Soares da Graça, A igreja de Águeda, Vol. XVII, pp. 161-180.

A IGREJA DE ÁGUEDA

À PARTE o respeito que devemos ao templo onde fomos baptizados − como ali o haviam sido já nossos Pais e Avós − e em que repousam, no chão sagrado, tantas e tantas gerações de gente da nossa terra que lá foram a enterrar no decorrer dos séculos, a Igreja de Santa Eulália de Águeda merece-nos ainda um carinhoso e especial interesse pela íntima ligação que tem com o estabelecimento do aglomerado populacional que à sua sombra se criou e depois, tão notavelmente, se desenvolveu. Mas, além disso, ela representa também hoje, para nós, quase que o único centro evocador dum Passado já remoto e que ali atinge bem eloquente expressão, reflectindo muito do que tivemos outrora, e de que ainda se mantém parte, como parcela dum património rico de tradições e práticas religiosas, tão arraigadas e sentidamente vividas na alma do nosso povo, que foi sempre sincera e profundamente crente(1).

Devemos ainda salientar que a nossa Igreja constitui um considerável agrupamento de coisas de arte, espécie de pequenino museu, onde se reúne o que nos resta dos tempos antigos e que, não sendo muito, é contudo o bastante para, de forma honrosa, poder representar as várias modalidades artísticas que caracterizam os diferentes estilos, abrangendo um período que não deve andar muito longe de cinco séculos. Qualquer dos motivos apontados recomendaria e justificaria amplamente este estudo: o concurso de todos, porém, impô-lo à minha consideração logo que comecei a coligir os elementos com que organizei há anos a monografia de Águeda(2).

À volta da Igreja, na verdade, muitos factos da vida da nossa gente se passaram, dia a dia: quantos ali não foram, [Vol. XVII - N.º 67 - 1951] / 162 / logo no alvorecer da vida, a tomar o banho litúrgico do Baptismo, na antiquíssima Pia Baptismal, curioso exemplar arqueológico, de resaibo gótico, que pode ser admirado no pequeno baptistério? Depois, mais tarde, outros ali se encaminharam também, a unir-se pelos laços do matrimónio, enquanto, de todos, uma boa parte lá ficou ainda a dormir o sono derradeiro... E depois, pela vida fora, quantas coisas mais por ali se passaram e que a nossa memória poderá recordar?... Festas alegres, Procissões coloridas e vistosas, enterros... E assim − bem certo estou disso − poucos haverá que não encontrem nestas folhas − numa página, numa linha, numa entrelinha, qualquer coisa que lhes desperte uma íntima lembrança, uma recordação grata, uma saudade...

Foi preso desta ideia que este trabalho ordenei e escrevi.

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O estudo da Igreja de Águeda, tendo em vista o papel que ela representou como elemento proximamente ligado às origens da povoação, foi já feito há anos, e por mão de Mestre(3); as notas que apresento agora respeitam principalmente à antiguidade e reformas principais do templo, obras de arte que encerra, seu aspecto actual, à enumeração dos Párocos e Curas que nela exerceram a sua autoridade eclesiástica e a dirigiram a partir do século XVI, e ainda ao direito de Padroado, de que era titular a Casa Ducal de Aveiro.

Não se sabe desde quando se ergue aí, a coroar o outeiro em que assenta, e dominando o povoado que foi acolher-se à sua sombra benfazeja, a vetusta igreja de Santa Eulália. Que é de fundação muito antiga, revela-o, entre outras coisas, o facto de, em 1320, ela concorrer com uma soma considerável de rendimento para ajuda da guerra contra os Mouros, em que andava então empenhado o nosso rei D. Dinis; mas já muito antes existia, e o templo deveria ser então de reduzidas proporções; de uma maneira geral, assim terá permanecido até fins do século XVI. É dos meados deste século o belo retábulo de pedra de Ançã, estilo Renascença, que hoje pode ver-se na capela do Santíssimo, mas que estaria primeiramente na capela-mor, servindo-lhe de tribuna. Trata-se de uma peça de grande valor artístico, / 163 / pois tanto a última Ceia de Cristo, rodeado dos seus doze Apóstolos, que se vê na parte superior, como o Sacrário, que ocupa a parte central, ladeado por anjos músicos, que tocam diferentes instrumentos, são composições de harmoniosas e suaves linhas, devidas à mão de experimentados e bons lavrantes, e, sem dúvida, do que melhor pode apontar-se saído da irradiação da escola do Renascimento coimbrão. É um trabalho congénere de vários retábulos da época, vasados nos moldes clássicos então adoptados, em que as figuras de anjos, ou somente as cabeças aladas, destes, envolviam ou acompanhavam lateralmente os sacrários, que lembram pequeninas torres acasteladas(4).

A igreja não teria, por essa altura, mais que três altares: o altar-mor, rematado pelo referido retábulo de pedra e os dois colaterais, um dedicado a N.ª Senhora do Rosário e o outro, a S. Luzia; anteriormente ao século XVII, não encontrei referência a quaisquer outros santos, nem ao seu culto ou capelas.

Tomei nota de alguns legados pios feitos com a imposição de se dizerem missas e de acenderem lâmpadas naqueles altares, tendo o Prior João Rodrigues, ao tomar posse da igreja no ano de 1601, tido o cuidado de registar essas obrigações. Já do século XVII, vi um assento de óbito, referente a Pedro Fernandes, da Póvoa de Rio Covo, falecido no ano de 1622, onde também se diz que ele deixou «hũ alq.e de pam ao S.mo Sacram.to outro a virgẽ do Rosario ou a St.ª lucia per su alma».

Da primitiva edificação é que nada deve existir hoje, e do seu recheio e ornatos transitaram a bela Pia Baptismal a que já nos referimos, e a imagem da Padroeira Santa Eulália, também em pedra de Ançã, de marcado talho gótico, que ainda hoje se vê no nicho sobre a porta principal. A rematar esta, ficava um alpendre que já no ano de 1620 lá se encontrava(5), aí se conservando ainda em 1700, pois na visita Pastoral deste ano se lhe faz referência. / 164 /

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Assim estiveram as coisas por algum tempo, até que começou a notar-se, em face do progressivo desenvolvimento da terra, que a igreja era pequena e não correspondia às necessidades espirituais e categoria da povoação; classifica-se de urgente a obra de a restaurar, ou fazer de novo, e vemos que a partir de 1669 não cessa o clamor feito neste sentido pelos visitadores que ali apareciam com frequência. Na visita Pastoral deste ano, dizia-se que era necessário restaurar a igreja, pois ela, em parte, não estava em bom estado, alvitrando-se também que se fizesse igreja nova ou se acrescentasse a que estava. Em face da documentação consultada, convenço-me de que a insistência dos visitadores a propósito da remodelação da igreja era determinada mais pelas suas acanhadas proporções, do que propriamente pelo seu estado de ruína, que, a meu ver, exageravam; além disso, parece que a igreja nem uma torre tinha, pois naquele referido ano de 1669 falava-se na sua construção, de onde resulta que, decerto, como se observa ainda hoje nos templos de reduzida arquitectura, um simples campanário haveria; e a confirmar isso, há uma disposição expressa no auto da visita de 1665, em que se manda fazer «uma porta para o sino», único decerto, ao tempo. No ano de 1666, também foi ordenado que se concertassem as lajes do pavimento da igreja e que se fizessem de novo os degraus das escadas que davam acesso ao altar-mor, que estavam gastos a tal ponto que era perigoso subir por eles. De tudo isto resulta que em diferentes épocas se fizeram reformas do templo, e que foram aproveitando de umas para outras certas partes de construção e materiais das anteriores. Teremos que retroceder alguns anos para, depois do que atrás deixamos dito, acompanhar melhor a evolução das obras de restauro e ampliação da igreja, que decorreram desde o primeiro terço do século XVII até meados do seguinte.

Parece que, na verdade, a igreja ameaçava ruína (pelo menos em parte), a partir do século XVII, acentuando-se mais esse estado nos princípios do imediato; mas, não cremos que se possa entender assim, de forma geral, e já salientámos que o aspecto ruinoso do templo provinha, em parte, do aproveitamento do que era velho para novas reconstruções: isto, aliado ao mau estado dos telhados e do forro, a que encontramos também algumas alusões desse tempo, deve ter causado a má impressão reflectida nos autos das visitas Pastorais. Vamos então ver o que se fez de novo e qual a parte que apenas sofreu beneficiações, aliás de cuidado arranjo. / 165 /

Do que aí vemos hoje, julgo que, em matéria de construção, tudo se deve aos séculos XVII e XVIII. Assim, pertence ao primeiro terço daquele a instituição das Capelas particulares de Nossa Senhora da Esperança (1624) (6) e do Menino Jesus (1625) (7); e ainda as do Senhor Jesus (1628) e de S. Francisco, esta fundada em data que não pude precisar, mas aproximada destas, e anterior a 1639, ano em que Mateus Fernandes, falecido a 12 de Outubro deste ano, vinculou vários bens à obrigação de se dizerem missas no altar desta capela(8). A primeira foi fundada pelo Cónego Simão Pinto, da Sé de Coimbra, onde faleceu a 12 de Janeiro de 1628, sendo sepultado nesta capela, que ficou sendo pertença da família. A segunda, que vulgarmente é designada por Capela de S. João, foi mandada edificar por Pedro Fernandes Chicre e mulher Brites João, por instrumento de obrigação de 11 de Abril de 1623 (9).

Com a edificação destas quatro capelas se terá ampliado o corpo da Igreja fechando com as duas paredes que delas se continuavam até encontrar a fachada principal, o que deu ao templo um aspecto novo e maiores proporções no sentido da largura, pois creio que, tanto a capela-mor e o arco cruzeiro, assim como a fachada e alpendre que a rematava para o lado do Poente, não sofreram alteração nesta época. Mas chega finalmente o século XVIII, e pelas visitas Pastorais nós podemos acompanhar com mais precisão o que se passou quanto às obras levadas a cabo na Igreja, e que foram muito importantes, como se verá. A autoridade diocesana tomou o caso a peito e não descansou enquanto o não viu resolvido, embora tudo isso se arrastasse ainda por bastantes anos. E bem merecedores são de grata lembrança todos quantos se esforçaram, ou de qualquer forma deram o seu auxílio, para ultimar tal empresa: por isso aqui trarei os seus nomes, para que, gravados nestas páginas, deles fique duradoira memória. / 166 /

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No ano de 1700 vem a Águeda fazer a visita Pastoral, em nome da autoridade diocesana, e por comissão da mesma, o ilustrado e virtuoso Prior de Recardães, ao tempo Arce'diago do Vouga − Dr. Diogo Gomes, muito conhecido pelo seu zelo religioso, e por ter sido ele o reformador daquela igreja (10).

O referido visitador estranhou o estado em que se achava a igreja de Águeda, exteriorizando a sua mágoa por verificar que ela denunciava certo estado de ruína, ainda que a reputava insuficiente para uma terra tão importante e populosa. Ouçamos o que a tal respeito disse:

«He muito para extranhar que sendo este povo tão antigo, nobre e pio, esteja com uma igreja tão pouco asseada e desproporcionada à grandeza da terra; e como seja preciso mandar-se forrar parecia conveniente que assim o R.º Prior como os Fregueses se unissem e com grande fervor procurassem à imitação de outros povos circunvizinhos, menos nobres e poderosos fazer uma igreja para lustre do povo e honra dos freguezes e sobre tudo para gloria e zelo de Nosso Senhor» (11).

Insiste-se na ideia de fazer uma igreja nova, alvitrando-se que fosse pedido o auxílio régio e o concurso do povo, que faria promessas para esse fim; atendendo também a que a obra exigia uma soma avultada, foi determinado ainda que se recorresse ao rendimento das confrarias(12), que dariam tudo aquilo de que pudessem dispor.

Organizaram-se as coisas de forma que nada faltasse para os trabalhos preliminares de tão arrojado empreendimento, comprando-se um cofre para guardar o dinheiro que se ia juntando, havendo daquele três chaves, das quais uma estava na mão do Reverendo Prior; a outra na do Juiz da Igreja; / 167 / e a terceira ficaria confiada à guarda do mordomo mais velho da Confraria do Senhor.

Foi nomeada também uma comissão encarregada de levar a efeito tal empresa e dela faziam parte pessoas de relevo no meio social da época, como eram Bento de Figueiredo Brandão, que, não sendo embora de Águeda, estava aqui ligado pelo seu casamento, sendo o tronco de uma família ilustre que bastante se notabilizou(13); e ainda João Pinto, o Capitão António de Almeida e o Capitão João André Homem(14).

Não podemos acompanhar pari passu os trabalhos relativos à construção da igreja no período que decorre de 1701 a 1716, pois os autos das visitas não nos elucidam a tal respeito; até 1710, esteve à frente da paróquia o Prior Constantino da Silva Pinto, já de idade avançada, e quer-nos parecer que, por esse motivo, principalmente, as coisas que com o assunto da igreja se prendiam, continuaram no mesmo pé.

No auto da visita daquele último ano, novos apelos se fazem, determinando-se ao mesmo tempo que se falasse a um mestre para traçar a planta da nova igreja, e mais uma vez se roga ao Prior tome isso a seu cuidado, pedindo também ao Dr. Manuel do Souto Vidal(15) que interviesse neste assunto prestando a sua atenção «a negócio tanto do serviço de Deus».

Eram cada vez mais fortes as exortações dos visitadores, mas as coisas pouco ou nenhum adiantamento levavam, pelo que foi recomendado ao Juiz da Igreja que se munisse do traslado do auto da visita que à edificação da igreja se referia, afim de requerer ao Dr. Provedor da comarca, para que este por sua vez desse conta ao tribunal do Desembargo do Paço da necessidade que havia de construir a igreja, para de harmonia se mandar passar «Carta de finta», recurso este já indicado na visita Pastoral de 1700.

Por aqui se vê que não foram coroadas de êxito as recomendações que o Prior Diogo Gomes fizera havia já dezasseis anos, e assim ficam as coisas até o ano de 1719, data em que se não tinha dado princípio a quaisquer obras. Os autos da visita deste ano revelam-nos agora um pormenor novo / 168 / e curioso: não havia unanimidade de opinião quanto ao assunto em causa, pois enquanto uns entendiam que a igreja devia ser feita de novo, outros achavam que não; e ainda que dos autos da visita se deixa transparecer a ideia de que a demora da resolução do caso deveria filiar-se em menos zelo da parte dos fregueses, não me parece que fosse essa a causa. Povo como o nosso, essencialmente religioso, observador de quantas práticas devotas ficaram na tradição, não se lhe deve imputar a culpa do sucedido; convenço-me, antes, que presidiu a essas delongas o desejo de conservar o templo mais ou menos como tinha vindo dos antepassados: reformá-lo?, melhorá-lo?, sim; mas apear as suas paredes até à raiz, tirar-lhe o carácter que se tinham habituado a ver-lhe, isso é que não. Queriam decerto conservar-lhe a traça antiga, tanto mais que não havia ainda muitos anos que a igreja tinha sofrido uma reforma de certo âmbito com a fundação das capelas laterais, e seriam até os particulares que as mandaram construir e as duas Irmandades delas proprietárias os principais partidários da simples restauração da igreja; a leitura atenta dos documentos deixa-me neste convencimento. Mas vejamos o que, com tanta clareza, nos expõe o visitador nesse referido ano de 1719:

«Pelo capítulo da visita passada se ordenou se fizesse uma Igreja de novo com a direcção nele declarada, mas agora me consta que houve alguns desentendimentos, por alguns fregueses quererem se não fizesse de novo a dita Igreja e por isso andavam com informações para impedirem se não fizesse no que tem mostrado pouco zelo no serviço de Deus.

E sendo esta freguezia tão populosa e pode concorrer para se reedificar de novo com a ajuda do dinheiro que há de créscimo nas Confrarias e tributo que Sua Majestade que Deus guarde foi servido conceder, portanto ordeno que o R.º Parocho comas Eleitos e Juiz da Igreja escolhão dois homens de cada lugar desta freguezia para que façam rol pelas portas de todos os freguezes pelo que cada um pode e deve dar para que com esse dinheiro junto com o das Confrarias e tributo se dê principio a fazer a dita Igreja a fundamentis visto estar tão arruinada e miseravel que já não admite concerto.»

Mandava-se que a obra fosse feita dentro de quatro meses, fazendo-se também a devida planta para ser posta a pregão a obra, e para se dar por meio de arrematação a Mestre que desse boa conta de tal serviço; determinava-se ainda que se fosse dando conta do que ia ocorrendo ao Dr. Provedor da comarca e o Pároco, por sua vez, mandaria arrecadar todo o dinheiro das Confrarias e os respectivos juros, e com o tributo concedido e o produto do rol feito pelas portas dos moradores, levando também em conta algumas / 169 / promessas, tudo isto somado, daria a quantia suficiente para reedificar a Igreja, segundo o juízo dos visitadores. Mas não me parece que, apesar de tão detalhadas e, sem dúvida, criteriosas sugestões, se desse inteiro cumprimento ao que há muito vinham projectando aqueles emissários do Prelado de Coimbra.

Posta a questão nestes termos, com tantas e tão minuciosas instruções, com dinheiro arrecadado, comissões nomeadas, etc., etc., parece que só restava lançar mão das picaretas, destruir a igreja velha e plantar outra, nova, em folha, no seu lugar. Mas o povo tem também os seus caprichos; e quando se convence que tem a razão do seu lado, nada há que lhe faça abalar os seus propósitos: foi o que, a meu ver, se deu. E o que se fez então?...

Depois do ano de 1719, em que se tomaram as providências atrás mencionadas, a primeira visita Pastoral teve aí lugar em 1721; procurámos ler os autos dela com atenção, na esperança de ver já as obras da Igreja, se não concluídas, ao menos em bom andamento, sendo com certa surpresa que encontrámos as coisas no mesmo estado de há anos. Deparámos antes com novas queixas, assim expressas:

«He para sentir o miserável estado em que esta Igreja se acha e seja tão pouco o zêlo dos moradores desta vila, que não procurem a factura de uma nova, como se tem mandado, nem se animem com o exemplo de tantos templos visinhos como ha neste Arcediagado em freguesias mais pobres, mas com mais amor no culto divino. Recomendo ao Juiz da Igreja e Eleitos dêem principio a esta obra cobrando o que se tem para ella aplicado e recorrendo por mais.»

Apelava-se ainda para os lavradores para que dessem «seus dias de carro» e para os trabalhadores a fim de concorrerem também para os serviços dos materiais.

Mas ainda desta vez as coisas não andaram; e, esgotados os meios suasórios, dos pedidos e apelos, feitos por tão diversa forma, os visitadores enveredaram por outro caminho: entrou-se agora no campo da imposição, advertindo-se o Juiz da Igreja e as pessoas nomeadas para tratarem das obras, de que, no caso de na visita próxima não se ter dado início aos trabalhos há tanto ordenados, cada um deles seria condenado em dez mil reis de multa!... Assim se mostra que tinham sido baldados todos os esforços dos anteriores visitadores, feitos no sentido de se dar princípio à igreja nova. E igualmente se vê que se mantém a ideia de que todas estas delongas tinham como origem o pouco zelo dos moradores da terra, juízo que, a meu ver, não deve ser tomado rigorosamente.

Dos eleitos faziam parte pessoas da maior consideração, bem conhecidas no meio, como eram Bento de Figueiredo / 170 / Brandão, o Capitão António de Almeida, o Capitão João André Homem, tudo gente de crenças religiosas, que decerto não descurariam assim tal assunto.

Devia haver um motivo forte para explicar esta resistência por parte da gente de Águeda, não dando andamento às obras da Igreja, em manifesta oposição a tantas e repetidas ordens, e sugestões tão diversas, feitas no mesmo sentido. Quanto a mim, só vejo uma explicação razoável para o facto: os desentendimentos que surgiram a respeito de fazer a obra desde os alicerces, ou de sujeitar o edifício a uma reparação, embora minuciosa e cuidada: deve estar aqui a razão deste estado de coisas que há tanto tempo se arrastava e, justamente, começou a fazer perder a serenidade de ânimo dos ilustres visitadores (16).

Do ano de 1721 é também uma Memória Paroquial da freguesia de Águeda, escrita pelo Prior LUÍS DIAS CORREIA (17), na qual se faz referência às capelas particulares, sepulturas que havia na igreja com letreiros, etc., mas não se refere às obras de restauro, nem a descreve com particularidade, o que depois é suprido com a narrativa do Dicionário Geográfico, como mais adiante se verá.

Eis-nos agora no ano de 1726. Nova visita é feita à nossa Igreja. Lêem-se os respectivos autos, e vemos tudo na mesma! Repetem-se as queixas, que desta vez nada mais quis fazer o visitador; assim nos diz o auto respectivo:

«Vejo e é muito para sentir que ha tantos annos vindo os R.os Visitadores a visitar esta Igreja e vendo o miseravel estado em que se acha, tendo todos eles ordenado por capitulos de visita a que se desse principio à redificação ou factura de nova igreja, obrigando com condenações e censuras, não se satisfez até ao presente a obra nem se cotaram as condenações; uma e outra coisa movidas do pouco zeIo do R.do Parocho e seus freguezes.»

Fosse como fosse, ou por que fosse, o que é certo é que as coisas continuavam na mesma, arrastando-se anos e anos este assunto da igreja; não me convenço entretanto / 171 / de que isso se ficasse devendo ao pouco zelo do Pároco, nem à indiferença do povo pelas coisas religiosas, pois além de haver várias Confrarias e Irmandades em que ele se agrupava para melhor dar expansão ao culto divino, em muitos outros casos se demonstravam os seus sentimentos de religiosidade, como já ficou dito.

Alcançamos assim o ano de 1730.

A 17 de Junho, aí está outra vez o visitador, e nada se tinha feito ainda, apesar de mais quatro anos serem decorridos!... Agora, devemos confessar que é com justo motivo o que ele diz, ainda que em tom moderado, e invocando a protecção divina, ao povo de Águeda, a quem exorta no sentido de se dar realização a tal empreendimento, ao mesmo tempo que afirmava haver já dinheiro bastante para esta obra:

«Grande mágua me causou ver o estado em q. se acha a Igreja desta freguesia q. sem duvida se houvesse Capella decente para onde se puzesse o Santo e os Santos q. nella se acham o mandaria assim; porem como me enformam ha já dinheiro bastante p.ª se reidificar m.to recomendo ao povo deste Lugar q. em havendo officiais façam logo m.to por lhe dar principio.» (18)

Vê-se assim que o visitador deste ano foi mais comedido nas suas apreciações, usando de melhor táctica: em vez de ameaça de multas e penas espirituais − o que já havia sido posto em prática, aliás sem resultado que se visse, o critério foi outro, e dele resultou decisivo efeito, pois aquando da visita posterior, que teve lugar no ano de 1736, em vez das queixas, e lamentações, censuras, etc., os autos revelam-nos que as obras estão em bom andamento, e expressamente se louva a acção do Prior, que pôs todo o zelo e cuidado em as adiantar. Ali se vêem estas palavras:

«He urgente a necessidade q. ha de esta Ig.ª se pôr corrente p.ª se transferir p.ª ella o Santissimo e se selebrarem nella os Officios devinos por assim o pedir a necessidade desta freg.ª e assim espero q. o R.do Prior, com aquelle zêlo com que tem cuidado em adiantar a mesma obra a faça completar com a possivel brevidade, e do Juiz da Igr.ª pella parte que lhe toca pellos meios condusentes.»

Novo rumo tomaram agora as coisas, como se vê. Os trabalhos das obras da Igreja começaram então entre 1730-1736, / 172 / achando-se em pleno desenvolvimento em 1738, como se mostra desta parte do auto da visita desse ano, que transcrevo:

«Louvo m.to ao R.do P.e o Cuid.º com q. se tem portado no adiantamento da Igr.ª espero q. continue com bom zêlo p.ª chegar a ter a perfeição que he devida a tam S.to Lugar.»

As obras foram prosseguindo; e se não correram com a celeridade desejada, pois ainda em 1741 não estavam acabadas, iam contudo em bom caminho; e o visitador, sem dar quaisquer ordens ou fazer qualquer recomendação ou censura a este respeito, limitou-se neste ano a exteriorizar o desejo de que se desse fim à obra «p.ª Gloria da Divina Magestade q. nos templos se adora e em elles deseja a suma perfeição e pureza».

Além disso informa o auto que a tribuna e os altares colaterais estavam já arrematados.

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Mas surge agora a pergunta: em que consistiam então as obras que acabámos de surpreender já tão adiantadas? Demoliu-se totalmente o que estava, e andavam a fazer construção nova, de raiz? Fortaleceriam as paredes velhas, ou fariam mesmo outras novas, mas apenas para o lado do Poente, na direcção dos arcos das capelas laterais construídas no primeiro terço do século XVII?

Os documentos não nos permitem destrinçar com precisão o que se fez. É tudo concorde no sentido de informar que a igreja não estava à altura de povo tão «nobre e rico», e de terra tão importante, centro de uma freguesia populosa, e nada mais; mas entendo, em face de tudo que encontrei a este respeito, e do exame feito à actual Igreja, que não será erro supor que apenas se fez neste tempo uma reforma geral do edifício, mas cuidada e criteriosa. Substituiu-se a capela-mor, que se achava em completa ruína, por uma mais ampla, e o mesmo se fez ao arco cruzeiro e altares colaterais, revestindo-se uma e outros da bela talha doirada que ainda hoje ostentam; o alpendre que estava à porta principal, foi apeado, e as duas paredes da igreja avançaram mais alguns metros até ao Adro, sendo também alteadas, e sobre elas se assentou forro novo, repartido em caixotões emoldurados em madeira de castanho, possivelmente com pinturas posteriormente desaparecidas, colocando-se na linha central do tecto, e a todo o comprimento, de espaço a espaço, uma fila de rosáceas / 173 / entalhadas, de onde se suspendem os lustres, obra que ainda hoje pode admirar-se, e que recentemente foi reposta no seu antigo aspecto.

As obras da igreja continuavam ainda em 1741, e o Visitador achava-as nessa altura com «bons acrescentamentos», sendo-lhe informado que a tribuna e os altares colaterais já haviam sido arrematados, o que nos leva a concluir que os trabalhos de restauro tinham entrado na última fase; e assim foi de facto. Até 1749, não vimos que se realizassem Visitas Pastorais, mas a suprir a falta e até talvez vantajosamente, sob certos aspectos, temos o Dicionário Geográfico, que foi impresso em 1747 (19), e nos descreve com detalhe a igreja de Águeda, mencionando pormenores que nos permitem um conhecimento muito ajustado do templo; melhorou muito o seu aspecto geral com as beneficiações recebidas: rasgaram-se novas e maiores janelas; ampliou-se o arco cruzeiro, que se revestiu de boa talha doirada, com delicados motivos de estilo joanino, rematando por um aparatoso escudo das armas reais portuguesas, entre figuras de anjos e grinaldas de flores, num conjunto sóbrio, a que não falta certa nota da imponência característica da época; ajustaram-se-lhe também os dois altares colaterais, que são do mesmo estilo. Diz o citado Dicionário Geográfico:

«Ocupa a Igreja o logar mais iminente da terra: a sua invocação he de Santa Eulalia e a apresentação pertence á Casa de Aveiro e não ha noticia do tempo da sua fundação: he de tres naves; na parte do Norte tem tres Altares: o do Santissimo Sacramento, fechado com duas grade, de ferro, obra antiga e de notavel artefacto: tem um retabolo de pedra com as Imagens dos dôze Apostolos, vulto, sentados á meza e orna-se com dous alampadários de prata (20): na mesma nave se segue a Capella que he propria da freguesia, da invocação do Santissimo Nome de Jesus; tem o altar huma veneranda Imagem de hum Santo Christo e debaixo dele um Passo do Senhor Morto (21) com os Prophetas Moysés e Elias, as três Marias, S. João Evangelista e N. Senhora, obra antiga e admiravel; segue-se na mesma nave o altar de S. Francisco e capella dos Terceiros com huma Imagem do mesmo Santo Patriarcha e de uma parte Santa Rosa / 174 / de Viterbo e da outra o Apostolo e Evangelista S. Matheus. Na outra nave, para a banda do Sul, fica a Capella de N. Senhora da Esperança, fundada no ano de 1624 com missa quotidiana por Ayres de Pinho e sua mulher e he hoje administrador dela Constantino da Silva Pinto, seu parente; Na mesma nave se segue logo a Capella do Menino Jesus, fundada por Antonio João da Serra e sua mulher Francisca da Fonseca, he seu administrador João Alvares de Figueiredo Brandão; tem obrigação de cento e cincoenta missas e hum aniversario e meio. Para a parte do Nascente fica o Altar-mór, com a Imagem da Padroeira Santa Eulália; outra de S. Pedro Martyr; tinha ainda as imagens de S. Francisco Xavier, Santo Antonio e Santa Apolónia» (22).

Diz ainda o mesmo Dicionário:

«Da parte do Norte fica o altar colateral dedicado a N. Senhora do Rosário e da parte Sul o de Santa Luzia com a imagem da Santa e Santa Águeda, Santa Catarina, S. Braz e S. Ana.»

Não se apontam aqui nem a Capela do Senhor dos Passos, nem a das Almas, sinal evidente de que elas não existiam nessa data, pois o autor da memória, que descreveu o templo nos seus mais pequenos detalhes, chegando a referir pormenores relativos a certos motivos de ornamentação, não se esqueceria de mencionar as capelas referidas, se lá estivessem ao tempo. Mas outra Memória Paroquial, datada de 5 de Abril de 1758 (23), ao fazer a descrição da nossa igreja já lhe inclui estas duas capelas, por onde temos de concluir que as mesmas foram edificadas entre os anos de 1747-1758.

E neste pé ficaram as coisas, até os anos de 1898-1900, em que a igreja sofreu uma grande reforma, tanto exterior, como interiormente, feita a expensas do benemérito Conde de Sucena, nosso saudoso conterrâneo (24). / 175 /

O seu aspecto actual, aparte um ou outro pormenor de ornamentação ou de restauro, é o mesmo que apresentava após a reforma do século XVIII, a que já nos referimos. Vamos transcrever aqui umas pequenas passagens, extraídas duma obra publicada há poucos anos, onde, pela pena de um erudito e distinto escritor, vem feita a descrição da igreja de Águeda, que algumas vezes visitou, sendo assim o seu depoimento duplamente valioso, pelos conhecimentos que possuía em tal matéria, e pelo exame que directamente fez ao templo:

«O aspecto geral é o de um monumento do tempo de D. João V.

Houve por essa época reedificação, com acrescentamento visivelmente denunciado por uma pequena torre colada à parede E. da torre (do sec. XVIII) e que era com certeza dum templo anterior. / 176 /

A igreja tem pirâmides, cunhais e uma pesada frontaria de granito ao lado S. da qual se ergue a torre. É formada de três naves com capelas laterais de abóbadas, suportadas cada uma pelo cruzamento de dois arcos ogivais de pedra, assentes em colunas e capiteis, também de granito, em cujos vértices se vêem bocetes com lavrados. Interiormente sofreu o templo reforma nos últimos anos do século passado (1898-1900), reforma que, embora em parte necessária e feita na melhor intenção, se ressente duma absoluta falta de competência e bom gosto. Fizeram-se barbaridades irremediáveis. Cobriram-se com estuque os caixotões de castanho do tecto; trocou-se o ouro velho da talha, discreta e preciosamente patinado pelos anos, por tinta branca e ouro novo, berrantes, espectaculosos, próprios de teatro ou café concerto; umas grades pesadas, de ferro, bem interessantes, que separavam as capelas laterais da nave, desapareceram; e até lajeados cobertos de inscrições e armoriados foram substituídos por mosaico. A igreja conserva porém, ainda, duas capelas laterais do séc. XVII. São ambas particulares: uma, com a invocação de Nossa Senhora da Esperança, pertence à casa da Borralha; a outra, da invocação do menino Jesus, foi instituída por Pedro Fernandes Chucre e sua mulher Beatriz João, de Águeda e pertence à Casa das Lágrimas (Coimbra). As restantes capelas, embora não haja documentos que o atestem, parecem da mesma época.

Pode admirar-se o arco cruzeiro e a tribuna, com alguma talha de merecimento, do meado do sec. XVIII, e duas obras de pedra de Ançã, de valor artístico: um retábulo na capela do Sacramento com o sacrário em forma de castelinho com suas amuradas na parte central; aos lados, figuras de anjos esculpidas na pedra, e na parte superior um alto relevo que representa a Ceia de Cristo. Esta obra afigura-se inspirada nos moldes da escola do Renascimento coimbrão, atentos alguns pontos de semelhança entre este retábulo e a capela do Sacramento da Sé Velha de Coimbra. A outra obra de pedra de Ançã existente na igreja de Águeda e digna de referência é um grupo da Deposição de Cristo no túmulo: a imagem da Virgem e algumas das dos Apóstolos têm bordaduras a guarnecer as roupagens, bem delineadas) (25). / 177 / [Vol. XVIl - N.º 67 - 1951]

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Mas deixamos dito atrás que a igreja de Águeda − pelo núcleo de objectos de arte que ainda hoje contém, representativos de diferentes modalidades dos períodos artísticos que a idade da sua construção abrange − poderia considerar-se um pequeno museu da nossa terra; e assim é, de facto. Digamos então agora alguma coisa, em abono do que já por mais de uma vez tivemos ocasião de afirmar.

Além do belo especímen que constitui a PIA BAPTISMAL, indubitavelmente filiada no ciclo gótico, talvez misto de outras influências, ali poderemos admirar o formoso retábulo de pedra de Ançã da Capela do S.S. Sacramento − que bem merece um estudo atento e demorado, por parte dos arqueólogos especializados nesta matéria.

Pertence à Escola da Renascença coimbrã e deve considerar-se do melhor que saiu da mão dos seus experimentados e hábeis lavrantes, pela suavidade das suas linhas, delicadeza e perfeição dos ornatos e figuras de que se compõe; representa a ÚLTIMA CEIA, vendo-se a figura de Cristo, sentado à mesa, rodeado dos Apóstolos (26).


Além deste trabalho, existe o belo grupo escultórico da DEPOSIÇÃO NO TÚMULO, composição muito expressiva e valiosa, de traça muito correcta, também da mesma escola, e lavrada no mesmo calcário. A isto devemos juntar os baixos relevos dos arcos das capelas laterais, e ainda um pequeno capitel do Cruzeiro do Calvário, que se acha no Adro da igreja. E é tudo que podemos agrupar, pelo que toca a trabalhos em pedra, pois que, adentro ainda do âmbito renascentista, está o retábulo da Capela dos Terceiros de S. Francisco, com os seus motivos decorativos e que, não sendo dos mais ricos, são de muito agradável vista na combinação dos variados baixos-relevos, vasados nos moldes da época.

Mas é o século XVIII, como da leitura do que ficou atrás escrito bem se depreende, o que ali tem mais dilatada representação artística: nos retábulos dos altares colaterais, no / 178 / revestimento de talha doirada que a partir do cimo deles as paredes do arco cruzeiro ostentam até se rematar pelo elegante escudo das armas reais portuguesas, a que já nos referimos; nas colunas e mais ornamentação entalhada da capela-mor, e ainda nas imagens de bom recorte setecentista, das quais devemos salientar as da Padroeira Santa Eulália, S. Pedro, N.ª Senhora do Rosário e St.ª Luzia, estas duas, principalmente, de cuidado acabamento, num conjunto feliz. que dá ao templo uma nota de certa imponência, a lembrar
ainda os últimos e faiscantes lampejos do reinado do rei magnânimo.

 

PÁROCOS DE ÁGUEDA

1575-1951

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SOARES DA GRAÇA

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(1)Pode ver-se com mais desenvolvimento o meu trabalho «As Antigas Procissões de Águeda», 1948.

(2)Vid. Águeda Antiga, crónicas que publiquei na «Soberania do Povo», 1919 1920. 

(3) − Vid. o magnífico estudo Águeda, da autoria do saudoso e erudito escritor nosso conterrâneo, CONDE DA BORRALHA, In Soberania do Povo, 1943.

(4)Julgo que este retábulo terá que atribuir-se aos Mestres que trabalharam na Igreja da Trofa cuja obra AARÃO DE LACERDA considera do melhor que saiu daquela Escola: Vid. Panteon dos Lemos, ed. 1928. É muito plausível a ideia de que o retábulo central da capela do S.S. de Águeda, como opinava o CONDE DA BORRALHA, fosse da antiga capela-mor; assim sucedia com a velha igreja de Manhouce, actual Arrifana de Santa Maria, que era rematada por um retábulo Renascença, do mesmo género. 

(5)Fez-se um enterramento junto dele em Novembro daquele ano.  

(6)Ali se vê ainda hoje uma lápide com a seguinte inscrição, encimada pelas armas dos Pintos e Pinhos, que diz:

ESTA CAPELA HE DE AYRES DE PINHO E SUA MOLHER VIOLANTE PINTA E SEUS F.OS A QUAL TẼ DOTADA CÕ MISA COTIDIANA. 1624

(7)Serviu, como a anterior, de jazida a muitas pessoas das respectivas famílias instituidoras.

(8)Em 1721, ainda existia uma lápide na capela de S. Francisco de onde tudo isso constava. Vid. Memórias Paroquiais, ROCHA MADAHIL, em Arquivo de Aveiro, n.º 18. 

(9) Muito graciosa a imagem do Menino Jesus, escultura do século XVIII, que ali preside no retábulo de madeira, ladeada pelas imagens de S. João e S. Domingos.  

(10) A este Prior me refiro no meu estudo A Igreja de Recardães, 1938.

(11) Visitas Pastorais, 1700. Estes autos foram também compulsados pelo poeta JOSÉ MARIA VELOSO (1825-1875), que deles se serviu para escrever na Escola Popular uns artigos sobre Águeda. Porque o considero o percursor dos estudos monográficos da nossa terra. qualidade que me não lembro lhe fosse ainda atribuída, embora já A. Portela se lhe refira («Águeda», 1904), entendi do meu dever colocar aqui o seu nome, a ocupar o primeiro lugar na galeria dos devotados filhos desta terra, que ao estudo do seu Passado há muito tem dedicado carinhoso e perseverante esforço.

(12) Havia então bastantes: a do Senhor, já existente em 1580; N.ª Senhora das Neves, Santa Luzia, S. Sebastião e Senhora do Rosário.

(13) Casou em Águeda com D. Ângela da Fonseca Serra. Foram os pais de uma prole grande, de entre a qual destacamos a D. Gaspar Afonso da Costa Brandão, Bispo do Funchal. Foi baptizado em Águeda a 18 de Dezembro de 1703. Faleceu na Madeira a 14-1-1784, sendo sepultado na Sé Catedral.

(14) Famílias já por mim tratadas em «Águeda Antiga», trab. citado.

(15) Outro nome de relevo da nossa terra. Nasceu em Águeda no ano de 1659. Filho de Manuel Domingues do Souto, da Massoida, e de Maria da Ascensão, da antiga família dos Vidais de Águeda; foi bacharel em Teologia e sacerdote do Hábito de S. Pedro.

(16) Não tenho dados seguros para poder afirmá-lo ao certo: mas convenço-me de que estando na comissão eleita as pessoas já atrás citadas, e como alguns deles tinham família possuidora de capelas particulares, possível é que essa circunstância influísse também para o entravamento do assunto, por não quererem demoli-las, ou até, simplesmente alterá-las.  

(17) ROCHA MADAHIL, Arquivo de Aveiro, n.º 18 − 1938 − Memórias Paroquiais de 1711.

(18) −  Visitas Pastorais, 1730.

(19) Vid. Dicionário Geográfico do P.e Luís CARDOSO, 1747.

(20) −  Não encontrei qualquer outra notícia acerca destes objectos de adorno. Parece que a nossa Igreja sofreu vários roubos de pratas por ocasião das Invasões Francesas, e é possível que eles desaparecessem também nessa altura.

(21) Está hoje na Capela do Senhor dos Passos.   

(22) Não se vêem ali hoje estas imagens, mas outras se colocaram na igreja, em diferentes pontos, assentes em mísulas, o que muito prejudica o aspecto interior do templo, no harmonioso conjunto das suas sóbrias linhas. Das imagens referidas acima, a de S.ª Águeda foi colocada na capela de N.ª S.ª da Esperança.  

(23) Escrita pelo Prior. Arquivada na T. do Tombo.  

(24) Não devemos negar que foi benéfica a restauração feita mas pena foi que se não tivesse seguido um critério mais respeitador da primitiva e característica traça do templo. Assim, retiraram-se as belas grades de ferro forjado que vedavam as capelas laterais e lhe davam uma nota muito curiosa; substituiu-se a camada de ouro velho das talhas dos altares por tinta vulgar de cor branca, e, o tecto, de caixotões emoldurados em madeira de castanho, foi revestido de espessa camada de argamassa, estando hoje já despido dela, devido à iniciativa do Pároco Monsenhor José Bernardino dos Santos e Silva que se dedicou a essa tarefa, e, com a ajuda de pessoas da freguesia, angariou donativos para se proceder àquela reparação, o que vincou de forma muito louvável a sua passagem pela cadeira paroquial desta freguesia.
     Também na mesma ocasião foram colocados na capela-mor uns quadros a óleo, de grandes dimensões, representando figuras de Evangelistas, e que ali ficaram a dar uma nota de embelezamento, oferta do nosso ilustre conterrâneo Conselheiro Afonso de Melo, que igualmente fez dádiva de uns formosos relicários em talha doirada que foram postos no altar da Capela do S. Sacramento.
   

(25) Vide Guia de Portugal, vol. III, pág. 573, baseando-se, nesta parte respeitante à igreja, nas minhas crónicas publicadas na Soberania da Povo, de Águeda, em 1919. 

(26) Já disse da convicção em que estou de que a autoria do retábulo pertence aos artífices que trabalharam na Capela dos Lemos da Trofa, e foi feito na primeira metade do século XVI, possivelmente. Segundo as mais autorizadas opiniões, esta estava construída em 1538 e o retábulo deve ter sido acabado depois. Vide O Panteon dos Lemos, AARÃO DE LACERDA, e A Capela dos Lemos da Trofa, pelo Dr. AUGUSTO SOARES DE SOUSA BAPTlSTA, 1946.
Por meu intermédio, o Guia de Portugal, vol. III, traz uma reprodução fotográfica desta obra de arte, por mim remetida para este fim.

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