José Tavares, Eça de Queirós em Verdemilho, Vol. XVI, pp. 164-166.

EÇA DE QUEIRÓS

EM VERDEMILHO

ANDAVA já há muito no espírito dos Drs. Alberto Souto e António Lebre e do Sr. Acácio Rosa o assinalar a passagem do grande escritor, quando criança, por Verdemilho. Nisso pensaram na altura da celebração do 1.º centenário do nascimento do autor de «O Crime do Padre Amaro», em Novembro de 1945; mas várias circunstâncias impediram-nos de realizar o seu intento.

Tal projecto teve efectivação no dia 27 de Novembro de 1949, perante a população de Verdemilho e circunvizinhanças e perante centenas de convidados, entidades oficiais e não oficiais, que o Sr. Dr. António Lebre ali chamou e gentilmente recebeu na sua casa da quinta da Senhora das Dores.

Segundo se lê na «Memória Descritiva das Homenagens de Verdemilho ao Escritor Eça de Queirós», escrita, mandada imprimir e distribuída pelo Sr. Dr. António Lebre, «a ideia de em Verdemilho se prestar homenagem ao escritor EÇA DE QUEIRÓS foi despertada com o aparecimento das primeiras notícias sobre as projectadas comemorações centenárias para o ano de 1945, do nascimento do escritor, a 25 de Novembro de 1845».

E o autor continua:

«Não podia, porém, a aldeia onde José Maria Eça de Queirós passou os primeiros anos da sua vida, enfileirar ao lado de centros de grandes recursos de ordem mental, onde as manifestações de homenagem decorreram com o mais destacado brilho e elevação espiritual, mercê das bem delineadas perspectivas, confiadas, em organização e execução, a valores da mais alta capacidade literária.

Por esta razão e motivos de ordem verdadeiramente artística, ficaram retardadas até agora as homenagens, para as / 165 / quais Verdemilho e os três restantes lugares da freguesia de Aradas − Quinta do Picado, Arada e Bonsucesso − vinham acalentando a ideia, o sonho da sua realização. E assim, ao sentirmos palpitar agora a realidade que se aproxima, verificamos que Verdemilho evitou, conscientemente, o confronto imediato e simultâneo das comemorações centenárias, que tiveram justamente foros de nacionais.

A ideia havia nascido, porém, felizmente, em terra de tradições históricas, e por isso ela se foi enraizando, foi tomando vulto, e a tal ponto, que da simples inscrição em mármore, inicialmente projectada pela comissão − Acácio Rosa, Alberto Souto e António Lebre −, Verdemilho teve o condão de ver nascer, para as suas comemorações queirosianas, um pequeno museu, evocativo da prolongada permanência, em Verdemilho, na casa solarenga dos avós paternos, do então menino José Maria.

E um tal cantinho, de permanente evocação do Escritor, ficará sendo conhecido por «Sala Eça de Queirós».

E, a par destes dois factores de homenagem − lápide e sala −, surgiu naturalmente a ideia de uma alocução prévia ao acto do descerramento da lápide − inscrição em mármore, a letras douradas, colocada à entrada da Rua Conselheiro Queirós, na casa à esquerda, junto à estrada nacional Aveiro − Ílhavo − Figueira da Foz −, que tudo diz para Verdemilho, mesmo nesta máxima singeleza: «Neste sítio do lugar de Verdemilho, viveram os avós paternos de Eça de Queirós, e o próprio escritor aqui passou alguns anos da sua meninice».

E, para que o local, à volta desta inscrição lapidar, apresente o ar festivo dos grandes acontecimentos, serão levantados pavilhões, para as entidades oficiais, Secretariado da Propaganda e Informação, imprensa e mais convidados poderem assistir à primeira parte das homenagens, em chão tapetado de murta e rosmaninho, cujo conjunto a filmagem sonora fará perpetuar.

Após esta primeira parte das homenagens, que terão início às 14 horas, realizar-se-á uma romagem ao mausoléu, no cemitério do Outeirinho, dos avós paternos de EÇA DE QUEIRÓS, onde serão depositados ramos de rosas, homenagem singela, sim, mas bem significativa.

E, seguidamente, inaugurar-se-á a «Sala Eça de Queirós».


Todos estes actos se realizaram com a presença do Sr. António Eça de Queirós, filho do grande Escritor, dos netos deste − José Maria e Manuel − e do bisneto, José Maria. Tanto à cerimónia do descerramento da lápide, em que falou o Sr. Dr. António Lebre, como à admirável conferência que no solar da quinta da Senhora das Dores, após a inauguração
/ 166 / da «Sala Eça de Queirós», fez o distinto professor catedrático da Faculdade de Letras de Coimbra, Dr. Costa Pimpão, presidiu o Governador Civil substituto, Dr. António Fernando Marques.

E as cerimónias terminaram com um discurso do Sr. António Eça de Queirós.

O Arquivo do Distrito de Aveiro, cuja Direcção esteve presente a todas as cerimónias, muito gostosamente regista em suas paginas o acontecimento.

Aveiro, 4 de Dezembro de 1949.

JOSÉ TAVARES

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