gaspar Moreira (Praça Velha); 2 – Rua da Lavandeira; 3 – Rua
Dr. Roberto Alves (Rua Direita); 4 – Largo dos Condes de S.
João de Ver (Largo D. Pedro V); 5 – Rua Dr. Vitorino de Sá
(Rua de Rolães); 6 – Rua Dr. Guilherme Moreira (Rua Direita);
7 – Casa de D. Vitória Lacerda; 8 – Local onde esteve
implantada a casa de Manuel José Godinho; 9 – Casa que foi de
João Leite de Sousa; 10 – Casa que foi de José Maria Cachofel
Pinto Leitão; 11 – Casa de D. Maria Júlia Rifa de Araújo; 12 –
Casa de D. Francisco Plácido Resende; 13 – Casa do Dr.
Belchior Cardoso da Costa; 14 – Casa dos herdeiros de José
Soares de Sá; 15 – Casa de D. Branca Alves de Castro Mendes
dos Santos; 16 – Paços do Concelho; 17 – Casa denominada da
Secretaria da Câmara; 18 – Local onde esteve implantada a
Capela de Santo António; 19 – Local onde se levantava o
pelourinho; 20 – Chafariz |
|
Um acaso feliz, fez chegar à minha
mão um manuscrito (que hoje é propriedade minha por amável oferta
do P.e António Nogueira Gonçalves que o adquiriu na Livraria A. B.
Rosenthal através dos seus boletins bibliográficos de vendas)
encadernado em carneira lavrada, com nervos na lombada, datado de
1774 (mas que, pela sua leitura, se verifica que já estava a ser
redigido em 1768) da autoria de Lourenço Huette Bacelar de Sotto
Maior, Cavaleiro da Ordem do X.º e senhor da Casa do Paraíso,
casado com D. Vitória de Lacerda, como a referencia, sumariamente,
Felgueiras Gaio no seu trabalho Nobiliário das Famílias de
Portugal no Tomo XXI, pág. 56 (Moreiras § 4.º), donos que foram, em
plena propriedade, de uma das mais antigas Casas da Praça – a que
estava contígua à Cadeia.
Intitula-se. escrito com letra
muito legível. «Caza da Villa da Feira – Tomo I – Livro apontador
de todas as cartas de compras das propriedades que esta caza tem –
de todos os prazos que della se tê feito donde constão as notas em
que achão – ano de 1774 –», o que tudo está gravado na campa em
letras douradas.
Começa por um índice que denota a
existência de, pelo menos, outro volume, pois alcança a página 1
385.
Este tomo – único que me foi dado
consultar – não se sabe se, porventura, outros ainda existem, tem
o seu termo na página 746, com falta de algumas e outras por
escrever.
Cada página é marginada por
espaços em branco, onde o autor lançou anotações.
Oxalá que alguém, que leia este
trabalho, saiba do paradeiro do outro, ou outros, tomos daquele
trabalho: o seu achado talvez contribua para esclarecimento de
algumas dúvidas e dará conhecimento para outras investigações,
nomeadamente para a história de Ovar, S. Martinho da Gândara e
Vagos.
A leitura deste manuscrito, que
interessa a diversos aspectos da história da Vila da Feira e de
algumas das suas freguesias (embora, neste particular, de mais
reduzido interesse) decidiu-me a escrever este trabalho, para o
qual recolhi elementos de outras origens, entre as quais posso
destacar a citada obra de Felgueiras Gayo em 28 Tomos, 4 «De
Costados» e 1 «Título de Souzas», um volume sobre a genealogia de
Soares Barbosa (1) que pertence ao membro dessa família, o
Conselheiro Dr. Alberto Toscano, outra da autoria de Francisco de
Moura Coutinho Paiva Cardoso de Almeida d'Eça «Um dos meus
Costados», diversos artigos dispersos em jornais e revistas,
livros e documentos na posse de particulares, da Biblioteca e
Arquivo da Câmara Municipal da Feira, designadamente as actas das
suas sessões e os livros das suas contas, registos na
Conservatória do Registo Predial desta Comarca da Feira (incluindo
os do antigo registo de hipotecas) e do Registo Civil deste
concelho, arquivo do Tribunal Judicial, inscrições na matriz
predial da freguesia da Feira e ainda os Tombos da Casa da Feira
(Infantado) e do Convento de S. João Evangelista da Vila da Feira
(2) e o Foral concedido à Feira e Terra de Santa Maria pelo rei D.
Manuel I, em 10 de Fevereiro de 1514, arquivo da Santa Casa da
Misericórdia da Vila da Feira e da Confraria de Nossa Senhora da
Piedade, desta Vila.
Propondo-me contribuir, deste
modo, para divulgar conhecimentos que proporcionem, um dia, a quem
tiver possibilidades e tempo disponível (tão necessário para obras
desta natureza) a publicação de um trabalho de maior amplitude,
sobre a «História da Vila da Feira e do seu Castelo», que urge
fazer, restrinjo, este meu trabalho, o primeiro dos da série em
estudo «À Praça Velha da Vila da Feira», que divido em dois
capítulos: o primeiro, referente «Às Casas de Habitação»; e o
segundo, aos outros edifícios e motivos, incluindo-se, naqueles, o
da Câmara Municipal e da antiga Cadeia (que nela existiu), o da
Casa da Secretaria, o da (Capela, ou Oratório, de Santo António»
(já extinta) e, nestes, o «(Pelourinho» (que nela estava
implantado) e o «(Fontanário» – (que hoje ainda lá existe),
completando-se este último capítulo com «Diversos».
Aproveito a oportunidade de
firmar, em escrita, lembranças que estão em risco de se perderem.
Continuadamente encontro
elementos mais esclarecedores, mas como não é de aconselhar que
fique indefinidamente, à espera de maior perfeição, decido-me a
entregar o meu estudo à divulgação: tudo o que vier, em melhor
conhecimento, servirá para refundir, por integração, este trabalho
– à guisa da actualização adoptada nos Códigos: lanço, assim, os
alicerces para obra de maior vulto.
/ 57 /
Para melhor elucidação do texto,
faço acompanhar este estudo de árvores genealógicas referentes aos
donos dos prédios, objecto do presente trabalho, e de um índice com
a ordenação alfabética dos que nelas são mencionados, com
remissão, em especial, para a obra, atrás referida, de Felgueiras Gayo.
Procurarei fazer «história»
firmada em documentos, sem qualquer sabor de fantasia, que só
compromete e prejudica a seriedade da narração e faz induzir em
erro, falseando a alta missão de quem escreve para ser acreditado,
alicerçando-se em fontes que repute sérias, com a devida garantia
de autenticidade, que estudei com cuidado pois, como diz Huette
Bacelar, na sua citada obra – fls. 2 – «tem avido infenitas
logracoens, e enganos, a quem se fia em tudo quanto lhe dizem, sem
o averiguar pessoalmente».
Praça Dr. Gaspar Moreira (de Norte
para Sul)
Admitindo o erro de boa fé,
agradeço a todos que, em crítica construtiva, queiram estabelecer
diálogo que permita elucidar, completar, ou mesmo corrigir, este
meu modesto trabalho.
CAPÍTULO I
CASAS DE HABITAÇÃO
1
As do Poente
A
Casa que pertenceu a D. Victória
de Lacerda Cardoso Botelho de Pinho Pereira e a seu marido
Lourenço Huette Bacelar de Sotto Mayor.
A notícia mais remota desta casa
data dos meados do século XVI, porquanto Lourenço Huette Bacelar
de Sotto Mayor nos dá conhecimento, no seu aludido trabalho, que
ela pertenceu a José Soares de Matos, também conhecido por José
Soares de Albergaria, ou José de Matos Soares que foi Juiz dos
Órfãos – na Villa da Feira, casado com D. Maria Soares, da Quinta
de Fijô, 5.os avós de sua mulher D. Victória de Lacerda Cardoso
Botelho de Pinho Pereira: nesta casa viveram José Soares e sua
mulher.
Estes José de Matos Soares e Maria
Soares tiveram vários filhos, entre os quais:
– a) Filipa de Matos
Soares, casada com Diogo Moreira de Vasconcelos «O Velho» (4.os
avós da D. Victória)
– b) António Soares de Oliveira, casado com
Maria Marques, conhecido pelo «Sarabando»
– c) Tomé ou Thomaz
Soares
– a quem Gayo (cit. ob. T. XXVII fls. 115) chama Thomaz
Soares clérigo (3) e Huete (cit. ob. fls. 81) chama Tomé.
Por falecimento de D. Maria
Soares, já no estado de viúva, ficaram as casas que pegavam, pelo
sul, com a Cadeia, a pertencer àqueles filhos António e Thomaz, em
1/4 parte para cada um, em pagamento das suas legítimas.
– Parece que
estes decaíram de fortuna e, d'aí, por escritura de 27 de Janeiro
de 1613, lavrada pelo Tabelião Lucas Pinto Coelho, aquele António
e mulher venderam, ao referido Diogo Moreira de Vasconcelos «O
Velho»
– «um quarto das cazas, da Prasa, as q.e partem com a Cadeya, com seu Quintal, pumar, e orta, q.e tem para tras, cujo
quarto de caza, tucou ao dito António Soares, em valor d'30$= q.e
por morte de sua May, Maria Soares, veuva de José Soares, pelo
Inventário q.e se fes, em q.e puzerão todas as cozas, no valor de
sento, e vinte mil reis, cujas cazas partem do sul, com a Cadeya
da m.ma dita Villa da
/ 58 / Feyra, e tambem com o Quintal d'Antónia de Miranda, e da outra banda partião com as cazas, e
campos de Manoel Lobato Pinto (4) (isto oje está tudo mixto, e é o
de q.e se compoem as cazas, e Quinta para tras, na Villa da Feyra),
e isto tudo era Dizemo a Deos, e por isso teve ali legitima o d.º
Vendedor».
«Este comprador Diogo Mor.ª de
Vasc.os era cazado com D. Filipa de Matos, a qual veyo da caza de Fijo» (Huette
cit. ob. fls. 79
–
v.º e 80).
Em 20 de Junho de 1615
– Gaspar
Dias e mulher Domingas Jorge obtiveram carta de arrematação de
metade das mesmas casas, em procedimento judicial contra os
herdeiros e filhos «q.e ficarão, por morte de Jozé Soares, todas
da Vila da Feyra» – como refere Lourenço Huette na cit. ob. – a
fls. 80.
«O q.e rematou foi metade das
cazas, e metade do Quintal, q.e tinhão sido do dito devedor Jozé
Soares, q.e são pegadas á cadeya, pelas dividas, q.e o dito lhe
tinha ficado a dever, por uns asinados, de q.e alcansou Snn.ca,
contra os ditos filhos, e Erdeyros, a qual deu, na Villa de
Macieyra de Cambra o Proveror, e Contador da fazenda, na comarca
de Esgueira, o Ld.º Sebastião Pinto Lobo, aos = 16 = de Agosto d'
1615 de q.e foi Esc.am o da Provedoria, Gaspar Coelho, e em
virtude dela, fes a sua pinhora na dita metade da caza, e Quintal,
o tal Gaspar Dias, cujos bens, ele mesmo numiou, pelas partes o
não fazerem, e tambem rematou, por nunca áver quem Lansase: foi
pelo preço da sua mesma divida q.e erão 45$= (cit. ob. fls. 80 e
80-v.º).
Por sua vez, aqueles Gaspar Dias e
mulher, por escritura de 26 de Novembro de 1615, venderam, aquela
metade, ao mencionado Diogo Moreira de Vasconcelos «O q.e comprou,
foi metade de umas Cazas, com seu Quintal, sitas na Prasa, e
pegadas á Cadeya, são as mesmas da Carta de Rematasão asima
descrita, de 20 de Junho, deste mesmo ano; forão pelo preso de
55$= (cit. ob. fls. 80-v.º).
Assim, o Diogo de Vasconcelos
ficou senhor de três quartos da mesma casa e quintal.
Em 26 de Setembro de 1615 (ano
anterior ao do seu falecimento), o Diogo Moreira de Vasconcelos,
já no estado de viúvo, adquiriu a restante quarta parte da aludida
casa e quintal por carta de arrematação, em procedimento judicial,
contra aquele Tomé Soares, filho dos mencionados José Soares e
mulher Maria Soares: «O q.e rematou, foi hum quarto das Cazas, em
q.e o dito seu Pay viveo, por Legitima de sua Mav, em o preço de
30$ = e como não tinha de q.e se alimentar, nem p.ª acabar os seus
Estudos, fes petição p.ª ãver de o Juiz consentir na venda do
dito quarto das cazas... ...» (Huette, cit. ob. fls. 81).
Deste modo o Diogo de Vasconcelos
reuniu, na sua mão, o direito à propriedade da totalidade da dita
casa e quintal.
Estudando a ascendência daqueles
José de Matos Soares e sua mulher Maria Soares – os titulares mais
antigos, de certeza, da referida casa, verifiquei que, ambos
descendem de Lopo Soares de Albergaria
(5), ela por força do seu
primeiro casamento com Leonor ou Maria Meyrelles e ele do seu
segundo casamento com Branca Coelho.
Não consegui apurar se esta casa
de José Matos Soares e de sua mulher Maria Soares, e onde eles
viveram, veio à sua posse por cabeça dele ou dela, ele como filho
de Pedro Soares de Albergaria, ou Pedro Soares Cambra, também
conhecido por Pedro Soares Thiamonde, casado com Filipa de Pinho e
ela como filha de Madalena Soares ou Madalena Soares de Albergaria
e de António de Aguiar de Vasconcelos (e não de Pedro de Aguiar
como diz Felgueiras Gayo
–
cit. ob.–
Tomo XXI, fls. 55
– ver Tomo
II,
fls. 103 e Tomo XXVII, pág. 115 e ainda referida Genealogia de
Soares Barbosa, fls. 35).
Possivelmente pertenceu ao
referido António Aguiar de Vasconcelos, que era de Fijô, da Terra
da Feira (casa com que confinava a propriedade em causa) como diz
Felgueiras Gavo
–
cit. ob. vol. XXVII, pág. 110 – e referida
genealogia – fls. 35.
Acresce que não é natural que a
casa viesse por cabeça daquele Lopo Soares de Albergaria, quer por
força do primeiro casamento com Leonor ou Maria Meyrelles de quem
descende Maria Soares, quer por força do seu segundo casamento com
Branca Coelho de quem descende José Soares de Matos, pois aquele
Lopo parece que não tinha casa na Vila da Feira, como se verifica
do seguinte passo referido por Felgueiras Gayo, cit. ob. T. XXVII,
pág. 110 «Teve amizade ilícita com D. Joanna de Albuquerque f.ª de
Nuno da Cunha Sr. de Gestaco no ttº de Cunhas §§ – N – e não
querendo Lopo Soares cazar com ella fugio, e veyo ao Castello da
Villa da Feira onde estavão os Condes q.erão seus parentes, e lá
asestio com elles porem estando mal acomodado foi para Caza de hum
Cavalheiro q. devia ter o apellido de Homem, pois seus
descendentes uzarão do apellido de Homem, e asestia na sua q.ta da
Frei, (6) e hia mtas vezes comer e caçar com os Condes, e se
demorou alguns mezes com intento de passar a Galiza, tinha o d.º
Cavalleiro hua f.ª chamada D. Branca Coelho a qual Lopo Soares
emprenhou e querendo Lopo Soares auzentar-se, do que sabendo o Pay,
o fez cazar com ella, e andando hum dia a caça na sua q.tª de Frei
foi morto por mandado dos parentes de D. Joana Albuq.e de
Lx.ª.»
Impressiona, contudo, o facto de o
Bisavô do Pedro Soares de Albergaria, pelo lado paterno, ser João
Soares Homem (filho daquele Lopo Soares de Albergaria) que, de
certeza, viveu na Vila da Feira, pois como diz Felg. Gayo – cit.
ob. T. XXVII, pág. 112 «Cazou
/ 59 / com D. Ant.ª Aranha como diz o
letreiro de sua sepultura na Igreja da Villa da Feira f.ª de Diogo
Vaz de Pinho».
É caso para apurar, pois daí se
poderá conhecer com a devida certeza, a quem pertenceu a dita
casa, antes de José Soares.
Enquanto isso não se conseguir,
assentamos que a casa existia no primeiro quartel do século XVII,
e, com toda a verosimilhança, no último quartel do século XVI, na
posse do dito José Soares: se não foi adquirida por compra
pertenceu, anteriormente, a seus pais (referidos Pedro Soares de
Albergaria e Filipa de Pinho) ou sogros (aludidos António de
Aguiar de Vasconcelos e Madalena Soares) o que alcança os meados
do século XVI.
E por aqui nos quedamos para não
entrar no campo da fantasia.
É de considerar que quando Huette
Bacelar, no seu citado trabalho, datado de 1774, fala das suas
casas
– além das «ortas e pumares» que a elas diz ligados,
refere-se, também, como parte componente desta propriedade, a «uma
grande Ribeyra» para, mais adiante, esclarecer «Tem estas Cazas, pela
parte posterior uma Quinta, que se compoem de pumares, ortas e
mais terras Lavradias...».
Analisando com cuidado os títulos
de compra, das ditas casas, aos descendentes de José Soares de
Matos e mulher, nota-se que essas aquisições dizem respeito –
apenas «ás cazas da Prosa, as que partem com a Cadeya, com seu
Quintal, pumar, e orta, q.e tem para trás», não se fazendo
qualquer referência àquela «grande Ribeyra».
Consegui averiguar, através do
citado trabalho de Huette Bacelar, como se passa a descrever, que
esta Ribeira, quando Diogo Moreira de Vasconcelos «O Velho» fez as
aludidas compras já pertencia, em parte, à sua casa, por via do
seu pai António Moreira de Vasconcelos (que vivia entre 1596 e
1609 – ano em que faleceu) casado com Maria do Couto Vasconcelos
(que lhe sobreviveu) e era filho do já falado Marcos Moreira e,
assim, se explica que Diogo Moreira de Vasconcelos se inclinasse
para a compra das aludidas casas da Praça, aliando, a esta razão,
a de ser casado com uma filha do José Soares de Matos, de nome
Filipa de Matos, vindo a formar-se, com esta aquisição, uma
extensa propriedade, na qual ficou integrada a dita «Grande
Ribeira».
Esta Ribeira era vasta e resultou
do emparcelamento de terras de diversos senhorios.
Integrando-se na Casa da Praça
formou, com ela, um prédio misto, cuja importância e valor é
realçado, no seu descritivo, por Huette Bacelar. A sua
valorização dependia, em grande parte, do direito, a ela
adstrito, a águas nascidas em chão de outrem, e que a alcançavam
através da Quinta de Rolaens.
Por escritura de 5 de Novembro de
1597, António Moreira de Vasconcelos e sua aludida mulher Maria do
Couto de Vasconcelos, compraram à Condessa da Feira, D. Joana da
Silva, assistente no seu Castelo
– «hum campo todo tapado sobre
si, Erdade Dizemo a Deos, só com o foro ao Mosteiro daquela Vila
de des alqueires de trigo em cada hum anno, e parte da banda da
Rua, com o Inxido de António Soares (que he o q.e o tinha vendido,
à mesma Condessa). com Gaspar Corrêa, e António de Azevedo, e de
Rolãens com Manoel Caldeira, e de Fijô com Turubia de Aguiar, e do
Castelo com o Rio: cujo campo a dita Condessa da Feyra, D. Joana
da Sylva, tinha comprado a António Soares, da mesma Vila, foi pelo
preço de 40$ = ».
«Isto está metido, na Ribeyra da
Caza, mas cudo q.e está demarcado por Marcos, p.ª se saber qual é
esta terra, e de q.e se pagão os ditos alqueires do foro». Nas
costas desta escritura estão estas palavras «Carta de venda do
Campo de junto ao Rio q.e vendeo a Snr.ª D. Joana da Silva» Huette
– cit ob. pág, 83-v.º.
Por escritura de 26 de Julho de
1623, Álvaro Vaz de Sam Payo, viúvo, vendeu a Francisco Moreira de
Vasconcelos (irmão do Diogo Moreira de Vasconcelos «O Velho» que
era 4.º avô da D. Victória e filho do referido António Moreira de
Vasconcelos)
– «hua Deveza, sita ao redor do Rio, e levada q.e vai
p.ª os seus Moinhos, a qual está, e parte com a Ribeira, de Gaspar
Fernandes de Pombos; e da outra parte confronta com o Campo de
Bastião Gonçalves, da mesma Vila, e com terras delle vendedor, q.e
era sua Erdade Dizima a Deos, e lhe viera por dotte de seus
sogros». Huette
– cit. ob., pág. 84 e 84-v.º.
Por sua vez, Manuel do Couto, e em
execução que o Comissário Geral da Bula da Cruzada, D. António de
Mascarenhas, moveu ao Tesoureiro Álvaro de Almeida, em 22 de Julho
de 1630, arrematou um campo que tinha sido de Baltasar Gonçalves
«O Negro» que estava acima da casa de Manuel Gomes; por escritura
de 11 de Março de 1645, aquele Manuel do Couto e mulher Maria Vaz,
venderam este campo ao Francisco Moreira de Vasconcelos. Como
refere Huette Bacelar, cit. ob. a fls, 85 e 85-v.º: «Dis q.e dele
se pagava, um alqueire de trigo, e tem authoridade, de hum Manuel
de Pinho, a quem dis pagára o dominio». Isto cudo eu esta incluido
na Ribeyra das minhas cazas da Feyra e o tal alqueire de trigo, se
devia comprar, e mais o direito dominical, por q.e eu não sei, q.e
tal couza se pague hoje».
Mais tarde «O Doutor António da
Rocha Manrique, por Provisão do Rey veyo a tombar todos os bens da
Caza da Feyra», requerendo que parte da Ribeira que então
pertencia a Diogo Moreira de Vasconcelos tinha que pagar «de tudo
que ela produzisse» o oitavo com fundamento no facto de, já no
tombo que se tinha
/ 60 / feito em 1649, a requerimento da
Condessa D. Joana, António Leite do Amaral (pai daquele Diogo
Moreira de Vasconcelos, casado com Ignez Andrade de Vasconcelos),
em 1655, ter reconhecido esta terra com essa obrigação.
Mereceu contestação com fundamento
da «Snr.ª D. Joana da Sylva, Avô da Snr.ª Condessa D. Joana
Emediata Donatária da Caza da Feira» ter vendido o referido campo,
pela referida escritura de 5 de Novembro de 1597, a António Leite
do Amaral, livre e isento do tal oitavo, estando apenas obrigado
ao foro dos dez alqueires de trigo aos Religiosos do Espírito
Santo desta Vila.
Foi decidida a diminuição do preço
desse foro e facultado o direito de anular o contrato com os
referidos Religiosos por recair o seu pretenso direito em bens da
Coroa.
Como só parte da Ribeira tinha o
encargo a favor da Coroa, foi feita a delimitação dessa parte por
meio de marcos de pedra, mas não obstante esta decisão, diz Huette,
talvez por não olharem a tal divisão, sua sogra D. Josefa Violante
de Vasconcelos estava a pagar aquele oitavo.
Esclarece Huette Bacelar, cit. ob.
fls. 78 e seguintes, que em Novembro de 1578 correram uns autos,
existentes no Cartório do Castelo, sobre «os chãos da Feira, à
ponte, por detras da Cadeya Velha, q.e forão de Lopo Afonso»
(7),
movidos pelo Procurador da Coroa contra João Barroso e Pedro GIzI
com o fundamento de estes nada pagarem à Coroa, ao que estavam
obrigados como possuidores daqueles Chãos «que os Reus traziam em
pumar».
«Confessarão, q.e não tinhão
duvida, a pagar do q.e se louvase, e achase pertencer á Coroa, mas
q.e as duas Ribeyras, q.e os Reos trazem, que correm ao Longo do
Rio, asima da ponte, são suas Erdades Dizimas a Deos, livres, e
izentas de pagar nada, tanto antes, como depois do farol, de mais d' sem e duzentos anos».
Foi decidido que tudo pertencia à
Coroa por sentença de 27 de Fevereiro de 1579 (que Huette por
engano refere a 1519) tendo dele apelado o Procurador dos Reos
«mas não consta aqui p.ª onde nem o como sayo». Comenta Huette, a
pág. 79 «Eu não sei se isto he algua terra, q.e esta metida na
Ribeira das minhas cazas da Feyra, ou se he couza de outra pesoa,
por q.e se isto é o mesmo Campo, e terra, de q.e trata a certidão,
atras descrita (referida sentença), sobre q.e ouve a questão
p.ª oitavo então vensim.tº devião ter estas partes, na apelação, q.e
interpos o seu Procurador da Snn.ça q.e deu o dito Juis, em q.e
lhe condenou toda a sua terra sogeita á Coroa, e lá na desima e =
oitavo = aqui dis quarto, e só pela Snn.ça desima, ficou sogeita
ao = oitavo =, a terra q.e paga o senso aos Loyos, e nada mais, com q.e Eu
creyo, e mepersuado, q.e estes chãos, é couza q.e Eu não pesuo,
nem ouve nunca na caza da minha mulher»
– fls. 78-v.º, e 79.
Esclarece-se que o aludido
comprador da Ribeira, à Condessa D. Joana, António Moreira de
Vasconcelos e sua mulher Maria do Couto Vasconcelos dotaram, para
casamento de sua filha Madalena Moreira (filha do já falado Marcos
Moreira e irmã do Diogo Moreira de Vasconcelos «O Velho») – com
Manuel Lobato Pinto (filho de Lucas Pinto e de sua mulher Catarina
Gramacho) – por escritura de 18 de Maio de 1602, aquela Ribeira,
que pertencera a António Soares e que, em 1626 e ainda na posse do
Manuel Lobato Pinto, confrontava do norte com terras de Rolaens e
do sul com o rio público.
Aquele António Moreira de
Vasconcelos e sua mulher tiveram um outro filho, de nome Francisco
Moreira de Vasconcelos, que, do seu casamento com Paula de Pinho,
teve dois filhos: António Leite do Amara!, casado com Antónia de
Vasconcelos Amaral 3.os avós de D. Victória e Manuel Leite de
Vasconcelos.
Por óbito daquele Francisco
Moreira de Vasconcelos
– procedeu-se a inventário, em 1648, sendo
cabeça de casal sua viúva Paula de Pinho e, por morte desta, a
inventário que teve lugar em 1660, não constando que o Manuel (que
apenas teve dois filhos bastardos – Belchior Leite e Manuel Leite)
tivesse ficado com quaisquer dos bens que possam interessar a este
estudo, sendo de presumir que estes ficassem para o António Leite
do Amaral.
A referida quinta de Rolaens, que
ainda há-de ser motivo de estudo particular, é também muito
antiga, tendo pertencido a José Pinto Tavares e, em 1774,
pertencia à filha deste de nome D. Ana Victória de Sá Pereira
Tavares de Pinho casada com Pedro José do Vabo M.dº da Silva e
Bulhome
– que era sobrinha do Abade, que, em 1768, paroquiava a
freguesia de Espargo, deste concelho da Feira.
Já em 1526, o direito à água da
aludida quinta de Rolãens era objecto de litígio, decidido por
sentença de 7 de Dezembro do mesmo ano – água que nela foi
referida como de «Fonte do Pedreiro» fonte esta que, no dizer do
Huette Bacelar, devia ser a mesma que, mais tarde, foi conhecida,
pela «Fonte João Pirão» (8), água com que era regada a quinta de Rolãens e a mencionada Ribeira.
«Creyo he esta água a que hoje
chamam de João Pirão, com que se rega o Pumar, e Ribeyra, da minha
caza da Feyra, que quando se emprazou a Quinta de Rolaens, se lhe
deu so certa ágoa, e amais ficou para cá, e sevay conduzir mesmo
por dentro da dita Quinta de Rolaens, quantas vezes he precizo,
poronde tem servidão franca, com chave da Porta, que se pos,
/ 61
/ onde estava o portello antigo, e estou nessa posse (cit. ob.
fls. 29).
Aquela Quinta de Rolãens, no dizer
de Huette, pertenceu-lhe como senhorio directo, como se infere
daquele texto e está expressamente dito a fls 28-.v.º: «que he
minha e anda emprazada».
Em 1611, pertenceu a dita Quinta
de Rolãens ao já mencionado Manuel Lobato Pinto (filho de Luces
Pinto), casado com Madalena Moreira (filha do aludido António
Moreira de Vasconcelos), cunhado do 4.º avô de D. Victória de
Lacerda, de nome Diogo Moreira de Vasconcelos casado com Filipa de
Matos Soares, todos referidos neste trabalho: esta quinta foi
doada, por aquele António Moreira de Vasconcelos e mulher, à filha
Madalena como dote para casamento com o Manuel Lobato, por
escritura de 18 de Maio de 1602.
Em 1698, como se verifica de outra
sentença, com data de 18 de Julho, a mesma propriedade era
pertença de Diogo Moreira de Vasconcelos, casado em 1674 com D.
Inez de Andrade de Vasconcelos (bisavós de D. Victória).
O referido Diogo Moreira de
Vasconcelos «O Velho» – (que vivia entre os anos de 1611 a 1619)
do seu casamento com Filipa Matos Soares teve, além de outros, uma
filha de nome Antónia de Vasconcelos Amaral, que foi casada com um
primo co-irmão António Leite do Amaral (que vivia nos anos de 1648
e 1660), por ambos terem como avós comuns António Moreira de
Vasconcelos e sua mulher Maria do Couto de Vasconcelos (por morte
dos quais se procedeu a inventário em 1609), ele filho do já
aludido Marcos Moreira.
Aquela Antónia de Vasconcelos
Amaral, como herdeira de seu pai, foi a que lhe sucedeu na
propriedade da Casa e Quinta da Praça que, por morte destes,
passou por herança para seu filho, outro Diogo Moreira de
Vasconcelos, que foi juiz de Vila da Feira (e vivia nos anos de
1669 e 1716), casado com Inez de Andrade de Vasconcelos (que vivia
nos anos de 1674 a 1714).
Este Diogo, em 1673, era estudante
da Universidade de Coimbra e ainda estava sujeito à tutela, por
não ter completado os 25 anos: casou com a referida Inez de
Andrade em 1674 e faleceu na Vila da Feira em 1716, dois anos
depois de sua dita mulher.
Sucedeu-lhe na Casa e Quinta seu
filho Bernardo Moreira de Vasconcelos, Cavaleiro da Ordem de S.
Tiago (que vivia nos anos de 1710 a 1759) casado com D. Bernarda
Sofia de Leão (que vivia no período compreendido entre os anos de
1713-1763).
Huette Bacelar, no seu citado
trabalho, a fls. 90, informa que Diogo Moreira de Vasconcelos,
casado com Ignez de Andrade, por testamento de 26 de Junho de
1716, nomeou e instituiu por seu universal herdeiro o aludido
Bernardo Moreira de Vasconcelos (avô da D. Victória de Lacerda)
«de todos os seus bens moveis, e de Raís q.e lhe coubesem na sua
tersa, especialm.te as cozas em q.e vivião, com os seus pumares,
orta, campo, e Ribeyra tumando esta propriedade, primeiro no seu
terço, e se lhe coubesse mais, se lhe adjudicasse nos outros bens,
além da sua legitima, e dos prazos q.e já no dito seu filho, tinha
nomeado».
O dito Bernardo tomou posse da
herança em 21 de Setembro de 1716.
A mulher do referido Diogo,
aludida D. Ignez de Andrade de Vasconcelos, por testamento de 4 de
Maio de 1714, tinha deixado o terço ao marido.
Aquele Diogo Moreira de
Vasconcelos e sua mulher Ignez de Andrade de Vasconcelos tiveram
uma filha além do Bernardo Moreira de Vasconcelos, de nome D.
Antónia Moreira do Amaral Vasconcelos, casada que foi com Dionisio
Pereira Soares de Albergaria.
Entre sogro e genro houve demanda
por este, já no estado de viúvo, ter exigido àquele que fizesse
inventário para haver a sua legítima, que tocasse a sua falecida
mulher, do que resultou uma escritura de transacção com data de 26
de Abril de 1712, sendo o genro composto em dinheiro.
Por sua vez, por escritura de 4 de
Novembro de 1716, aquele Bernardo fez também escritura de
transacção com seu referido cunhado, Dionisio Pereira Soares de
Albergaria, para partilha dos bens deixados pelo referido Diogo
Moreira de Vasconcelos, da qual resultou este Dionisio ser
composto parte em dinheiro e parte em medidas que se pagavam em S.
Martinho de Argoncilhe e em Taboaça do Lobão, freguesias que ainda
hoje são do concelho da Feira.
Assim, o Bernardo ficou senhor das
Casas e Quinta da Praça.
Nas referidas escrituras de 1712 e
1716 houve licença do Juiz dos Orfãos por serem menores os filhos
do aludido Dionisio Pereira.
O mesmo Bernardo Moreira de
Vasconcelos – por sua vez, foi também o herdeiro
universal de seu tio Francisco Cardoso Loureiro de Vasconcelos,
que foi casado com D. Brites Rangel de Quadros, com a qual fez
transacção para o efeito de partilhas, por escritura de 28 de
Abril de 1721.
Sucedeu-lhes, e ainda como
proprietário da mesma Casa e Quinta, Diogo Moreira Cardoso de
Vasconcelos, Cavaleiro da Ordem de X.º (que vivia nos anos de 1738
a 1745) casado com Josefa Violante de Vasconcelos (que vivia nos
anos de 1742 a 1767), viúva em 1763, pois o referido Bernardo e
sua mulher dotaram este seu filho Diogo com «todos os seus bens,
foros, e rendas, q.e tinha, reservando p.ª si enquanto vivos,
metade das ditas rendas (Huette, cit. ob. pág. 233 e 305).
Este Diogo fez novo acrescento à
casa pois, por escritura de 24 de Fevereiro de 1738, lavrada pelo
/ 62 / Tabelião Dionísio Ferreira da Silva, comprou, pelo preço de
200$ =, a Francisco Xavier de Freitas e suas cunhadas Maria do
Nascimento e Josefa de Freitas, com ele assistentes e a seu irmão
e cunhado, o Padre José Bento de Freitas, umas casas pegadas à sua
da Praça que deviam estar implantadas imediatamente para norte, a
facear, também, pelo norte, com a viela que ia para Rolãens, casas
que Huette (cit. ob. pág. 83) descreve, «O q.e vendo foi; as suas
cozas q.e estão pegadas, e mistas, ás minhas grandes da Prosa, q.e
fazem quina á viela q.e vay p.ª Rolaens, e Montinho. São Dizemos a
Deos...» «Tinha feito nestas cozas pinhora (e em outros mais
bens) Domingos Alves Saldanha, da cidade do Porto, e por isso, e
p.ª remirem outras vexasõens de dividas, é q.e as vendião, e o
dito dinheiro se entregou logo, na mão de Domingos Ferreyra, da
dita Vila, pera pagar ao acredor, q.e, as tinha pinhorado, q.e o
dito depozitário entregaria por authoridade, de justiça, e
cobraria descarga, p.ª titelo dos vendedores. Como estas cazas,
estão mistas ás grandes, lhe abrirão portas por dentro, ás vezes
se servem delas, outras vezes, as trazem alugadas.»
Assim, as duas casas pegadas uma à
outra, embora com autonomia, ficaram, pela ligação feita
interiormente, a formar, entre elas, um todo na mão do mesmo
proprietário Diogo Moreira Cardoso de Vasconcelos, fazendo-as
estender até à viela de Rolaens. Deste modo, parte, a pegada à
cadeia, ficava fronteira à Praça e a outra parte, a acrescentada,
deitava para a rua que da mesma praça seguia para norte, rua esta
que ainda existia há pouco tempo, em pequeno troço: hoje começa
mais para norte, partindo do largo dos Condes de S. João de Ver e
segue, para norte, com a designação de rua do «Doutor Guilherme
Moreira».
Em 8 de Novembro de 1754, D.
Josefa Violante de Vasconcelos, viúva de Diogo Moreira Cardoso de
Vasconcelos, como senhora da Casa da Praça, reconheceu a obrigação
de pagamento, à Casa da Feira (Infantado) de portado
(9) (Tombo
fls. 74) duas galinhas sem ovos.
– Como dissemos este Diogo tinha
sido beneficiado, pelos pais Bernardo Cardoso de Vasconcelos e
mulher, com a doação de seus bens, embora com reserva das rendas,
para eles doadores. Consta do mesmo reconhecimento que, então,
numa das casas vivia a D. Josefa e na outra pegada, à mesma
pertencente, vivia de aluguer o Tabelião Teodosio Tomás Correia de
Sá.
Em 1753 a referida D. Josefa já
era viúva como se vê da compra, por ela feita, de um terreno que
foi de um tal Manuel Pereira (Huette cit. ob. pág. 175-v.º). Em 30
de Outubro de 1754, a D. Josefa Violante reconheceu à mesma Casa
da Feira – a favor desta – a natureza enfiteutica da aludida
Ribeira um oitavo de toda a novidade que colherem) – «de hum campo
que pessue dentro dos limites de sua quinta intitulado o Campo do
Ribeiro que fica logo pegado e por cima do Rio desta mesma Villa».
Da respectiva medição consta «Hum campo que fica dentro da quinta
da reconhecente Dona Josefa Violante de Vasconcelos para a parte
do poente junto da quinta de José Pereira Soares de Albergaria,
que medindo do Nascente ao poente pella parte do norte tem trinta
e tres varas travessas de cinco palmos cada huma e medido pella
parte do sul do nascente ao poente tem outras trinta e tres varas
e medido da parte do nascente do norte ao sul de marco a marco tem
setenta e tres varas e pella parte do poente medindo por o pé do
comoro dão do norte ao sul até ao rio tem cincoenta e nove varas
todas da mesma medição tem o dito campo arvores de vinho da parte
norte sul e poente e parte o dito campo da parte do nascente com a
mesma reconhecente e do poente com a quinta de José Pereira Soares
de Albergaria e do norte com a quinta do Fontoura e do sul com o
Rio. Levara de semeadura oito alqueires de senteio e ficam
dividindo o dito campo dois marcos que agora se puseram para se
dividir da quinta da reconhecente os quais ficam a saber Hum da
parte do norte ao pé de um carvalho que ahi a direito e outro
marco que fica pertinho de outro carvalho que esta no maracham que
fica por cima do Ribeirinho que esta ao pé do Rio que he pertensa
do mesmo campo atraz medido e vai incluido na mesma medição e se
não poz ao pé do Rio e donde vai ter a medição a fio direito por
causa das correntes e a não alanhar e arruinar e nesta forma houve
elle Dr. Juiz do Tombo essa medição por finda e acabada». No Tombo
tem a seguinte anotação «he a verba do Foral a fis. 2-v.º chão q
esta ao Rio».
A referida propriedade, em pleno
domínio e posse, veio à mão da D. Victória por sucessão de seus
pais Digo Moreira Cardoso de Vasconcelos e Josefa Violante de
Vasconcelos – datando a escritura de dote, a favor de seu marido
Lourenço Huette, de 21 de Abril de 1755 e servindo de procurador
de sua sogra, D. Josefa Violante de Vasconcelos, seu irmão
congregado o Padre Manuel José: também a assinou o avô de D.
Victória – Bernardo Moreira de Vasconcelos, pois, como já
referimos, nelas tinha direito de usufruto.
A referida propriedade teve maior
acréscimo. Diz Huette (cit. ob. pág. 85-v.º) que às casas e quinta
foi agregado mais um pedaço de terra que, por escritura de 2 de
Novembro de 1758, lavrada pelo Tabalião Teodosio Tomaz Correia de
Sá, Fernando Botelho Pinho Pereira Vasconcelos e Lacerda comprou a
Maria Madalena de S. Pedro da Rosa (referida na alínea C deste
número 1) formado por «hum pedacito de terra no direito da Eyra
das minhas cozas de Villa da Feyra, mas lá p.ª o fundo, pertinho
do Nascente com terra mesmo minha, das minhas cozas, e do Norte
com caminho público q.e é o q.e vai p.ª Rolaens, e o Montinho, e
do poente
/ 63 / com a Quinta do Fontoura, e tem huã portinha
p.ª
o dito caminho, ou viela, q.e vay p.ª o Montinho, é chamado o
Quintalejo».
Este Fernando Botelho deve ser o
irmão de D. Bernarda Sofia Leão, filho de D. Isabel Soares de
Lacerda e de Fernando Botelho de Pinho
– conhecido por Fernando
Correia de Lacerda, que em religião foi denominado por D. Fernando
de Santo António Botelhofrade Cruzio – que, antes de professar,
doou a legítima de seus pais e sua irmã D. Bernarda e marido
Bernardo Moreira de Vasconcelos, por escritura de 1713, tanto mais
que tem o apelido de Lacerda que lhe proveio de sua mãe D. Isabel
e não de seu pai Fernando Botelho de Pinho. Não se pode entender
como sendo este último Fernando Botelho de Pinho, por este estar
falecido em 1707, pois sua mulher D. Isabel quando, nesta data,
fez o reconhecimento de aforamento à Casa da Feira do prédio
aludido no n.º 3-B-b deste trabalho, foi dada «como viuva que
ficou do Licenciado Fernão Botelho de Pinho Pereira».
Também a data de 1758 o confirma,
porque o Teodósio Tomaz Correia de Sá era, nesse ano, Tabelião
nesta vila da Feira, (já o era em 1754, como já referimos) e
porque a Maria Madalena de S. Pedro Rosa devia ser a enfiteuta do
prédio e nessa qualidade fez a venda, o que é confirmado pela
seguinte referência feita por Huette (cit. ob., pág. 85-v.º) «A
vendedora diz nesta escritura, q.e pede ao direito Snr, q.e lhe
authorize esta venda, e aceite por Caseyro ao Comprador, ao qual
nomea nas vidas, ou vida em q.e se achar o prazo; se bem q.e ela
nunca pagou nada, nem sabe q.e a dita terra tenha direito Sñr.
algum, mas q.e por cautela o diz» esclarecendo, ainda, que «esta
compra suposto se fes em nome do Snr. Fernando Botelho, nada tem
nela, por q.e só afizerão em seu nome, por conta da Siza, cudo Eu,
porem minha sogra a Snr.ª D. Josefa foi a que pagou tudo do seu
dinheiro».
Deste modo se fez o agregado misto
de que resultou a propriedade que Huette, a fls. 19 e 19-v.º da
sua cit. ob., descreveu e confrontou, como existente no seu tempo
e de sua mulher, com referência a 1774, data que consta na capa do
aludido livro de Huette Bacelar.
«Na Praça da Villa da Feyra, tenho
as minhas cazas, que constarão de quatro janelas rasgadas, e para
tras tem ortas, pumares, e uma grande Ribeyra, com suas agoas de
rega, e nativas. Pegado a esta morada de cazas, á outra mais
pequenita, que tem tres janelas de peitoril, e ficão para o
norte, fazendo quina á Travesa, que vay para a Quinta de Rolaens,
e para o Montinho, são Dizemas a Deos, umas e outras, e abaixo
direi das suas compras, e do que dellas se paga; oje estão com as
portas abertas, para serem comonicaveis, indo que em outro tempo,
estavão sem esta comonicação, porque as trazião alugados. Estas
cazas he onde viverão sempre os Pais, e Avos de minha mulher, a
senhora D. Vitória de Lacerda, forão compras, que os Avos forão
fazendo de cazas, mais ordinarias, que depois reduzirão aesta
morada grande, e ao circuito de terra, que tem nas costas das
cazas».
Para conhecimento da localização e
extensão da parte rústica da propriedade de que as referidas casas
faziam parte, quando Huette Bacelar escreveu o seu trabalho,
transcreve-se o que nele diz a fls. 19-v.º e seguintes.
«Tem estas cazas, pela parte
posterior, uma Quinta, que se compoem de pumares, ortas, e mais
terras Lavradias, cujo rendimento é incerto, por ser de ordinario
a cultura da caza; hé cercada pela parte do Norte, e sobredita
travessa, com um muro, e pela banda do Sul, parte com as Quintas
de Fijô, e da Fontoura, que servem de divizam humas, ás outras; e
pela parte do nascente, he cercada de hum Rio, que a devide de
varios Quintaes, de muitos donos; tem esta Quinta huma Ribeyra,
cujo pedaço de terra se acha demarcada por marcos, e logo aqui
abayxo se descreverá hum titulo que á sobre o que nisso houve, e
no Tombo que se fez do Castelo desta Vila, de cujo pedaço de terra
se paga hum senso serrado, de dez alqueires de trigo, cada hum anno aos Religiozos de S. João Evangelista, desta mesma Villa; E
tem também, huma piquena caza, chamada da Eyra, por nella estar
pegada, que também hé foreira aos Religiozos Cruzios, do Convento
de Grijó, com o foro de setenta reis em cada hum anno, e nam sei
se algum pedaço della, ao pe da caza. Tem esta Quinta o regalo de huma boa fonte dentro, e hum excelente posso com sua bomba, no
pateo ao pe da cozinha, e alem desta utilidade, tem o mimo de ser
toda regada de Verão, e coberta de agoa de Inverno, mimo que a faz
tam abundante nos frutos, que produz, como copioza nas ervas que
cria, nos lameyros que tem, e primeiro que este nascente de agoa,
chegue a beneficiar esta Quinta passa pelas de Rolaens, esse entra
para ella, por huma porta, que puzerão no muro, por ficar assim
mais vedada a dita Quinta, dando huma chave, para que todas as
vezes. que fosse precizo hir-se á conduçam da dita agoa, o poder
fazer, com toda a liberdade, e de José Pinto Tavares, oje de seu
Genro Pedro Jozé Vabo Md.º da Sylva e Bulhones, e sua m.er D. Ana
Victoria de Sá Pereyra Tavares Pinto, moradores na Quinta de
Pereyra, junto a Vila Nova de Famelicão, sem q.e hum, nem outro
donos, posão empedir apassajem, não só da agoa, mas tombem dos
criados, e cazeyros, que a forem conduzir, e Limpar os Regos, ou
aquedutos, quando for necessário pelas suas mesmas propriedades,
cujo posse tem esta caza muito antiga, e havendo já nisto
diferenças, se decedio a favor della, como abaixo
/ 64 / se
apontarão as Sentenças, que acho, se bem que neste anno de 1768
(vê-se que o trabalho foi iniciado pelo menos em 1768, pois estes
dizeres são a pág. 21) se deu huma força do Abbade de Espargo,
pela imbaraçar, e privar os criados o hila conduzir pela Quinta,
que é da sobrinha, m.er desse Pedro Vabo, e do que se julgar, se
dirá depois tambem: sahio a favor a Sentença, abaixo o digo. Tem
este nascente, a sua origem em uma fonte, chamada de João Pirão,
por nesse tempo sêr o possuidor da propriedade, em que está esse
posta, em hum campo, cito no Lugar das Eyras desta Villa, onde he
morador o dono delle, que se chamava António de Pinho, mas oje o
possue sem que porem este, sem embargo de ser senhor do dito
campo, possa de nenhuma sorte uzar delIa nem devertila em tempo
algum de verão, e menos neste tempo empedir aos criados, e
cazeyros desta Caza o hir busca Ia athe o proprio nascente, onde
só de Inverno não podem hir tirarlha, por lhe estar concedida
nesse tempo, e puder merujar com ela, só o dito Campo onde nase,
sem poder devertila, para outro qualquer, por nam impedir as
vertentes que cavam em os mesmos aquedutos, para virem da mesma
sorte beneficiar esta Quinta, em o dito tempo de Inverno, em o
qual não podem os criados, e cazeiros desta caza, hir buscala, se
não the o fim do dito campo, por não impedir lhe este benefício,
de que não podem utilizarse de verão, por ser toda, toda desta
caza, como se acha julgado, nesta Relação em quatro de Mayo de mil
settecentos quarenta, e sinco annos, como abaixo se apontará a
dita Sentença.»
Como vimos, as casas que estavam
junto às grades, localizavam-se logo a seguir a estas
desenvolvendo-se até «á viela que vay para Rolães e Montinho».
Já faceando esta viela e «pegadas
mesmo» àquelas, havia umas outras casas que, por detrás, estavam
«partindo mesmo com a Eyra», casas que estavam aforadas ao cónego
de S. João Evangelista de Santo Eloi
– da Vila da Feira – o
P.e
João de Santo António Cruz, assistente no seu convento (donde era
boticário), pela quantia anual de um tostão.
Estas casas foram doadas, em 17 de
Dezembro de 1662, por Antónia do Amaral Tavares (que foi casada,
em Cimo do Douro, com Manuel da Mota Pereira do lugar do Vale, do
concelho de Penaguião) a sua sobrinha D. Antónia de Vasconcelos
Amaral, avó da D. Victória de Lacerda.
«Na travesa, q.e vay da Rua,
p.ª
Rulaens e o Montinho, á umas Cazas pegadas mesmo, ás q.e se
comprarão na Quinta. e estão unidas, ás minhas grandes, cujas
cazas da travesa, por detraz estão partindo mesmo com a Eyra,
minha, e dela se me pagão, cem reis em dinheiro «Huette
– cit. ob.
pág. 133».
Destas casas foi senhorio directo
Huette Bacelar e sua mulher D. Victória, por sucessão dos maiores
desta.
Delas foram senhorios directos em
tempos antigos, os já mencionados António Moreira de Vasconcelos e
mulher D. Maria do Couto de Vasconcelos (5.os avós da D. Victória
de Lacerda), pais que foram do aludido Diogo Moreira de
Vasconcelos «O Velho» tendo, por inventário, a que se procedeu por
morte deles, em 22 de Fevereiro de 1609, ficado o correspondente
foro a pertencer a sua referida filha D. Antónia do Amaral
Tavares.
Então era foreiro um tal Salvador
Gonçalves, da Vila da Feira. Como ela não teve filhos, deixou os
seus bens, incluindo o direito ao dito senhorio directo, por
doação feita em 17 de Dezembro de 1662, a sua sobrinha D. Antónia
de Vasconcelos do Amaral, casada com seu primo direito António
Leite do Amaral (terceiros avós da D. Victória de Lacerda). Por
essa doação se verifica que era, então, foreira Mariana Carneiro,
em sucessão de seu pai Manuel Carneiro.
«E dis a Verba da dita Duação asim
= o q.e paga Manuel Carneyro, desta Vila, agora sua Filha Mariana
Carneyra, cem reis, pelas Cazas em q.e vive, q.e pertensem a este
legado, e outros cem reis à Confraria do St.º nome»
– cit. ob.
fls. 133-v.º.
Depois daquela Mariana ou Maria
Carneyro, pagou o foro Madalena de Soares Aguiar e depois, a filha
desta, Madalena de S. Pedro Rosa que, em declaração feita por
escrito de 10 de Fevereiro de 1759, reconheceu que «as cazas em q.e vivo, da mesma Viela, q.e forão de minha May, Madalena Soares
de Aguiar, pagão ele foro, á Snr.ª D. Josefa Violante de Vasc.os e
ao Snr. Bernardo Moreyra de Vasc.os (respectivamente mãe e avô
paterno de D. Victória de Lacerda), um tostão de foro, de cada um
ano, por dia de S. Miguel e este se lhe paga á m.tos anos» (Huette
cit. ob. pág. 134).
Esta Madalena de S. Pedro da Rosa,
por sua vez, deixou o que tinha ao referido Cónego de S. João
Evangelista, o Padre João de Santo António Cruz. Este deixou de
pagar o foro e foi demandado, em 12 de Dezembro de 1771, por
Huette Bacelar que venceu a causa pelo que o dito Cónego foi
condenado a pagar-lhe o referido foro anual de cem reis apesar de
o Cónego se ter defendido «com mil tulices, costume do seu
letrado».
Acrescenta Huette em seu
comentário (cit. ob. pág. 144-v.º) «sempre se pagou o dito tostão,
aos pasados da caza de m.a m.er. Antes erão =
200 = porém derão os
seus pasados 100 á Confraria do St.º Nome e ficarão com o outro».
Deste modo, foi-nos possível
reconstituir, tal como existia em 1774, todo o prédio da D.
Victória de Lacerda e de seu marido Huette Bacelar, encabeçado
pela antiga Casa da Praça implantada imediatamente a norte
/ 65 /
do edifício da Cadeia, bem como a sua história desde meados do
século XVI, propriedade que, em resumo, era formada pelas casas
que se reuniram na mão da família, edificações que se sucediam
desde a dita cadeia à viela ou travessa que de Rolães decorria até
ao Montinho, com eira e sua casa, hortas, pomares e uma grande
Ribeira, incluindo o pedaço de terra agregado pela já citada
escritura de 2 de Novembro de 1758, ocupando tudo uma área
dilatada que, para melhor compreensão, em relação ao que ainda foi
conhecido em nossos dias, se pode confrontar nos seguintes
limites:
A parte urbana: do nascente com a
Praça e Rua Direita até à viela de Rolães (hoje largo de S. João
de Vêr tomando-se em consideração o seu traçado primitivo como
adiante vai referido, do norte com esta viela e seu prolongamento
para Rolães e Montinho; do sul com o edifício da cadeia e com o
rústico e do poente com o rústico, notando-se que, integrado neste
conjunto, estava a casa de que D. Victória e Huette eram apenas
senhorios directos, pertencendo o domínio útil ao referido Cónego
de S. João Evangelista José de Santo António Cruz, casa esta que
se situava na esquina da viela de Rolães, nas suas duas faces
nascente e norte.
A parte rústica: de nascente com a
parte urbana, e as traseiras do edifício da cadeia e com os
quintais das casas da Rua Direita, que da mesma Praça se
desenvolvia, e ainda se desenvolve, para sul, até à Igreja de S.
Nicolau e com o rio, do sul com as quintas de Fijô e do Fontoura,
do poente com a Quinta de Rolães e do norte com a parte urbana e
viela de Rolães ao Montinho e casa de que foi enfiteuta o referido
Cónego Cruz.
Huette Bacelar, se viveu nestas
casas depois do seu casamento com D. Victória, não o foi com
permanência, pois averiguei que em 1762 – (Huette cit. ob. pág.
322-v.º e 326) ele e sua mulher viviam no Porto, vivendo, na Vila
da Feira, a mãe de D. Victória, Josefa Valente de Vasconcelos e
sua avó Bernarda Sofia de Leão.
D. Victória de Lacerda Cardoso
Botelho de Pinho Pereira e Lourenço Huette Bacelar de Sotto Mavor
tiveram muitos filhos (doze) sendo o primogénito, Duarte Cláudio
Huette, nascido a 7 de Outubro de 1756, casado, em 2 de Outubro de
1771, com D. Ana Joaquina Guedes de Carvalho e Menezes, tendo
havido deste casamento, vários filhos, pelo menos Lourenço Huette
Bacelar, nascido a 29 de Janeiro de 1773, D. Leonor Guedes,
nascida a 19 de Outubro do mesmo ano e João (que foi para o Brasil
com a família real em 1807).
Duarte Cláudio casou segunda vez
com Custódia Luísa Bacelar de que teve uma filha de nome Maria
Eduarda Bacelar Huette que, segundo refere o Dr. Vaz Ferreira no
seu «Ferro Velho» intitulado «A Casa Huett» ("Correio da Feira", n.º
2608, de 4 de Dezembro de 1948) nasceu uns dezasseis anos depois
do irmão mais velho (e, por isso, cerca de 1789).
Segundo diz o mesmo articulista há
quem afirme que D. Custódia não foi mulher legítima do Cláudio
Duarte, lembrando, contudo, que ela figura como avó no registo de
casamento de sua neta (Maria José), filha daquela Maria Eduarda,
casamento que teve lugar, na Casa da Praça, em 18 de Julho de
1855, e, como mãe, no registo de óbito daquela sua filha ocorrido
em 24 de Novembro de 1862 (o que tudo também verifiquei).
Esta D. Maria Eduarda casou com
um capitão que, por decreto de 22 de Julho de 1824 (Ordem do dia
26 do mesmo mês) foi transferido do Batalhão de Caçadores n.º 12
(10) para o Batalhão de Caçadores n.º 11, então aquartelado na
Vila da Feira, de nome José Joaquim da Silva Pereira, irmão do que
foi Conde das Antas. Foi administrador Geral substituto de Aveiro,
deputado de 1834 a 1842 e de 1851 a 1856 e chegou a Marechal de
Campo graduado (11); era filho de Francisco Xavier da Silva
Pereira e de D. Antónia Josefa de Abreu, da Vila de Valença.
Este Marechal foi, sem dúvida,
dono da aludida Casa da Praça e nela viveu (pois aqui fez toda a
sua ascensão militar até Marechal, não lhe sendo conhecido
qualquer feito militar).
É de crer, o que apenas apresento
como hipótese muito verosímil, que a referida Maria Eduarda, quer
fosse filha legítima, ilegítima ou legitimada do Duarte Cláudio
tivesse herdado a casa de seu pai, pois os filhos do Duarte
Cláudio Huette, de nomes Lourenço e António, apareceram como
sucessores, sucessivamente, do chamado Morgadio da Lavandeira (e
não da Casa da Praça), propriedade que margina a rua do mesmo
nome, que parte da Praça para nascente inflectindo depois para
norte, morgadio em que depois sucedeu (como refere o Dr. Voz
Ferreira) João Huette Bacelar casado com D. Maria Brízida de
Vasconcelos, pais do «morgadinho» Duarte Huette Bacelar, casado
com D. Ana Pinto da Cunha e Abreu, da casa do Carrapeto, que, por
sua vez, foram os pais do Dr. Gonçalo Huette Bacelar, por morte de
quem, a quinta da Lavandeira, foi vendida, pertencendo hoje a
Júlio César Alves Moreira, filho do já referido Dr. Gaspar Alves
Moreira.
Verifiquei, através de uma matriz
provisória da freguesia da Feira, feita em 1854, existente na
Biblioteca Municipal da Feira, que nesta data, o prédio ainda
estava inscrito em nome do mencionado José Joaquim da Silva
Pereira sob o n.º 14 com a seguinte descrição: «1
– Uma morada de
casas com lojas e 1.º andar, sitas na Rua – 2) Um campo lavradio
contíguo às mesmas cazas com arvores de vinho» com a anotação de
que
/ 66 / este n.º 2, em 1857, teve o n.º 12, assim se mantendo
em 1859.
A D. Maria Eduarda (que, como se
disse, faleceu na casa da Praça, a 24 de Novembro de 1862) deixou
uma filha de nome D. Maria José Huette Bacelar da Silva Pereira
que, em 16 de Julho de 1855, casou no Oratório da Casa da Praça,
com o Conselheiro Dr. Francisco de Castro Matoso da Silva Corte
Real (que foram senhores da referida Casa da Praça), nascido a 23
de Novembro de 1832
(12) e foi Delegado do Procurador Régio nesta
comarca e Procurador Régio no Porto, Juiz Conselheiro do Supremo
Tribunal de Justiça, falecido em 16 de Agosto de 1905: era irmão
do Conselheiro Dr. José Luciano de Castro. Tiveram 2 filhos
Francisco e Fernando que foram os últimos descendentes do Marechal
Silva Pereira.
A espada deste está arrecadada no
Museu Municipal desta vila, conforme a dá como identificada o Dr.
Vaz Ferreira. Aquela casa e Quinta da Praça foram descritas na
Conservatória do Registo Predial da Comarca da Feira sob o n.º
1792, a fls. 26-v.º do L-B-9, em Dezembro de 1869, a favor do
referido Dr. Francisco de Castro Matoso Pereira Corte Real, por
força da escritura pública de esponsais e dote lavrada, em 28 de
Dezembro de 1854, pelo Tabelião que foi da Vila da Feira, Joaquim
Vaz de Oliveira Júnior e outra de partilha amigável, em 11 de
Novembro de 1865, lavrada por Francisco Guilherme de Brito, da
cidade de Lisboa e de uma certidão com data de 1 de Março de 1866
de uns autos cíveis de posse que correram seus termos no Tribunal
da comarca da Feira, a requerimento do dito Dr. Francisco Matoso,
constante dessa descrição: «Prédio urbano e rustico de casas e
Quinta denominada da Praça que se compõe de casas de habitação,
cavallariças, currais, casa da eira, tanque, fonte, pomares, de
caroço e de espinho, terras lavradias, pateo, água chamada de João
Pirão, situada na Praça Velha desta Vila e freguesia da Feira, a
confrontar do nascente com a Praça Velha e Paços do concelho,
poente com o Padre António Joaquim Ferreira e Quinta de Fijô dos
herdeiros de João Ferreira da Silva da cidade do Porto, norte com
Francisco José Pinto; caminho e viela de Rolaens
(13) e do sul com
a Cadeia e Quintal dos Paços do Concelho, Francisco José de
Oliveira e Rio». Por morte do Conselheiro Matoso ficou esta
propriedade para seu dito filho Dr. Fernando, de apelidos Castro
Matoso, Juiz Ouvidor da Junta de Crédito Público e sua mulher D.
Alice Martins de Sousa de Castro Matoso, os quais, por escritura
de 16 de Outubro de 1908, lavrada nas notas do notário de Lisboa,
Carlos Alberto Scola, a venderam a António Bernardo Coimbra,
casado com D. Emília Resende Coimbra. Por falecimento daquele
ficou para a viúva e seus filhos Alberto Coimbra, casado com D.
Maria Emília de Mello Toscano Coimbra, Conselheiro Dr. Eduardo
Coimbra, Dr. Elísio Coimbra e Vitorino Coimbra: por escritura de 7
de Junho de 1941 venderam-na a Domingos Gomes da Silva. Nesta
escritura, o prédio foi desdobrado em duas parcelas, a saber:
/ 67
/
Esquerda
– Casa que foi de
D. Victória de Lacerda. Direita – Casa que foi designada por
Alqueive das Sizas ou da Almotaçaria. (Segundo quartel do séc. XX)
a) Casa de habitação de um andar e
rés do chão, com quintal e mais pertenças, sita na Praça do Doutor
Gaspar Moreira, a confinar do nascente com a mesma Praça, do norte
com herdeiros de Manuel Ferreira Dias de Oliveira e Largo, do
poente com o prédio abaixo descrito e do sul com os Paços do
Concelho
–
inscrito na matriz predial urbana no artigo 69.º.
b) Prédio de casas de habitação,
currais, eira, canastro e casa junta para indústria, terras lavradias
juntas, tanques, pomares, deveza, ramadas e mais
pertenças, denominada Quinta de Rolaes, sita neste lugar, a
confinar do nascente com os Paços do Concelho e outro, do norte
com a estrada, do poente com o Dr. Domingos Caetano de Sousa e
outro e do sul com o rio, inscrito na matriz nos artigos 313 da
urbana e 1312 da rústica.
Ambos formavam o já falado prédio
descrito na Conservatória do Registo Predial sob o n.º 1 792.
Na matriz predial anterior à
actual o prédio esteve inscrito, sucessivamente, em nome de
Francisco de Castro Matoso (Dr.), António Bernardo Coimbra e
Domingos Gomes da Silva, nos artigos 344 Urbana e 1 312 rústica
com os números de polícia 117, 119, 121 e 123.
Na madrugada de 23 de Novembro de
1948 foi a casa consumida por um incêndio e depois, as suas ruínas
e terreno onde esteve implantado, foram vendidas, por aquele
Domingos Gomes da Silva, por escritura de 10 de Maio de 1950, à
Câmara Municipal da Feira que a mandou demolir para dar lugar à
urbanização hoje existente – de que resultou o alargamento do
largo dos Condes de S. João de Vêr: a parte da casa que, pelo lado
sul estava incrustada nos Paços do Concelho, foi então, agregada a
este edifício.
A Rua Dr. Victorino de Sá, vendo-se,
ao fundo, a Rua da Lavandeira
– 1957
Os terrenos da Quinta foram também
vendidos em parte, à Câmara Municipal da Feira, por escrituras de
14 de Setembro e 30 de Novembro de 1953 e, as outras parcelas, a
particulares, dando, assim, lugar, à urbanização da Vila de onde
resultaram arruamentos, como a rua da Índia Portuguesa,
alargamento da Rua Dr. Vitorino de Sá e dito largo dos Condes de
S. João de Vêr, áreas onde hoje se encontram construídos diversos
edifícios, entre os quais se contam os do Mercado Municipal,
Correios e Caixa Geral de Depósitos, além de muitas casas
particulares.
B
Casa que foi de Manuel José
Godinho
No século passado existia, junto à
rua Direita, a confinar pelo norte com a Rua de Rolães, uma casa
que foi pertença de Manuel José Godinho
(14) que foi recebedor do
concelho e pessoa muito abastada, desta vila, tendo sido
Presidente da Câmara Municipal da Feira no exercício de 1874-75 e
em 1878 e Conselheiro Municipal no exercício de 1876-77 e ainda
Provedor da Santa Casa da Misericórdia da Feira.
Deixou todos os seus bens à Santa
Casa da Misericórdia do Porto. No inventário a que se procedeu por
seu óbito, essa casa foi posta à venda, em hasta pública, sendo
arrematada pela Câmara Municipal, por 600000 réis em Junho de
1901, a fim de ser demolida para proporcionar o largo que foi
designado por D. Pedro V e veio, mais tarde, em Abril de 1940, a
receber a denominação de «Condes de S. João de Ver, tendo
contribuído para o seu pagamento os proprietários vizinhos a quem
interessava a sua demolição: – o Desembargador, e Par do Reino,
Francisco de Castro Matoso, o recebedor do concelho Artur
Guilherme Bandeira de Castro, o advogado Dr. Manuel Augusto
Correia Bandeira, o escrivão-notário José Vieira de Sousa, o
farmacêutico Joaquim Pinto de Araújo, o comerciante Francisco
Plácido Alves e os herdeiros do grande proprietário e capitalista
João Leite de Sousa.
Esta casa foi arrematada com a
condição de só ser demolida após Outubro seguinte, visto estar
arrendada, até esse mês, ao comerciante José Maria Martins.
Este prédio, que era formado por
rés-do-chão, 1.º andar e águas furtadas, estava situado na Rua
Direita, fazendo esquina para a viela de Rolães e para a rua de
Rolães e segundo informação da época, era, pelas suas linhas
características e patine, um dos prédios antigos da Vila.
Foi descrito na Conservatória do
Registo Predial desta comarca, em 1868, sob o n.º 591
– a fls.
262-v.º do L-B-4.
«Prédio urbano que consta de casas
de sobrado com lojas por baixo, situado na Rua da Praça desta
freguesia e Vila da Feira, com os números de polícia, para a rua,
114, 116, 118 e 119 e para a viela de Rolaens
– 410, 411 e 412
–
a
confrontar do nascente com a Rua da Praça, do poente e sul com a
viela de Rolaens e do norte com a rua D. Pedro V».
/ 68 /
Esteve inscrita na matriz predial
– enquanto ainda não havia a distinção entre urbana e rústica – no
n.º 1 314, correspondendo aos n.ºs de polícia 125, 127,
129 e 131 – tudo em nome daquele Manuel José Godinho e só por
acórdão de 1910 foi tal número eliminado na matriz por ter sido
demolida a casa. Esta demolição teve lugar em 1903, depois de
terem sido postos em arrematação os seus materiais em diversas
praças, a primeira das quais teve lugar em 3 de Abril de 1902,
arrematação que veio a fazer-se pela quantia de 150$00 em 19 de
Março de 1903. Esta casa esteve arrendada a uma mulher, a Joana
Barbeira, muito conhecida no tempo, por nela ter instalado um
estabelecimento de mercearia, muito popular, que era viúva e veio
a casar, pela 2.ª vez, com José Maria Martins, vindo de Trancoso
de onde trouxe, para a sua companhia, dois sobrinhos, João Aires
Ferreira e Laura Martins.
Na mencionada matriz provisória de
1854 este prédio está descrito em nome de António José Correia da
Silva Telles, sob n.º 15, como sito na Rua e formado por morada de
casas com lojas, 1.º andar e quintal sitas na rua: este quintal
deve referir-se a um pequeno logradouro que tinha para poente, com
telheiro, a facear com a viela de Rolãens que a Joana Barbeira
utilizava para depósito de castanhas.
Esta casa pertenceu a Manuel José
da Silva Teles, casado com Maria Angelina Carneiro de Lima
(falecida em 2 de Fevereiro de 1849) que, por escritura de 1 de
Fevereiro de 1845, a hipotecou. Tendo falecido em 8 de Maio de
1849 ela veio a pertencer a seu filho, o aludido António José
Correia da Silva Teles, que a manteve em sua mão até que, em 12 de
Julho de 1885, foi arrematada em hasta pública pelo referido
Manuel José Godinho em processo de execução movido contra aquele
António da Silva Teles. Ainda não consegui apurar como ela veio à
posse do Manuel da Silva Teles – assim como não consegui
identificar esta Casa no Tombo da Casa da Feira (Infantado) na
relação dos obrigados ao pagamento do portado, mas não resta
dúvida que também o pagava por ter porta para a rua.
A existência desta casa veio
levantar dificuldades para o meu estudo em virtude da localização,
já averiguada, da casa de Huette Bacelar que, como dissemos, foi
formada pela que estava contígua à cadeia e pela que lhe estava
ligada imediatamente para norte, comprada por Diogo Moreira
Cardoso de Vasconcelos, por escritura de 1738, a Francisco Xavier
de Freitas e suas cunhadas, casas que, como também já referimos,
formaram, pela ligação feita, interiormente, entre elas, um todo
na mão do dito Diogo Moreira Cardoso de Vasconcelos
(15).
Esquerda
– Casa que foi de
D. Victória de Lacerda. Direita – Casa que
foi designada por Alqueive das Sisas ou da Almotaçaria. (Segundo
quartel do séc. XX)
Esta última casa, que Huette chama
«outra pequenita» pegada àquela que confinava directamente com a
cadeia, nada tem que ver com a que pertenceu ao António José da
Silva Teles, pois esta estava desligada daquele conjunto (formado
pelas duas aludidas casas) por uma travessa que a circundava –
pelo sul e poente, desde a rua Direita até à Rua de Rolães, o que
formava, então, a viela do mesmo nome ou da Praça, separando-a,
assim, pelo lado poente, da casa que passaremos a falar como
pertencente a João Leite de Sousa, o que está esclarecido pelas
confrontações dadas na referida descrição na Conservatória.
O que nos chegou a intrigar foi a
confrontação dada àquela casa pequenita, que ficava para norte,
«fazendo quina para a Travessa», como diz Huette Bacelar no seu
referido trabalho a fls. 19, quando a casa de António da Silva
Teles (que depois foi do Manuel José Godinho) faceando com a rua
Direita, também confinava com a referida viela de Rolães.
A dúvida que se levantava
resolvi-a à face de um contrato que consta da acta das sessões da
Câmara Municipal da Feira de 2 de Setembro de 1859. Dele se
conclui que, até então, a viela de Rolães seguia por detrás da
casa do Telles e desembocava na rua Direita, entre esta casa e a
do Marechal Silva Pereira, pois a casa do Telles, então estava
ligada à que se
/ 69 / lhe seguia para norte, pertencente a José
Maria Cochofel Pinto Leitão e sua mulher D. Antónia Júlio Pinto de
Magalhães Cochofel, da Lagariça e, ao tempo, assistentes na Vila
da Feira. Pelo mencionado contrato aquele Cochofel e sua mulher
venderam, à Câmara Municipal da Feira, uma faixa da sua casa que
ligava com a do Telles, de modo a entre ambos se formar uma nova
saída da viela de Rolães para a rua Direita, viela que ficou
marginal, pelo norte, com a restante parte da casa do Cochofel e
do sul com a casa do Telles. E, deste modo, a viela de Rolães
ficou com dois acessos para a rua Direita imediatamente contíguos
à casa do Telles, um do norte e outro do sul: este manteve a
designação de viela da Praça e aquele deu início à Rua de Rolães
ou de D. Pedro V.
Rua Direita e, ao lado direito, a
entrada para o antigo Largo de D. Pedro V.
Do mencionado contrato consta que
os referidos vendedores cederam à Câmara Municipal «terreno da
casa que nesta villa possuiam com os numeros setenta e um e
setenta e dois na Rua Direita para se abrir no terreno, que a
mesma ocupa, uma Rua e entroncar na viela de Rolaens e seguindo ao
Montinho, cujo terreno tem de comprido pela parte do norte a medir
da esquina da casa nova (16) deles cedentes até além das portarias
de carro que esta no muro do quintal das mesmas casas dez braças
(17) pela parte do sul. principiando a medição na outra esquina do visinho a seguir paralela com a casa deles cedentes seis braças e
meia, e de largo em todo o terreno duas braças e palmo e meio,
fora a parede do visinho, que pertence metade a elles cedentes e
que também por este contrato a cedem a esta Câmara, e tudo com as
seguintes condições: Primeira
– que esta Câmara lhe dará pelo
terreno expropriado e amigavelmente cedido a quantia de cento e
noventa e dois mil reis em metal sonante, pagos no acto da assignação deste contrato: Segundo – que esta Camara não
consentirá, que o visinho António José da Silva Telles, abra
janela ou portas, na meação da parede que elles cedentes cedem a
esta Camara, salvo pagando o dito Telles, ou sucessores, uma
quantia igual aquela que eles cedentes recebem desta para ser
aplicada metade em obras municipais e outra metade no Hospital
(18) que se vai criar nesta Villa, caso se leve a effeito a sua
creação, do contrário será esta dita metade para elles
cedentes...»
Rua Direita. Ao fundo, a Praça do Dr.
Gaspar Moreira e, à direita,
o Largo dos Condes de S. João de Vêr em 1952.
C
Casa que foi de João Leite de
Sousa
Para trás da casa do Godinho, para
poente e separada desta pela mesma travessa, existia uma outra
casa, que foi pertença do proprietário e capitalista João Leite de
Sousa.
Esta casa deve ser aquela a que me
referi, pertencente ao património de Huette Bacelar – que estava
aforada ao Cónego de S. João Evangelista de Santo Eloi – o Padre
João de Santo António Cruz, isto porque, de facto era ela que
tinha, por trás, a Eira e casa da Eira da casa nobre do Huette
Bacelar e que veio ao património da família de sua mulher, por
doação, feita em 17 de Dezembro de 1662, por D. Antónia do Amaral
Tavares a sua sobrinha D. Antónia de Vasconcelos Amaral casa que,
como diz Huette na sua citada obra a fls. 133 e já foi referido,
estava implantada na travessa que ia da Rua para Rolães e Montinho
«cazas pegadas mesmo, ás q.e se comprarão na Quina, e estão
unidas, ás minhas grandes cujas cazas da travessa, por detras,
estão partindo mesmo com a Eyra, minha».
Ora estas casas eram exactamente
as que estavam ligadas com as traseiras da casa grande, quando é
certo que as do Godinho estavam separadas desta por uma travessa.
Como já dissemos, foi enfiteuta
desta casa Madalena Soares de Aguiar, mãe da Madalena de S. Pedro
Rosa, que, por sua vez, a deixou ao aludido Padre João de Santo
António Cruz. Em 30 de Dezembro de 1754 aquela Madalena Soares de
Aguiar reconheceu à Casa da Feira (Infantado) a obrigação do
pagamento do portado, como se vê do Tombo desta Casa a fls. 86,
com a seguinte inscrição: «Reconhecimento de huma galinha sem ovos
que fazem Madalena de Aguiar Soares viuva que ficou de José
Fernandes e Maria de Aguiar Soares moradores na viella desta Villa
pelo portado de casas em que vivem».
A casa que foi de João Leite de Sousa,
quando se iniciou a sua demolição e o
alargamento da Praça dos Condes de S. João de Vêr – 1957
A localização dada na viela que é,
sem dúvida, a de Rolães vem confirmar o que vimos referindo.
Assim, a casa pertenceu, e tendo
em atenção o que atrás foi referido com desenvolvimento, em
senhorio directo desde António Moreira de Vasconcelos (5.º avô de
D. Victória de Lacerda) que viveu entre os anos de 1596 e 1609 e a
sua mulher D. Maria do Couto de Vasconcelos, que sobreviveu a seu
marido, sendo enfiteutas (19) em 1609, um tal Salvador Gonçalves
e, sucessivamente, Manuel Carneiro, sua filha Mariana Carneiro
(esta em 1662) e mais tarde a mencionada Madalena Soares de Aguiar
– ou Madalena Aguiar Soares (em 1754) sucedendo-lhe sua filha
Madalena de S. Pedro Rosa (1758) de quem foi herdeiro o referido
Cónego de S. João Evangelista, o Padre João de Santo António Cruz
(1771). Posteriormente, só conhecemos a casa na posse de Francisco
José Pinto (matriz de 1854) que adiante será referido. Desconheço,
porém, quem a possuiu entre os referidos anos de 1771 a 1854 e
quando se deixou de pagar foro, passando os enfiteutas a
possuí-las em plena propriedade, mas pelo que atrás já foi dito,
quando nos referimos à venda feita pela Madalena de S. Pedro Rosa
e Fernando Botelho Pinho Pereira Vasconcelos e Lacerda, esta
Madalena em 1758 só era senhora em propriedade plena de terra
vendida, pois, como aí se
/ 70 / disse, ela «nem sabe que a dita
terra tenha direito Snr. algum».
Creio, que, assim, tudo se
reconstitui com verdade. Esta casa aforada é que, depois de
demolida a do Godinho, ficou a facear, pelo poente, o dito largo
dos Condes de S. João de Vêr (no centro do qual existiu uma linda
olaia que foi derrubada quando se procedeu à expropriação da casa
e à urbanização do local), que, pelo sul, tinha a casa grande que
foi do Huette Bacelar e ficou a confrontar do nascente com o
referido largo e pelo norte com a rua de Rolaens ou de D. Pedro V
que, depois de várias transformações, veio a formar a rua Dr.
Victorino de Sá – transformações que constituíram no seu
alargamento, regularização e pavimentação, quando foram
presidentes da Câmara Municipal da Feira este Dr. Victorino de Sá
e Dr. António Pinto da Mota.
Verifiquei, através da já referida
matriz provisória de 1854, que então era dono do aludido prédio o
Francisco José Pinto, pai de Maria Luciana Brandão (nascida em 20
de Dezembro de 1849), irmã de Henrique e Alexandre Brandão, que
foram sócios fundadores da Fábrica de Espinho, Brandão Gomes &
C.ª,
que se casou com João Leite de Sousa, em primeiras núpcias deste,
não tendo havido descendência deste casamento.
Aquele Francisco José Pinto, que
era filho de António José Pinto e de Maria Joaquina, foi casado
com Maria Josefa de Jesus, do Castelo, filha de Sebastião Pinto e
Josefa Joaquina.
A casa, em seguida, veio a
pertencer ao João Leite de Sousa, por certo por força do seu
casamento com a Maria Luciana.
Naquela matriz de 1854 a casa
recebeu o n.º 5 do artigo 362 com a seguinte descrição: «Uma
morada de casas com lojas e 1.º andar sitas na viela da Rua com o
n.º...».
Em 15 de Dezembro de 1869 ainda a
casa pertencia ao Francisco José Pinto, como se pode ver pelas
confrontações dadas na descrição feita do prédio que foi do Huette
de Bacelar, na Conservatória do Registo Predial desta comarca, a
quando do seu registo a favor do Conselheiro Dr. Francisco de
Castro Matoso Pereira Corte Real, como já referi. Por óbito do
Francisco José Pinto, de apelido também Brandão, procedeu-se a
inventário, cujas partilhas foram julgadas por sentença de 1 de
Janeiro de 1885.
A mesma casa, depois da morte
daquele João Leite de Sousa, que ainda vivia em 1901,
transmitiu-se aos filhos do seu segundo casamento com uma mulher
de Vila Boa, lugar da freguesia da Feira, de nomes Fernando Leite
de Sousa e João Leite de Sousa, transmitindo-se, depois deste,
para Manuel Ferreira Dias de Oliveira, filho de Francisco Ferreira
Dias de Oliveira e de Josefa Maria Soares, casado com Ana Cristina
da Costa Milheiro e para um seu sobrinho de nome Joaquim Resende
para, em seguida, ser propriedade exclusiva daquele Manuel e
mulher.
Por morte deste ficou para a viúva
e para seus filhos, filha e genro
– Carlos Alberto Ferreira
Milheiro, Arménio Milheiro de Oliveira, Licínio Milheiro de
Oliveira e Maria Otília Milheiro Ferreira casada com José Valente
de Pinho Leão e, por força do inventário a que se procedeu em 1936
– ficou todo o prédio a pertencer à viúva.
/ 71 /
A mesma casa esteve inscrita, na
matriz predial urbana, no artigo 345 e na rústica no artigo 1 313
e tinha os números de polícia 693 e 694. Mais tarde recebeu o n.º
312 da urbana.
Em 1956 foi o prédio expropriado,
por utilidade pública, pela Câmara Municipal para efeito da
aludida urbanização da zona – atribuindo-se-lhe a área de 185,42 m2
e o valor de 211 00$00, preço por que foi expropriada.
Estava descrita na Conservatória
da comarca sob n.º 46505 a fls, 88-v.º do L-B-120 – tendo, em
1947, a seguinte descrição: «Prédio formado por casas terreas e de
sobrado com o seu pateo, sito na rua, a confrontar do nascente com
o largo D. Pedro V, do poente e sul com herdeiros de António
Bernardo Coimbra. e do norte com a rua de Rolaens e tem 2 andares
– com lojas no seu baixo.»
Quando foi expropriado,
destinavam-se, os altos, a pensão denominada «Ferreira», que hoje
está instalada na rua Dr. Victorino de Sá e, os baixos, a um
estabelecimento comercial de venda de vinhos. mercearia e águas
minerais.
De todo o exposto verifica-se que,
hoje, não existe nenhuma das casas referidas nesta alínea 1).
As traseiras da casa que foi de João
Leite de Sousa, quando se iniciou a sua demolição – 1957
D
NOTAS CURIOSAS
a) Àquela casa de Huette Bacelar.
que estava junto à cadeia. refere-se Alberto Pimentel no seu livro
«A Guerrilha de Frei Simão», escrito no ano de 1895.
Simão de Vasconcelos. da casa dos
Vasconcelos, de Cesar, professou na ordem de S. Bernardo e foi
conhecido por Frei Simão de Vasconcelos.
Aderindo à causa liberal,
organizou e comandou guerrilhas nesta região, até que, em dado
passo da sua actividade guerrilheira, foi preso e enclausurado na
aludida cadeia da Vila da Feira, sita na Praça Velha.
Frei Simão, que estava preso numa
cela que ocupava no último andar, havia catorze meses, conseguiu,
com a cumplicidade do carcereiro, fugir «subindo ao telhado da
cadeia, e passando ao da casa visinha» (a casa da Praça em causa,
então na posse do Marechal Silva Pereira) e «De telhado em
telhado, pela viela de Rolães, foram os dois fugitivos descer à
Eira» (cit. ob. fls. 221) (esta eira é a que atrás ficou
mencionada).
b) O falado Diogo Moreira Cardoso
de Vasconcelos (Pai da D. Victória de Lacerda) bem como seus pais,
referidos Bernardo Moreira Cardoso de Vasconcelos e sua mulher D.
Bernarda Sofia de Leão Pinho Pereira «e os mais passados» (como
refere Huette Bacelar
–
cit. ob. fls. 23-v.º) estão sepultados na
Igreja Matriz desta Vila da Feira, no corpo da Igreja, junto às
grades do Cruzeiro na primeira fila número 5 em sepultura de Diogo
Vaz Pinho, abade de Esmoriz, que era tio direito de Fernando
Botelho de Pinho, casado com D. Isabel Soares de Lacerda (Bisavós
de D. Victória de Lacerda e pais da aludida D. Bernarda Sofia de
Leão).
Em anotação, Huette Bacelar
esclarece: «He mesmo a primeira sepultura, que esta ao deser das
grades. tem a sua pedra magnífica, com armas e Letreiro».
Da mesma casa existem, na referida
Igreja, mais duas sepulturas: uma na fila n.º 5, de Belchior
Lopes, abade de Romariz, parente pela mesma parte e outra na sexta
fiada, número 2, de Fernando Dias e seus herdeiros.
Segundo Huette, estas informações
foram-lhe dadas, conforme seu dizer «as quais se acham declaradas,
por um Religioso, que ha no dito Convento, em que formou em hum
livro, que os ditos Padres tem, o pavimento da Igreja com a forma
das sepulturas em ós e descreveo dentro dos ditos ós, os nomes das
pessoas de quem forão, e a que tocavão oje, o qual Padre mesmo deu
a clareza pela sua letra, que tenho, e esta com o título desta
coza...» (cit. ob. fls. 23-v.º).
__________________________________
NOTAS:
(1) – Esta genealogia é uma
colectânea de manuscritos genealógicos e de outros documentos que
interessam à história da família Soares Barbosa, reunidos em
volume com 189 folhas, precedidos de uma certidão passada pelo
escrivão da Câmara de Vila da Feira. extraída do Livro de Registo
Geral. referente ao Brazão d'Armas de Thomé Joaquim Nunes Pereira
de Resende, a requerimento do Bacharel João de Melo Leite, da Casa
da Bargia (hoje conhecida por Varsia) de S. João do Madeira.
(2)
– Estes tombos existem na
Biblioteca da Câmara Municipal da Feira. Quando fui Presidente
desta Câmara, tomei conhecimento do sua existência, em condições
de abandono, na Direcção de Finanças de Aveiro e solicitei ao
Director Geral da Fazenda Pública,
– cargo que então era exercido
pelo senhor Dr. António Luís Gomes, a sua cedência à mesma
Biblioteca no que fui gentilmente atendido. Assim, foram
entregues, o Tombo da Casa da Feira (Infantado) constituído por 13
/ 72 / volumes, em Outubro de 1939 e o do Convento de S. João Evangelista da Vila da Feira, com excepção do volume
6.º, em
Fevereiro e Maio de 1940.
(3)
– Além destes tiveram os
seguintes filhos: – Pedro Soares de Vasconcelos, casado com Maria
Borges; Bernarda Coelho, casada com o licenciado João Borges de
Cambra; Madalena Soares, casada com Lucas Pinto Coelho (a quem Gayo também chama Luis a fls 103 T.
II) e Leonor Meirelles Soares,
casada com Amador de Aguiar.
(4)
– Cunhado do Diogo Moreira de
Vasconcelos por ter casado com uma irmã deste de nome Madalena
Moreira. Estes eram filhos de António Moreira de Vasconcelos e Maia do Couto Vasconcelos e netos paternos de Marcos Moreira e de
Leonor Caldeira da Principal. Este Marcos Moreira, como refere
Felgueiras Gayo, cit. Ob. Tomo XXI pág. 55, «viveo na terra da
Feira no tempo d'El Rey D. M.el foi Fidaigo da Caza do Infante D. Luiz achou-se na Tomada de Tunes era parente de Heytor Moreira o
Velho mas isto não se sabe com certeza. Cazou na terra da Feira
com Leonor Caldeira da Principal gente daquella vila e depois de
viver ali alguns annos e ter seis filhos foi p.ª a India com dois
q levou consigo e se meterão na Companhia de Jezus, e farão
Martires».
(5)
– Este Lopo vivia em 1549, pois
em 19 de Julho desse ano tirou Brasão de Armas (Felg. Gayo – cit.
ob. Tomo XXVII, pág.110, §11, n.º 11).
(6)
– Esta quinta de Frei também se
denominou de Farey, e estava situada na terra da Feira: era «prazo
da Comenda de Roças (Felg. Gayo T. X, pág. 109, § 316) que deve
ser a actual freguesia de Arouca e, por isso, embora da terra da
Feira, era multo distante da Vila da Feira.
(7)
– Designação que já vem no
citado Foral concedido por D. Manuel I quando declara foreiros
...«os chãos da feira aa ponte detras as casas da cadea traz Lopo Affonsso
e outros herdeiros...» (Arquivo do Distrito de Aveiro – VoI. V, pág. 18).
(8)
– Esta água ainda é designada
pela da «Fonte do João Pirão» em descritos no Conservatório do
Registo Predial desta comarca.
(9)
– Este portado (que no Tombo é
designado por foro geral) era pago à Casa da Feira pelos
proprietários ou posseiros como enfiteutas, dos referidos prédios
que na rua deitavam para a via pública – e neles fizessem «fogo»
como consta do Foral concedido à Feira de Santa Maria, pelo rei D.
Manuel I. «E pagam todallas as pessoas que fizerem fogo no lugar
da Feira que tiverem porta para a Rua cada hu sua galinha sem
ovos» –
Arquivo do Distrito de Aveiro – Vol. V, pág. 19.
(10)
– Esboço Histórico de Caçadores n.º 11 mais tarde Regimento de Caçadores
n.º 11 e depois Regimento
de Infantaria n.º 26, por Rodrigo Álvares Pereira, Capitão de infantaria (fls. 80).
(11)
– Marechal de campo era o posto
acima de Brigadeiro (comandante de brigada que, por sua vez, era
imediatamente superior a coronel). Tinha como
postos superiores os oficiais generais (tenente-general,
capitão-general e general), marechal do exército e Marechal geral
(o maior posto militar de Portugal). O generalíssimo era o Chefe
dos exércitos, não subordinado a outra autoridade, a não ser ao
rei. (Novo Dic. da Língua Portuguesa, por Eduardo Faria, 1849).
(12)
– Era filho de Francisco
Joaquim de Castro Pereira Corte Real e D. Maria Augusta de Menezes
e Silva de Castro, da freguesia de Oliveirinha, neto paterno de
João de Castro da Rocha Corte Real e D. Ana Luísa de Matos Corte
Real do lugar de Fijô, desta Vila da Feira e materno do Morgado
António Venâncio de Almeida Matoso e Vasconcelos e de D. Maria
Albertina Henriqueta Alvares Pereira de Mello, da mesma freguesia
de Oliveirinha.
(13)
– É curiosa a referência a
«caminho e viela de Rolaens»: aquele deve corresponder à rua de Rolães depois chamada de D. Pedro V, já com a sua saída para a Rua
Direita, depois da abertura feita pela Câmara Municipal quando
adquiriu parte da casa de José Maria Cochofel Pinto Leitão, e esta
à travesso que ia da Rua Direita à de Rolães. o que tudo adiante
será referido na alínea B deste número 1.
(14)
– Do registo do seu óbito, na
freguesia de S. Nicolau da Vila da Feira, consta que faleceu em 13
de Fevereiro de 1898, com a idade de 84 anos pouco mais ou menos,
que era natural da freguesia de S. Tiago de Riba Ul, concelho de
Oliveira de Azeméis, e que era filho legítimo de João José
Godinho, natural desta freguesia de Riba UI e de Maria Joaquina de
Vasconcelos, natural da freguesia e concelho de Oliveira de
Azeméis.
(15)
– A que confinava com a cadeia,
como já vimos, tinha «4 janelas rasgadas» quando a que existia no
fim do século passado já se nos apresentava com 6 sacadas, o que
resultou da sua junção com o «outro pequenito».
(16)
– Por este passo verifica-se
que a casa que hoje aí existe e faceia a Praça dos Condes de S.
João de Vêr, pelo lado norte foi feita, então, de novo.
(17)
– Em sessão de Câmara de 3 de
Janeiro de 1859, com a presença do Administrador do Concelho e do
Alferes de Infantaria José António da Silva, em comissão de
Inspecção Geral de pesos e medidas, foi estabelecida a comparação
dos pesos e medidas, então em vigor no concelho, com os padrões
dos pesos e medidas do sistema decimai sendo fixada a vara em
1,124 m.
(18)
– Na época havia o
convencimento da criação do Hospital no Convento, por assim o ter
deliberado a Câmara em sessão de 3 de Março de 1859, tendo nessa
sessão aprovado uma postura sobre licenças a conceder na abertura
de poços e minas nos caminhos e montados públicos, cujo produto se
destinava à dotação do projectado Hospital.
(19)
– O foro de início foi de 200
réis anuais, mas em determinado momento os senhorios directos
deram metade da pensão à Confraria do Santíssimo, ficando a casa
de Huette a receber a outra metade, como já se disse.