Seria interessante, proveitosa até,
que nas vilas do nosso Distrito se incrementassem os estudos
regionais, de forma a conseguir-se uma colectânea de ensaios que
salvassem e dessem articulação à literatura local.
Pela incúria, pela ignorância e pelo
desconhecimento, se têm perdido notícias, textos, obras literárias
de valor que constituíram, em parte, o património intelectual dos
nossos povos.
É o caso do nosso romanceiro
popular, fértil, na região, por via oral, e que está quase extinto.
Para Águeda, minha terra natal,
querida entre tantas outras, eu gizei um plano de trabalhos que
traria algumas achegas ao estudo dos valores e da historiografia
regional e ao arquivo de espécies, textos e nomenclaturas que estão
em risco de se obliterarem e até de se perderem.
Isso constituiria um inventário do
que se tem escrito e do que se tem publicado de mais importante na
vila e no concelho.
Independente da literatura crítica e
minuciosa de todos os textos, publicados ou não, teria de se
investigar o que há por aí de sonegado, esquecido ou obliterado,
para se tratar convenientemente em rubricas que, no conjunto,
formassem como que uma história da literatura aguedense.
Na imprensa, além dos dois jornais
actualmente em circulação, – «Soberania do Povo» e «Independência de
Águeda» – seria necessário reunir toda a colecção de outras folhas
mais antigas, como – «Escola Popular», «O Timbre», «Fogo Vermelho»,
«Jornal Constituinte», «Povo de Águeda» «Voz de Águeda», «Águeda»,
«Reacção», etc., etc.
Na historiografia local assinalámos
os trabalhos de José Maria Veloso, Dr. Serafim Gabriel da Graça,
Conde da Borralha, Augusto Soares de Sousa Baptista, Padre João
Domingues Arede e Artur Nunes Vidal.
No teatro temos Fernando Caldeira,
Dr. Fernão Corte-Real, Adolfo Portela e Dr. Serafim Soares da Graça.
No folclore, Adolfo Portela, Dr.
Pedro Homem de Melo.
Na novela, Dr. António Homem de MeIo
(Toy), D. Margarida de Oliveira Pinto, Dr. Fernão Corte-Real, Dr.
José Joaquim da Silva Pinho.
Na crónica, Armando Castela, Dr.
Elísio Sucena, Dr. Fernão Corte-Real, Laudelino Miranda de Melo,
Conselheiro Albano de Melo e seu filho Dr. Toy, Padre Marques de
Castilho, Celestino Neto, Dr. Corte Real e Nápoles, Adolfo Portela e
Ernesto Ruela.
Na poesia, Fernando Caldeira, Dr.
Pedro Homem de Melo, Dr. Adolfo Portela, Jessé de Almeida, Dr. Toy,
Conde da Borralha, António Sereno, Dr. Rodrigues Davim e José Maria
Veloso.
Na eloquência, Padre Manuel Lourenço
Júnior.
Muitos mais haverá, mas que neste
breve escorço, no meu pouco tempo disponível, não me recordam. Todos
eles, no conjunto, formam a parte pensante, ia a dizer cerebral, da
minha terra.
A sua evolução foi rápida e a sua
projecção mais ou menos limitada no espaço.
No entanto, de todos os nomes
citados, dois houve que saltariam as barreiras do comum, e têm
projecção nacional. Refiro-me a Fernando Caldeira e ao Dr. Pedro
Homem de Melo. As suas obras tornaram-se destacadas e de certo vulto
nas letras portuguesas.
Não quer isto dizer que não haja
mais, que possam amanhã, embora mortos há muito, virem a tomar uma
posição de mérito junto de outros já eminentes. Para que isto
aconteça torna-se necessário um estudo inteligente e rigorosa de
toda ia literatura aguedense, em grande parte sepultada nas
colecções de jornais muito velhos e obliterados nos dias
materialistas em que vamos vivendo. |