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N.º 1

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Janeiro de 1966 

 

ÁGUEDA NA LITERATURA

Por Joya de Noronha

 

Seria interessante, proveitosa até, que nas vilas do nosso Distrito se incrementassem os estudos regionais, de forma a conseguir-se uma colectânea de ensaios que salvassem e dessem articulação à literatura local.

Pela incúria, pela ignorância e pelo desconhecimento, se têm perdido notícias, textos, obras literárias de valor que constituíram, em parte, o património intelectual dos nossos povos.

É o caso do nosso romanceiro popular, fértil, na região, por via oral, e que está quase extinto.

Para Águeda, minha terra natal, querida entre tantas outras, eu gizei um plano de trabalhos que traria algumas achegas ao estudo dos valores e da historiografia regional e ao arquivo de espécies, textos e nomenclaturas que estão em risco de se obliterarem e até de se perderem.

Isso constituiria um inventário do que se tem escrito e do que se tem publicado de mais importante na vila e no concelho.

Independente da literatura crítica e minuciosa de todos os textos, publicados ou não, teria de se investigar o que há por aí de sonegado, esquecido ou obliterado, para se tratar convenientemente em rubricas que, no conjunto, formassem como que uma história da literatura aguedense.

Na imprensa, além dos dois jornais actualmente em circulação, – «Soberania do Povo» e «Independência de Águeda» – seria necessário reunir toda a colecção de outras folhas mais antigas, como – «Escola Popular», «O Timbre», «Fogo Vermelho», «Jornal Constituinte», «Povo de Águeda» «Voz de Águeda», «Águeda», «Reacção», etc., etc.

Na historiografia local assinalámos os trabalhos de José Maria Veloso, Dr. Serafim Gabriel da Graça, Conde da Borralha, Augusto Soares de Sousa Baptista, Padre João Domingues Arede e Artur Nunes Vidal.

No teatro temos Fernando Caldeira, Dr. Fernão Corte-Real, Adolfo Portela e Dr. Serafim Soares da Graça.

No folclore, Adolfo Portela, Dr. Pedro Homem de Melo.

Na novela, Dr. António Homem de MeIo (Toy), D. Margarida de Oliveira Pinto, Dr. Fernão Corte-Real, Dr. José Joaquim da Silva Pinho.

Na crónica, Armando Castela, Dr. Elísio Sucena, Dr. Fernão Corte-Real, Laudelino Miranda de Melo, Conselheiro Albano de Melo e seu filho Dr. Toy, Padre Marques de Castilho, Celestino Neto, Dr. Corte Real e Nápoles, Adolfo Portela e Ernesto Ruela.

Na poesia, Fernando Caldeira, Dr. Pedro Homem de Melo, Dr. Adolfo Portela, Jessé de Almeida, Dr. Toy, Conde da Borralha, António Sereno, Dr. Rodrigues Davim e José Maria Veloso.

Na eloquência, Padre Manuel Lourenço Júnior.

Muitos mais haverá, mas que neste breve escorço, no meu pouco tempo disponível, não me recordam. Todos eles, no conjunto, formam a parte pensante, ia a dizer cerebral, da minha terra.

A sua evolução foi rápida e a sua projecção mais ou menos limitada no espaço.

No entanto, de todos os nomes citados, dois houve que saltariam as barreiras do comum, e têm projecção nacional. Refiro-me a Fernando Caldeira e ao Dr. Pedro Homem de Melo. As suas obras tornaram-se destacadas e de certo vulto nas letras portuguesas.

Não quer isto dizer que não haja mais, que possam amanhã, embora mortos há muito, virem a tomar uma posição de mérito junto de outros já eminentes. Para que isto aconteça torna-se necessário um estudo inteligente e rigorosa de toda ia literatura aguedense, em grande parte sepultada nas colecções de jornais muito velhos e obliterados nos dias materialistas em que vamos vivendo.

 

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