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N.º 1

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Janeiro de 1966 

 

LAGOA DE FERMENTELOS

Suas belezas e possibilidades turísticas

Pelo Eng. José de Bastos Xavier
Presidente da Câmara Municipal de Águeda

 

Tem de se confessar que a laguna de Fermentelos é sem dúvida a mais encantadora beleza turística do nosso concelho. Quando os nenúfares erguem, na Primavera, a sua cândida flor sobre as águas azuladas, a lagoa toma a expressão maravilhosa dum jardim encantado. A sua beleza é, com efeito, um sugestivo de milagre de luz e cor ­do céu azul, do verde da paisagem, das largas e copiosas folhas dos nenúfares espalmados sobre as águas com a bran­cura frágil da flor acenando no ritmo da aragem que enruga mansamente as águas.

Vai desde EspinheI até lá abaixo a Requeixo, onde uma ponte, junto do rio Águeda, aperta as águas resplendentes da luz, na doce tamização das sombras caídas dos arcos sob os quais elas desli­zam para se prenderem adiante na imo­bilidade dos pegos toldados pela sombra dos salgueiros que lhe tocam com a ponta cariciosa dos seus ramos. Grande mágoa que Raul Brandão não conhe­cesse o suave encanto desta laguna e numa das suas páginas não fixasse para a eternidade o milagre de luz e cor das águas e da paisagem que os cerca e que impressiona a nossa imaginação em sugestões paradisíacas.

Temos de concordar que a beleza dos cenários pede instintivamente à nossa imaginação a presença duma nova Eva. Sem a presença da mulher, esta­mos em crer, que a beleza natural das paisagens não a tinge o seu mais amplo significado. A nossa imaginação peran­te a suprema maravilha das coisas pede que o lugar admirável seja comparti­lhado por alguém mais, que a sugestão edénica do ambiente seja coroada pelos propósitos festivos do Amor – que o homem, enfim, não concebe a beleza do Paraíso sem a presença duma mulher. E quando ela surge, as circunstâncias de tempo e lugar perdem o seu signifi­cado – então o Mundo reduz-se nos dois entes; a Terra é só o lugar que eles pisam.

A Morte virá um dia de manso sem que dê fé o coração nas suas pancadas aflitas; os sete sinos das igrejas que rodeiam a lagoa dobrarão a finados; um caixão estreito atravessará numa barca a laguna a caminho do cemitério na hora triste em que o vermelho do poente se transforma nas trevas cin­zentas do anoitecer.

E as aves que dormem à noite nas águas mansas seguirão o esquife como homenagem a quem as não sacrificou ao prazer estúpido de as matar.

 

Lagoa de Fermentelos

 
 

Lagoa de Fermentelos

 
     

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